20 julho, 2004

Rumo ao interior

Tenho lido no Caneta de Saia, blog do Carrazzoni(SP), sua opinião acerca de São Paulo, cidade em que mora. Entre outras causas das mazelas da grande metrópole, Carrazzoni, acertadamente, aponta o inchaço populacional, com o aporte incessante de migrantes, desde o final da década de 40, durante o processo de industrialização. Firmou-se em nossa cultura um preconceito contra o interior do Brasil, e das pessoas "da capital" contra o "interior".
Acho que isso nasceu na época do famigerado "Jeca Tatu", dos "caipiras"... Monteiro Lobato, o que escreveu o livro "Jeca Tatu", acabou se retratando acerca de sua descrição pejorativa do homem da terra, agricultor, em que apontava a "lerdeza" e a "preguiça", a fala arrastada, o raciocínio primário, a inércia que deixava o mato crescer ao invés de plantar para colher e comer. Alertado por  médicos sanitaristas, atentou para o fato de que os "jecas" eram assim por causa da subnutrição, dos maltratos pelos senhores das terras e pelas precaríssimas condições de vida. Lobato abriu a própria cabeça e  se transformou num defensor do "verdadeiro" Brasil, denunciando a expropriação dos pobres. Defendeu o "petróleo é nosso" e valorizou a "esperteza e sabedoria" do povo simples. Foi até preso pela polícia política do Getúlio.
Engraçado que, em Brasília, fala-se mal do "interior": por exemplo, quando alguém faz algo errado no trânsito, dizem: "Ô goiano!" O brasiliense, que mora no mais profundo interior do Brasil, bem no meio do cerrado, não se acha "do interior".
Aqui em Belo Horizonte, diante da direção arriscada ou de um descuido qualquer no trânsito, logo alguém grita: "Ô baiano!".
O que é o interior? De onde vem essa expressão? É lógico que tudo começou já no descobrimento do Brasil, com a criação de vilas e arraiais no litoral. São Vicente, São Sebastião do Rio de Janeiro, Illhéus, Porto Seguro, Olinda... estes foram os sítios mais bem estruturados. Pouco a pouco, com as descobertas de riquezas (pau-brasil,cana-de-açucar, ouro, café) a população deslocou-se para as montanhas, os altiplanos, subindo o curso de grandes rios (São Francisco, Rio Doce) e abrindo trilhas ("Estrada Real", por exemplo, de Paraty-RJ a Diamantina).
Mais recentemente, com a expansão da fronteira agrícola e agroindústria, implementação de parques industriais, mineração e metalurgia e, por último, incremento do turismo rural, nosso interior tem alcançado nível de qualidade de vida surpreendente, muito melhor do que nas degradadas metrópoles.
A cultura circula rapidamente através da TV, Rádio, estradas (ainda esburacadas... mas isto é outra história) e internet.
 

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