04 agosto, 2005

Os corruptos: interface entre a Polícia e a Psiquiatria?

A CID-10, Classificação Internacional de Doenças-10ª revisão, descreve assim os portadores do que chama de Transtorno de Personalidade Anti-Social:

Como se caracterizam essas pessoas ?
Caracteriza-se pelo padrão social de comportamento irresponsável, explorador e insensível constatado pela ausência de remorsos. Essas pessoas não se ajustam às leis do Estado simplesmente por não quererem, riem-se delas, freqüentemente têm problemas legais e criminais por isso. Mesmo assim não se ajustam. Freqüentemente manipulam os outros em proveito próprio, dificilmente mantêm um emprego ou um casamento por muito tempo.

Aspectos essenciais

  • Insensibilidade aos sentimentos alheios;
  • Atitude aberta de desrespeito por normas, regras e obrigações sociais de forma persistente;
  • Estabelece relacionamentos com facilidade, principalmente quando é do seu interesse, mas dificilmente é capaz de mantê-los;
  • Baixa tolerância à frustração e facilmente explode em atitudes agressivas e violentas;
  • Incapacidade de assumir a culpa do que fez de errado, ou de aprender com as punições;
  • Tendência a culpar os outros ou defender-se com raciocínios lógicos, porém improváveis.
Segundo esta classificação da OMS (Organização Mundial de Saúde), os transtornos de personalidade se constituem como uma perturbação grave da constituição caracterológica e das tendências comportamentais do indivíduo, não diretamente imputável a uma doença, lesão ou afecção cerebral, ou a outro transtorno psiquiátrico e que, usualmente, envolve várias áreas da personalidade, sendo quase sempre, associado à considerável ruptura pessoal e social.

Os portadores deste transtorno de personalidade anti-social têm uma característica muito interessante e que lhes convém: a forma aloplástica de defesa adotada diante dos fatores estressantes. Ou seja: tais indivíduos tendem a reagir com frieza, buscando mudar o ambiente ao invés de se transformarem, de buscarem mudanças internas. Assim, atribuem ao meio (aos outros, ao costume, às contingências) os motivos para seu comportamento. Não sofrem e não reconhecem a necessidade de ajuda. Quando se arrependem, fazem-no pelo que "deu de errado" e pelas "consequências" (castigos que porventura recebam), jamais pelo dano causado a outrem ou à sociedade. De maneira geral, são pessoas bastante espertas e inteligentes, com capacidade para urdir tramas, estabelecer vínculos proveitosos e lucrar sempre.

É muito difícil estabelecer um limite nítido entre o que seria uma personalidade "normal" e uma personalidade "anti-social", a ponto de muitos estudiosos defenderem a extinção dessa categoria diagnóstica. Dizem: "é necessário despsiquiatrizar a falta de limite, o crime, a sem-vergonhice. Com efeito, não existem os elementos fundamentais para uma conceituação rigorosa, do ponto de vista do modelo científico adotado pela medicina:
  • etiologia (causa do problema): não detectada biológicamente; imprevisível do ponto de vista de antecedentes familiares, psicossociais, educacionais;
  • tratamento: não existem medicações específicas para o suposto transtorno;
  • substrato neuro-anatômico, neuro-funcional, neuro-hormonal: não existem.
Às vezes, diante das figuras patéticas e repugnantes que desfilam em nossos noticiários, enlameados pela corrupção, traidores da confiança dos eleitores e caras-de-pau sem nenhum constrangimento, fico na dúvida: estamos diante de um bando de 'personalidades anti-sociais' ou de simples bandidos?

Seja qual for a conclusão, merecem cadeia ou hospício. Se forem para os manicômios, temo pela sanidade e integridade dos loucos.