Basta pensar em sentir Para sentir em pensar. Meu coração faz sorrir Meu coração a chorar. Depois de parar de andar, Depois de ficar e ir, Hei de ser quem vai chegar Para ser quem quer partir. Viver é não conseguir. Fernando Pessoa, 14-6-1932
28 dezembro, 2007
Maria Cleonice
24 dezembro, 2007
Natal são muitos
Há os que se sentem plenamente imbuídos da idéia do sagrado e valorizam os rituais religiosos com a celebração alegre do nascimento do 'menino-deus': preparam-se no tempo do advento e comemoram a epifania como o acontecimento mais importante para o gênero humano. Trata-se de uma experiência mítica e místico-religiosa, que os afeta em sua singularidade e os faze se sentir partícipes de um projeto de salvação universal. Ser religioso importa num conjunto de crenças e, para alguns, uma fé convicta sustenta sua posição perante o mundo. Se, de um lado, a fé e o pertencimento ao grupo garantem a segurança do "um" pela identificação ao "outro", contudo não é suficiente: de que vale a fé sem as obras? O esgarçamento dessa dimensão ao longo dos séculos e sua incorporação pela cultura judaico-cristã-ocidental mitigaram as exigências éticas e reduziram a rituais o comprometimento exigido nos primórdios.
Inda mais, o avanço do capitalismo e seu mais perverso corolário, "não existem pessoas, o que existe é O Consumidor", descambaram na transformação das festividades natalinas em orgia consumista, cujos templos são os palácios dos shoppings ou as tendas abarrotadas de ofertas. A cada ano, o onipresente departamento de marketing inventa o 'produto dos sonhos' e nosso desejo é capturado pela promessa de felicidade infinita, aqui e agora. Basta comprar o celular G4, a tv de plasma, o laptop de mil recursos, o automóvel definitivo.
Não se pode negar que existam ainda muitas e muitas pessoas dotadas daquele 'sentimento oceânico' do qual se ocupou Freud: trata-se do anseio por um pertencimento ao mundo, desejo esse em que o medo da perda de amor se situa na dianteira do sentimento de autopreservação e segurança a partir da identificação com o universo em que o indíviduo vive. Para Romain Rolland, o pensador francês que criou este termo, o sentimento oceânico seria o fundamento do sentimento religioso. Creio que o perído natalino desperta uma certo olhar compassivo para o semelhante, servindo de alívio para a culpa que alguns carregam pela indiferença à fome, à miséria, à exclusão. Distribuem-se presentes, fazem-se campanhas de solidariedade, distribuem-se migalhas aqui e ali. O mundo parece mais cor-de-rosa, ainda há esperança quanto ao futuro da humanidade, o ser humano pode até ser bom. Mas a vida continua, cada qual mergulha na azáfama cotidiana em busca de acumular bens, riquezas e segurança, enquanto os excluídos aguardam o próximo Natal, que será usufruído apenas pelos sobreviventes. E la nave va.
Deparamo-nos com muitos que dizem detestar o Natal. Se uns criticam o consumismo, outros reclamam do trânsito, muitos se sentem angustiados com os gastos para presentear por pura obrigação. Mas há os que se sentem tristes, verdadeiramente deprimidos: o Natal é a pior época do ano, confessam. Às vezes dizem: 'não sei o porquê disso'. Bastam alguns minutos de atenção e nossos ouvidos se enchem de lembranças amargas, ressentimentos nunca resolvidos, culpa, raiva, solidão. Podem acusar a sociedade de ser hipócrita e não há como tirar-lhes a razão. Mas não se trata de ter razão, pelo menos na clínica.
É tempo de reencontros, reaproximações, visitas à família distante, encontro com vizinhos, abraços na repartição, festinhas de amigo-oculto (sempre chatas e burocráticas!)...
Como enfrentar tantas contradições? Mergulhar de cabeça nas compras? Comer, comer e comer? Isolar-se de tudo e de todos? Rezar e orar? Cada um encontrará seu jeito próprio, pois as receitas em oferta pela mídia nem sempre são fáceis de seguir.
Quanto a nós, vivenciamos um pouco de tudo isso. Reencontramos os amigos, desejamo-lhes sinceramente um Feliz Natal (cada qual sabe como é ser feliz - não?), decoramos a casa, repartimos uns poucos presentes. Evitamos o consumismo e o desperdício. E o aniversariante do dia, aquele que deu origem a tudo isso, este tem um lugar simbólico na simplicidade de um presépio artesanal. Amélia, Ângelo e Renatinha representaram na estante uma pequena vila do interior. Os caminhos são tortuosos, como a vida. Mas as cores são vivas e, um pouco afastado, lá está ele, o Menino:
Presépio feito por Amélia, Ângelo e Renatinha,
com casinhas-de-barro (artesã: Jovita, do vale do Jequitinhonha-MG) Foto by Cláudio Costa.
22 dezembro, 2007
E F E M É R I D E S
2. Outro dia foi a inauguração da "árvore-de-natal-da-Lagoa-da-Pampulha". Parece que já está virando tradição. Começou no Rio -Lagoa Rodrigo de Freitas-; São Paulo construiu a sua no Ibirapuera e, agora, Beagá entra no esquema. Há patrocínio comercial, claro, mas não deixa de ser mais um motivo para a gente circular pelos lados da Igrejinha da Pampulha. Pelas fotos que vi, parece que a "deles" está mais bonita, mesmo! A vantagem é que essas imensas estruturas são flutuantes e temporárias. A Ana aproveitou uma foto minha e colocou como banner no Mineiras, Uai!. Ficou bonito.
Árvore de Natal na Lagoa da Pampulha-BH. Fotos & composição by Cláudio Costa. Ver mais.
16 dezembro, 2007
O Rio de Janeiro continua lindo, amigão!
1. Aeroporto horroroso, o tal do Tom Jobim. Saindo de lá, em direção à zona sul, você pega a 'linha amarela' (cercada da favelas) ou a 'linha vermelha' e cai na Av. Brasil, cujo trânsito é qualquer coisa de louco. Pro centro - minha reunião foi na Presidente Wilson - o caminho passa pelos armazens decadentes e sujíssimos do porto, numa avenida, a Rodrigues Alves, que avança debaixo de uma via suspensa. Tudo muito feio e, por suposto, perigoso.

4. À tardinha, hora de voltar pro Galeão. Deram-me uma dica: vá ali pro Santos Dumont e tome o frescão, é só R$ 6,50. Como o tempo sobrava, aceitei a alternativa. Mas...
Mas em frente ao Santos Dumont (a parte nova) não vi ponto de ônibus. Perguntei ao segurança que me apontou o lugar correto, uns 200m além. Virei as costas quando escuto:
- Ô amigão!
Era o segurança, correndo em minha direção e já dizendo:
- Olha aqui, tem um amigão meu ali, mexe com frota de carro executivo, ele te leva.
- Mas não estou com pressa, amigão (nessa hora, é bom ter "amigões", não?).
Estacionado, vi o tal-que-mexe-com-frota-de-carro ao lado de um Honda prata, todo sorridente, um corpanzil que dava três de mim. Pensei: -Mais parece um leão-de-chácara, vigilante de boate.
Hesitei por meio segundo e perguntei o preço da corrida.
- O preço é 50 paus, mas faço por 25, amigão.
- Só tenho 15, não vai dar.
- Dá sim, amigão, vamo lá!
Com tanta prova de amizade, não resisti. O segurança me olhava todo sorridente e o amigão/motorista já abria a porta do banco traseiro. Delicadezas cariocas, presumo.
O motorista contou vantagens do seu novo Honda, dizendo que, agora, estava casado com aquele carro. Empolgadíssimo, explicou:
- Foi ontem, foi ontem mesmo que o emplaquei.
Elogiei ao máximo sua nova esposa, enquanto voltávamos pelo mesmo trajeto da manhã: "Pelo menos estamos indo em direção ao Tom Jobim", pensei.
5. Voei de volta pela Gol, tratado como marajá: 1 horinha só de atraso, poltrona apertadíssima e lanche requintado: um pacote de amendoim torrado e 1 copo dágua!
6. A aproximação do Aeroporto de Confins foi sob os últimos raios de sol:

7. Em casa, Amélia me pergunta:
- E aí, meu bem, como foi lá no Rio?
- Ótimo, arranjei um amigão!
09 dezembro, 2007
Oscar Niemeyer e eu

Apesar disso, gosto muito das 'invenções' de Niemeyer e me surpreendo cada vez que me deparo com suas obras. Em Curitiba, visitei o Museu Oscar Niemeyer de onde recebi, outro dia, um pedido inusitado: querem reproduzir algumas fotos minhas da Igrejinha da Pampulha. Viram-nas no meu álbum do Flickr, disseram que estão ótimas e ilustrarão uma revista especial sobre Niemeyer! Claro que autorizei e aguardo, ansioso, receber um exemplar.
Àqueles que visitarem nossa cidade, fica o convite: além do pão-de-queijo, do quiabo-com-angu e de muita prosa, conheçam também a BH de Niemeyer.
21 novembro, 2007
Pulinho ali
17 novembro, 2007
Guias para uma viagem (ao) interior (*)

À entrada de uma caverna, deparo-me com três guias turísticos que me fazem propostas distintas:
O primeiro, com uniforme próprio e aparência de experiente e seguro, interroga-me sobre o motivo que me levou ali. Digo-lhe de meu desejo de conhecer a famosa gruta. Confesso-lhe meus receios, medo de entrar e ansiedade pelo que poderia encontrar lá dentro. Termino assim:
- Sr. Guia, o que tenho? Como fazer para resolver isso?
Após anotar tudo numa ficha, meu nome e dados pessoais, pergunta-me sobre minha família e, diz:
- O sr. tem uma espeleofilia associada a uma espeleofobia de origem idiopática. Siga minhas instruções e tudo será resolvido.
O segundo guia, cuja indumentária não o distinguia das demais pessoas, escuta minha demanda com solícita atenção e fala:
- Compreendo seu conflito. Entraremos juntos. Na medida em que você sentir alguma coisa, algum incômodo, alguma curiosidade, explicar-lhe-ei tudo. Fale à vontade, expresse quaisquer sentimentos e caminhe no seu ritmo: estarei sempre por perto. Aos poucos, se esclarecerá o medo e vai conseguir dominá-lo.
O terceiro guia escutou-me com atenção e solicitou-me que falasse um pouco mais. Explicasse melhor o que eu queria. Era minucioso! Quase nunca concluía ou opinava. Seu silêncio estimulava-me a continuar.
Finalmente, convidou-me a entrar na caverna escura e desconhecida para mim e fez uma proposta estranha e instigante:
- Nessa viagem (ao) interior, você deverá falar tudo que lhe vier à cabeça. Não esconda nada, por mais absurdos ou inconvenientes que pareçam seus pensamentos, idéias, os sentimentos e seus sonhos. Pode ser que surjam lembranças, experiências, personagens remotos de sua vida... Teremos, provavelmente, um passeio longo. É possível que você descubra coisas impensáveis, esquecidas e, mesmo, valiosas. Quem sabe o que, de verdade, você teme? Se isso acontecer - para isso estou aqui - então você poderá assumir todo seu desejo. Conhecendo-o, saberá para onde ir e o que buscar. Não será fácil. Vamos?
Certamente caricatural, essa analogia me ocorre, com freqüência, quando tento explicar o modus operandi do psiquiatra, do psicólogo e do psicanalista.
Diante do mesmo paciente, suas propostas de trabalho serão, com certeza, diferentes, pois seus métodos e técnicas se sustentam em teorias diversas. Ninguém poderá garantir os resultados, embora alguns profissionais se considerem deuses infalíveis, oniscientes e poderosos.
SE não encontrar o “guia” que lhe convém, o viajante deverá reformular sua demanda.
Um guia não poderá avaliar o outro a partir dos próprios princípios, uma vez que a coerência interna de uma teoria, aliada à prática, jamais alcançará isenção suficiente, ou a neutralidade epistemológica ideal.
Psiquiatria, Psicoterapia e Psicanálise são campos distintos. Às vezes se opõem e se contradizem, outras vezes se aproximam, chegam à interseção e podem interagir.
O que vai definir a escolha de um ou outro profissional e sua “arte” de trabalhar pode ser a demanda, a sorte, o azar, um anjo ou um diabo. Entretanto, é necessário que não nos enganemos, já que, na maioria das vezes, o cliente é aquele que diz:
- Dr., ajude-me a mudar sem que nada mude.
Psiquiatra, Psicólogos ou Psicanalista?
Psiquiatra é aquele profissional que cursou a Faculdade de Medicina e se especializou no tratamento de doenças mentais. Antes de tudo, um médico que deve fazer diagnósticos e pode prescrever medicamentos, remédios, fármacos.
O Psicólogo, por sua vez, cursa uma faculdade de Psicologia e, na clínica, especializa-se em alguma técnica psicoterápica. Trabalha com técnicas diversas, individualmente ou em grupo, mais ou menos diretivos. Alguns se encaminham para as organizações, empresas, dão consultoria, fazem seleção profissional, etc.
Tanto um quanto outro podem fazer formação psicanalítica, passando pelo processo de sua própria análise e, aí, tornando Psicanalistas.
Estes, embora tenham por fundamento a teoria freudiana do inconsciente (Sigmund Freud), podem desempenhar seu ofício de acordo com linhas teóricas consequentes aos seguidores do fundador: kleinianos (Melanie Klein), winnicottianos (Donald Winnicott), junguianos (Carl Gustav Jung), lacanianos (Jaques Lacan) - para citar os mais comuns. Explicam o adoecimento a partir de conflitos internos entre forças contraditórias dentro do próprio indivíduo, principalmente na repressão aos impulsos sexuais, etc.
Dentre os próprios Psiquiatras - todos médicos -, podemos encontrar:
a) os psiquiatras mais organicistas ou biológicos, que defendem a idéia de que o adoecimento psíquico é devido a alterações bioquímicas, problemas com os chamados neurotransmissores - substâncias que fazem a transmissão dos impulsos nervosos dentro do cérebro, tipo: dopamina, serotonina, noradrenalina, norepinefrina, ácido gamaaminobutírico. Consequentemente são mais adeptos da medicação e sempre tratam com remédios.
b) Outros, em geral, passaram por uma experiência analítica ou psicoterápica, e consideram o uso da palavra (talk therapy) como o recurso terapêutico fundamental, sem dispensar o uso dos fármacos, cada dia mais e mais eficazes. Dispõem-se, entretanto, a "escutar" o que o paciente tem a dizer (ou teme dizer).
Alguns pacientes referem-se a estes dois grupos com expressões do tipo:
a)psiquiatra médico – o que só receita remédio –
b)psiquiatra psicólogo – aquele que conversa!
É evidente que tal polaridade esconde duas armadilhas a serem evitadas:
“A primeira é o medicalismo, que responde ao pedido de ‘remédio’ com a solução química, tida como mais rápida e eficaz, como se não houvesse outro ‘remédio’ para o sofrimento.
A segunda é o psicologismo, que responde ao pedido de soluções para o ‘trauma’ , entendido como ameaça ou castigo psicológico por uma conduta errada, com a tarefa moral de corrigir o erro através de uma pedagogia supostamente esclarecida”. (Ana Cristina Figueiredo)
Não cair nessas armadilhas foi o que, surpreendentemente, conseguiu um clínico, aluno meu em um dos cursos que ministrei para profissionais da rede pública em Belo Horizonte:
Relatou o acontecido num Posto de Saúde, quando, diante da falta do cardiologista, uma senhora muito nervosa, esbravejante, ameaçava chamar a TV para testemunhar a “desorganização” do serviço.
Nosso clínico se prontificou a atendê-la.
Pediu a receita anterior do cardiologista, para fazer a prescrição. A senhora imediatamente saca da bolsa um papel dobrado, entrega-o ao médico, que constata, surpreso, tratar-se de uma Certidão de Casamento! A mulher, logo, percebe o engano (ato falho?) e quer retomar o papel:
– Doutor, eu me enganei.
O médico, de pronto, retruca:
- Estou vendo que seu problema é, realmente, de coisas do coração.
Foi o que bastou para a paciente, surpresa, assentir com a cabeça. De imediato principia a narrar suas atribulações conjugais. Ao final, ela própria pede para ser encaminhada ao serviço de Psicologia. E, é claro, prescreveu-lhe o antihipertensivo, pois a hipertensão era real.
Moral da história: cada turista tem o guia que merece.
10 novembro, 2007
04 novembro, 2007
Convicção
02 novembro, 2007
Samba, suor e cerveja (não nesta ordem)
Em seguida, os pesquisadores mediam seus níveis de hidratação, habilidade de concentração e coordenação motora.
Metade deles recebia dois copos de cerveja, enquanto o resto recebia água. Depois disso, todos podiam beber quanta água quisessem.
Segundo o Daily Mail, os estudantes que beberam cerveja demonstraram níveis de hidratação "um pouco melhores" do que os que beberam apenas água.
Garzon acredita que o dióxido de carbono na cerveja ajuda a matar a sede mais rápido, enquanto os carboidratos da bebida substituem as calorias perdidas durante o exercício físico.

31 outubro, 2007
A Town Where All the World Is a Bar
O artigo de SETH KUGEL provocou reações ambivalentes em muitos de nós, pois fala com todas as letras que Beagá é quase completamente desconhecida fora do Brasil, apesar de ser uma metrópole. Assim explica a desimportância da capital de Minas:
Its international anonymity was born of no coastline and thus no beaches, no famous Carnival and thus no February madness, and no big attractions save a few buildings designed by Oscar Niemeyer that pale next to his famous works in Brasília.
A gente não tem praia, não tem Carnaval e nem grandes atrações, a não ser uns poucos edifícios projetados por Niemeyer! Caramba! como é ruim escutar/ler isso no NYT. A gente quer só elogios, a gente às vezes se acha... Quequiéisso? Yes, nós temos barzinhos, botecos, Mineirão, Pampulha, serras, cachoeiras, museus... Mas o dedinho na ferida tá doendo: - Vocês não têm praia! - O carnaval em BH não existe! (tudo verdade, sniff, sniff).
E agora? penso eu: como vou convencer os gaúchos Milton e Afonso a retribuir minha visita aos pampas? Como vou alardear meu bairrismo pros quatro cantos do mundo? E tantos outros blogueiros que sonham em vir provar de nossas delícias, da "comida di buteco", do queijo canastra, da pinguinha da roça?
Ah! mas o SETH KUGEL, ressalta a menina-dos-olhos do belorizontino, o Mercado Central. É, realmente, imperdível. Cita o nome de alguns barzinhos e faz recomendação especial à região de Macacos.
Finalmente, aos que se abalarem do hemisfério norte para conhecer a "capital dos bares", há um minidicionário básico, pra gringo nenhum ficar sem sua geladinha:
Cerveja (sare-VAY-zha): beer;
Garrafa (ga-HAHF-ah): bottle;
Chopp (SHO-pee): draft beer;
Mais uma!: I’ll have another!;
Desce mais uma rodada: One more round;
Saideira (sah-ee-DARE-a): One last round.
Sugiro que esta conversa continue regada a uma cervejinha com tira-gosto mineiro em um dos 12 mil bares da cidade. Ou já são 15 mil?
27 outubro, 2007
Mais uma vez: Soié

20 outubro, 2007
Civilidade para... médicos!
É claro que, naquela época, aprendi muitas outras coisas que me marcaram e determinaram os rumos de minha vida. "Civilidade", porém, emergiu do pré-consciente ao me deparar com o conteúdo do pacote entregue pelos Correios: o livro "Etiqueta Médica", enviado como presente pelo Conselho Regional de Medicina (MG) para todos os médicos de Minas.
Foi aos 11 anos que frequentei as primeiras Aulas de Civilidade, assim denominadas as palestras semanais proferidas pelos padres-professores do vetusto Colégio do Caraça. Pretendiam ensinar aos recém chegados alunos as boas maneiras: como proceder à mesa, como relacionar-se entre colegas, como estudar, como tratar os mais velhos e as autoridades, cuidados corporais, tom de voz, propriedade nos vestir, recepção de visitas, cuidados com quem nos hospeda, virtudes da polidez, discrição, gratidão, etc.
Pois esses assuntos todos e muito mais são retomados pelo Dr. Alcino Lázaro da Silva, do qual tenho lembranças das aulas de cirurgia.
Etiqueta Médica não é simples manual de boas maneiras, um rol de salamaleques, frescuras ou futilidades. Pelo contrário, seus tópicos e comentários têm profunda interseção com e Ética. Contém dicas e recomendações que visam garantir o melhor resultado do ato médico e giram em torno do conforto e respeito ao paciente. Isso significa ÉTICA.
O Dr. Alcino bem sabe das mazelas da formação médica, no que tange à capacitação humanística. Privilegia-se o conhecimento dito científico e se alimentam os sonhos onipotentes de muitos jovens, movidos pela sedução do 'avental branco' e a constelação de fantasias de ascenção social.
Não foi sem cálculo que reproduziu, na folha de rosto do libreto, uma frase de George Bernard Shaw:
"É isso que faz do estudante de medicina a figura mais desagradável da civilização moderna. Falta de respeito e de boas maneiras"
Há ítens dedicados ao avental, vestuário, pontualidade(*), sigilo, como lidar com os acompanhantes, uso de telefones, o corredor do hospital, etc. Dois verbetes se referem à etiqueta cibernética (internet) e uso do correio eletrônico.
Atento aos novos hábitos sociais, impreganados de informalidade, fala até da goma-de-mascar:
"Não é elegante examinar mascando. Há dificuldade em se expressar, por dois motivos. A compreensão fica difícil pelas palavras truncadas e repassa-se uma sensação de maus hábitos alimentares. Para não dizer que algum perdigoto pode ser transferido para o paciente". [pag. 16]
Ao trabalho médico iluminado pelo saber, aquecido pelo humanismo e impregnado de ética, Dr. Alcino fornece pitadas de 'boa conduta', etiqueta e... civilidade.
18 outubro, 2007
Todo dia é dia de médicos e... doentes.
Fiz o copy&paste da Folha de São Paulo, pois compartilho as idéias tão bem expressas pelo colega paulista, Miguel Srougi:
14 outubro, 2007
Travessia
- Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada.
É o que acontece nas viagens, antevividas desde o sonho e a preparação, a compra das passagens, o roteiro, a esperança ou o desejo dos encontros. A vida é, igualmente, uma viagem e uma travessia, cheia de mistérios e acontecimentos, alegrias e tristezas. Buscam-se para o viver: explicação, sentido, controle, conhecimento, leveza, memória que preserve os bons momentos por meio de imagens e recordações, fotos e lembranças.
Por isso narramos e descrevemos o acontecido, as peripécias, aventuras e vicissitudes, percepções e impressões. E, no narrar, revivemos...
A viagem que encerramos na madrugada de hoje teve muitos objetivos: participar do Congresso de Psiquiatria, passear pela serra gaúcha, comemorar nosso aniversário de casamento e rever amigos.
Para cada ítem caberá diferente linguajar, mesmo que o narrador seja o mesmo. Fatos serão ressaltados de acordo com a pretensa objetividade (jamais plena, bem o sabemos).
Mas a fidelidade que persigo, agora, é falar com alma e coração do Encontro que venceu o éter cibernético e o écran luminescente dos computadores e se concretizou em convivência de amizade. Na Travessia entre partida, chegada e retorno, tivemos histórias, famílias, amizade.
Falar com alma e coração do que experimentei nesses dias em Porto Alegre é tarefa para poetas, daqueles que ultrapassam o simples manuseio das palavras e transformam o vivido em 'universal', retratando o indizível das travessias que são as experiências cotidianas, encontros e desencontros.
Assim, meus caros Afonso e Milton, guardaremos, Amélia e eu, cada momento de convivência, cada chiste e cada abraço, cada delicadeza e a infinidade de sabores.
Ao Milton e sua Cláudia, nosso muito obrigado: compartilharam a própria casa de tal forma que nos sentimos à vontade, velhos conhecidos, amigos íntimos, simples assim.
A foto abaixo ilustra o clima de amizade, fruto de identificações e liberdade: nossas mãos em seus ombros obedeceram a script ditado pelo afeto:

Tainha na Telha (Mercado Central de Porto Alegre-RS)
Mais fotos e palavras belíssimas sobre nossos encontros foram postados pelo Afonso, aqui.
11 outubro, 2007
Micro-notas
1. Consegui dormir a noite toda, de ontem pra hoje, na cama adrede preparada pelo casal Ribeiro-Antonini, num certo quarto amarelo. O segredo de uma boa noite de sono? Leia aqui.
2. O jantar que Madame Antonini preparou é qualquer coisa que somente grand-chefs conseguem produzir: legítimo risoto de camarão e uma surpreendente salada temperada com quelque chose éxotique... segredos, segredos. Se alguém souber como se deliciar e não engordar, conte-me. Ouvi dizer que o importante é 'comer sem culpa'. Tá bão...
3. O D. Afonso já contou nosso reencontro às margens plácidas do Guaíba, que não se sabe se é rio, lago, baía, enseada ou assemelhados. Tem até photographias.
4. Neste momento, Amélia faz um city-tour, enquanto o maridão assiste palestras (ou tecla estas micro-notas). Ninguém é de ferro.
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Azáfama e adrede são palavras buscadas no baú da memória para fazer jus ao linguajar pampeiro... quem for bagual que o diga.
08 outubro, 2007
Novo endereço (provisório)
03 outubro, 2007
Viagem no tempo
30 setembro, 2007
Churrasco de surubim ou Surubim na brasa


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27 setembro, 2007
Frei Betto: - "Engana que eu gosto"
Engana que eu gosto
"Assim, de engano em engano, para o bem de todos e a felicidade geral da nação, transcorre a nossa história"
Ora, é evidente que contra o senador não há “provas conclusivas”, tudo não passou de gentileza do lobista de uma grande empreiteira. A contabilidade pecuária está em ordem, embora haja certa desordem na documentação pertinente.
Desde muito cedo, o cidadão brasileiro é educado na síndrome do engano, enfermidade de etiologia política cuja cura só pode ser alcançada mediante doses maciças de auto-estima e senso cívico.
Os descobrimentos da América e do Brasil foram magníficos encontros de culturas transoceânicas. O saldo de milhões de indígenas mortos é mero acaso de organismos vulneráveis em suas defesas imunológicas às gripes e resfriados que os ibéricos contraíam em contato com as frias correntes marítimas.
A casa-grande, generosa com os escravos, tratava-os como filhos, e uns tantos senhores, livres de todo preconceito, chegaram a mesclar seu sangue de branco ao prenhar negras e gerar o mestiço e este símbolo nacional chamado mulata.
Graças à benevolência da casa-grande é que a senzala, farta de carnes variadas, brindou-nos com o prato de preferência nacional: a feijoada. E que não se olvide o bom-gosto do caipira, inventor deste coquetel que, hoje, conquista o sabor mundial: a caipirinha.
A rebelião de Vila Rica não passou de uma transposição extemporânea, ao solo pátrio, das idéias iluministas em voga na Europa. O bando de intelectuais, surpreendidos em sublevação contra a Coroa, fez de um alferes boi de piranha. Tanto que outro qualificativo eles não mereceram senão o de inconfidentes, incapazes de guardar confidência, segredo. À exceção do que teve o pescoço enforcado, deduraram uns aos outros. Hoje, o evento passaria à história como Deduragem Mineira.
E a Guerra do Paraguai? Foi lá o nosso Exército pacificar aquele povo iludido pela mente insana de um caudilho raivoso disposto a defender valores anacrônicos: a soberania nacional e os direitos sociais. Tamanha a paz que os nossos militares impuseram à nação vizinha, que apenas em cemitérios se pode encontrar tanta quietude.
Em Canudos, um bando de fanáticos, liderados por um fundamentalista desmiolado, ousou contrapor-se à proclamação da República! Não tivesse aquela gente resistido à ação pacificadora do Exército, teriam todos sobrevivido e, ordeiramente, retornado ao sadio trabalho nas lavouras canavieiras.
Tantas proeminentes figuras em nossa bela história: Vargas, pai dos pobres; JK, 50 anos em 5; Jânio, o homem da vassoura; Collor, o caçador de marajás! Merece destaque a Revolução de 1964, que salvou o Brasil da ameaça comunista e imprimiu índices astronômicos ao nosso desenvolvimento. Vide a Transamazônica, a Ferrovia do Aço, o Mobral e o fim do analfabetismo! Se um bando de subversivos preferiu trocar canetas por armas, insatisfeitos com a hierarquia trasladada dos quartéis às ruas, não fizeram as Forças Armadas outra coisa senão reagir em defesa da lei e da ordem.
Assim, de engano em engano, para o bem de todos e a felicidade geral da nação, transcorre a nossa história. Ela que avança em ciclos de prosperidade, do pau-brasil ao ouro, do café à cana-de-açúcar, do minério à madeira amazônica, da soja à carne e, agora, retorna aos canaviais, de onde jorra o etanol, a bola da vez a oferecer ao mercado externo.
Sabemos todos que a verdade é inconveniente, incômoda,
constrangedora. É melhor esse jeitinho elitista, capaz de acomodar as situações mais conflitivas e adotar, em nossas escolas, a versão cordial sobre o povo brasileiro. Povo pacífico, ordeiro, leal, com exceção de uns poucos que enxergam mensalão onde houve apenas “operações não contabilizadas”. E ainda querem avacalheirar o presidente do Senado!
Engana que eu gosto!, diz a nação. Porque não há reação, não há manifestações nem mobilizações. Cadê as lideranças populares, as centrais sindicais, as pastorais proféticas? Fora um ou outro protesto ou gesto de indignação, tudo permanece como dantes no quartel de Abrantes.
Razão tinha Proust que, em Sodoma e Gomorra, escreveu: “No mundo da política as vítimas são tão covardes que não se consegue considerar os algozes maus por muito tempo.”
[Frei Betto é escritor, autor de A mosca azul –
reflexão sobre o poder (Rocco), entre outros livros.]
21 setembro, 2007
18 setembro, 2007
15 setembro, 2007
Pequena Homenagem a Bashô
Bashô - Prefiro olhar esta árvore a olhar o templo que fica no vale. Prefiro olhar esta folha a olhar a árvore. E, depois, esta gota de água à folha onde está pousada. Agora pergunto-te: serás capaz de escrever um poema acerca desta gota?
Jovem Poeta - Julgo que sim. Por isso terei que falar da folha, da árvore e do templo.
Bashô - Será preciso? Então, por que não falar também do vale onde se encontra o templo? Nesse vale corre um rio.
Jovem Poeta - E referir-me-ei a esse rio...
Bashô - Talvez seja melhor falares nos seus peixes. São prateados porque é deste modo que neles aparece a sombra. E a sombra desce porque está a anoitecer.
Jovem Poeta - A noite é semelhante às escamas do peixe. Há nelas também um pouco de luz. Os teus ensinamentos ajudam-me tanto... Julgo progredir pouco a pouco, mas seguramente.
Bashô - As escamas... Estás a pensar agora numa folha?
Jovem Poeta - Sim. As gotas de água aparecem nessa folha como se escamas fossem.
Bashô - Mas ainda não disseste o que é preciso dizer acerca da luz e da noite. E de outras coisas. O vulto de alguém que, antes de principiar a madrugada, se encaminha para pescar nesse rio e leva consigo uma lanterna para atrair os peixes. A mulher que, em casa, lhe prepara a primeira refeição. O ruído um pouco abafado das chaleiras. O modo como um e outro se despediram...
Jovem Poeta - Queres com isso dizer que no poema muitas coisas devem ficar devidamente expressas, que ele deve referir-se a tudo?
Bashô - Não é bem isso. O que quero dizer é o contrário. Nele, tudo pode ser dito, desde que se fale apenas de uma gota d'água.
(Fernando Guimarães, in "Limites para uma Árvore" - Poesia Afrontamento 2000)
08 setembro, 2007
Maria Aparecida
Nasceu minha mãe no dia 09/09 de um ano terminado em 9. Após 9 meses, cheguei a este mundo, em outro ano com final 9, quando minha mãe tinha 19 anos. Ela teve 9 filhos.
Mais uma vez, o número 09/09 se repete no calendário. Seria uma data qualquer, um domingo qualquer.
Domingo, entretanto, é o aniversário de minha mãe Aparecida, a moça bonita aí da foto.
O bíblico Salomão, há séculos, perguntou: "A mulher forte, quem a encontrará?"
Pois respondo: minha mãe é uma mulher forte, amorosíssima e cuidadosa com os filhos. Brinca, trabalha, dança (mesmo!), verifica, afaga, previne, remedia, aconselha, manda, pede, ajuda, reprime, resmunga, chora, sorri, tudo olha, faz-que-não-vê, intui, deduz, adivinha ("o mindinho me contou"), controla, apoia, socorre, reza, reza muito, tem fé e nos ensinou o bom caminho.
Faz aniversário há anos e continua jovem ao lado do namorado Soié.
O presente? Ah! quem ganha é a gente mesmo: ter você por perto, Mamãe, eis a dádiva que Deus nos deu.
Sua bênção para o filho, Cláudio.