Este post vai pro paraense Marcus Pessoa, que escreveu: "o mito da saudade não tem idade". Visitando seu blog, pensei:
Há sentimentos e experiências que podem ser consideradas "inenarráveis", uma vez que só se pode ter noção do que se trata se a pessoa passar pela mesma situação. Mesmo assim, cada pessoa é única e singular e, em última instância, as palavras que vier a utilizar serão sempre coloridas pela sua particularidade. Mesmo aqueles vocábulos (os "nomes comuns" ou "substantivos comuns") que nomeiam objetos cotidianos, ao serem utilizados por alguém ou ao se intrometerem no discurso carregam significados pessoalíssimos, construídos ao longo da vida de cada um de nós. É mais ou menos isso que J.Lacan afirma quando diz que um significante (uma palavra qualquer, um signo, um traço) tem inúmeros significados [ S/s1,s2,s3... ]. Um exemplo óbvio seria a palavra "mãe", que, embora esteja associada indelevelmente à experiência pessoal de cada um com aquela entidade que nos gerou, ou cuidou, ou adotou, ou amparou, ou acarinhou... ou... ou... tá vendo? "mãe" são muitas, infinitas e, ao mesmo tempo, "mãe é uma só!": a minha!
Assim, cada palavra (=significante) tem significados múltiplos que se sucedem numa cadeia infindável.
Por isso mesmo podemos afirmar que a linguagem (a língua, qualquer língua) é insuficiente para dizer tudo o que se quer dizer! Haverá sempre um resto, um indizível, um inenarrável (palavra danada de bonita, essa). Os poetas são aqueles que, ao se apropriarem das palavras, fazem delas sua matéria prima com que conseguem exprimir as mais recônditas emoções, surpreendendo-nos com achados tão originais que se transformam em arte. E por falar em poesia, leia este post aqui, antigo e sempre novo!.
Agora, imagine só quando pulamos de idioma em idioma, onde o contexto cultural (tempo, espaço, geografia, história, etc.)varia desmedidamente. Surge o problema da tradução: traduttore tradittore (o tradutor é um traidor).
Pelo Marcus Pessoa cheguei ao site da BBC no qual o correspondente brasileiro em Londres, Ivan Lessa, comenta o resultado de uma pesquisa britânica acerca das palavras mais difíceis de serem traduzidas. Nossa "saudade" ficou em sétimo lugar:
1. Ilunga (tshiluba) uma pessoa que está disposta a perdoar qualquer maltrato pela primeira vez, a tolerar o mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez.
2. Shlimazl (ídiche) uma pessoa cronicamente azarada
3. Radioukacz (polonês) pessoa que trabalhou como telegrafista para os movimentos de resistência o domínio soviético nos países da antiga Cortina de Ferro
4. Naa (japonês) palavra usada apenas em uma região do país para enfatizar declarações ou concordar com alguém
5. Altahmam (árabe) um tipo de tristeza profunda
6. Gezellig (holandês) Aconchegante
7. Saudade, segundo o "Aurélio-SéculoXXI"=Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia;pesar pela ausência de alguém que nos é querido.
8. Selathirupavar (tâmil, língua falada no sul da Índia) palavra usada para definir um certo tipo de ausência não-autorizada frente a deveres
9. Pochemuchka (russo) uma pessoa que faz perguntas demais
10. Klloshar (albanês) perdedor
Ah! olhaqui: 'saudade' também é nome de flor, de acordo com o mesmo Aurélio: Designação comum a diversas plantas da família das dipsacáceas, principalmente da espécie Scabiosa maritima, e às suas flores; escabiosa, suspiro: "E ela deu-lhe do seio uma saudade / Murcha, e no entanto bela" (Gonçalves Dias, Obras Poéticas, II, p. 98).
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