- Como assim, cara pálida? perguntei.
No decorrer do texto, havia outros termos do campo psi, não necessariamente com embasamento científico, pois que se tratava de um texto leve, numa revista levíssima.
O autor quis agregar alguma reflexão psicológica à palavra adultescente.
Eu próprio já a ouvira antes, mas não custava nada socorrer-me na fonte inesgotável de saber (!), o buraco sem fundo chamado Google.
O primeiro link, texto de Sérgio Rodrigues, socorreu-me:
Adultescente é um neologismo jocoso de sentido óbvio, cruzamento de adulto com adolescente. No entanto, ainda não abriu caminho até os dicionários brasileiros e, mais do que isso, não parece ter vingado de verdade em nosso dia-a-dia. Tudo indica que vingará. Nascido no inglês americano como adultescent, registrado pela primeira vez em 1996 e eleito pelo dicionário Webster’s a “palavra do ano” de 2004, o termo já tomou assento firme pelo menos em espanhol, na forma adultescente, de grafia igual à nossa.
(...) adultescente tem consistência maior do que ajudar profissionais de marketing a bolar produtos destinados a esse nicho de mercado detectado no fim do século 20, o dos adultos “infantilizados”, consumidores de videogames e livros sobre magos mirins, que prolongam a dependência do lar paterno muitos anos além da média histórica, mesmo que – e isso é o mais intrigante – ganhem dinheiro suficiente para ter sua própria casa.
Um outro link remeteu-me para considerações de Maria Teresa Soares Eutrópio, mais próximas da interpretação psicológica:
Adultescente, pessoa imbuída de cultura jovem, mas com idade suficiente para não o ser. Geralmente entre os 35 e 45 anos, os adultescentes não conseguem aceitar o fato de estarem deixando de ser jovens.
A cronologia do fenômeno deu um salto de 20 anos! Vê-se bem que este critério não é lá muito confiável, inda mais que o psiquismo escapa do calendário.
Perseguindo o raciocínio do autor - não lhe lembro o nome e recuso-me a declinar o nome da revista. Confesso que estou sendo injusto, pois o que vi, a seguir, me agradou mais do que a primeira acepção (mercadológica), sendo mais profunda que a segunda (o que fundamenta a recusa em aceitar o fato de ser jovem?).
O conceito de adulto jovem seria aplicado, segundo o cara da revista, a alguns mecanismos psíquicos comuns ao que chamaríamos de pensamento mágico(Piaget), próprio da criança entre 7 e 11 anos, progressivamente abandonado até sua substituição por outra forma de estar-no-mundo, mais condizente com a realidade. Piaget diz que o egocentrismo é a base do pensamento mágico e a saída deste estágio de desenvolvimento intelectual se dará pela socialização e teste de realidade. É o que escreve Gobin:
Tratam-se de fenômenos psíquicos, complexos, com aspectos intelectivos, cognitivos, emocionais e sociológicos - inclusive dependentes da classe social a que pertence o tal jovem adulto.
- Vamos ao que interessa!
Três crenças alimentam o jovem adulto descrito na revista, as quais podem ser mais exacerbadas, caracterizando uma pessoa mais próxima da adolescência propriamente dita. Se mais tênues e diminuindo de intensidade, estaremos diante de um jovem entrando na fase adulta
- 1a. crença: Posso ser tudo!
- 2a. crença: Posso ter tudo!
- 3a. crença: O Tempo não passa!
O mundo do Marketing quer nos manter atrelados aí, prometendo-nos e aos jovens mais ainda, um mundo onde tudo é possível, o importante é viver o aqui e o agora, seja o que quiser: basta comprar tal ou qual gadget, o celular de última geração, o automóvel que suporta bombas, demolições e terremotos, já que transporta La Bündchen e Mr. Stallone! Seja você, também, um deles é o imperativo do marketing.
Assim, não dá mais para sair da casa dos pais, enfrentar o mundo (real), pois é preciso ter TUDO, ser TUDO e o futuro não existe!Mas não é preciso nenhuma 'psicologia' para revelar os conflitos que atravessam os adolescentes e os jovens adultos. Os poetas sabem dizê-lo, muito antes de inventarem palavras como adultescente e forjarem expressões tipo adulto jovem. Lembrei-me deste poema do Carlos Drummond de Andrade, que aprendi há anos e não me abandona:
“Vou dobrar-me à regra nova de viver.
Ser outro que não eu,
até agora musicalmente agasalhado
na voz de minha mãe, que cura doenças,
escorado no bronze de meu pai, que afasta os raios.
Ou vou ser menos, talvez isso,
apenas eu unicamente eu,
a revelar-me na sozinha aventura em terra estranha?
Agora me retalha o canivete desta descoberta:
eu não quero ser eu,
prefiro continuar objeto de família”.
[Drummond: "Fim da casa paterna"]
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui.