06 agosto, 2007

Tentando arrumar a casa

Afresco de Portinari na Igreja de S. Francisco (Pampulha)
Belo Horizonte -Foto by Claudio Costa.


Fernando Marques-Pinheiro é um leitor assíduo do PrasCabeças, de pouquíssimo tempo. Faz comentários nos posts e, para minha surpresa, também através de e-mails. Assina 'fermarpin'. Diversamente da quase totalidade dos que me visitam, Fernando não é um blogueiro, mas um blogófilo!
Deixa pérolas em forma de comentários. É pianista, formado pelo Conservatório de Lisboa. Nasceu em 1922, outro dia mesmo!
A propósito do meu post sobre Esperança, produziu as seguintes reflexões, para nosso degustar:
Tentando arrumar a casa

Ele (o Desejo) é o primogênito, ela (a Esperança) veio a seguir – e logo, logo depois dela (não tinham passado ainda nove meses) nasceu o Sonho.
Olhem para a bela trindade:

Desejo, Esperança, Sonho - estes dois muito chegadinhos um ao outro.

O Desejo nasceu por que razão?
Sei lá! Resultou de concepção e gestação espontâneas? Surgiu por obra e graça do Espírito Santo? Recuso-me a ir por esses caminhos.
Penso que notámos a presença dum espaço e apeteceu-nos preencher esse espaço.
Exemplos: um buraco na estrada, espaço na nossa vida para um filho, um Mi entre um Dó e um Sol (para termos o acorde perfeito...), etc.

A modificação apetece-nos, e logo a desejamos.
E aqui uma janela abriu-se sem eu mexer nela:
Não havendo apetite não há desejo.

Na cama, com 40 graus de febre, não há apetite; e sem apetite não há comida que possamos desejar.
Não temos apetite, não desejamos.
Cuidado! Olhem que sem se comer... Morre-se!
Cá está ela! A malvada. Com maiúscula, a Morte! - a muralha intransponível junto da qual tudo se queda...

Olho em frente e vejo, da esquerda para a direita:

Apetite, Desejo, Esperança, Sonho, Morte.

C'est la vie?
É a vida das batatas e das couves.

Não há uma coisa chamada Ação (Trabalho)?
O trabalho de tapar o buraco da estrada, o do coito (é agradável, mas dá trabalho, não dá?), o de desenhar um Mi entre o Sol e o Dó, etc.
O Trabalho faz parte da vida.

Onde o porei?
Entre o Sonho e a Morte:

Apetite, Desejo, Esperança, Sonho, Trabalho, Morte.

Ça, oui, c'est la vie.

Não me convidem para espreitar à direita da Morte, para lá do por sol, do lado do Ocidente.
Nem me convidem para olhar à esquerda do Apetite, para lá do nascer do sol, do lado do Oriente (o Cabo das Tormentas estafou-me, perdi a obsessão do Oriente, não voltarei a partir para ir buscar pimenta e mostrar o crucifixo...).
Deixem-me acordar com Apetite, de manhã, e depois durante o dia deixem-me Desejar, Esperar, Sonhar e Trabalhar, até adormecer com a Morte, à noite.
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PS – Dr. Cláudio Costa: Sem o seu post eu não teria tido o prazer deste passeio no seu jardim de plantas e flores que não estou habituado a ver.
FMP