26 maio, 2005

Dos Confins ao Guaíra - Parte II

Dia cheio:
O céu claríssimo, sem uma núvem. O sol não venceu a frente fria: 6º C. (brrrrr)
Aqui no Hotel Deville tomo o café-da-manhã como convém: receita de Soié e Aparecida: iogurte desnatado + frutas + granola. Um café-com-leite quentíssimo para esquentar e uma fatia de bolo (não resisti) prá arrematar.
O ônibus para o ExpoTrade Pinhais fica logo ao lado: "Curitiba-Piraquara - Parador".
Achei que se referia ao filme "Um luar sobre Parador" com Sônia Braga: A sinopse diz tudo:
A morte repentina de Alphonse Simms (Richard Dreyfuss), o ditador de um país latino-americano, Parador, faz Roberto Strausmann (Raul Julia), o chefe de gabinete, e a polícia nacional "convencerem" um sósia, Jack Noah (Richard Dreyfuss), que é ator e tinha acabado de filmar no país, para se fazer passar pelo mandatário. Desta forma Strausmann pode governar, usando Noah como fantoche. Porém enganar a namorada do governante, Madonna Mendez (Sônia Braga), não é uma tarefa tão fácil quanto iludir o povo .
Não, "Parador" indicava, apenas, que o ônibus parava nos pontos do seu percurso. Pois entrei, paguei R$ 1,80 e, 10km adiante, saltei numa imensa pradaria (não confundir com padaria), atravessei a rodovia e adentrei no ExpoTrade.
O Congresso de Neurologia e Psiquiatria Infantil é organizado pela ABENEPI e se estrutura em conferências, mesas redondas, foruns, etc., compartimentado em áreas de Psiquiatria, Neurologia, Saúde Mental, Bebê, Criança, Adolescente, etc. Um mundo de palestras, discussões, compartilhadas por pelo menos 2.500 congressistas de todo o Brasil, do Cone Sul e até dos Estados Unidos.
No sábado-28, estou no Fórum sobre a Formação do Psiquiatra da Infância e Adolescência, representando a Residência Médica que coordeno. Também coordeno uma Mesa Redonda. Os contatos com os colegas de todo o Brasil é a melhor parte: revemos os amigos, renovam-se as amizades.
Ainda não deu prá ver nada da cidade, apenas as primeiras impressões, ao chegar, das quais falei no post de ontem.
É impressionante ver o interesse das pessoas de todas as áreas envolvidas com crianças e adolescentes: psicologia, pedagogia, neuropediatria, pediatria, assistentes sociais, psiquiatras. Há um amplo espaço para as discussões sobre políticas públicas para a atenção à saúde mental das crianças e já se ouviram críticas ao descalabro dos serviços (quando existem) e à carência quase absoluta de serviços. Estes, quando existem, estão apenas em capitais (nem todas) e em alguns municípios maiores. No Estado de São Paulo, por exemplo, há alguns serviços de qualidade compatível com o "primeiro mundo", mas insuficientes, absolutamente insuficientes. O que dizer do resto do Brasil?
Na verdade, mesmo após o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) promulgado em 1990, quase nada é cumprido.
Eis o que reza seu artigo 4º:
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
Alguém já viu isso ser praticado?