29 abril, 2004

Existe UMA verdade?

Quem possui a verdade? Qual é a verdade? Existe UMA verdade? Posso ter certeza de algo (que não seja a Morte)? A verdade está sempre comigo? Tenho razão sempre? Posso matar em nome da verdade?
Um poeta me inspirou para pensar sobre:

VERDADE

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


(Carlos Drummond de Andrade, in Corpo)



Boni dá aula: o Código de Hamurabi

O universitário J.BonifácioCosta, intervém e dá aula:
Apenas pelo amor ao debate, como o mano Cláudio cita meu nome no post anterior e pede esclarecimentos técnicos, atrevo-me a intervir em seu texto, lembrando que nada, absolutamente nada, deve ser mudado.
Realmente existiu um rei chamado Hamurabi que, para solucionar conflitos, instituiu uma Lei. Esta lei ficou conhecida como Código de Hamurabi. É a primeira lei escrita de que se tem notícia.
O primeiro registro documental, com o princípio da eqüidade para tentar evitar a discriminação nos julgamentos, correspondeu ao Código de Hamurabi (Babilônia - século XXI a.C.), nos seguintes termos: "... para que o forte não oprima o fraco e para que seja feita justiça à viúva e ao órfão. Que cada homem oprimido compareça diante de mim, como rei que sou da justiça".
Está no Código de Hamurabi a Lei do Talião que era conhecida por olho por olho, dente por dente. Lendo assim parece trágico, mas não o é.
Esta lei nada mais é do que equiparar o castigo aplicado ao mal cometido. Seria exatamente como se diz, ou seja, se você furou o olho de uma pessoa, esta poderá furar o seu olho; se você lhe quebrou o dente, ele também poderá quebrar o seu; se um construtor construiu uma casa e esta caiu, o morador poderá ficar com a casa do construtor. Um delito mínimo seria punido minimamente, ao passo que um grave seria punido gravemente.
Mas não fiquem achando que o Rei Hamurabi inventou sozinho uma lei, porque Lei é um costume (Common Law), não precisaria ser escrita, mas, como já disse, para solucionar conflitos, os costumes passaram a ser escritos, tornando-se um Código, portanto, Lei.
O Código de Hamurabi possui vários artigos que, para alguns, seria imprescindível que vigorassem no Brasil. Por exemplo: Para quem mentisse diante do tribunal a pena seria fácil: MORTE! Caso alguém pegasse um empréstimo para comprar um terreno e não pagasse, simples também seria a solução: o devedor e toda sua família passariam a ser escravos do credor (desde muito já existiam os agiotas). Muito mais coisas interessantes existem no Código de Hamurabi (as pedras em que foram inscritas as Leis de Hamurabi foram descobertas na cidade de Susa, no Irã, no ano de 1901).
Por fim, chegamos onde estamos (séc. XXI d.C.) onde a pena não ultrapassa da pessoa do réu, é dosada (1 mês… 2 meses… 1 ano… 10 anos…) dependendo do delito.
Existem, ainda, as penas civis, que são as indenizações, em casos de acidente de trabalho e de trânsito, ou mesmo decorrente de ofensa moral (numa publicação em jornal, por exemplo), em que o escritor tenha atingido a moral de alguém.

23 abril, 2004

Matar ou morrer (?)

Tem rolado uma discussão muitíssimo interessante, que a todos nos faz pensar: como acabar com a violência?
Há inúmeras propostas, idéias... que vão desde o desânimo (nada se pode fazer) até à instauração da pena de morte (legalizada) ou porte de armas à população civil (para que se defenda!).
Parece-me que o foco das discussões oscila entre duas vertentes:
1a.) como acabar com a violência?
2a.) como acabar com os bandidos? (acabando com os bandidos, acaba-se com a violência?)
Para a primeira questão, tenho uma resposta terrível: a violência é inerente ao ser humano (se não se educa uma inocente criancinha, ela já será insuportável!)
A história da violência (violência = uso da força) se confunde com a história do ser humano. Já no primeiro livro bíblico, aprendemos que os filhos de Adão e Eva se envolveram numa briga, por CIÙMES !!! Caim, não suportando o que ele interpretou como preferência divina por Abel (já que a fumaça de seus sacrifícios -ao cremar as oferendas- subia em linha reta para o CÉU) deu cabo (MATOU) seu único irmão. Tá bom, isso pode ser apenas uma lenda judaica, mas serve de paradigma: se até os irmãos de sangue brigam e se matam, quem não será capaz de fazer o mesmo?
Amantes matam em nome do amor...
Soldados matam em nome da pátria...
A polícia mata em nome da Lei...
A Igreja, o Islã, o Protestante, todos mataram e continuam em nome da Fé...(Dizem que matam mais do que todas as guerras por território!) E matam em Nome-de-Deus!
Existem casos de homicídio, parricídio (filho matar o pai), filicídio (pais matarem filhos), etc....
O maior número de abuso sexual e violência física contra crianças acontece DENTRO de casa, por uma parente!!!
Quando alguém nos ofende, dizemos: "Fulano MORREU prá mim!"... ou seja: Eu o MATO afetivamente...
A história da humanidade é um filme de terror, verdadeiro holocausto, incessante, terrível, avassalador, onde os vencedores e dominadores sempre exterminaram seus semelhantes (tachados de hereges, inimigos perigosos, bárbaros... qualquer desculpa vale para, exatamente, livrar-nos da CULPA).
Por isso, não me assusto com as palavras de "morte aos inimigos! morte aos bandidos!" pois eu também, na hora em que sou possuído pela RAIVA (ao me sentir agredido, ou ao ter algum conhecido roubado, assassinado, lesado) sou dominado pela raiva ("se eu pudesse, te esganava!!!). A RAIVA mobiliza meus impulsos agressivos (normais, naturais e necessários à sobrevivência) e, naquele momento me identifico com meu agressor: Eu = Bandido! Se ele mata, eu também mato (ou condeno à morte, na forma da Lei).
No filme que estreou recentemente em nossos cinemas, A PAIXÃO DO CRISTO, o diretor Mel Gibson nos provoca até o fundo da alma: quem suporta assistir aos mais terríveis e sangüinolentos golpes sobre Jesus? Banhados pelo sangue, clamamos por sangue. O que Ele fez? Ele, que tudo podia, pois era filho do HOMEM? (Você sabe!).
Para a segunda questão (como acabar com os bandidos?) não tenho resposta. O que não significa que nada possamos fazer.
Para controlar a violência inerente ao ser humano (como demonstramos acima) a própria humanidade tem se esforçado desde tempos imemoriais.
Já na antiga Mesopotâmia, criou-se o primeiro código legislativo de que se tem notícia: o famoso Código de Hamurabi (Bonifácio e Ana Letícia podem dar aulas sobre isso). Desde então, criam-se leis, que são aperfeiçoadas ao longo da história. Algumas leis são do tipo ( Honesto = Bandido ), são as normas tipo Lei do Talião (olho por olho, dente por dente)... Outras, mais brandas, outras mais severas, pois autorizam o Estado a matar o assassino, seus pais, seus filhos, seus parentes.... até confiscar todas as propriedades.... Isto existe, sim!
O Direito Romano (mais perto de nós) e que nos influenciou muito, prevê gradações de penas, etc. etc. (De novo, convoco Bonifácio e Ana Letícia para darem aulas...)...
Eis, pois, o que considero a mãe de todas as questões: como punir os bandidos e como desestimular e inibir a violência que habita o coração dos homens?
Tarefa impossível, porém NECESSÁRIA! O que sustenta a humanidade na face da Terra é, exatamente, lutar para conseguir o impossível. Daí as leis, a ordem, os castigos, os prêmios.... enfim, a Lei (sempre imperfeita, nunca onipotente). Por melhor que sejam, as Leis são feitas por nós, homens ("peregrinando neste vale de lágrimas" - como nos ensinou Da. Aparecida, rezando a Salve Rainha).
Ora, a única forma de inibir os impulsos agressivos é a EDUCAÇÃO do espírito, no sentido mais amplo. Assim, nossa porção animal poderia ser contrabalançada por nossa porção psíquica. Começa, aqui, o exercício das Virtudes: JUSTIÇA, alegria, solidariedade, respeito ao próximo, CULTURA, amor, poesia, arte, honestidade, não submissão ao consumismo, valorizar o SER e não o TER!!! Não vai cessar a violência, mas atenua a barbárie, domando os bárbaros (nós mesmos).
Difícil, né? Eu também acho.

21 abril, 2004

Amor e Conhecimento

Para meu irmão, Ismael, que me comunicou estar iniciando o MBA em Gestão Estratégica, respondi com a seguinte mensagem:
Ismaelzinho, meus enormes parabéns! fico muito orgulhoso de você (e dos outros manos, também) que se dedica ao aproveitamento útil do tempo, cuidando do físico (caminhandas, ficando "bonitão") e da mente (agora você vai fazer MBA!!!). Daqui a pouco, termos o Dr. Ismael José da Costa com o merecido título de Master of Business Administration.
Conhecimento não ocupa lugar e nos aprimora para tudo na vida. Evidentemente que não é tuuuuudo, pois temos que cultivar a sensibilidade, o respeito, a vida amorosa e espiritual, é claro.
Isso me faz lembrar o Sermão de 5a. feira Santa, do Padre Antônio Vieira, ainda no século XVII. Neste sermão, aproveitando a data em que os Católicos comemoram a Instituição da Eucaristia por Jesus durante a Santa e última Ceia, o Pe. Vieira toma o AMOR como tema. Cita a famosa antífona do canto gregoriano: Ubi Amor Est, Deus Ibi Est (onde há amor, Deus aí está). Conclama-nos a amar a Deus e ao próximo. Depois nos instiga com a pergunta: quem ama mais? Deus aos homens ou o homem a Deus? Com todo seu palavrório barroco (delicioso de se ler, pode crer), Pe. Vieira vai demonstrar que Deus tem mais poder de amar que o mais piedoso dos homens.
Por que? Aí, a grande sacada de Vieira: porque para se amar, é necessário o CONHECIMENTO do objeto amado, caso contrário trata-se de uma ilusão, de um engano, de uma fantasia, Ora, Deus, em sua infinitude, jamais poderá ser totalmente conhecido pelo ser humano (tão finito e limitado). Portanto, é Deus quem mais pode amar, pois ele é onisciente, tudo conhece, até os mais recônditos e obscuros porões de nossa alma. Tanto pode Deus amar, que nos criou por amor, etc etc etc... (Não vou fazer "outro sermão", o Vieira já o fez..)
Mas esses comentários acima me vêm à cabeça, Ismaelzinho, porque acredito que, se a nós nos for dada a graça de Amar, que nosso amor seja cada vez mais iluminado pelo dom do Conhecimento.
Obrigado pelo exemplo

16 abril, 2004

O poder da TV

Mauro Ventura é jornalista de O Globo (confira logo o seu blog clicando em Dizventura, na coluna de links - vc. vai adorar, garanto!) e resolveu criar um blog para contar os bastidores da notícia e outras reflexões. Pois bem, num recente post ele conta o seguinte caso, que transcrevo (quando tiver meu blog com links diretos, vou apenas indicar o link, tá bom?):

Oráculo
Uma amiga é especialista em TV. Ela fez outro dia um experimento que vale a pena reproduzir aqui. Pegou duas turmas de segunda série da uma escola da Zona Sul do Rio. Crianças de 8 ou 9 anos, bem nascidas e bem criadas. Levou a molecada para a Feira Hippie de Ipanema, na Praça General Osório. Levou junto uma equipe de vídeo e filmou a divertida tarde das crianças na feira. Registrou-as olhando as barraquinhas, conversando com os vendedores, comendo acarajé, batendo perna pela praça. Só que na hora de editar o vídeo com as imagens da criançada ela incluiu quatro cenas falsas. Uma que mostrava pivetes assaltando idosos na Praça da República, em São Paulo. Outra que trazia assaltantes roubando motoristas à noite em frente ao Hospital Miguel Couto. Uma terceira que apresentava policiais perseguindo bandidos num viaduto. E uma quarta que exibia cenas de violência na rua. Depois de pronto o filme, ela reuniu as 48 crianças e falou:
- Vamos ver o vídeo do nosso passeio?
Após as crianças verem o material - que misturava as cenas na feira com as cenas falsas - ela perguntou se elas haviam visto algo de errado no filme. Sabe quantas perceberam o engano?
- Nenhuma criança disse que aquilo era mentira - conta minha amiga.
Uma das crianças chegou a dizer:
- Eu lembro desse pivete, eu vi ele assaltando!
Outras também disseram lembrar das cenas de violência - mesmo as que se passavam em São Paulo ou as que eram noturnas. A triste conclusão dela:
- O que a TV diz que é verdade torna-se mais verdade do que a sua própria percepção da realidade. A TV é um oráculo dentro da sua casa ao qual você tende a atribuir o dom da palavra final.
- MAURO VENTURA.

15 abril, 2004

+ comentários

Dr. Márcio Candiani, psiquiatra, amigo, envia este comentário:
Cláudio,
só hoje tive tempo de ler seu blogger. Muito interessante a entrevista sobre o risco dos antidepressivos induzirem suicídio. Velha história para nós psiquiatras e uma bomba para os leigos... Apareceu em todos os jornais, revistas e mídia televisiva, os amigos me pediram informações, alguns pacientes me ligaram... que loucura! Foi igualzinho a esta bomba lançada sobre o Prozac,provavelmente pela concorrência da época... Gostei muito do que falou na entrevista. Como sempre, muito didático, lógico e claro, respondendo às perguntas com uma breve, mas essencial introdução!

Quanto ao texto "O Brasil vai pro brejo em 2003?" , achei tão interessante que mandei para vários amigos...meu pai adorou. Vc colocou no papel o que muitos de nós pensamos, mas ficamos entulhados com essa propaganda anti-tudo que só quer saber de ibope. Muito interessante. marcio.candiani@superig.com.br

Casuística: A lógica do capital

Recebo um telefonema. Em tom de urgência, X se identifica como a "sua gerente" da agência bancária onde mantenho uma conta. Pede-me para passar lá, "por favor". Lá vou eu... será que fui premiado? será que meu dinheiro sumiu?
Tchan tchan tcham! X queria me oferecer um ótimo negócio, pois "nosso banco pensa sempre o melhor para o cliente".
Negó seguín: propõe que eu mude o plano de seguro de vida, pois o meu, insiste, é arcaico e agora tudo é mais moderno, bastava que eu assinasse uma autorização (já pronta!). Peço para ver as vantagens. Insiste: "o antigo é arcaico e o atual é moderno". Digo que preciso ver, no papel, para comparar. Mais insistência: "mas este que te ofereço é mais barato, o sr. vai economizar R$ 7,00 (!!!) por mês, pois o banco só pensa no cliente e até abaixou o preço!" Permaneço irredutível e ela diz: "Ainda não sei mexer neste computador para comandar a impressão, mas vou tentar." Milagre! A impressora funciona! Apenas, entretanto, com a descrição do "novo" seguro. Assinala todos os ítens, mostra as vantagens, principalmente uma tal de "antecipação de auxílio funeral".
"Já virou humor negro", penso. Mas eu quero, mesmo, é a comparação no papel, ali, na minha frente. Mais um milagre: aparece o extrato do antigo. Conferimos ítem por ítem. Resumo da ópera: o "arcaico", é muito mais vantajoso. 300% mais vantajoso, na linguagem dos $$$. Mas a "minha" gerente ainda insiste! Pergunto-lhe: "E você, se fosse o cliente, com qual ficaria?" Sorrindo amarelo, responde: "-É lógico que com o antigo!". Dou-lhe as boas tardes e vou ganhar minha vida.

Vocabhilário (I)

BUSH - sobrenome do atual presidente dos EUA (George W. Bush) - "Bush é um detergente; ele acha que problemas se “lavam mais branco”, se raspam, ele acha que dissidências se esmagam, que complexidades devem ser achatadas, que o múltiplo tem de virar “um”, que tudo tem um princípio, meio e um fim, e que o fim deve ser igual ao início, realizando o pensamento dos milhões de idiotas que jazem entre o hambúrguer e o sofá, diante da TV. Como Osama, ele também quer nos raspar da face da Terra." (Arnaldo Jabor, O Globo).

14 abril, 2004

O mundo de pernas pro ar...

Li nos jornais dos últimos dias:
1. Pesquisa feita nos 11 países mais desenvolvidos constataram que os vícios de fumar (tabagismo) e de beber (alcoolismo) matam 7.000.000 (sete milhões!) de pessoas, anualmente. Morrem em hospitais (são de países desenvolvidos...). Imagine o "tanto de gente" que morre nos países subdesenvolvidos, onde as pessoas são ainda mais deseducadas e pobres... As indústrias do tabaco são muito poderosas e já forçaram os organizadores das corridas de Fórmula 1 a realizarem fora da Europa (onde a publicidade de cigarros é controlada) 8 das 18 provas previstas para 2004. Vou beber umas pinguinhas, só prá comemorar que não bebo nem fumo!
2. Os cientistas afirmam que o polo magnético do planeta Terra se inverte a cada 7.000 anos. Ou seja, literalmente, o mundo está sempre virando de pernas pro ar!
Daqui a pouco, as bússolas apontarão para o sul (que se tornará norte). Vai ser gozado o pessoal de Ipanema, Leblon, Copacabana, Barra e adjacências ser chamado de "ZN" (zona norte). Será que vai ter seca no Rio Grande do Sul e cair neve em Fortaleza?
3. Tadim do Waldomiro Diniz: o Carlos Cachoeira vai processá-lo por calúnia e difamação!
4. Desde que deixou a presidência, FHC tem sido convidado a fazer conferências, recebendo U$ 50.000 (cinquenta mil dólares) por "bate papo". Pergunto: Quem paga?
Responde o Jornalista Sebastião Nery, na Tribuna da Imprensa de ontem, dia 13: Um dia é o Santander, no outro o Santander-Bradesco, no outro o HSBC, na semana passada foi o Merryll Lynch. Para quem não se lembra, esses grandes bancos estrangeiros, eles e todos os outros, lavaram a égua, como se diz lá na Bahia, nos 8 anos da orgia banqueira de Fernando Henrique.
Cala-te, bico!

13 abril, 2004

Mermão Paulo Alonso, de Brasília-DF, me mandou o seguinte comentário ao meu post anterior: "O Brasil foi pro brejo em 2003?" :
Eu não sou Bin Laden não, viu ?
Mermão,
Você é demais mesmo; já tá criando novo canal de comunicação! Como você tem essa impressionante capacidade armazenadora e geradora de idéias e a criatividade para ilustrá-las e divulgá-las, tô te vendo de novo bem à vontade na cena, né ?
Parabéns! Mas, também quero dar meus pitacos! Acho que não podemos dispensar o valioso recurso de recorrer à classe política pra projetarmos nossa irritação mais comum, nossa indignação com nosso dia-a-dia intra e interpessoal, nosso desespero frente às dificuldades que tanto nos limitam e ameaças que tanto tememos. Que merda, sô! O que será de nós, hein ? Como evitar nossa iminente despirocação ?
Já estamos tão habituados a esse privilégio tão bem incorporado à nossa cultura (universal, quiçá espiritual). Fico preocupado com a hipótese de não podermos mais contar com figuras como o Luis Estevão, ou o Sérgio Naya, ilustres representantes da classe, ou qualquer um desses notáveis juízes que estão sendo denunciados na mídia, pra podermos malhar em nosso cotidiano! Essa sacanagem que fazemos é extremamente saudável, como diria o meu caseiro calunga: "nosso fígo agradece". O próprio Lula, seguindo a cartilha de todos eles, também nos preparou com promessas salvadoras, que ainda hoje constituem seu único repertório verbal.
Que crueldade conosco, pô! A gente já não pode mais se aposentar como sempre se acostumou a prever; além disso, reajuste salarial pra melhorar padrão de vida... só pros poderosos, enquanto pra nós e nossos clientes nos resta um desafio bravo de fazer o maior malabarismo para as contas caberem de qualquer forma no nosso orçamento. Bem, isso aí até que é legal, mesmo que eles não dêem a mínima importância, pois nos permite desenvolver novas estratégias de sobrevivência.
Já contamos como certa a oportunidade de xingarmos, reclamarmos ou denunciarmos, de todas as formas possíveis e criativas, à brinca ou à vera, esses poderosos de plantão. Eles correspondem ao arquétipo perverso de quem usa e abusa da condição de poder poder, da autoridade extrema que nos incomoda sempre, pra beneficiar a si próprio e os da patota, criando tanta distorção na distribuição de renda e privilégios sociais. Esta imagem estimula tantos ingênuos a se exercitarem na prática da mera vantagem sobre algúem (Lei de Gérson) e daí se especializarem no caminho do crime, obstinados pela ganância a qualquer preço e a certeza da impunidade.
Eu não sou Bin Laden não, viu ? Só quero defender a possibilidade de uma recompensa mínima. Precisamos de algum espaço perante essa turma pra sobreviver e dar sentido as nossas vidas. Não precisamos superá-los, nem eliminá-los; só aprender a lidar melhor com a questão da autoridade, desenvolvendo o que mais importa nesse contexto, a nossa capacidade de se autorizar na vida. Aliás, continuamos impotentes como sempre, né ? Mas, bem humorados e conscientes, a gente faz uma graça e segue em frente.
Um abraço, seirmão.
O Brasil foi pro brejo em 2003?
Amigos,
esse negócio de política é muitíssimo complexo... mas, como no futebol onde todo brasileiro é um "técnico" a dar palpites, na política somos também "mestres" e sabemos tudo melhor do que todos....
Antes de mais nada, é a maior ingenuidade do mundo a gente acreditar que UMA pessoa pode mudar um país. Mais ingenuidade é acreditar que qualquer GOVERNO possa atender TOTALMENTE as infinitas demandas de TODOS os cidadãos, ao mesmo tempo, AGORA!!!

Desde os tempos coloniais, fomos bombardeados pela idéia de que problemas são para serem resolvidos pelo governante. É a idéia do Pai-de-Todos, ou de Mãe-de-todos.... Não!!! Nem aqui nem na China, nem hoje nem nunca!

Então, o sujeito (que somos eu e você) delega a responsabilidade para o Governo. Tudo que dá certo, "fui eu que fiz", tudo que dá errado 'foi o outro que fez'... A imprensa sabe disso, os políticos, PRINCIPALMENTE OS POLÍTICOS, sabem disso e manipulam essa nossa crença mágica num governo poderoso, onipotente, benevolente, igualitário, resolvedor de tudo.... e, pior, que SÓ NÃO RESOLVE PORQUE NÃO QUER! Hahahahahaha, essa é a maior piada, para não dizer tragédia: acreditar que o Governo não faz porque não tem vontade política, ou porque não quer !!!

Imagine que algum político resolvesse o problema da saúde, no Brasil ou na China ou em Nova York: antes, tudo uma merda... com fulano tudo ficou maravilhoso! Esse fulano poderia ser o Governo pro resto da vida, o povo imploraria pra ele ficar, não teria necessidade nem de campanha, porque o simples fato de resolver um problema crucial para todos seria seu cacife imbatível para ganhar qualquer eleição.... assim por diante.

Imagine o Governo resolver o problema do dinheiro: todos tendo o salário que quisessem, comprassem tudo que desejassem, viajassem prá onde imaginassem, comessem do bom e do melhor, sem problema nenhum!!! Ah! meu Deus do céu, que maravilha. O governante que fizesse essa mágica estaria no paraíso celeste.... Nem Jesus Cristo - que mandaram crucificar - conseguiu isso! Já o fulano-de-tal (Lula, Bush, Hitler, JK, Getúlio, Mahatma Gandhi, Maomé, Bin Laden ou seja lá quem for) conseguiu!!!!!
Aprendemos a jogar a culpa nos outros desde a infância: A professora chama atenção do aluno: - Fulano, pare de conversar! O fulano, com a cara mais limpa: - Não sou eu não, fessora, fui o Pedrinho que me pediu a borracha emprestada!
É sempre assim, desculpas para tudo: O ônibus atrasou, o relógio parou, a faxineira não veio, o professor não ensinou direito, ninguém me avisou, eu não sabia.... Ah, essa é a maior desculpa, a mais usada, a mais cínica: "EU NÃO SABIA!'

Será que o eleitor votou no Lula pensou ASSIM?: "agora eu deito aqui, tomo minha cervejinha, deixo o capim crescer, mijo fora do penico, encho o pulmão de nicotina, encharco meu fígado de álcool, voto no meu amigo-que-depois-me-ajudará-com-um-favorzinho, etc... e o LULA VAI RESOLVER TUDO"!

Que negócio é esse de chamar de volta os políticos "experientes?" Então tá: TUDO, antes, era maravilhoso: os juros eram baixos, o risco-Brasil era zero, o salário mínimo era suficiente, a gasolina era gratuita, você ganhava dez mil por mês, não havia fila em postos de saúde, não havia seca, não havia corrupção.... o Brasil foi pro brejo há apenas 01 ano e 03 meses! Antes, era apenas "um gigante pela própria natureza, adormecido, deitado eternamente em berço esplêndido, à beira do abismo" ! hehehehehe e você acredita nisso?

O que todos esquecemos é: todo problema começa em nós mesmos, dentro de cada um de nós. (não significa que os governo - sempre eleitos pelo povo- não tenham problema, corrupção e tal, não!). Mas cada um de nós não dá conta nem de limpar nossa cozinha, nossa calçada, nosso banheiro. Não damos conta nem de evitar a fumaça dos cigarros que inalamos quer sejamos fumantes ou não... Muitos nem escovam os próprios dentes! Nós mesmos complicamos nossa vida ao invejarmos o outro, ao brigar pelo território, ao querer mandar no outro, ao matar aulas, ao estudar só prá passar de ano, ao não respeitar o outro, ao surrupiar o que é alheio, ao humilhar o semelhante, ao não estender a mão e nos solidarizarmos.... depois reclamamos do governo!!!
O governo não é o Lula, assim como o Estado não era o Luis XV, apesar de ele ter dito: L´état c´est Moi", o Estado sou Eu!!! Foi parar na guilhotina, o coitado... aliás, quem o guilhotinou também morreu guilhotinado (ih ih ih ih)...

É assim a vida: feito bobos, acreditamos: já que nossa mãe e nosso pai nos alimentaram durante os primeiros anos de vida (caso contrário, estaríamos mortos) o Governo será como nosso pai e nossa mãe e nos sustentará..... hahahahaha, que cada um se cuide, e cuide do que está a seu alcance... por isso, já falei até pro Bonifácio, a solução é a EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA, onde aprenderemos a ter noção de nossas responsabilidades, a cobrar do governo o POSSÌVEL e não o impossível...

Andem pela periferia de qualquer cidade: capim pelas calçadas, mato no terreiro, barro na porta dos botecos (nem jogar um entulho eles jogam). Vá atrás de um carrão com ar condicionado e observe: de repente, uma mãozinha branca de madame ou doutor joga fora um papel pela janela, uma lata vazia de refri ou cerveja... Depois dizem: essa prefeitura nem recolhe o lixo!!! Entrem num banheiro de Shopping: lá está a lata de recolher as toalhas de papel "cheia de papel em volta" hahahahaha Nem é preciso falar de banheiro de parada-de-ônibus, onde o "perfume" até inibe o funcionamento de nossos esfíncteres.
Aí, comentam: pqp, o cara que limpa essa joça é preguiçoso.... e quem joga do lado de fora, o que é? E quem desenha ou rabisca obscenidades nas portas das privadas, o que é?
Os senadores que reclamam do Lula são excelentes pessoas: não fraudaram eleições, não se enriqueceram ilicitamente, não são banqueiros nem empresários, não ajudaram e mantiveram a ditadura, tudo gente boa...
Você é ótimo, o Brasil era ótimo, o Lula estragou...
Então Tá! Chega!
Suicídio com antidepressivos?

Acabo de dar uma entrevista para o programa Rádio Vivo, da Rádio Itatiaia de Belo Horizonte-MG (95.7 FM e 610 AM). O apresentador queria saber minha opinião acerca da possível exigência de se colocar, nos rótulos dos antidepressivos (AD), a inscrição:"Este medicamento pode levar ao suicídio" (sic). A notícia vem dos Estados Unidos, onde o órgão regulador da indústria farmacêutica e alimentícia (FDA-Food and Drug Administration) está sendo pressionado por defensores do consumidor, diante de alguns casos de auto-extermínio de pacientes em uso de AD. Fiz os seguintes esclarecimentos:
1. A primeira consideração é sobre o diagnóstico correto de Depressão. Na verdade, o termo "depressão" vem sendo utilizado indiscriminadamente. Nós, seres humanos, face a qualquer frustração (amorosa, empresarial, reprovação escolar, perda de um ente querido, etc) nos entristecemos, com toda a razão. Isto não significa que estejamos doentes. Ao invés de buscarmos as causas mais profundas do fracasso, que estão em nós mesmos - na maioria das vezes -, logo queremos um remédio que nos traga felicidade. A indústria farmacêutica estimula e se aproveita disso, fazendo-nos acreditar que existe a tal pílula da felicidade: o antidepressivo!!!
2. O diagnóstico psiquiátrico de Depressão deve levar em conta alguns critérios já estipulados em manuais diagnósticos, basear-se na história clínica e familiar do paciente e decidir pelo tratamento mais adequado.
3. Há depressões: a) predominantemente ansiosas, b) predominantemente com sintomas físicos (cefaléias, dores, problemas gástrointestinais, etc.), c) predominantemente com sintomas de irritabilidade, d) com sintomas de desânimo e inibição motoras, etc...
4. Neste último caso (depressão com inibição psicomotora), na forma mais grave (ideação de auto-extermínio) é que se deve tomar precaução quanto à possibilidade de uma passagem ao ato, ou seja, a real tentativa de suicídio. Isso pode ocorrer, paradoxalmente, na medida em que o paciente, após iniciar o tratamento, melhora e, sentindo-se mais animado e disposto, adquire forças para por em prática suas idéias de auto-extermínio e, aí sim, tentar realmente se matar!!!
5. Essas informações já constam na bula dos medicamentos e devem ser dadas pelo médico, no momento da prescrição (geralmente se explica isso aos parentes ou responsáveis pelo paciente). São casos raros, mesmo.
6. Além do mais, o tratamento para Depressão não é apenas medicamentoso, mas deve incluir uma Psicoterapia, processo em que o indivíduo terá oportunidade de rever sua posição na vida, sua relação com as pessoas e com o mundo em geral, implicar-se com seu adoecimento e com os processos de mudança, necessários para a não recaída. Na Medicina "organicista", o ideal é a restitutio ad integrum (volta ao estado anterior, supostamente íntegro), enquanto que na Psiquiatria que leva em conta o psiquismo da pessoa e sua responsabilidade no próprio adoecimento, a cura não será o retorno ao que era antes, pois, assim, estariam sendo restabelecidas as próprias condições de um novo adoecer!!!
A cura verdadeira supõe uma mudança de vida, geralmente feita às custas de muito esforço, onde cada um de nós terá que se haver com os descaminhos anteriores.

12 abril, 2004

"Termo de Abertura"

Abrindo este blog prás cabeças: mas escrevo com cabeça e coração, pelo menos é o que pretendo. Falar o quê? Falar de quê?
De tudo!
Vai ser difícil: "Lutar com palavras é a luta mais vã, entanto lutamos mal rompe a manhã." (Carlos Drummond de Andrade)
Então, vamos lá!