"Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra, disse: vai, Carlos, ser gauche na vida". Taí o primeiro verso do poema autobiográfico do Carlos Drummond de Andrade. Drummond confessa, logo de cara, sua claudicação pela vida: ser gauche é ser meio manco, meio sem jeito, tímido talvez.
Pois, quando nasci, meus pais me deram um nome: Vai, menino, ser Cláudio na vida! Acho que foi logo aí que me identifiquei com o Poeta itabirano. Afinal, meu nome deriva do verbo "claudicar = arrastar de uma perna; não ter firmeza em um dos pés; coxear, mancar, capengar e, no sentido figurado, cair em erro ou falta; fraquejar intelectualmente". Ai, ai, ai, minha humildade não chega a tanto, nem Soié e Dona Aparecida me rogaram praga nenhuma! Segundo minha mãe, tratava-se de um nome bonito e menos comum e, além disso, nome de imperador romano! Um grande futuro me esperava - ou ainda espera, duvidar quem há-de?
Gosto de utilizar o verbo claudicar sempre que cometo uma gafe, ou "mancada =
atitude, resolução, comportamento errôneo, cujos resultados são insatisfatórios ou negativos; falha, lapso, erro, indiscrição espontânea, irrefletida; ação ou fala inoportuna; gafe."
Pois agora, confesso: de vez em quando dou umas mancadas, que deus-me-livre-e-guarde!
Aqui vai uma:
- encontro-me com o jornalista político Vidal, na rua da Bahia. Logo digo: "- Há quanto tempo". E ele: "- Viajei, estava em Milão." Todo afoito, exclamo: "- Ah! então deve estar ótimo no alemão!"... "- Que isso! Milão fica na Itália." Tento consertar: " - É mesmo, onde fica a FIAT." Não deu mais, desolado, me ampara: "- Não, a FIAT fica em Turim!!!". Deixei um cumprimento sem graça e me mandei! Já claudicara demais!
E você, já claudicou alguma vez?
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