19 outubro, 2005

MATAR OU MORRER?

Tem rolado uma discussão até interessante, que a todos nos faz pensar:
- Como acabar com a violência?

Há inúmeras propostas, idéias... que vão desde o desânimo (nada se pode fazer) até à instauração da pena de morte (legalizada) o porte de armas à população civil (para que se defenda!) ou a proibição de venda de armas (para que não nos matemos!!!).
- SIM ou NÃO no referendo?

Parece-me que o foco das discussões oscila entre vertentes múltiplas:
1a.) como acabar com a violência?
2a.) como acabar com os bandidos?
3a.) acabando com os bandidos, acaba-se com a violência?
4a.) o que causa a violência?

Para a primeira questão, tenho uma resposta terrível: a violência é inerente ao ser humano (se não se educa uma inocente criancinha, ela já será insuportável!)

A história da violência (violência = uso da força) se confunde com a história do ser humano: no primeiro livro bíblico, aprendemos que os filhos de Adão e Eva se envolveram numa briga, por CIÚMES !!! Caim, não suportando o que ele interpretou como preferência divina por Abel (já que a fumaça dos sacrifícios do irmão -ao cremar as oferendas- subia em linha reta para o CÉU) resolveu matá-lo. De fato, acabou com ele.

Tá bom, isso pode ser apenas uma lenda judaica, mas serve de paradigma: se até os irmãos de sangue brigam e se matam, quem não será capaz de fazer o mesmo?
Amantes matam em nome do amor...
Soldados matam em nome da pátria...
A polícia mata em nome da Lei...
A Igreja, o Islã, o Protestante, todos mataram e continuam a matar em nome da Fé... (Dizem que as guerras religiosas são mais frequentes e mortíferas do que as guerras por território!) E matam em Nome-de-Deus!
Existem casos de homicídio, parricídio (filho matar o pai), filicídio (pais matarem filhos), etc....

O maior número de casos de abuso sexual e violência física contra crianças acontece DENTRO de casa, por um parente!!!

Quando alguém nos ofende, dizemos: "Fulano MORREU prá mim!"... ou seja: Eu o MATO afetivamente...

A história da humanidade é um filme de terror, verdadeiro holocausto, incessante, terrível, avassalador, onde os vencedores e dominadores sempre exterminaram seus semelhantes (tachados de hereges, inimigos perigosos, bárbaros... qualquer desculpa vale para, exatamente, livrar-nos da CULPA).

Não me assusto com os gritos de "morte aos inimigos! morte aos bandidos!" pois eu mesmo, na hora em que me sinto agredido, ou ao ter algum conhecido roubado, assassinado, lesado, eu mesmo sou dominado pela raiva ("se eu pudesse, te esganava!!!").

A RAIVA mobiliza meus impulsos agressivos (normais, naturais e necessários à sobrevivência) e, naquele momento, me identifico com meu agressor: Eu = Bandido! Se ele mata, eu também mato (ou condeno à morte, na forma da Lei).

Para a segunda questão (como acabar com os bandidos?) não tenho resposta. O que não significa que nada possamos fazer.

Para controlar a violência inerente ao ser humano (como demonstramos acima) a própria humanidade se esforça desde tempos imemoriais: Já na antiga Mesopotâmia, criou-se o primeiro código legislativo de que se tem notícia: o famoso Código de Hamurabi (meu irmão Bonifácio e minha filhota
Ana Letícia podem dar aulas sobre isso).

Desde então, criam-se leis, que são aperfeiçoadas ao longo da história. Algumas leis são do tipo ( Honesto = Bandido ), são as normas tipo Lei do Talião (olho por olho, dente por dente)... Outras,mais brandas, outras mais severas, pois autorizam o Estado a matar o assassino, seus pais, seus filhos, seus parentes.... até confiscar todas as propriedades.... Isto existe, sim!

Eis, pois, o que considero a mãe de todas as questões: como punir os bandidos e como desestimular e inibir a violência que habita o coração dos homens?
- Tarefa impossível, porém NECESSÁRIA!

O que sustenta a humanidade na face da Terra é, exatamente, lutar para conseguir o impossível. Daí as leis, a ordem, os castigos, os prêmios.... enfim, a Lei (sempre imperfeita, nunca onipotente).

Por melhor que sejam, porém, leis são feitas por nós, homens e refletem nossa imperfeição.

O que podemos esperar de uma civilização em que o exercício da autoridade está sendo colocado em cheque, os governantes titubeiam no exercício do controle de atividades ilícitas, já não se consegue diferenciar o certo e o errado, a polícia e o ladrão?

Ora, a única forma de inibir os impulsos agressivos é a EDUCAÇÃO, no sentido mais amplo.

Começa, aqui, o exercício das Virtudes: JUSTIÇA, alegria, solidariedade, respeito ao próximo, CULTURA, amor, poesia, arte, honestidade, não submissão ao consumismo, valorizar o SER e não o TER!!! Exatamente o que vai na contramão dos (des)valores do mundo atual.

A injustiça é tão disseminada e estrutural que podemos afirmar: a violência faz parte e é uma das estratégias de dominação e segregação. Ou seja: está deflagrada a luta de castas!

- Difícil, né?
- Eu também acho.

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