“-Simplesmente falando a língua do Império.”
JoséMaria, Cida, Amélia, Cláudio, AnaPaula e Fernanda
A partir daí: piscina, ginástica, ofurô, que ninguém é de ferro!
II – Tempo da baianidade: Já no sábado, mal desfeitas as malas, corremos para o show da Ivete Sangalo, no Wet’n Wild, aquaparque.
Inúmeras bandas a tocar antes da estrela. Conclusão, eram duas da manhã, chovendo, uma multidão compacta, fome nos comendo por dentro e... voltamos pro hotel, sem ouvir Ivete! Na terça: contato de primeiro grau com o Olodum, a mil decibéis, precedido de show do Jam Jiri.
O coração batia ao som dos surdões, os pés pulando empolgados pelo ritmo afro-brasileiro, as mãos para o alto recebendo as energias irresistíveis do reggae baiano. Na quarta, Armandinho (de Dodô e Osmar) abre o Congresso Brasileiro de Psiquiatria com uma invenção do Hino Nacional: a guitarra estridente e rascante perfurando os tímpanos e empolgando uma platéia de quase três mil pessoas. O coquetel foi na base cerveja e sucos de frutas regionais, acompanhados do acarajé, caldo de sururu, pé-de-moleque, cocada, bolinhos de carne de siri, vatapá e barquete de siri catado. Tudo com muito azeite de dendê e pimenta ardida. Na quinta-feira, show de Daniela Mercury, no Othon, contratada para animar 800 convidados vips –e nós lá, é claro! Ainda no Othon, na sexta, apenas para 500 pessoas, o swing do Araketu, e a gente pulando que nem doido, sacudidos pela percussão violenta e arrastados pela musicalidade que penetrava artérias e veias, acendia o cérebro e anestesiava o cansaço! Ao longo da semana, almoços à base de moquecas de camarão, peixe, lula... Nos intervalos, uma passadinha no Centro de Convenções: não podíamos nos esquecer do Congresso.
Otávio Fróis, que foi colega da minha Ana Letícia na Faculdade de Direito da UFMG, gentilmente nos levou pela orla até a famosa Lagoa de Abaeté (“o Abaeté tem uma lagoa escura/arrodeada de areia branca/oi de areia branca...").
III – Tempo de refletir: pois é, foi tudo muito bom, foi tudo muito bem, mas... Ao visitar o Shopping Iguatemi, subimos pelo elevador do estacionamento até o 4° piso: lojas de primeira categoria, gente muito bonita, tudo muito caro... Na medida em que descíamos as escadas rolantes, eis que nos deparamos com a queda da qualidade das lojas, menos sofisticação das vitrines, até chegarmos ao primeiro andar: aí, só lojas populares, muita gente, quase todos afro-brasileiros de baixa renda... pela primeira vez estou num shopping que é o retrato descarado da estratificação social deste nosso paraíso tropical. Outros indicativos da segregação sócio-econômica estão presentes em qualquer cidade, é lógico, mas o Iguatemi era uma “aula de sociologia”! Se a miscigenação é cantada na Bahia em prosa e verso, aindá lá se trata de idealização, utopia, mistificação ou mascaramento. Salvador é a síntese deste imenso Brasil: muita arte, cultura, paisagens maravilhosas, negros (70%), mulatos (20%) e brancos (10%), -segundo nos informaram- e uma imensa desigualdade. Talento e criatividade, alegria e bom humor, malandragem, religiosidade, o umbigo e seu cordão “Brasil-áfrica” contrapondo-se ao país luso-brasileiro, afrancesado logo nos primórdios e cada vez mais dominado pela globalização galopante... O sul-maravilha e o sudeste têm muito que aprender e resgatar, sem ufanismos nem patriotadas. Se há um lugar onde pulsa o coração brasileiro, este lugar é a Bahia... é irresistível, fantástica, multifacetada e latino-afro-brasileiramericana. Axé!
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