18 novembro, 2008

14 novembro, 2008

Doce-de-laranja e queijos.

Santa Maria de Itabira fica logo ali, 140km a nordeste de Belo Horizonte, depois de Itabira, a terra do Drummond. Se nada tivesse de especial, já teria a maior importância na minha vida: foi a cidade em que Amélia nasceu; é onde vive meu sogro, até hoje.

Pois foi com produtos de Santa Maria de Itabira que minha cunhada e minha sobrinha (Rosa & Adélia) presentearam-me regiamente: queijos variados e um divino doce-de-laranja (este, feito pela própria Rosa).

Assim, em pleno dia-de-semana, o almoço aqui em casa virou festa, pelo menos na hora da sobremesa, genuinamente mineira e familiar. Tivemos queijo "minas" e dois tipos de requeijão, moreninho e com raspa. Impossível comer apenas um pedaço.
Quer provar?Requeijão de raspa e moreninho, queijo "minas" e doce-de-laranja "da Rosa". Foto by Clcosta.

13 novembro, 2008

Memória x repressão x poesia

Lembrei-me agora de como fui me despertando para o mundo simbólico da poesia.

Não aquela poesia "escolar" aprendida no Grupo Escolar Desembargador Drummond, lá de Nova Era, terrinha mineira e simpática às margens do Rio Piracicaba....

Falo de quando minha cabeça foi se abrindo para o
mundo mundo vasto mundo, nas aulas de Literatura Brasileira, no antigo Colégio do Caraça. Maurílio Camello e João Batista Ferreira, outrora padres e professores, fizeram-me a cabeça. Por conta disso, tive a ousadia de escrever uma cartinha ao tio-padrinho Ismar, pedindo um livro do poeta Carlos Drummond de Andrade.

Tio Ismar tinha um modo especial de me presentear: foi-me dando, aos poucos, os livros de Monteiro Lobato, desde O Sítio do Picapau Amarelo até História do Mundo para as Crianças. Como eu viajava naquelas narrativas...

Tenho outras histórias com o Tio Ismar: deu-me o primeiro método para aprender piano, o Schmmol; levava-me a passear na Capital e, com ele conheci o asfalto (que ele brincava de chamar "chão preto"); levou-me a almoçar num restaurante "giratório", onde fiquei entre a comida deliciosa e o assombro diante das mesas que, literalmente, davam uma volta completa sobre o salão!!!


Pois bem, o tio atendeu meu pedido e enviou-me um exemplar da Antologia Poética, de Drummond. A correspondência passava na "censura prévia" do padre disciplinário (como casam os padres, este já se casou, também). Chamou-me ao seu gabinete, senho franzido, aspecto grave, tom de preocupação:

"-Meu filho, olhaqui, chegou um livro prá você, de um poeta muito esquisito!".


Impetuosamente lancei mão do livro recém desembrulhado, sobre a mesa.


"-Calma! quero comentar com você algumas coisas: veja essa poesia aqui... nem sei se é poesia".

Leu no meio do caminho tinha uma pedra..., "isso parece coisa de ateu, meu filho, sem esperança!".

Selecionou outro poema,
A Mão Suja. Escandindo bem as palavras, voz de mistério, reticente:


"- Minha mão está suja.
Preciso cortá-la.
Não adianta lavar.
A água está podre.
Nem ensaboar.
O sabão é ruim.
A mão está suja,
suja há muitos anos."


"-Tá vendo, meu filho? isso não é coisa para um jovem puro e inocente como você. O autor está incentivando a masturbação! Isso vai desviar você do bom caminho!".


Dito isso, guardou o livro sob chave, numa gaveta da escrivaninha.

Desde então, nunca mais vi a Antologia Poética do Drummond!


Minha mãe, sabedora do meu gosto pela literatura e pelo poeta itabirano, passou a me enviar, semanalmente, recortes do jornal Estado de Minas, com as crônicas e poemas do poeta C.D.A.! Mãe é mãe.


Até que, saindo do Colégio, com um dos meus primeiros dinheirinhos, logo comprei aquele livro e muitos outros.... Só então, após anos, pude, enfim, usufruir do "presente" do Tio Ismar!

12 novembro, 2008

Vade retro

Dentre as muitas vicissitudes por que passam os viajantes aéreos, os atrasos nos vôos talvez sejam os menos trágicos.

Foi um desses atrasos de Brasília para BH que me fez chegar ao Aeroporto de Confins (oficialmente "Tancredo Neves) às 23,50h de uma sexta-feira, 13.
Para vencer os 40km até o centro da cidade, tomei um taxi. Ao me acomodar no banco de trás, senti logo um odor muito forte de incenso, ao mesmo tempo que vi o motorista fazer o sinal-da-cruz. Beijou o crucifixo pendurado no retrovisor e, dando partida, murmurou:
- Vade Retro, Satanas.
- O que disse?
Imagino que não queria que o tivesse escutado, pois respondeu, defensivamente:
- Nada não, senhor!
Insisti, até que começou a contar:
- Peguei essa mania há muito tempo, desde quando nem existia o aeroporto tão distante. É uma formula que utilizo para espantar os fantasmas noturnos.
- Por acaso tenho cara de fantasma?
- Não, é claro que não, embora a gente nunca possa ter certeza. O senhor me desculpe, mas comigo aconteceram algumas coisas muito estranhas e não posso deixar de me prevenir. Vou explicar: da primeira vez, eu trabalhava com um Opala Chevrolet. Meu pai ficava com o carro durante o dia e eu, por ser mais novo, pegava à noite. Numa sexta-feira, noite fria de junho, descia a Avenida Afonso Pena bem devagar, procurando passageiros. Naquela época, havia muitas árvores, a iluminação era fraca e os ônibus demoravam a passar. Pois foi exatamente num ponto, pertinho da Praça Tiradentes, que uma mulher acenou. Era alta, loura, usava sapatos altos e estava vestida como se fosse para uma festa. Achei estranho, pois as mulheres daquele tipo não andavam sozinhas, só as putas, o senhor entende. Mas não tinha cara de puta, de jeito nenhum. Abri-lhe a porta. Ela entrou e, com ela, um perfume que nunca havia sentido: - Leve-me à Rua Mariana, no Carlos Prates. "Deve ser uma delas", pensei, pois naquela região havia umas casas de mulheres suspeitas, ou da vida, como diziam. Não puxei assunto, nem ela falou nada. Apenas aquele perfume do qual nunca mais esqueci. As tais casas ficavam no início da Rua Mariana, mas ela pediu para tocar em frente. Fui subindo devagar, esperando que me mandasse parar. Até que chegamos, sabe onde? Em frente ao Cemitério do Bonfim. "Pare aqui", disse, com voz ríspida. Olhei o taxímetro e dei o preço. Ainda era em cruzeiros, o senhor se lembra? Pois a dona me deu uma nota de cinco mil, para pagar uma corrida de dois e quatrocentos. Abri minha carteira para pegar o troco e, quando me virei, o banco de trás estava vazio! "Cadê a mulher?", perguntei a mim mesmo. Estremeci, pois o perfume foi substituído por um cheiro forte de enxofre. Olhei para fora e vi o portão do Bonfim fechando-se lentamente, mas não vi ninguém, nenhuma alma. Deu-me uma tremedeira danada... Gritei: "Valha-me São Cristóvão!" É o padroeiro dos motoristas, sabia? Acelerei o carro, nem olhei prá trás. Desde aquele dia, sempre faço minhas orações. Depois que aprendi a fórmula do exorcismo com um padre, então fiquei mais seguro. Por isso, o senhor me desculpe, não tem nada a ver com o senhor, por isso, toda vez que entra qualquer passageiro no meu taxi, já me previno: "Vade retro, Satanas".
O senhor vai prá onde, mesmo?
Com um sorriso diabólico, respondo:
- Rua Mariana, por favor...
[A lenda da Loura do Bonfim alimenta o imaginário belorizontino desde a década de 50. Já virou filme. Eu aumento, mas não invento.]

10 novembro, 2008

Pro Allan


Licor Piacenza 1, upload feito originalmente por ClaudioCosta.

Esta foto vai pro Allan, do Carta da Itália. Ele mora na cidade de Piacenza.

Quem diria que no Mercado Central de Belo Horizonte existe um licor com o nome de Piacenza? Pois é...

A gente vai andando, olha uma coisa ali, outra lá e, de repente, topa com o nome Piacenza. Aí, vem à lembrança: Conheço quem mora lá, o Allan. A seguir, num ímpeto, saco da algibeira (quer dizer, do bolso mesmo) a máquina fotográfica: Vou mandar esta foto pra ele. Bom, pra ser sincero, acho que pensei em comprar o licor Piacenza e levar até lá, bem ali pertinho, só atravessar o Atlântico.

[O Piacenza é fabricado em Brumadinho, a 60km de BH. Parece que algum imigrante italiano resolveu homenagear suas origens. Há um número de telefone; chamei e ninguém atendeu. Se descobrir, conto. A propósito, a cidade abriga o Centro de Arte Contemporânea de Inhotim.]

O rótulo presentificou uma pessoa que nunca vi (a não ser por foto e pelos deliciosos textos).

No seu post de hoje, Allan comenta as implicações da diferença de fuso horário, que varia de 3 a 5 horas entre Piacenza e Brasil. Por uma coincidência cósmica (não acredito nisso, mas existe!), só agora, ao postar, observo o mostrador do relógio da foto acima. Alguém percebeu algo curioso?

Pra você, Allan, um brinde.

05 novembro, 2008

Soié na Folha de São Paulo

Mais um feito grandioso do Soié, meu pai: uma entrevista com ele, na Folha de São Paulo, no caderno de Informática de hoje.
Veja lá no blog dele, o Ontem-Hoje.