20 março, 2007

Pra pensar

Inês Lemos, psicanalista, brindou-nos com algumas reflexões suscitadas pelos filmes Babel e A Pequena Miss Sunshine, no caderno Pensar, do EM. (link só para assinantes). Como não vi, ainda os filmes, deixo para comentar, depois. Mas o final do artigo, a meu ver, ultrapassa a referência filmográfica:

"A vida é para ser bordada, ponto a ponto. Destino traçado por fadas que idealizamos, que nos orientam e nos indicam os jardins de beija-flores. Refeição à mesa, com a família reunida. Juntos, comem o sofrer e saboreiam o saber.
Nas metrópoles, a vida de famílias que abandonaram seus feudos sentimentais e migram para lugares sem memória, conforto sem esperança, é rala, fria e frágil. A emoção, hoje, é participar do Big brother, eliminar o “babaca da vez”.
Triste é a juventude acreditar que a vida é essa obscenidade sem sabor, pecado sem dor, desistindo de encontrar o néctar dos deuses, no jardim da existência. Essa vida burguesa, dissoluta e sem sentido já havia sido severamente criticada por Salinger em seu ontológico O apanhador no campo do centeio:
- “Esses sujeitos que vivem dizendo quantos quilômetros fazem com um litro de gasolina... Sujeitos que nunca na vida abriram um livro. Sujeitos chatos pra burro”.
Salinger realizou um pouco do desejo de se ausentar da hipocrisia americana, tal como aspirava seu personagem de O apanhador. Retirou-se para uma vida despojada e marginal, ao que parece em uma cabana no Maine, onde não havia água encanada e luz elétrica. Distante da frieza do progresso e longe do alcacér, abarcou o universo, ao escrever e revelar ao mundo sabedoria. Soube viver a emoção de saber de si."