17 julho, 2004

"Uvas verdes"

Tenho visitado o blog do Alexandre Cruz Almeida, onde leio coisas bem interessantes. Ultimamente, ele tem comentado o fim de seu casamento. Fala abertamente das dificuldades enfrentadas e abre espaço para comentários dos leitores, muitos leitores. Alexandre fala de outros fracassos e do propósito de ser feliz, que não abandona. Selecionei uns pedacinhos de seu último post, muito pertinente e instigante:  
Os Uvas-Verdes e os Gênios Incompreendidos
O mundo é cheio de pessoas que escolheram não ser bem-sucedidas. Vocês devem conhecer alguém assim. Há o colega que tirou 5 na prova, mas tem certeza que teria tirado 10, se tivesse estudado - mas não quis. Há a dona-de-casa, com uma bela voz, que se tivesse seguido carreira hoje seria maior que a Maria Rita - mas preferiu criar 8 filhos no Grajaú. E por aí vai. São os uvas-verdes, pessoas blasé que nunca mergulham de cabeça em nada, que nunca se esforçam 100% para alcançar nenhum objetivo.
Assim, deixam sempre aberta a possibilidade de dizer: é, não consegui, mas a verdade é que nem tentei. Se tivesse tentado, teria conseguido, mas preferi minha vidinha.
Fracassos e Fracassos
Alguns de vocês sugerem que meu problema talvez seja não meu fracasso, mas meus objetivos. Não me considero um fracasso porque não sou rico, porque não sou bonito, porque não fui publicado, porque não vendi trolhões de livros, porque não tenho uma coluna no Globo, porque não ganho R$15.000 por mês, nada disso - apesar de serem todas coisas que eu gostaria muito. Me considero um fracasso por ter fracassado em alcançar dois objetivos relativamente simples: manter minha empresa e manter meu casamento.
Como não sou uva-verde, não posso nem me consolar dizendo que teria conseguido se tivesse me esforçado mais. Não. Eu dei 100%, me esforcei ao máximo, usei todos os truques. E, ainda assim, falhei. Por isso, estou me sentindo fracassado. Meu "fracasso" em alcançar objetivos não-importantes (nunca fui campeão de surfe) ou até mesmo objetivos importantes, mas para os quais eu não me esforcei (ter coluna no Globo), é absolutamente irrelevante.
O Gênio Incompreendido
O mundo também é cheio de gênios incompreendidos. Vocês devem conhecer alguns. Por definição, o gênio incompreendido tem mais de 30-35 anos. É fácil perceber porquê. Quando o cara tem menos de 30, ele ainda não se acha incompreendido: só gênio. Ele é gênio, sabe que é gênio, sua genialidade só ainda não estourou porque ele é muito novo, ainda é cedo, o mundo ainda vai ouvir falar muito dele. O sujeito apenas se torna um gênio incompreendido com o passar do tempo, a medida em que nada acontece, ele não estoura, o mundo não ouve falar nele. Então, ao invés de reconhecer que ele não é gênio coisa nenhuma, o indivíduo conclui que o mundo não o compreendeu, que o mundo não o merece, que ele está a frente de seu tempo.
Na verdade, não acho que esse é um modo intrinsicamente errado de se encarar a situação. Por um lado, há a real possibilidade de ele ser mesmo um gênio que o mundo não percebeu - Bach, Kafka, etc. Por outro, acredito mais em felicidade do que na verdade: de que lhe adianta encarar uma verdade - sua total incompetência - que só vai lhe trazer tristeza? Melhor ser feliz na crença de sua genialidade não-compreendida.
Infelizmente, raros são os gênios incompreendidos felizes: quase todos chafurdam na amargura e na inveja com a mesma sofreguidão com que porcos chafurdam na lama.
Pior que fracassado, o gênio incompreendido é um amargurado. O erro foi do mundo, não dele. E como o mundo é um adversário grande demais, o tipo de amargura do gênio fracassado leva à imobilidade e ao rancor. Para que lutar, se o mundo está contra mim? Para que produzir, se o mundo é incapaz de entender minha mensagem? Melhor ficar pelos bares, bebendo cerveja e destilando veneno contra o establishment cultural. A princípio, alguns são até fascinantes, mas é ilusão. O gênio incompreendido é péssima companhia.
Eu gostei muito disso tudo aí de cima. E você?