Basta pensar em sentir Para sentir em pensar. Meu coração faz sorrir Meu coração a chorar. Depois de parar de andar, Depois de ficar e ir, Hei de ser quem vai chegar Para ser quem quer partir. Viver é não conseguir. Fernando Pessoa, 14-6-1932
16 julho, 2004
What is this?
Embora embebido pelo temor de ser tachado de xenófobo, anglófobo, purista ou ranzinza, não posso deixar de opinar acerca da manchete de hoje (16.jul.2004) de alguns jornais brasileiros, dentre os quais o Estado de Minas: "Ranking da ONU vira briga entre Lula e FHC". A utilização de termos estrangeiros é um recurso legítimo em toda e qualquer língua, uma vez que há palavras intraduzíveis ou tão conhecidas que vão sendo assimiladas e enriquecem o vocabulário. Certas traduções, é verdade, forçam a barra, tal como os lusitanos fazem com termos da computação: empregam rato ao invés de mouse, por exemplo. Outros povos igualmente se utilizam de termos portugueses (ou brasileiros), quando não há equivalente ou para transmitir o espírito próprio original. Pois bem, a manchete (do francês, manchette, que pode significar título de notícia, notícia principal e modalidade de receber a bola, no voleibol) traz a palavra ranking (do inglês, rank = fila, fileira, classe. Daí: ranking: classificação, placar, etc.). Minha implicância (má vontade; quizila, embirração, birra) vem da suposição de que uma importante notícia deveria ser transmitida claramente, inteligível à maior parte dos prováveis leitores. O tal Índice de Desenvolvimento Humano, fator da suposta discórdia entre assessores - e não entre o atual Presidente com seu antecessor - restou obscurecido. Creio que muitos alfabetizados passaram os olhos rapidamente sobre o sujeito da oração (ranking) e foram logo atraídos para o complemento (briga entre Lula e FHC). Se essa foi a intenção do Editor, sobrou-lhe sutileza, pois pode ser mais interessante discutir as brigas entre poderosos que levar os leitores a se concientizarem do baixíssimo nível de desenvolvimento e suas causas. Caso contrário, acho que foi um anglicismo desnecessário.
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