20 fevereiro, 2007

CIÚME E DESESPERO: O INFERNO

Daqui a pouquinho, às 11h, darei uma entrevista à Rádio Itatiaia-FM (95,7) (clique no link para escutar on line).

O programa: José Lino

O tema: Ciúmes.


A jornalista que me convidou explica, por telefone:
- Está havendo um tititi no BBB7: uma das participantes brigou com o namorado, ambos participantes do programa, porque o rapaz deu uns selinhos nas colegas. Não quer desculpá-lo, nem a ele nem às 'amigas', pois se sentiu traída. Diz a mocinha que não pode suportar 'contato físico do namorado com mulher nenhuma!

A propósito, republico um post que fiz em 07 de setembro do ano passado. Aqui vai:

Procura-me um rapaz (N.) de 20 anos, universitário.

Acaba de perder a namorada (T.):

- “Ela é linda, doutor, uma modelo. A gente namora desde o segundo ano do colegial, eu tinha 15 anos e meio; ela, 14. Fazíamos tudo junto: fins-de-semana, festas, passeios, almoços, cinema, até a própria faculdade: ela quis entrar pra mesma faculdade que eu, um ano depois de mim. A gente só não se via quando estava dormindo! Agora, ela não quer saber mais de mim, brigou comigo. Chegou pra mim, de repente, na quarta-feira passada e, sem mais nem menos, falou:

- Olha, N., há dois meses estou repensando nossa relação. Resolvi dar um tempo!

Essas palavras me detonaram, Doutor. Desmontei. Chorei, implorei, falei que ela estava errada, que ela era a mulher de minha vida. Mas ela foi irredutível, saiu do carro, lá no estacionamento da faculdade e me deixou ali, feito criança, chorando. Na hora do almoço não fui pra minha casa, mas pra casa dela. Cheguei lá e falei com a mãe dela que T. estava ficando louca! A T. chegou e nem queria olhar pra mim. Mas insisti que deveríamos conversar mais. Aceitou. Fomos pro quarto dela e, aí, ela falou que não suportava mais meus ciúmes, que queria viver a vida, que queria sair com os colegas – coisa que eu não deixava. Se eu nem mesmo tenho amigos, como é que vou ficar sem ela? Mas ela não cedeu. Então lhe prometi que iria mudar, seria outro homem, que ela poderia sair, sim, mesmo que me machucasse. Jurei, da boca pra fora, claro, que a deixaria ir às festas da turma dela sem mim, que fosse ao shopping com as colegas, até mesmo que viajasse prum sítio, no final de semana. Mas ela tinha de me prometer que não ficaria com ninguém, que não beijaria ninguém, pois eu não suportaria. Eu me mataria se soubesse disso. Ela concordou e só então fui pra casa. À noite, liguei pra ela, só pra conversar como amigos e não a encontrei. Ela tinha ido pro barzinho com a turma dela. Não agüentei: desci a Avenida Afonso Pena a 140km, cortando pela direita e pela esquerda, devo ter sido multado naquele radar da Contorno, ali do Tobogã, o senhor sabe? Cheguei na Prudente de Morais. Ela bem ali, alegre, rindo, cheio de gente, uns caras que eu nunca vi. Avancei pra cima dela. Só não bati, mas xinguei de tudo: irresponsável, insensível, traidora, burra! Burra, sim, porque me tinha largado pra ficar com gente que só quer saber de sarrar ela. Burra porque não enxerga meu amor por ela, que ela é a mulher de minha vida. Tenho certeza disso, ela é a mulher de minha vida. O pessoal até me segurou, senão teria batido nela. Acabei indo pra casa, arrependido, com medo de ter colocado tudo a perder, pois eu a agredi feio. Não durmo desde então. Hoje é segunda e não consigo comer desde quarta-feira. Emagreci já 6kg por causa dela. A vida perdeu o sentido, doutor. Quero morrer. Mas não tenho coragem de me matar, não vou deixá-la por aí. Ainda mais porque acredito que ainda vou reconquistá-la. Posso falar com ela pra vir aqui? Pra ela fazer uma terapia com o senhor e voltar atrás? O senhor me ajuda?”

Ao nascer, perdemos o a segurança e aconchego proporcionados pelo útero e adquirimos duas ansiedades básicas que nos acompanharão pelo resto da vida: o medo do ataque e o medo da perda. Logo, estabelecemos uma relação idílica com a mãe, na ilusão de que formamos um par perfeito, até que descobrimos uma terceira figura, um gigante, o pai – o marido dela, o Outro. Na grande maioria dos casos, mais um intruso se interpõe: um irmão a se aninhar nos braços daquela que imaginávamos ser somente nossa.

Essas primeiras experiências amorosas e de “frustração” nos deveriam ter ensinado que:

a) não existem garantias de exclusividade;

b) não podemos manipular as ações do outro;

c) e mais ainda: não podemos dominar o desejo do outro!

Os ciúmes existem e atormentam os humanos desde Caim e Abel. Shakespeare desenvolveu o tema em Otelo. Os homens já inventaram o cinto de castidade. Mata-se e se morre por amor (?).

Os ciúmes podem ser decompostos em três sentimentos básicos que se manifestam em condutas correspondentes:

a) Insegurança: baixa de auto-estima e conseqüente medo de não ser amado, ansiedade, sentimento de posse e necessidade de controle. O ciumento se torna possessivo e cada vez mais insuportável ao outro. Cava sua própria desgraça!

b) Inveja: quero que meu (minha) amado(a) não dê a outrem o que julgo ser somente meu; não tolero ver outra pessoa receber o carinho, o afeto, o olhar daquele(a) que amo!

c) Raiva: odeio meu amado (minha amada) quando não faz aquilo que eu desejo. Odeio também quem recebe a atenção que deveria ser somente para mim. E meu ódio me leva à agressividade: tenho de destruir ambos: meu objeto de amor – que agora odeio – e o intruso – usurpador do meu bem e causa minha perda!

Muitas vezes, a baixa de auto-estima e a culpa por meus sentimentos e ações agressivas para com o objeto amado são tão insuportáveis que a agressividade se volta contra mim mesmo: então quero morrer: "se você não ficar comigo, eu me mato! Já que você me traiu, prá que viver?" O meu “suicídio por amor” contempla minha dupla necessidade: a autopunição e a punição de quem eu amava e agora odeio. E me odeio, por não possuir você, por ter deixado você escapar de mim, por odiar a quem amo!

Tais idéias podem ser fruto de fantasias, até mesmo de delírios (tal como o delírio de ciúme dos alcoólatras). Neste caso, as consequências são terríveis.

Se é verdade que um certo grau de ciúmes pode “esquentar” uma relação e mesmo erotizá-la, é mais comum que ciúmes patológicos tornam o amante cada vez mais rígido, vigilante, controlador, inseguro, às vezes deprimido e, muitas vezes, agressivo. A pessoa não suporta a idéia de perder o objeto de amor pela convicção de que jamais encontrará alguém que o substitua. O pensamento recorrente é:

- Tenho de estar absolutamente seguro(a) de que ele/ela me ama, pois sem seu amor não posso viver. Tenho que estar atento(a) porque, a qualquer momento, quando menos espero, posso ser roubado(a).

É o inferno, dentro de nós!
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Post republicado.