28 setembro, 2006

Que tipo de brasileiro vai às urnas?

Caráter geral do brasileiro

  • Os brasileiros são entusiastas de um belo ideal, amigos da sua liberdade, e mal sofrem perder as regalias que uma vez adquiriram.
  • Obedientes ao justo, inimigos do arbitrário, suportam melhor o roubo que o vilipêndio; ignorantes por falta de instrução, mas cheios de talento por natureza; de imaginação brilhante, e por isso amigos de novidades que prometem perfeição e enobrecimento; generosos, mas com bazófia; capazes de grandes ações, contanto que não exijam atenção aturada, e não requeiram trabalho assíduo e monotônico; apaixonados do sexo por clima, vida e educação.
  • Empreendem muito, acabam pouco.
  • Sendo os atenienses da América, se não forem comprimidos e tiranizados pelo despotismo.
  • Avulsos, os brasileiros mostram altivez nas baixezas, amor-próprio nas bagatelas, e obstinação em puerilidades.
  • Congonhar, fumar e cavalhotar são as três felicidades dos paulistas de serra acima.
  • Falsidade e dissimulação fazem o caráter geral dos brasileiros - curiosos e inquietos, mas não ativos, nem aplicados.
  • No Brasil a natureza é amiga do homem; mas o homem é ingrato às meiguices da natureza; e todavia o homem vive aqui mais com a natureza do que com os outros homens.
  • No Brasil, a virtude, quando existe, é heróica, porque tem que lutar com a opinião, e o governo.
  • A maior corrupção se acha onde a maior pobreza está ao lado da maior riqueza.
________________

Os textos curtos que você acaba de ler foram escritos por José Bonifácio (o patriarca da Independência) no exílio, como anotações pessoais, entre 1823 e 1829.
Provavelmente não visavam à publicação. O título é do próprio autor. Versão conforme o livro "Projetos para o Brasil", da coleção "Retratos do Brasil", da Companhia das Letras, editado em 1998 e organizado por Míriam Dolhnikoff. Sob o subtítulo "Avulsos", estão incluídas outras anotações dispersas de JB sobre os brasileiros.

26 setembro, 2006

A Nova Guarda do Samba

TerSamba no Reciclo Asmare de BH


Toda terça-feira é dia de TerSamba no Reciclo Asmare Cultural, em Belo Horizonte.
E hoje, 26/09, é dia de Chapéu Panamá.(link do blog)


Estaremos lá, a partir das 20:30h, para curtir uma roda de samba com nossos dois filhotes, o Ângelo e Leo, integrantes da banda. Afinal, a família que samba unida jamais será vencida!

O Reciclo Asmare é um centro de ajuda a catadores de papel, que recicla todo o material coletado nas ruas. A decoração do bar, que fica na Av. Contorno, 10564, é toda feita de produtos da própria Asmare.

Release:
O Samba, mais do que nunca, mora em Belo Horizonte. Formado por universitários amantes da música brasileira, o grupo Chapéu Panamá trabalha atualmente no projeto "O Samba mora aqui", que intitula uma das mais conhecidas músicas do grupo. Em suas apresentações o Chapéu Panamá oferece à capital mineira a oportunidade de relembrar e reverenciar grandes clássicos do Samba.

O grupo nasceu no início de 2005 em encontros na casa de Matheus Brant. "A idéia surgiu quando amigos se encontravam para tocar e conversar sobre música, partilhar canções e descobrir o que é realmente o Samba", conta o percussionista Dudu. Mas o talento do grupo não poderia ficar restrito aos integrantes, amigos e familiares...

Usando o característico chapéu que virou marca dos mestres imortais do estilo, Matheus Brant, Renato Rosa, Thiago Prata, Dudu Faleiro, Bruno Sant`Anna, Gelo Procópio, Cacá, Léo Procópio e Entusiasta, passaram a se apresentar em diversos eventos do meio universitário e casas de Samba em BH.

O repertório da banda é variado, indo de Jorge Ben Jor à Adoniran Barbosa. "Procuramos tocar músicas menos conhecidas de sambistas famosos e composições próprias" , explica o vocalista Renato Rosa. Agradando, ao mesmo tempo, àqueles que gostam do tradicional samba de raiz e aos que esperam pela renovação do estilo, os jovens integrantes do Chapéu Panamá vêm conquistando, dia a dia, seu espaço no tradicional cenário do Samba.

O papai e a mamãe aqui vestem a camisa da banda!
Foto durante o Festival de Música de Belo Horizonte, na Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte.

24 setembro, 2006

Viagem ao interior

Fim-de-semana de viagem ao interior. Se BH já é 'interior" (estamos a mais de 400km do litoral), imagine o 'interior' das Minas Gerais.

Enfrentamos a BR262, direção leste, até o km 70. Depois, à esquerda, mais 70km até Santa Maria de Itabira (região à direita da Serra do Cipó: Itabira, Ipoema, Itambé, Ferros...). Estrada Real.
Êta Minas infinita, sô!

Da viagem, três imagens:

1 - Conselho amigo: Tome Decisão!

2- Problemas? Remédio caseiro!

3- Fome? Pães e bolos da Tia (da Amélia) Nhanhá!

20 setembro, 2006

ZOOPOLÍTICA

Brizola afirmou que Lula era um 'sapo barbudo'.
Lula é animal marinho: octópode? cefalópode?
Lula diz que ACM é o 'hamster do nordeste'.
Alckmin foi o indicado dos 'tucanos'.
Newton Cardoso, de MG, é conhecido como 'porcão'.
Muitos candidatos são 'raposas políticas'.
Em toda foto de político tem um 'papagaio de pirata' querendo aparecer.
O Congresso está infestado pela máfia das 'sanguessugas'.
Heloísa Helena já foi apelidada de 'gralha nordestina'.
Mauro 'Lobo' é candidato a deputado, aqui em Minas.
Os petistas próximos ao Presidente são verdadeiros 'amigos-da-onça'.
Sarney escreveu 'Marimbondos de fogo' e entrou pra Academia.
Os projetos de interesse nacional andam a passos de 'tartaruga'.

O dinheiro das campanhas vem dos 'tubarões'.
Muitos congressistas agem como 'aves de rapina'.

A política virou 'gatunagem'.
E o eleitor paga o 'pato'!

__________________
Espero não ser processado pela Sociedade Protetora dos Animais por ofender as espécies. Muito menos pelo Ibama

18 setembro, 2006

Filosofia pura

Generated Image

Sim, sou fílósofo!

Formei-me pela Faculdade de Filosofia, a Fafich-UFMG, quando ainda funcionava na Rua Carangola. Foi lá que descobri minha vocação médica/psiquiátrica/psicanalítica.
- Como assim? perguntará o incrédulo leitor.
- Explico. Dentre as disciplinas, a gente estudava: Ética, Estética, Lógica, História da Filosofia e... Psicologia!

Na verdade, não se tratava da Psicologia dos cursos específicos, pois não discutíamos clínica nem teorias psicológicas. O que nos interessava - do ponto de vista filosófico - era a discussão acerca das funções psíquicas, teoria do conhecimento (epistemologia), dos atributos da alma (psiché) e coisas que tais.

Tinha um colega que era psicanalista. As discussões eram interessantíssimas. Comecei a ler Freud, Karen Horney e outros freudianos. Aí, deu-se o curto-circuito: que filósofo que nada, quero ser psiquiatra e psicanalista.

Formado, busquei passar em outro vestibular. Entrei na Medicina-UFMG, fiz estágios em clínicas psiquiátricas, submeti-me à análise, especializei-me em psiquiatria... enfim, uma trajetória da qual não me arrependo.

Aprendi muito. Principalmente, duas coisas:

1)
Conheça-te a ti mesmo. Aforisma inscrito na entrada do Templo de Apolo e tomada por Sócrates como norteador da vida.
2)
Mantenha o bom humor. Melanie Klein dizia: quando o paciente ri de si mesmo já está no caminho da cura.

Pois, então, vamos filosofar com humor, pois brincadeiras também nos fazem pensar.
Por isso publico um spam recebido de meu amigo João Bosco, outro filósofo.
Autor? Não sei. Fica registrado o copy&paste.

Por que o sapo não lava o pé?

Olavo de Carvalho: O sapo não lava o pé. Não lava porque não quer. Ele
mora lá na lagoa, não lava o pé porque não quer e ainda culpa o
sistema, quando a culpa é da PREGUIÇA. Este tipo de atitude é que
infesta o Brasil e o Mundo, um tipo de atitude oriundo de uma complexa
conspiração moscovita contra a livre-iniciativa e os valores humanos
da educação e da higiene!

Marx: A lavagem do pé, enquanto atividade vital do anfíbio,
encontra-se profundamente alterada no panorama capitalista. O
sapo,
obviamente um proletário, tendo que vender sua força de trabalho para
um sistema de produção baseado na detenção da propriedade privada
pelas classes dominantes, gasta em atividade produtiva alienada o
tempo que deveria ter para si próprio. Em conseqüência, a miséria
domina os campos, e o
sapo não tem acesso à própria lagoa, que em
tempos imemoriais fazia parte do sistema comum de produção.

Engels: isso mesmo.

Foucault: Em primeiro lugar, creio que deveríamos começar a análise do
poder a partir de suas extremidades menos visíveis, a partir dos
discursos médicos de saúde, por exemplo. Por que deveria o
sapo lavar
o pé? Se analisarmos os hábitos higiênicos e sanitários da Europa no
século XII, veremos que os sapos possuíam uma menor preocupação em
relação à higiene do pé - bem como de outras áreas do corpo. Somente
com a preocupação burguesa em relação às disciplinas - domesticação do
corpo do indivíduo, sem a qual o sistema capitalista jamais seria
possível - é que surge a preocupação com a lavagem do pé. Portanto,
temos o discurso da lavagem do pé como sinal sintomático da sociedade
disciplinar.

Weber: A conduta do sapo só poderá ser compreendida em termos de ação
social racional orientada por valores. A crescente racionalização e o
desencantamento do mundo provocaram, no pensamento ocidental, uma
preocupação excessiva na orientação racional com relação a fins. Eis
que, portanto, parece absurdo à maior parte das pessoas o
sapo não
lavar o pé. Entretanto, é fundamental que seja compreendido que, se o
sapo não lava o pé, é porque tal atitude encontra-se perfeitamente
coerente com seu sistema valorativo - a vida na lagoa.

Nietzsche: Um espírito astucioso e camuflado, um gosto anfíbio pela
dissimulação - herança de povos mediterrâneos, certamente - uma
incisividade de espírito ainda não encontrada nas mais ermas
redondezas de quaisquer lagoas do mundo dito civilizado. Um animal
que, livrando-se de qualquer metafísica, e que, aprimorando seu
instinto de realidade, com a dolcezza audaciosa já perdida pelo
europeu moderno, nega o ato supremo, o ato cuja negação configura a
mais nítida - e difícil - fronteira entre o
Sapo e aquele que está por
vir, o Além- do-
Sapo: a lavagem do pé.

Filmer: Podemos ver que, desde a época de Adão, os sapos têm lavado os
pés. Aliás, os seres, em geral, têm lavado os pés à beira da lagoa.
Sendo o
sapo um descendente do sapo ancestral, é legítimo, obrigatório
e salutar que ele lave seus pés todos os dias à beira do lago ou
lagoa. Caso contrário, estará incorrendo duplamente em pecado e
infração.

Locke: Em primeiro lugar, faz-se mister refutar a tese de Filmer sobre
a lavagem bíblica dos pés. Se fosse assim, eu próprio seria obrigado a
lavar meus pés na lagoa, o que, sustento, não é o caso. Cada súdito
contrata com o Soberano para proteger sua propriedade, e entendo
contido nesse ideal o conceito de liberdade. Se o
sapo não quer lavar
o pé, o Soberano não pode obrigá-lo, tampouco recriminá-lo pelo chulé.
E ainda afirmo: caso o Soberano queira, incorrendo em erro, obrigá-lo,
o
sapo possuirá legítimo direito de resistência contra esta
reconhecida injustiça e opressão.

Kant: O sapo age moralmente, pois, ao deixar de lavar seu pé, nada faz
além de agir segundo sua lei moral universal apriorística, que
prescreve atitudes consoantes com o que o sujeito cognoscente possa
querer que se torne uma ação universal.
Nota de Freud: Kant jamais lavou seus pés.

Freud: Um superego exacerbado pode ser a causa da falta de higiene do
sapo. Quando analisava o caso de Dora, há vinte anos, pude perceber
alguns dos traços deste problema. De fato, em meus numerosos estudos
posteriores, pude constatar que a aversão pela limpeza, do mesmo modo
que a obsessão por ela, podem constituir-se num desejo de autopunição.
A causa disso encontra-se, sem dúvida, na construção do superego a
partir das figuras perdidas dos pais, que antes representavam a fonte
de todo conteúdo moral do girino.

Jung: O mito do sapo do deserto, presente no imaginário semita, vem a
calhar para a compreensão do fenômeno. O inconsciente coletivo do
sapo, em outras épocas desenvolvido, guardou em sua composição mais
íntima a idéia da seca, da privação, da necessidade. Por isso, mesmo
quando colocado frente a uma lagoa, em época de abundância, o
sapo não
lava o pé.

Kierkegaard: O sapo lavando o pé ou não, o que importa é a existência.

Hegel: podemos observar na lavagem do pé a manifestação da Dialética.
Observando a História, constatamos uma evolução gradativa da
ignorância absoluta do
sapo - em relação à higiene - para uma
preocupação maior em relação a esta. Ao longo da evolução do Espírito
da História, vemos os sapos se aproximando cada vez mais das lagoas,
cada vez mais comprando esponjas e sabões. O que falta agora é, tão
somente, lavar o pé, coisa que, quando concluída, representará o fim
da História e o ápice do progresso.

Comte: O sapo deve lavar o pé, posto que a higiene é imprescindível. A
lavagem do pé deve ser submetida a procedimentos científicos universal
e atemporalmente válidos. Só assim poder-se-á obter um conhecimento
verdadeiro a respeito.

Schopenhauer: O sapo cujo pé vejo lavar é nada mais que uma
representação, um fenômeno, oriundo da ilusão fundamental que é o meu
princípio de razão, parte componente do principio individuationis, a
que a sabedoria vedanta chamou "véu de Maya". A Vontade, que o velho e
grande filósofo de Königsberg chamou de Coisa-em si, e que Platão
localizava no mundo das idéias, essa força cega que está por trás de
qualquer fenômeno, jamais poderá ser capturada por nós, seres
individuados, através do princípio da razão, conforme já demonstrado
por mim em uma série de trabalhos, entre os quais o que considero o
maior livro de filosofia já escrito no passado, no presente e no
futuro: "O mundo como vontade e representação".

Aristóteles: O [sapo] lava de acordo com sua natureza! Se imitasse,
estaria fazendo arte . Como [a arte] é digna somente do homem, é
forçoso reconhecer que o
sapo lava segundo sua natureza de sapo,
passando da potência ao ato. O
sapo que não lava o pé é o ser que não
consegue realizar [essa] transição da potência ao ato.

Platão:
Górgias: Por Zeus, Sócrates, os sapos não lavam os seus pés porque não
gostam da água!
Sócrates: Pensemos um pouco, ó Górgias. Tu assumiste, quando há pouco
dialogava com Filebo, que o
sapo é um ser vivo, correto?
Górgias: Sou forçado a admitir que sim.
Sócrates: Pois bem, e se o
sapo é um ser vivo, deve forçosamente fazer
parte de uma categoria determinada de seres vivos, posto que estes
dividem-se em categorias segundo seu modo de vida e sua forma
corporal; os cavalos são diferentes das hidras e estas dos falcões, e
assim por diante, correto?
Górgias: Sim, tu estás novamente correto.
Sócrates: A característica dos sapos é a de ser habitante da água e da
terra, pois é isso que os antigos queriam dizer quando afirmaram que
este animal era anfíbio, como, aliás, Homero e Hesíodo já nos atestam.
Tu pensas que seria possível um
sapo viver somente no deserto, tendo
ele necessidade de duas vidas por natureza,ó Górgias?
Górgias: Jamais ouvi qualquer notícia a respeito.
Sócrates: Pois isto se dá porque os sapos vivem nas lagoas, nos lagos
e nas poças, vistos que são animais, pertencem e uma categoria, e esta
categoria é dada segundo a característica dos sapos serem anfíbios.
Górgias: É verdade.
Sócrates: precisando da lagoa, ó Górgias meu caro, tu achas que seria
o
sapo insano o suficiente para não gostar de água?
Górgias: não, não, não, mil vezes não, Ó Sócrates!
Sócrates: Então somos forçados a concluir que o
sapo não lava o pé por
outro motivo, que não a repulsa à água
Górgias: de acordo

Diógenes, o Cínico: Dane-se o sapo, eu só quero tomar meu sol.

Parmênides de Eléia: Como poderia o sapo lavar os pés, ó deuses, se o
movimento não existe?

Heráclito de Éfeso: Quando o sapo lava o pé, nem ele nem o pé são mais
os mesmos, pois ambos se modificam na lavagem, devido à impermanência
das coisas.

Epicuro: O sapo deve alcançar o prazer, que é o Bem supremo, mas sem
excessos. Que lave ou não o pé, decida-se de acordo com a
circunstância. O vital é que mantenha a serenidade de espírito e fuja
da dor.

Estóicos: O sapo deve lavar seu pé de acordo com as estações do ano.
No inverno, mantenha-o sujo, que é de acordo com a natureza. No verão,
lave-o delicadamente à beira das fontes, mas sem exageros. E que pare
de comer tantas moscas, a comida só serve para o sustento do corpo.

Descartes: nada distingo na lavagem do pé senão figura, movimento e
extensão. O
sapo é nada mais que um autômato, um mecanismo. Deve lavar
seus pés para promover a autoconservação, como um relógio precisa de
corda. Diria, até: lavo o pé, logo sou.

Maquiavel: A lavagem do pé deve ser exigida sem rigor excessivo, o que
poderia causar ódio ao Príncipe, mas com força tal que traga a este o
respeito e o temor dos súditos. Luís da França, ao imperar na Itália,
atraído pela ambição dos venezianos, mal agiu ao exigir que os sapos
da Lombardia tivessem os pés cortados e os lagos tomados caso não
aquiescessem à sua vontade. Como se vê, pagou integralmente o preço de
tal crueldade, pois os sapos esquecem mais facilmente um pai
assassinado que um pé cortado e uma lagoa confiscada.

Rousseau: Os sapos nascem livres, mas em toda parte coaxam
agrilhoados; são presos, é certo, pela própria ganância dos seus
semelhantes, que impedem uns aos outros de lavarem os pés à beira da
lagoa. Somente com a alienação de cada qual de seu ramo ou touceira de
capim, e mesmo de sua própria pessoa, poder-se-á firmar um contrato
justo, no qual a liberdade do estado de natureza é substituída pela
liberdade civil.

Horkheimer e Adorno: A cultura popular diferencia-se da cultura de
massas, filha bastarda da indústria cultural. Para a primeira, a
lavagem do pé é algo ritual e sazonal, inerente ao grupamento
societário; para a segunda, a ação impetuosa da razão instrumental, em
sua irracionalidade galopante, transforma em mercadoria e modismo a
lavagem do pé, exterminando antigas tradições e obrigando os sapos a
um procedimento diário de higienização.

Gramsci: O sapo, e além dele, todos os sapos, só poderão lavar seus
pés a partir do momento em que, devido à ação dos intelectuais
orgânicos, uma consciência coletiva principiar a se desenvolver
gradativamente na classe batráquia. Consciência de sua importância e
função social no modo de produção da vida. Com a guerra de posições -
representada pela progressiva formação, através do aparato ideológico
da sociedade civil, de consensos favoráveis- serão criadas
possibilidades para uma nova hegemonia, dessa vez sob a direção das
classes anteriormente subordinadas.

Bobbio: existem três tipos de teoria sobre o sapo não lavar o pé. O
primeiro tipo aceita a não-lavagem do pé como natural, nada existindo
a reprovar nesse ato. O segundo tipo acredita que ela seja moral ou
axiologicamente errada. A terceira espécie limita-se a descrever o
fenômeno, procurando uma certa neutralidade.

Cláudio Costa: o sapo não lava os pés. Ele não tem pés, tem patas.

15 setembro, 2006

"A M A R É . . ."

Tenho visitado inúmeros blogs, com os quais aprendo, divirto-me, irrito-me, espanto-me, rio, me identifico, surpreendo-me. Ou seja: esse mundo virtual é o espelho do mundo real, onde as vicissitudes do dia-a-dia se traduzem e se metaforizam de forma multifacetada, instantaneamente.

Alguns blogs chamam a atenção pelo conteúdo lamentoso em função das frustrações amorosas vivenciadas por quem os escreve: tal como um muro das lamentações, os diários virtuais, trazem à tona a carência maior do ser humano: o desejo de ser amado incondicionalmente! Oh! missão impossível!

Comecemos pelo princípio: ao nascer, o filhote do homem é totalmente dependente, frágil, incapaz de se manter. Graças aos cuidados maternos (ou de quem se assume como cuidador), sobrevive-se. Uma relação imediata se configura: necessitado + cuidador. Ou seja: no início da vida, somos "seres da necessidade". Até aí, funcionamos como todo ser vivo, animais: a mãe/cuidador se apresenta indispensável até que, pelo próprio desenvolvimento do bebê e pelas outras atribuições do adulto, ela (mãe) se afasta lentamente... já consegue se atrasar para acudir as necessidades do recém-nascido que, por seu lado, começa a antecipar os indícios de que será atendido: o ruído de passos, a voz, o barulhinho da colher mexendo o mingau, etc. Um hiato (uma fenda, um vazio) se interpõe na díade mãe-filho, propiciando ao bebê uma experiência fundamental: clamar pelo que precisa!

O chôro, o grito, a agitação de braços e pernas, tudo passa a se configurar como linguagem que é interpretada e verbalizada pela mãe: neném tá com frio, neném tá com dor-de-ouvido, neném tá com fome!

A evocação da figura ausente e dos objetos de satisfação instauram os princípios da linguagem simbólica (símbolo = representação da "coisa", sem a "coisa"). Nasce o "desejo"!

O que, pois, inaugura a linguagem é a "falta", a "perda do objeto" de necessidade e sua substituição pelo "objeto do desejo". Muito além das funções de sobrevivência (objetos de necessidade) clamamos por uma atenção colorida de afeto. Fornecer comida, apenas, não basta, é preciso que o ato de alimentar seja atencioso, cuidadoso, amoroso! "Com açucar e com afeto", na canção do Chico Buarque.

Se, antes, a mãe era identificada ao objeto necessário aos instintos básicos (sobrevivência, alimentação, proteção contra frio, etc), agora passa a ser a benfeitora que propicia a satisfação. É quem garante a vida e o prazer (éros/libido), constituindo-se como primeiro objeto erótico/libidinal da criança. Nasce o AMOR, expressão de reciprocidade gratificante entre mãe e criança (ainda sem romantismo, invenção tardia na história da humanidade).

A experiência fundadora do amor se expande vida afora, com a saudável substituição da mãe como objeto único de amor por outros objetos a serem conquistados - um ser a quem amamos e que nos ame (resolução do "complexo de Édipo").
Entretanto, uma ILUSÃO pode permanecer: a de que haverá alguém que nos garanta a satisfação plena, o afeto total, o amor incondicional! Inconscientemente, queremos repetir o idílio da primeira infância, quando nenhum esforço tínhamos que fazer: bastava desejar e... pronto! Satisfação garantida!

Muito mais tarde vamos aprender que "o amor é conquistado": temos de perguntar sempre ao outro: "o que queres de mim"? Só assim seremos amados. Enganam-se aqueles que se julgam dignos do amor, sem nada oferecerem.

O jogo é complexo e interminável: de um lado, projetamos no outro as qualidades que o tornam digno de nosso afeto. O outro, por sua vez, tudo faz para corresponder e, às vezes, se julga realmente portador de todas aquelas qualidades. E vice-versa!
Sobre isso, Jaques Lacan retoma uma frase platônica: "Amar é dar o que não se tem a quem não sabe o que quer"... Decifre-a quem puder.

O Amor, assim, é indefinível por natureza, incomensurável (nada matemático), inconsistente, sem garantia de retorno, absolutamente assimétrico - já que cada um tem seu inconsciente e seu imaginário forjados na mais tenra idade, com experiências tão singulares quanto incomunicáveis! Só mesmo os poetas para darem conta de falar do Amor: O amor é mesmo "fogo que arde sem se ver..." (Camões); é "...ânimo dos desmaiados, arrimo dos que vão a cair, braço dos caídos, báculo e consolação de todos os desditosos" (Cervantes); "Ninguém é pobre quando ama". (Camilo Castelo Branco). "Há amores sem felicidade, mas nunca felicidade sem amor" (Jacques Lelouch) e "ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor... nada disso me aproveitaria" (S.Paulo).

13 setembro, 2006

Bizarrices

Um dos sinais de esquizofrenia é o tal de "comportamento bizarro".
Bizarrice à parte, corro ao dicionário:

Bizarro = adj. (a1595 Jorn 72) 1 que se destaca pela boa aparência ou expressão pessoal; bem-apessoado 1.1 que tem bom porte ou boa postura corporal; garboso 1.2 elegante nos gestos e nos trajes 2 que se faz notar pelo refinamento das maneiras ou pela pureza do caráter 2.1 primoroso no comportamento; gentil 2.2 dotado de magnanimidade; nobre, generoso, liberal 3 que demonstra seu valor pessoal em grandes feitos 3.1 dotado de valentia; brioso 4 p.ext. digno de admiração ou louvor; magnífico, esplêndido (diz-se de ação, comportamento etc.) 5 que se impõe ou tenta se impor perante os demais 5.1 que demonstra insolência; arrogante 5.2 jactancioso, bazofiador 6 infrm. bem-disposto física e/ou moralmente; que tem ou está com boa saúde 7 infrm. que é esquisito, estranho, excêntrico ¤ gram acp 7 consid. gal. pelos puristas, que sugeriram em seu lugar: estranho, extravagante, excêntrico, desusado ¤ gram/uso aum.irreg.: bizarraço ¤ etim esp. bizarro (sXVII) 'varonil, guapo, generoso'; a acp. 'estranho, esquisito' por infl. do fr. bizarre (sXVI) 'extravagante'; o voc. provém do it. bizarro 'furioso, fogoso', formado de bizza 'cólera, ira'. (Houaiss eletrônico).

Descubro, entre perplexo e incrédulo (construção bizarra, esta, não?) que o único significado utilizado pela Psiquiatria é a 7a. e última acepção : esquisito, estranho, excêntrico!

Não seria uma bizarrice da Psiquiatria?

Vou em frente e descubro algo mais.
- O que, diga logo.
- Digo:

Descubro que existem "esportes bizarros" e "campeonatos mundiais de esportes bizarros" e uma publicação da Guinness World Records Limited dedicada aos recordes bizarros.

Ganhei um opúsculo intitulado "Os melhores recordes mundiais de esportes bizarros" (Ediouro, 2006), vejam só. Existe coisa mais esdrúxula do que campeonato de cuspe à distância!

Alguns exemplos:

  • Campeonato Mundial de Assassinato de Mosquitos: Recorde obtido em 1995, quando Henri Pellompää (Finlândia) matou 21 mosquitos em 5 minutos. Acho que já matei muito mais em menos tempo, numa casa de praia em Guarapari.
  • Campeonato Mundial de Corrida de Galochas: Recorde de participação com 981 atletas,em 2003, na Nova Zelândia. Pois por aqui mesmo conheço um cara que bate o recorde de chatice: é um chato de galochas! (Alguém aí sabe o que é galocha?).
  • Campeonato Mundial de Corrida Carregando a Esposa nas Costas: Dois estonianos levaram 55,5 segundos para completar os 235 m da pista com obstáculo, na Finlândia, no ano de 2000. Só vale esposa acima de 49kg. E o brasileiro que carrega a família toda nas costas, ano após ano, com um salário mínimo? Isso não é recorde?
  • Campeonato Mundial de Encatamento de Minhocas... vou parar por aqui, é bizarrice demais. Um cara do Reino Unido encantou 511 minhocas em 30 minutos! Não me perguntem como...

Quanto a mim, prefiro minha bizarrice sadia: escrever um post desses, de quando em vez.

09 setembro, 2006

Parabéns!

Hoje é o aniversário de minha mãe, Aparecida, a "eterna namorada" do Soié, meu pai.
Daremos uma chegadinha a Nova Era-MG e almoçaremos juntos.
Vamos eu, Amélia, Ana Letícia e Daniel.

Para a mamma: Parabéns!!!

04 setembro, 2006

Jamie Cullum em BH

Quiseram os deuses que eu tenha sido premiado com um par de convites para o show de Jamie Cullum, hoje, no Chevrolet Hall!!!

Já me considerava "abençoado por Deus e bonito por natureza" (desconsiderem a segunda parte, please!) e o destino não me decepcionou: na quinta-feira fiz a inscrição pro sorteio via internet; na sexta-feira a Ana Letícia me liga:
- Paiê, você foi sorteado.
- Sorteado pra que, minha filha?
- Uai, pro show do Jamie Cullum!
- Beleeeeza! e pra pegar os convites?
- Tem de ir na sede do Estado de Minas até 18h de hoje.
- Nossa, minha filha, e agora? Tô aqui no consultório, não vai dar.
Daí a pouco ela telefona de novo:
- Olhaqui, pai, consegui lá que reservassem até 2a. feira.
- Tá bom! Segunda eu pego.
O diálogo não podia ser tão expansivo quanto merecia o assunto, mas é que estava atendendo um cliente, cês compreendem, né?

23:45h - O certo é que acabamos de chegar do show, Amélia e eu - claro!
O rapaz é criativo, espontâneo e muito doido - no melhor sentido da palavra. Teve a coragem de dar roupagem nova a alguns standards do jazz, sem perder a técnica refinadíssima. "Estraçalha" ao piano!

Algumas de suas músicas já tocaram em novelas globais, mas isso não lhe tira o mérito. Concordo com a jornalista Mariana Peixoto, do Caderno de Cultura do EM:

Pop ou jazz? Cullum usa o melhor dos dois mundos. No álbum de estréia, Pointless nostalgic (de 2002, que a Deckdisc, aproveitando a turnê brasileira, lança agora no país), gravou os irmãos Gershwin (It ain’t necessarily so) e Radiohead, hoje a banda mais influente da música pop (High and dry). No segundo, Twentysomething (2003), repetiu o feito, já sob a égide de uma major – a Universal, que lançou em edição nacional seus dois mais recentes CDs. Dessa vez, atacou, de um lado, com o clássico Singin’ in the rain (outra que acabou indo para o horário nobre, na trilha de Senhora do destino), e, do outro, de Jimi Hendrix (The wind cries Mary) e Jeff Buckley (Lover, you should’ve come over). Ter se tornado conhecido por meio de versões de forma alguma tira o mérito de Cullum. Como poucos, ele conseguiu dar frescor a canções bastante conhecidas. Mais do que isso, teve batuta suficiente para dar a sua versão para músicas cujas gravações anteriores pareciam definitivas.

Fiz três filminhos de 90 segundos cada, que colocarei no YouTube quando tiver tempo. Algumas fotos vou mandar pro meu álbum e depois compartilho aqui. Por enquanto, eis aqui o par de convites, muito bem aproveitados:

03 setembro, 2006

Ronaldo, contador de histórias

Ronaldo Simões Coelho é psiquiatra e escritor, ou vice-versa.
Tem mais de 40 livros publicados, o homem.

Diz ele:
- Eu tinha seis anos e falei que ia ser médico e escritor. Consegui ser as duas coisas. Engraçado: como médico psiquiatra, passo o tempo ouvindo histórias. Como escritor, conto histórias. As que eu conto são inventadas por mim. As que eu ouço são histórias de vida, tão fantásticas como qualquer ficção

Nasceu em São João d'El Rey, terra de muitos artistas e de muito casario colonial preservado, além das mais lindas igrejas dessas Minas Geraes. Aprendeu, desde cedo, a ouvir e contar casos:
- Na cidade vizinha, terra de minha mãe, todo mundo é músico e contador de histórias. Chama-se Prados e tem pouco mais de três mil habitantes. Foi ali, onde passei quase todas as minhas férias na infância e adolescência, que aprendi a ouvir casos.

Seus livros, classificados como 'literatura infanto-juvenil', na verdade são impregnados de poesia e criatividade. Agradam a qualquer leitor com humor e sensibilidade.
- Parece-me, porém, que o mais estimulante para me tornar um escritor foram os meus sete filhos. Nos últimos trinta anos venho inventando histórias para eles. E há vinte anos venho publicando essas histórias em livros, que vêm sendo lidos por milhares e milhares de crianças de todo o Brasil e até de fora dele.

Quando o conheci, ele era psiquiatra na antiga Fundação Estadual de Assistência Psiquiátrica (FEAP): médico competente e humano, dedicado, precursor da, hoje, denominada 'reforma psiquiátrica'.

Sexta-feira, encontrei o Ronaldo em uma festa de casamento. Lá estava ele todo feliz, sorridente, amabilíssimo. Relembramos algumas histórias. Falei sobre a incrível habilidade de meu pai, Soié, em contar histórias.
- Seu pai também publica livros?, perguntou.
- Não, ainda não. Ele tem um blog.
- É mesmo? Me dê logo o endereço, pois quero ler.
- Chama-se Ontem e Hoje.
- Ele mora aqui em Beagá?
- Não, mora lá em Nova Era.
- Pois então vou entrar em contato com ele. Estou interessado em histórias e casos, tradições orais que têm muito valor cultural. Um dia, combino de encontrá-lo lá em Nova Era!
E o papo continuou...

Antes do final da festa, uma pose para a posteridade!
Ronaldo Simões Coelho e Cláudio Costa