Psiquiatra-Belo Horizonte-MG
PRAS CABEÇAS
Basta pensar em sentir Para sentir em pensar. Meu coração faz sorrir Meu coração a chorar. Depois de parar de andar, Depois de ficar e ir, Hei de ser quem vai chegar Para ser quem quer partir. Viver é não conseguir. Fernando Pessoa, 14-6-1932
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A Peste
DR. CLAUDIO COSTA
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A PESTE
"Peste!" é um xingamento ofensivo dirigido a pessoa incômoda ou, até mesmo, a uma criança travessa: "Aquele menino é uma peste!"
Mas, aqui, refiro-me a "A Peste", um dos livros mais famosos de Albert Camus (1913-1957), prêmio Nobel de Literatura, no qual se descreve uma situação extrema de medo, angústia, agressividade, destruição, pânico, isolamento e violência que tomou conta dos habitantes de Oran. Trata-se de obra de ficção, na qual os impulsos humanos de todos os matizes se manifestam diante do reaparecimento da peste bubônica.
À lembrança do texto de Camus acrescento uma brevíssima visita aos diversos sintomas psiquiátricos/psíquicos que atormentam o ser humano, marcados que somos pelo mal-estar vivenciado com aconsciência de existir tão precariamente diante da magnitude dos desafios à sobrevivência. Freud atribui este mal-estar a alguns fatores: consciência da morte, da fragilidade diante das intempéries e a convivência com o outro. Esses fatores apontam para o sofrimento psíquico e do próprio corpo. Os sistemas de defesa ou adaptação instantânea às ameaças reais ou supostas produzem mais adrenalina e cortisol que são, simplificadamente, hormônios secretados para enfrentar o perigo, reações de luta e fuga, como se diz.
Entretanto, há comportamentos de massa que tornam mais explícitos e incontroláveis os sentimentos de pavor e o pânico pode fazer eclodir mecanismos mais primitivos em busca da sobrevivência: desconhecimento da realidade do outro, ações tipo "salve-se quem puder", compras desmedidas, sabotagens, aproveitamento do estado de necessidade e exploração do outro... tudo isso compõe um cenário apocalíptico. É claro que há pessoas com autocontrole e solidariedade, contrapondo-se à histeria coletiva e egocentrismo exacerbado.
Ameaças e perigos são mesmo o cotidiano do viver: "Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida", refletia mineiramente João Guimarães Rosa. Eis que, agora, estamos novamente sob tormenta, nominada tecnicamente como pandemia do COVID-19.
Ao psiquiatra cabem ações importantíssimas nesses tempos de estresse global, pois existem grupos de risco para transtornos psiquiátricos que podem ser graves: pessoas com personalidade ansiosa, dependentes, histriônicas, obsessivo-compulsivas e hipocondríacas facilmente podem resvalar para crises de pânico, transtorno de estresse agudo e pós-traumático. O papel do psiquiatra, além de cuidar de si mesmo será, primariamente, orientar e instruir os pacientes, fornecendo informações consistentes e comprovadamente científicas. Para aqueles que entrarem em crise haverá recursos psicológicos e farmacológicos adequados, pois é este mesmo o campo de ação da Psiquiatria.
"Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida.'' (João Guimarães Rosa)
#covid-19 #coronavirus #pandemia
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