Basta pensar em sentir Para sentir em pensar. Meu coração faz sorrir Meu coração a chorar. Depois de parar de andar, Depois de ficar e ir, Hei de ser quem vai chegar Para ser quem quer partir. Viver é não conseguir. Fernando Pessoa, 14-6-1932
28 dezembro, 2007
Maria Cleonice
24 dezembro, 2007
Natal são muitos
Há os que se sentem plenamente imbuídos da idéia do sagrado e valorizam os rituais religiosos com a celebração alegre do nascimento do 'menino-deus': preparam-se no tempo do advento e comemoram a epifania como o acontecimento mais importante para o gênero humano. Trata-se de uma experiência mítica e místico-religiosa, que os afeta em sua singularidade e os faze se sentir partícipes de um projeto de salvação universal. Ser religioso importa num conjunto de crenças e, para alguns, uma fé convicta sustenta sua posição perante o mundo. Se, de um lado, a fé e o pertencimento ao grupo garantem a segurança do "um" pela identificação ao "outro", contudo não é suficiente: de que vale a fé sem as obras? O esgarçamento dessa dimensão ao longo dos séculos e sua incorporação pela cultura judaico-cristã-ocidental mitigaram as exigências éticas e reduziram a rituais o comprometimento exigido nos primórdios.
Inda mais, o avanço do capitalismo e seu mais perverso corolário, "não existem pessoas, o que existe é O Consumidor", descambaram na transformação das festividades natalinas em orgia consumista, cujos templos são os palácios dos shoppings ou as tendas abarrotadas de ofertas. A cada ano, o onipresente departamento de marketing inventa o 'produto dos sonhos' e nosso desejo é capturado pela promessa de felicidade infinita, aqui e agora. Basta comprar o celular G4, a tv de plasma, o laptop de mil recursos, o automóvel definitivo.
Não se pode negar que existam ainda muitas e muitas pessoas dotadas daquele 'sentimento oceânico' do qual se ocupou Freud: trata-se do anseio por um pertencimento ao mundo, desejo esse em que o medo da perda de amor se situa na dianteira do sentimento de autopreservação e segurança a partir da identificação com o universo em que o indíviduo vive. Para Romain Rolland, o pensador francês que criou este termo, o sentimento oceânico seria o fundamento do sentimento religioso. Creio que o perído natalino desperta uma certo olhar compassivo para o semelhante, servindo de alívio para a culpa que alguns carregam pela indiferença à fome, à miséria, à exclusão. Distribuem-se presentes, fazem-se campanhas de solidariedade, distribuem-se migalhas aqui e ali. O mundo parece mais cor-de-rosa, ainda há esperança quanto ao futuro da humanidade, o ser humano pode até ser bom. Mas a vida continua, cada qual mergulha na azáfama cotidiana em busca de acumular bens, riquezas e segurança, enquanto os excluídos aguardam o próximo Natal, que será usufruído apenas pelos sobreviventes. E la nave va.
Deparamo-nos com muitos que dizem detestar o Natal. Se uns criticam o consumismo, outros reclamam do trânsito, muitos se sentem angustiados com os gastos para presentear por pura obrigação. Mas há os que se sentem tristes, verdadeiramente deprimidos: o Natal é a pior época do ano, confessam. Às vezes dizem: 'não sei o porquê disso'. Bastam alguns minutos de atenção e nossos ouvidos se enchem de lembranças amargas, ressentimentos nunca resolvidos, culpa, raiva, solidão. Podem acusar a sociedade de ser hipócrita e não há como tirar-lhes a razão. Mas não se trata de ter razão, pelo menos na clínica.
É tempo de reencontros, reaproximações, visitas à família distante, encontro com vizinhos, abraços na repartição, festinhas de amigo-oculto (sempre chatas e burocráticas!)...
Como enfrentar tantas contradições? Mergulhar de cabeça nas compras? Comer, comer e comer? Isolar-se de tudo e de todos? Rezar e orar? Cada um encontrará seu jeito próprio, pois as receitas em oferta pela mídia nem sempre são fáceis de seguir.
Quanto a nós, vivenciamos um pouco de tudo isso. Reencontramos os amigos, desejamo-lhes sinceramente um Feliz Natal (cada qual sabe como é ser feliz - não?), decoramos a casa, repartimos uns poucos presentes. Evitamos o consumismo e o desperdício. E o aniversariante do dia, aquele que deu origem a tudo isso, este tem um lugar simbólico na simplicidade de um presépio artesanal. Amélia, Ângelo e Renatinha representaram na estante uma pequena vila do interior. Os caminhos são tortuosos, como a vida. Mas as cores são vivas e, um pouco afastado, lá está ele, o Menino:
Presépio feito por Amélia, Ângelo e Renatinha,
com casinhas-de-barro (artesã: Jovita, do vale do Jequitinhonha-MG) Foto by Cláudio Costa.
22 dezembro, 2007
E F E M É R I D E S
2. Outro dia foi a inauguração da "árvore-de-natal-da-Lagoa-da-Pampulha". Parece que já está virando tradição. Começou no Rio -Lagoa Rodrigo de Freitas-; São Paulo construiu a sua no Ibirapuera e, agora, Beagá entra no esquema. Há patrocínio comercial, claro, mas não deixa de ser mais um motivo para a gente circular pelos lados da Igrejinha da Pampulha. Pelas fotos que vi, parece que a "deles" está mais bonita, mesmo! A vantagem é que essas imensas estruturas são flutuantes e temporárias. A Ana aproveitou uma foto minha e colocou como banner no Mineiras, Uai!. Ficou bonito.
Árvore de Natal na Lagoa da Pampulha-BH. Fotos & composição by Cláudio Costa. Ver mais.
16 dezembro, 2007
O Rio de Janeiro continua lindo, amigão!
1. Aeroporto horroroso, o tal do Tom Jobim. Saindo de lá, em direção à zona sul, você pega a 'linha amarela' (cercada da favelas) ou a 'linha vermelha' e cai na Av. Brasil, cujo trânsito é qualquer coisa de louco. Pro centro - minha reunião foi na Presidente Wilson - o caminho passa pelos armazens decadentes e sujíssimos do porto, numa avenida, a Rodrigues Alves, que avança debaixo de uma via suspensa. Tudo muito feio e, por suposto, perigoso.

4. À tardinha, hora de voltar pro Galeão. Deram-me uma dica: vá ali pro Santos Dumont e tome o frescão, é só R$ 6,50. Como o tempo sobrava, aceitei a alternativa. Mas...
Mas em frente ao Santos Dumont (a parte nova) não vi ponto de ônibus. Perguntei ao segurança que me apontou o lugar correto, uns 200m além. Virei as costas quando escuto:
- Ô amigão!
Era o segurança, correndo em minha direção e já dizendo:
- Olha aqui, tem um amigão meu ali, mexe com frota de carro executivo, ele te leva.
- Mas não estou com pressa, amigão (nessa hora, é bom ter "amigões", não?).
Estacionado, vi o tal-que-mexe-com-frota-de-carro ao lado de um Honda prata, todo sorridente, um corpanzil que dava três de mim. Pensei: -Mais parece um leão-de-chácara, vigilante de boate.
Hesitei por meio segundo e perguntei o preço da corrida.
- O preço é 50 paus, mas faço por 25, amigão.
- Só tenho 15, não vai dar.
- Dá sim, amigão, vamo lá!
Com tanta prova de amizade, não resisti. O segurança me olhava todo sorridente e o amigão/motorista já abria a porta do banco traseiro. Delicadezas cariocas, presumo.
O motorista contou vantagens do seu novo Honda, dizendo que, agora, estava casado com aquele carro. Empolgadíssimo, explicou:
- Foi ontem, foi ontem mesmo que o emplaquei.
Elogiei ao máximo sua nova esposa, enquanto voltávamos pelo mesmo trajeto da manhã: "Pelo menos estamos indo em direção ao Tom Jobim", pensei.
5. Voei de volta pela Gol, tratado como marajá: 1 horinha só de atraso, poltrona apertadíssima e lanche requintado: um pacote de amendoim torrado e 1 copo dágua!
6. A aproximação do Aeroporto de Confins foi sob os últimos raios de sol:

7. Em casa, Amélia me pergunta:
- E aí, meu bem, como foi lá no Rio?
- Ótimo, arranjei um amigão!
09 dezembro, 2007
Oscar Niemeyer e eu

Apesar disso, gosto muito das 'invenções' de Niemeyer e me surpreendo cada vez que me deparo com suas obras. Em Curitiba, visitei o Museu Oscar Niemeyer de onde recebi, outro dia, um pedido inusitado: querem reproduzir algumas fotos minhas da Igrejinha da Pampulha. Viram-nas no meu álbum do Flickr, disseram que estão ótimas e ilustrarão uma revista especial sobre Niemeyer! Claro que autorizei e aguardo, ansioso, receber um exemplar.
Àqueles que visitarem nossa cidade, fica o convite: além do pão-de-queijo, do quiabo-com-angu e de muita prosa, conheçam também a BH de Niemeyer.