28 agosto, 2004

Olga: "Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo."

Assistimos, Amélia, Ângelo e eu, ao filme "Olga", baseado no livro homônimo de Fernando Morais. [Clique aqui para saber quem foi Olga.]
O diretor, Jayme Monjardim (dirigiu a novela "Pantanal"), enfatizou o aspecto romanesco da saga espetacular da jovem revolucionária, deixando os aspectos políticos e ideológicos como pano de fundo. Funciona: a carga dramática do filme, às vezes exacerbada, prende a atenção e os corações dos espectadores. Alguns críticos detonam o filme por isso, mas não concordo. Se há uma história de amor permeando as lutas dos protagonistas, em momento algum deixamos de vivenciar as angústias e os horrores da perseguição política, o aterrorizante aparelho político-militar nazista e as crueldades praticada pelo ditador brasileiro, Getúlio Vargas (cujo suicídio, há 50 anos, abalou a nação).
Alemã de origem judia e revolucionária comunista, Olga Benário foi designada pelo Partido Comunista para proteger Luís Carlos Prestes em sua viagem secreta de volta ao Brasil. Já o admirava antes mesmo de conhecê-lo, por ter ouvido falar da Coluna Prestes. [Prestes havia liderado um movimento político-militar de origem tenentista, que entre 1925 e 1927 se deslocou pelo interior do país, percorrendo 25 mil km (!) pregando reformas políticas e sociais e combatendo o governo do então presidente Arthur Bernardes e, posteriormente, de Washington Luís.]
Getúlio, através de seu chefe de Polícia, Fellinto Muller, prendeu o casal Prestes e Olga, entregando a jovem à Gestapo. No filme, as cenas do nascimento da filha Anita e sua separação da mãe se constituem num dos momentos mais dramáticos.
O filme é imperdível, seja pelo conteúdo e carga dramática, seja pelas referências históricas, seja pela denúncia implícita dos movimentos totalitários.
Saí do cinema refletindo sobre a força dos ideais. Pensei: será que não mais acreditamos que podemos mudar o mundo? Estamos resignados ao papel coadjuvante de meros consumidores (embora pobres) a sustentar o "capital" sem pátria? Será que a queda do muro de Berlim derrubou, também, os ideais de igualdade, justiça social, do bom e do justo?
Já no campo de concentração, às vésperas de sua execução, Olga escreve estas últimas palavras à filha e a Prestes:
Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijos pela última vez.
Olga.”