06 julho, 2004

Festa no interior

Meu irmão Clóvis, dublê de engenheiro e psicodramatista, acaba de me enviar uma história das boas, coisa típica de mineiro. Imagine a cena: à noite, assentados no caramanchão de seu sítio no Retiro do Chalé, irmãos, esposas, cunhadas, sobrinhos, filhos... cada um de nós contando o "causo" mais pitoresco, e vem o Clóvis com este aqui:
-"Vamos para Jaboticatubas?", perguntei. -"Vamos, a gente chega lá, faz uma "patela" cozida no fogão de lenha, com mandioquinha e outras guloseimas, uma pinguinha do "Sô Cazinho", e no domingo a gente volta", foi a resposta.
O convite veio rápido, a resposta mais depressa ainda, e rapidinho estávamos em Jaboticatubas.
Retiramos os excessos de gorduras e nervos da patela, chama crepitando no fogão à lenha, panelas de pedra e de ferro aquecendo a água e cozinhando a mandioca, tempero caseiro (da roça mesmo!) e ... aquele cheirinho delicioso de comida da roça, cachacinha pura de primeira, papo legal, com D. Luzia, Clé, Cristiane, Carmen, Ludmila, Antônio, outros, eu e Consola, curtindo um início de noite super agradável, à beira do fogão de lenha.
-"Vamos ao aniversário do Daniel? O Daniel do buffet", alguém falou. -"Olha, eu acho que não vou, pois não fui convidado!", respondí. -"Pode ir sim, todo mundo da cidade está convidado, e os visitantes também!", explicou. -"Mas primeiro vai ter missa de São Benedito, procissão, reza no terreiro da casa dele, e depois comida à vontade", esclareceu o André.
D. Luzia falou: -"É isso mesmo, ele fez uma promessa para São Benedito curar a esposa dele, São Benedito curou, e todo ano ele dá a festa para todo o povo. Já é o sétimo ano consecutivo, quem quiser pode ir..."
E lá fomos nós. Primeiro à missa na Igreja Matriz. São Benedito sendo homenageado, cânticos especiais, e o Daniel, agradecendo as graças alcançadas e convidando todo mundo para a sua festa.
-"Agora estou oficialmente convidado", comentei com Consolação. -"Então também vamos".
Acompanhamos a procissão até à casa do Daniel. No caminho, orações, banda de música, foguetes. Chegando lá, um altar especial para São Benedito, mais orações, cantos religiosos, danças (camdoblé) em sua homenagem, velas, agradecimentos e mais promessas. Num mastro, no terreiro da casa do Daniel, foi içada uma pintura de São Benedito, mais uma homenagem do povo, que realmente tem fé!
Toda a rua reservada, somente para os convidados, com várias barraquinhas: canjica, caldo de feijão, caldo de mandioca, quentão, bolos e doces. Tudo por conta do Daniel... Fogueira (mais ou menos 2,5 m de altura) no meio da rua (no meio da festa) aquecendo todas as pessoas que quiseram participar. E, acreditem, não ví nenhum empurrão, nem uma baderna. Tudo na mais perfeita paz. Os garçons, com as bandejas de bolo, broas de fubá, copos com canjica grossa, quentão, caldos, oferecendo para todos. E todo mundo comendo, se fartando de felicidade. Um bolo de 4m de comprimento esperava a hora do parabéns para ser servido aos convidados. Após às homenagens merecidas a São Benedito, em um palco, algumas apresentações artisticas, músicas e canto.
"Vamos embora? Já são mais de 23h, o parabéns só vai ser cantado mais tarde, e tem uma "carninha" deliciosa esperando a gente lá em casa". "E o bolo?". "Fica para o próximo ano...".
E voltamos para casa, para saborear a deliciosa cachaça do "Cazinho", a patela quentinha e o calor do fogão de lenha. E depois de agradecer pelo dia maravilhoso, um bom sono de felicidade!