Frequentemente ouvimos falar da inauguração de uma placa comemorativa ou do busto esculpido de uma personalidade a habitar uma praça ("logradouro público" - segundo a burocracia oficial).
Até os mortos têm, sobre suas tumbas, estátuas tragicamente belas, cinzeladas em mármore negro ou em alvas pedras: "Aqui jaz fulano de tal." Heróis da pátria, beneméritos, políticos orgulhosos de si, cada qual busca a imortalidade pétrea já tentada pelos faraós e suas mirabolantes pirâmides. "Vanitas vanitatum", "Mataiótes mataiotéton", "Vaidade das vaidades"...
Eis que me deparo com um poema de Angel Gonzales, cuja tradução livre deixo aqui:
Mensagem às estátuas
Sei que vocês, pedras,
violentamente deformadas e quebradas
pelo golpe preciso do cinzel,
ainda exibirão durante séculos
o último perfil que representam:
seios indiferentes a um suspiro,
pernas firmes que desconhecem a fadiga,
músculos tensos em inútil esforço,
cabeleiras pétreas que o vento não altera,
olhos abertos que não vêem a luz.
Pois sua imóvel arrogância,
sua fria beleza,
sua desdendosa imutabilidade,
tudo isso acabará, um dia!
O tempo é persistente, tenaz.
A terra também espera por vocês:
Ao pó retornarão. Caídas sob o próprio peso,
haverão de ser cinzas, ruínas, poeira,
quando sua pretensa eternidade nada mais será!
Tornar-se-ão pedras, já que pedras nunca deixaram de ser,
mineral sem vida, puro escombro,
depois de ter vivido por um tempo
ostentando memória de vitórias -
glória vã de algo também dissolvido no esquecimento!
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