23 abril, 2004

Matar ou morrer (?)

Tem rolado uma discussão muitíssimo interessante, que a todos nos faz pensar: como acabar com a violência?
Há inúmeras propostas, idéias... que vão desde o desânimo (nada se pode fazer) até à instauração da pena de morte (legalizada) ou porte de armas à população civil (para que se defenda!).
Parece-me que o foco das discussões oscila entre duas vertentes:
1a.) como acabar com a violência?
2a.) como acabar com os bandidos? (acabando com os bandidos, acaba-se com a violência?)
Para a primeira questão, tenho uma resposta terrível: a violência é inerente ao ser humano (se não se educa uma inocente criancinha, ela já será insuportável!)
A história da violência (violência = uso da força) se confunde com a história do ser humano. Já no primeiro livro bíblico, aprendemos que os filhos de Adão e Eva se envolveram numa briga, por CIÙMES !!! Caim, não suportando o que ele interpretou como preferência divina por Abel (já que a fumaça de seus sacrifícios -ao cremar as oferendas- subia em linha reta para o CÉU) deu cabo (MATOU) seu único irmão. Tá bom, isso pode ser apenas uma lenda judaica, mas serve de paradigma: se até os irmãos de sangue brigam e se matam, quem não será capaz de fazer o mesmo?
Amantes matam em nome do amor...
Soldados matam em nome da pátria...
A polícia mata em nome da Lei...
A Igreja, o Islã, o Protestante, todos mataram e continuam em nome da Fé...(Dizem que matam mais do que todas as guerras por território!) E matam em Nome-de-Deus!
Existem casos de homicídio, parricídio (filho matar o pai), filicídio (pais matarem filhos), etc....
O maior número de abuso sexual e violência física contra crianças acontece DENTRO de casa, por uma parente!!!
Quando alguém nos ofende, dizemos: "Fulano MORREU prá mim!"... ou seja: Eu o MATO afetivamente...
A história da humanidade é um filme de terror, verdadeiro holocausto, incessante, terrível, avassalador, onde os vencedores e dominadores sempre exterminaram seus semelhantes (tachados de hereges, inimigos perigosos, bárbaros... qualquer desculpa vale para, exatamente, livrar-nos da CULPA).
Por isso, não me assusto com as palavras de "morte aos inimigos! morte aos bandidos!" pois eu também, na hora em que sou possuído pela RAIVA (ao me sentir agredido, ou ao ter algum conhecido roubado, assassinado, lesado) sou dominado pela raiva ("se eu pudesse, te esganava!!!). A RAIVA mobiliza meus impulsos agressivos (normais, naturais e necessários à sobrevivência) e, naquele momento me identifico com meu agressor: Eu = Bandido! Se ele mata, eu também mato (ou condeno à morte, na forma da Lei).
No filme que estreou recentemente em nossos cinemas, A PAIXÃO DO CRISTO, o diretor Mel Gibson nos provoca até o fundo da alma: quem suporta assistir aos mais terríveis e sangüinolentos golpes sobre Jesus? Banhados pelo sangue, clamamos por sangue. O que Ele fez? Ele, que tudo podia, pois era filho do HOMEM? (Você sabe!).
Para a segunda questão (como acabar com os bandidos?) não tenho resposta. O que não significa que nada possamos fazer.
Para controlar a violência inerente ao ser humano (como demonstramos acima) a própria humanidade tem se esforçado desde tempos imemoriais.
Já na antiga Mesopotâmia, criou-se o primeiro código legislativo de que se tem notícia: o famoso Código de Hamurabi (Bonifácio e Ana Letícia podem dar aulas sobre isso). Desde então, criam-se leis, que são aperfeiçoadas ao longo da história. Algumas leis são do tipo ( Honesto = Bandido ), são as normas tipo Lei do Talião (olho por olho, dente por dente)... Outras, mais brandas, outras mais severas, pois autorizam o Estado a matar o assassino, seus pais, seus filhos, seus parentes.... até confiscar todas as propriedades.... Isto existe, sim!
O Direito Romano (mais perto de nós) e que nos influenciou muito, prevê gradações de penas, etc. etc. (De novo, convoco Bonifácio e Ana Letícia para darem aulas...)...
Eis, pois, o que considero a mãe de todas as questões: como punir os bandidos e como desestimular e inibir a violência que habita o coração dos homens?
Tarefa impossível, porém NECESSÁRIA! O que sustenta a humanidade na face da Terra é, exatamente, lutar para conseguir o impossível. Daí as leis, a ordem, os castigos, os prêmios.... enfim, a Lei (sempre imperfeita, nunca onipotente). Por melhor que sejam, as Leis são feitas por nós, homens ("peregrinando neste vale de lágrimas" - como nos ensinou Da. Aparecida, rezando a Salve Rainha).
Ora, a única forma de inibir os impulsos agressivos é a EDUCAÇÃO do espírito, no sentido mais amplo. Assim, nossa porção animal poderia ser contrabalançada por nossa porção psíquica. Começa, aqui, o exercício das Virtudes: JUSTIÇA, alegria, solidariedade, respeito ao próximo, CULTURA, amor, poesia, arte, honestidade, não submissão ao consumismo, valorizar o SER e não o TER!!! Não vai cessar a violência, mas atenua a barbárie, domando os bárbaros (nós mesmos).
Difícil, né? Eu também acho.