20 maio, 2005

De pânico, fobias e obsessões

Estou eu aqui, em João Monlevade, a 120 km de Belo Horizonte. Viagem rápida (?) ziguezagueando por encaracoladas serras (!), pelas vias tortuosas da BR-262, da qual falei, há algumas semanas.
Vim a trabalho, em plena sexta-feira: acabo de fazer uma palestra na XVII Jornada Médica de João Monlevade, convocado pela Associação Médica de Minas Gerais.
O tema que me coube: Transtornos Ansiosos, Síndrome do Pânico e Depressão em Crianças e Adolescentes.
Impressionante o interesse dos médicos locais (todas as especialidades, de cirurgião a pediatra, de ginecologista a neuropediatra - apenas uma psiquiatra na platéia).
Foram duas horas de palestra, incluindo os comentários, as perguntas. Apesar do tempo longo, não foi cansativo, nem prá mim nem pro pessoal que aguentou firme. O segredo? Muito humor e muitos "causos" clínicos, ilustrando um pouco os conceitos mais estabelecidos: sintomas, evolução, causas, manifestações desde o nascimento, primeira infância, idade escolar até a adolescência.
Os colegas clínicos confirmaram o que a gente lê nos manuais: 60% das consultas médicas denotam um "sofrimento psíquico". Uns 30% das manifestações dolorosas, transtornos gástricos, doenças da pele, sintomas cardiovasculares têm origem emocional: as tais das doenças psicossomáticas: asma, prurido, transtornos endócrinos, dores pré-cordiais. Ou seja, "a cabeça" está dançada em muitos e muitos casos. Daí, o paciente que não é "escutado" pelo clínico, acaba numa via-sacra sem fim, procurando remédios, submetendo-se a exames laboratoriais cada vez mais complicados, caros e invasivos. Um dado interessante: os ansiolíticos (lexotans e diazepans da vida) são os medicamentos mais receitados no mundo, sendo que os maiores prescritores são os clínicos, e não os psiquiatras! Em segundo lugar, vêm os antidepressivos (os prozacs da vida), fruto de uma cultura onde o prazer deve ser conseguido a qualquer custo e a felicidade pode ser comprada na farmácia da esquina! Oh! engana-me que eu quero, parece dizer o homem pós-moderno!
Pois os colegas de João Monlevade trocaram idéias, perguntaram, relataram suas experiências. Um deles, que foi médico de minha mãe há mais de 20 anos, até hoje atende na cidade, especializando-se em gerontologia. Disse-me que suas clientes levam-lhe os filhos ou netos com queixas várias, afinal, confiança é tudo! - e ele está impressionado com a quantidade de problemas emocionais existentes. De início, afirma, a queixa é clínica; basta escutar o paciente por alguns minutos, deixá-lo falar "além da queixa" e surgem as questões "da alma"...
Acreditem: João Monlevade só tem uma psiquiatra! A região tem uns 80 mil habitantes! Ou seja, adoecer psiquicamente aqui é um risco de tornar-se louco até ser levado para Belo Horizonte "para internar". Ainda bem que há um serviço público, no qual atendem psicólogos, assistentes sociais e um psiquiatra que vem de Belo Horizonte às sextas-feiras.
Pois é, bebês e crianças pequenas também sofrem emocionalmente, têm depressão, ansiedades, fobias e suas queixas precisam ser valorizadas pelos pais, pelos clínicos (pediatras) e, muitíssimas vezes, o sofrimento poderia ser detectado e curado bem no início. Caso contrário, as portas para a depressão, a inibição social, a ausência de prazer na vida, as ansiedades de todo tipo ficam abertas. Daí vêm o fracasso escolar, transtornos de conduta, comportamento anti-social, abuso de álcool e outras drogas.
Sobre este último ítem, escutei no carro, enquanto vinha pela estrada: 83% dos jovens da escola média em São Paulo ingerem bebidas alcoólicas pelo menos uma vez por semana! 49% das meninas e 27% dos rapazinhos já estão fumando.
Prá mim, o trem tá feio. Ou não?
Ia dar apenas uma noticiazinha, fui falando, destramelei! Acho que é fobia de ficar sozinho aqui neste Vale do Aço!
Bom, volto agora pro Central Palace Hotel, que de palace não tem nada. Até amanhã. Ou depois...