31 outubro, 2005

Aniversário à Minas Gerais

Dirigir pela BR 262, no sentido Belo Horizonte-Gov.Valadares é uma temeridade! A rodovia deixa BH em direção leste e logo serpenteia por entre as escarpas da Serra do Espinhaço: à direita, ficam os maciços da Serra da Piedade e da Serra do Caraça, na direção de Ouro Preto. No topo da primeira, estão uma ermida em homenagem à Nossa Senhora da Piedade e e o Observatório Astronônico da UFMG; à esquerda, a cordilheira segue em direção à Serra do Cipó e busca a Chapada Diamantina, lá na Bahia.

O trânsito é infernal: toda a produção do Vale do Aço (Acesita, Belgo Mineira, Usiminas) escoa por essa rodovia que, agora, passa por um melhoramento. Máquinas na pista, empregados, falta de sinalização, etc. Após longa estiagem, chegou a temporada das chuvas. A neblina cobriu boa parte do trajeto, entre a entrada para Caeté e São Gonçalo do Rio Abaixo.

Nova Era, nosso destino, fica às margens do Rio Piracicaba, pouco antes que desemboque no Rio Doce, em direção ao Oceano Atlântico. Minas é a encruzilhada do Brasil: a leste, Vitória-ES; ao sul: São Paulo e Rio. Ao norte: Brasília e interior da Bahia. A oeste, Goiás e Mato Grosso. Êta mundão, sô!

A paisagem de montanhas é belíssima: ainda há registros de mata atlântica, embora predomine a vegetação de transição para o cerrado. O Rio das Velhas, a poucos quilômetros de Belo Horizonte, nos lembra que Sabará fica logo ali e que, se nos deixarmos levar por suas águas, chegaremos ao Rio São Francisco, deixando pra trás Santa Luzia e Jaboticatubas.

É muita história a impregnar essas terras das Gerais, caminhos dos Inconfidentes e dos tropeiros, igrejas e capelas dos tempos coloniais, altares e santos barrocos cobertos de ouro.

É a
Estrada Real, com duas vias que partem da cidade do Rio de Janeiro e de Parati, para encontrarem em Ouro Preto. Daí, seguem por estas regiões que agora atravessamos e conduz a Diamantina, de onde desciam toneladas de diamantes, ouro, pedrarias. Hoje, as montanhas de Minas vão sendo carcomidas pelas mineradoras (MBR, Vale do Rio Doce, etc.) que exportam o minério de ferro que abastece o mundo. Ainda por aqui estão as internacionais Anglo Gold e outras, cujas galerias subterrâneas, algumas a 1200m de profundidade, produzem ouro como nunca se viu (e nunca veremos!).

Viajar pela 262, além dos sustos do tráfego pesado, nos proporciona recordar fatos históricos, os Ciclos do Ouro e do Minério, as devoções, o Barroco, etc.

Todos os obstáculos dessa viagem de ontem foram enfrentados com prazer, pois o objetivo era comemorarmos o aniversário do meu pai, Soié.

Chegamos ainda cedo em Nova Era, a tempo de tomar um lanche preparado pela minha mãe: empadinha e refrigerante para a meninada (os netos) e cafezinho com biscoito de polvilho, torradinho, torradinho... Nada muito substancioso, pois logo logo teríamos o almoço.

Dessa vez, a família se reunião no restaurante do Garden Hotel, cujo cardápio foi bem mineiro: saladas, tutu-de-feijão, arroz com milho verde, salpicão e lombo recheado. As sobremesas, além da inevitável torta de chocolate recheada com cocada mole, constituíram um espetáculo à parte: cidra cristalizada e em calda, mamão em calda, doce de leite mole e em pedaços, cajuzinho... Ah! É até exagero essa hospitalidade mineira...

À tardinha, uma visita ao Museu Histórico de Nova Era, com centenas de peças antigas, desde a fundação da cidade, no início do século 18. Uma belíssima exposição fotográfica exibia fotos e documentos das décadas de 20 a 50, todas do acervo de meu tio Diló (irmão do Soié), o primeiro fotógrafo da região. Minha mãe descreveu cada foto, nas quais podia reconhecer personagens que já se foram, figuras que marcaram sua infância na antiga São José da Lagoa.
Minas são muitas. Minas é plural.
Soié e Aparecida recebiam a todos em alto astral

28 outubro, 2005

Dupla festa

O 28 de outubro, é dedicado pelos católicos a São Judas Tadeu. Na verdade, são dois os santos do dia: Simão e Judas Tadeu - este ficou com a fama, aquele ninguém conhece. Outro Judas famoso, o Iscariótes, vendeu-se por 30 dinheiros e entregou Cristo aos soldados romanos. Enforcou-se numa figueira e sua alma deve estar penando por aí...

Aqui em Belo Horizonte, no bairro Nova Floresta, existe um enorme santuário em homenagem ao "santo das causas impossíveis", Judas Tadeu:
As ruas do entorno ficam abarrotadas, durante todo o dia. As missas se sucedem de hora em hora, assistidas por milhares de fiéis, alguns vestidos com túnicas, tal qual os santos.
O comércio ambulante se aproveita: barraquinhas de pipoca, algodão doce, maçã do amor, sanduíches (cachorro quente com milho verde, maionese, folha de alface, catchup e mostarda!). Refrigerantes, sucos, cerveja. Miniaturas de imagens, terços, medalhas, escapulários e santinhos, além de folhetos com orações, tudo é oferecido ao "peregrino". Vem gente de toda parte, daqui mesmo, da região metropolitana e até de municípios mais distantes.
É uma "festa do interior" em plena metrópole.
Nos outros meses, em menor escala, o dia 28 provoca grande afluxo de pessoas, a ponto de ser necessário fechar ao trânsito as ruas estreitas do Nova Floresta.

Quando o Aeroporto da Pampulha ainda era o mais utilizado - agora os vôos foram transferidos para o distante Tancredo Neves - Confins - eu o utilizava muito. Durante 10 anos, frequentei a ponte aérea BH-Brasília, pois ministrava cursos na capital federal. Tão logo o avião decolava e se inclinava para a direita, de sua janela eu vislumbrava a enorme cúpula da Igreja de São Judas. Tinha certeza, então, de que estava voando!

Hoje é, também, o dia do Funcionário Público.
Ao voltar para casa, ontem, deparei-me com um outdoor alusivo à data nas imediações da Assembléia Legislativa. Tão descuidadamente foi feito que lá está escrito: funcionários púbicos! Já não pagam bem e ainda lhes comem uma letra. Ou foi proposital? Na verdade, muitos consideram os funcionários do governo como parasitas, dos quais um dos mais mal-afamados é o Poediculus Pubis, também conhecido como "chato", habitante dos pêlos pubianos... primo pobre dos piolhos (Poediculus Capitis), que se enroscam nas cabeleiras descuidadas. Freud explica?

O título deste post, entretanto, se refere a outras duas comemorações, para mim muito mais importantes:
1- hoje é meu aniversário de casamento! Se casar é uma loteria, então ganhei na loto, digo sempre. Minha companheira é a Amélia, que me trata a "pão-de-ló e chantilly", no sentido literal e nos outros sentidos todos. Não é a Amélia do Mário Lago, a tal "mulher de verdade que passava fome ao meu lado", muito antes pelo contrário: passamos é muito bem! Agora, "mulher de verdade", lá isso é!

2. hoje é, ainda, o aniversário de meu pai, Soié. Para quem o conhece, nem é preciso falar de sua alegria de viver junto à eterna namorada Aparecida - minha mãe!-. Nem de sua dedicação à família, suas piadas, pegadinhas e brincadeiras. Uma vez o chamei de Soié, o Espirituoso!. Sabe contar casos como ninguém: confiram no Ontem e Hoje, o Blog do Soié!

Este fim-de-semana será dedicado aos dois - Soié e Aparecida: estaremos em Nova Era-MG, onde as saudades serão abrandadas com muito papo, risos, encontro dos irmãos, sobrinhos e netos. O almoço de domingo promete! Estão convidados...

26 outubro, 2005

Dr. John = jazz, blues, funk e rythm'n' blues

Ontem foi dia do show de Dr.John no Chevrolet Hall de Belo Horizonte, atração do Tim Festival 2005.
Há mais de um mês me preparei para assistir o mestre do jazz, blues, funk e rythm'n' blues. Dr John habita minha estante de CDs há muito tempo, desde que adquiri seu ótimo Goin' Back to New Orleans. O cara é manhoso para cantar e tocar: "arrasa" ao piano!
Aqui em Belô ele se apresentou com sua banda The Lover 911: John Fohl na guitarra, David Barard no baixo e Herman Ernest III na bateria. Barard deu um show à parte, empolgando a platéia.
Angelo & Pai no Dr John
Minha companhia foi o filho Ângelo

Dr. John vestia um terno vermelho. Em vários momentos tocou simultaneamente o piano e o teclado. Emocionou o público com Sweet Home New Orleans, em homenagem à sua terra, devastada pelo Furacão Katrina. Tudo de bom. Uma noite e tanto!

22 outubro, 2005

Plebiscito: Você concorda com a abolição das propagandas de bebidas alcoólicas e de tabaco? Hein? Heim?


Amanhã é o referendo acerca da proibição ou não da venda de armas em território nacional. Segundo um jornal de hoje, os eleitores vão escolher o SIM ou o NÃO movidos mais por argumentos emocionais do que racionais. Ou seja:
  • o eleitor prefere não pensar sobre o assunto, ou não consegue!
  • as propagandas não apresentaram argumentos sólidos!
  • os políticos, espertos como sempre, não deram as caras nos programas do TRE!
  • não se sabem - ou não se quer saber - ou não se explicitam as verdadeiras consequências do SIM e do NÃO.

Penso que há outros problemas graves a serem discutidos - mas que são escamoteados. O povo, tratado como boi no pasto, não é convidado a opinar.

Um exemplo é a proposta de um plebiscito como no título deste post: Você concorda com a abolição das propagandas de bebidas alcoólicas e de tabaco?

Todos sabemos que o alcoolismo é a maior - digo, maior - constante em casos de acidentes e brigas, acarretando grande número de mortes - inclusive pelo uso das famigeradas armas de fogo - sem falar em facas, facões, canivetes, pedradas, cacetadas, esganadas e quejandos...

Todos sabemos que o alcoolismo é responsável por 25% das internações psiquiátricas, custando "o olho da cara" aos cofres públicos e empresas.

Todos sabemos que o alcoolismo é causa de outras doenças, tipo cirrose hepática, desnutrição, hipertensão, insuficiência renal, etc.

Todos sabemos que o uso do tabaco é a maior - digo, maior - causa de doenças pulmonares (entre outras, o mortífero câncer de pulmão) - 80%!

Todos vemos as fotos nos maços de cigarros e desconhecemos a mensagem: "O Ministério da Saúde adverte: fumar faz mal à saúde".

A Aliança Cidadã pelo Controle do Álcool-ACCA divulga notícias interessantes sobre o tema. Entre outras:


Exemplos de países que limitaram a publicidade de álcool e tabaco e os efeitos desta limitação até 1996:
  • Noruega - limitou a publicidade em 01/07/1975 - diminuiu o consumo em 26%
  • Finlândia – em 01/03/1978 – diminuiu em 37%
  • Nova Zelândia – em 17/12/1990 – diminuiu em 21%
  • França – em 01/01/1993 – diminuiu em 14%
  • Em países onde se proibiu a publicidade de licores, o consumo se reduziu em 16%;
  • A proibição da publicidade de vinho e cerveja, diminuiu o consumo de álcool em 11%;
  • A proibição de publicidades de licores reduziu os acidentes em 10%, e a de cerveja e vinho em 23%;
  • A proibição da publicidade de bebidas alcoólicas na Suécia nos anos 70 diminuiu o consumo em 20%.

  • Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) do ano passado, mostrou que 13,4% dos acidentados que entravam no pronto-socorro do Hospital São Paulo estavam embriagados ou foram vítimas de alguém que tinha bebido demais. A maioria tinha tomado o equivalente a seis latas de cerveja ou 250 ml de destilado nas últimas seis horas.

Você concorda com a abolição das propagandas de bebidas alcoólicas e de tabaco?

19 outubro, 2005

MATAR OU MORRER?

Tem rolado uma discussão até interessante, que a todos nos faz pensar:
- Como acabar com a violência?

Há inúmeras propostas, idéias... que vão desde o desânimo (nada se pode fazer) até à instauração da pena de morte (legalizada) o porte de armas à população civil (para que se defenda!) ou a proibição de venda de armas (para que não nos matemos!!!).
- SIM ou NÃO no referendo?

Parece-me que o foco das discussões oscila entre vertentes múltiplas:
1a.) como acabar com a violência?
2a.) como acabar com os bandidos?
3a.) acabando com os bandidos, acaba-se com a violência?
4a.) o que causa a violência?

Para a primeira questão, tenho uma resposta terrível: a violência é inerente ao ser humano (se não se educa uma inocente criancinha, ela já será insuportável!)

A história da violência (violência = uso da força) se confunde com a história do ser humano: no primeiro livro bíblico, aprendemos que os filhos de Adão e Eva se envolveram numa briga, por CIÚMES !!! Caim, não suportando o que ele interpretou como preferência divina por Abel (já que a fumaça dos sacrifícios do irmão -ao cremar as oferendas- subia em linha reta para o CÉU) resolveu matá-lo. De fato, acabou com ele.

Tá bom, isso pode ser apenas uma lenda judaica, mas serve de paradigma: se até os irmãos de sangue brigam e se matam, quem não será capaz de fazer o mesmo?
Amantes matam em nome do amor...
Soldados matam em nome da pátria...
A polícia mata em nome da Lei...
A Igreja, o Islã, o Protestante, todos mataram e continuam a matar em nome da Fé... (Dizem que as guerras religiosas são mais frequentes e mortíferas do que as guerras por território!) E matam em Nome-de-Deus!
Existem casos de homicídio, parricídio (filho matar o pai), filicídio (pais matarem filhos), etc....

O maior número de casos de abuso sexual e violência física contra crianças acontece DENTRO de casa, por um parente!!!

Quando alguém nos ofende, dizemos: "Fulano MORREU prá mim!"... ou seja: Eu o MATO afetivamente...

A história da humanidade é um filme de terror, verdadeiro holocausto, incessante, terrível, avassalador, onde os vencedores e dominadores sempre exterminaram seus semelhantes (tachados de hereges, inimigos perigosos, bárbaros... qualquer desculpa vale para, exatamente, livrar-nos da CULPA).

Não me assusto com os gritos de "morte aos inimigos! morte aos bandidos!" pois eu mesmo, na hora em que me sinto agredido, ou ao ter algum conhecido roubado, assassinado, lesado, eu mesmo sou dominado pela raiva ("se eu pudesse, te esganava!!!").

A RAIVA mobiliza meus impulsos agressivos (normais, naturais e necessários à sobrevivência) e, naquele momento, me identifico com meu agressor: Eu = Bandido! Se ele mata, eu também mato (ou condeno à morte, na forma da Lei).

Para a segunda questão (como acabar com os bandidos?) não tenho resposta. O que não significa que nada possamos fazer.

Para controlar a violência inerente ao ser humano (como demonstramos acima) a própria humanidade se esforça desde tempos imemoriais: Já na antiga Mesopotâmia, criou-se o primeiro código legislativo de que se tem notícia: o famoso Código de Hamurabi (meu irmão Bonifácio e minha filhota
Ana Letícia podem dar aulas sobre isso).

Desde então, criam-se leis, que são aperfeiçoadas ao longo da história. Algumas leis são do tipo ( Honesto = Bandido ), são as normas tipo Lei do Talião (olho por olho, dente por dente)... Outras,mais brandas, outras mais severas, pois autorizam o Estado a matar o assassino, seus pais, seus filhos, seus parentes.... até confiscar todas as propriedades.... Isto existe, sim!

Eis, pois, o que considero a mãe de todas as questões: como punir os bandidos e como desestimular e inibir a violência que habita o coração dos homens?
- Tarefa impossível, porém NECESSÁRIA!

O que sustenta a humanidade na face da Terra é, exatamente, lutar para conseguir o impossível. Daí as leis, a ordem, os castigos, os prêmios.... enfim, a Lei (sempre imperfeita, nunca onipotente).

Por melhor que sejam, porém, leis são feitas por nós, homens e refletem nossa imperfeição.

O que podemos esperar de uma civilização em que o exercício da autoridade está sendo colocado em cheque, os governantes titubeiam no exercício do controle de atividades ilícitas, já não se consegue diferenciar o certo e o errado, a polícia e o ladrão?

Ora, a única forma de inibir os impulsos agressivos é a EDUCAÇÃO, no sentido mais amplo.

Começa, aqui, o exercício das Virtudes: JUSTIÇA, alegria, solidariedade, respeito ao próximo, CULTURA, amor, poesia, arte, honestidade, não submissão ao consumismo, valorizar o SER e não o TER!!! Exatamente o que vai na contramão dos (des)valores do mundo atual.

A injustiça é tão disseminada e estrutural que podemos afirmar: a violência faz parte e é uma das estratégias de dominação e segregação. Ou seja: está deflagrada a luta de castas!

- Difícil, né?
- Eu também acho.

12 outubro, 2005

Começa, hoje, aqui mesmo em Belô, o XXIII Congresso Brasileiro de Psiquiatria.
Estarei presente, entre outros quatro mil colegas! Já agora de manhã, no MinasCentro, onde se realiza este mega-evento, encontrei colegas de Brasília, João Pessoa, Porto Alegre, São Paulo, Juiz de Fora, Pernambuco, Sergipe... tudo isso apenas na fila do "crachá"...
Serei relator numa Mesa Redonda acerca do "Diagnóstico Diferencial do Transtorno de Déficit de Atenção x Transtorno de Humor Bipolar em Crianças e Adolescentes" (ufa! o titulo é grande e a trabalheira pra preparar maior ainda!). Se der, faço um resuminho aqui no PrasCabeças.

A boa dica aos congressistas é uma visita ao Mercado Central, que fica logo em frente do MinasCentro: é só atravessar a avenida. Imagino que haverá mais congressistas tomando umas e outras que em algumas palestras (afinal, congresso é pra isso, não?).

11 outubro, 2005

Desarmamento - variações sobre um tema

COMO NOVA YORK REDUZIU AS ARMAS ILEGAIS

por Louis Anemone (ex-chefe da Polícia de Nova York-NYPD (1995-99), e membro do Instituto Fernand Braudel. Este artigo foi adaptado de sua palestra na Conferência Internacional sobre Violência e Segurança Pública em São Paulo e Rio de Janeiro, em outubro de 1999)

Armas de fogo são utilizadas em 59% dos homicídios em Nova York e 90% dos assassinatos em São Paulo. Uma estratégia de redução da posse e uso de armas de fogo ilegais levou ao declínio dos homicídios em Nova York nos anos 90.

De 1993 a 1998 os assassinatos na cidade de Nova York caíram 64% e os disparos de armas de fogo da polícia caíram mais de 66%! O número de balas disparadas caiu de 1.017 em 1995 para 526 em 1998. O número de pessoas baleadas pela polícia caiu de 70 em 1995, 26 delas fatalmente, para 62 em 1998, com 19 mortes [comparadas com 593 civis mortos pela polícia em São Paulo].

Tivemos a nossa dose de controvérsias em torno de tiroteios e encontros envolvendo a polícia neste período, mas a tendência geral tem sido positiva, apesar da natureza chocante de alguns desses encontros, especialmente o estupro, por policiais, de Abner Louima em uma delegacia do Brooklyn em 1998 e os 41 tiros, desferidos por membros da unidade de crime de rua do Bronx, que mataram Amadou Diallo, um imigrante africano desarmado, em 1999.

A redução dos disparos teve um impacto profundo na vida da cidade. O New York Times noticiou em 1998 que o Departamento de Saúde de Nova York planejava fechar alguns de seus centros de traumatologia, pois o número de vítimas de tiros nesses hospitais não era mais suficiente para ocupar os jovens médicos especializados em serviços de emergência.

Uma estratégia para se atingir esses resultados surgiu em "Quatro passos para a redução do crime", elaborado por Jack Maple, que eram:
1. Inteligência precisa e oportuna comunicada claramente a todos.
2. Mobilização rápida das forças policiais.
3. Táticas eficazes.
4. Acompanhamento e avaliação implacáveis.

Continuação do texto: AQUI.

10 outubro, 2005

Sim ou Não? Sonhar é preciso!

Aproxima-se o dia do plebiscito sobre o desarmamento.
Sinto-me cada vez mais como cego no meio do tiroteio. Estamos sendo soterrados por uma avalanche de números, estatísticas, dados conflitantes, falsos argumentos onde o que menos falta é consistência. A questão colocada é hamletiana:
- To be or not to be ?
- Sim ou não ?
- A favor ou contra?

Meu mal-estar me surpreende: por que estou enojado diante da proposta do tal plebiscito?
- Por que não vejo sentido nele: quais serão as consequências de um "sim" e de um "não"? A violência vai acabar? Vai diminuir? Seremos todos massacrados pelos bandidos? Vamos nós ficar mais bonzinhos, educados, respeitadores dos direitos uns dos outros? Reinará, enfim, a paz entre os homens?

Recorro à utopia: sonhar é preciso, viver não é preciso - bem sei que a frase original não é assim.

"Utopia" vem do grego (ouk=não + tópos = lugar, ou seja, lungar nenhum, lugar que não existe) e deu nome à famosa alegoria de Thomas More, acerca de um sistema político igualitário, trabalho dividido de acordo com a capacidade de cada um, igualdade social, talvez um "comunismo" ou "socialismo" idealizado.

Quanto ao tema do desarmamento, qual o meu mundo idealizado? Um mundo sem violência, um mundo onde todos se respeitassem, um mundo onde não haveria crimes, assaltos, abusos...

- Ah! mas isto é um sonho, este mundo não existe!

Pois é o que me resta: sonhar. Não um sonho delirante, pura fantasia, mas um sonho que pede ações concretas, que me ponha a trabalho. Na minha insignificância, posso manifestar meu desejo de que não existam armas no "não-lugar" (que é igual a "todo-lugar").

- Então você vai votar pelo "Sim" ao desarmamento?
- É isso, votarei no "Sim".

- Há alguma explicação racional para seu voto?
- Não, nenhuma. Assim como não vejo explicação racional para este plebiscito.
- Então, vote pelo "não"!
- E meu sonho, o que faço com ele?
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07 outubro, 2005

Êêêê,ôô
Vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz!


E eu que não sabia?

O povo brasileiro é um dos povos mais felizes do mundo, segundo a pesquisa publicada pela BBC em 05 de outubro: Brasil é nono em 'ranking da felicidade' [Pesquisa revela que 82% dos brasileiros estão 'muito felizes' ou 'satisfeitos' com a vida.]

Antes de ler as explicações da BBC, já levanto algumas hipóteses:


1)Temos uns dos melhores governos do mundo, elogiado até pelo FMI;
2) nossas estradas estão entre as melhores, nas quais morrem apenas 53.000 pessoas por ano, muito pouco se comparado ao holocausto ou à gripe espanhola ou à bomba aômica que os USA jogaram sobre o Japão;
3) nossa desigualdade social não é tão cruel assim;
4) somos campeões mundiais da taxa de juros, enriquecendo os banqueiros e garantindo a estabilidade econômica (deles);
5) compramos nossas roupas na Daslu e bugigangas da China;
6) não temos mais corrupção, como está comprovado pela falta de provas nas CPIs. Tanto assim que o Congresso castigou o Cafajefferson por ter inventado tantas mentiras contra políticos honestíssimos;
7) nossos campos têm mais flores, nossas matas mais amores, as aves que aqui gorgeiam não gorgeiam como lá e o sertão vai virar mar com a transposição do Velho Chico;
8) aqui moram as mulheres mais lindas do mundo, como a Giselle Bundchen, por exemplo;
9) temos muitos amigos pobres, dos quais é o reino dos céus;
10) já estamos tendo furacões em Santa Catarina, coisa que só acontecia no Hemisfério Norte, embora ainda nos faltem vulcões e terremotos. Mas vamos chegar lá!

Por tudo isso, acho a pesquisa citada pela BBC completamente errada, ao enumerar apenas os seguintes motivos que tornam o brasileiro feliz:

  • Boa saúde - 75%
  • Casa própria - 63%
  • Estabilidade financeira - 61%
  • Casamento feliz - 44%
  • Emprego interessante - 44%
  • Viagem de férias - 38%
Verdadeiramente uma maravilha: 61% têm estabilidade financeira e 38% viajam nas férias!!!
Quase que me considero infeliz, diante de tanta felicidade...

Mas se quiserem uma receita infalível para felicidade duradoura, eis a receita do Salmão ao Molho de Maracujá, do post anterior:

I - o salmão: tempere suvemente duas postas de salmão, a seu gosto. Bote-o a fritar sobre fina camada de azeite numa frigideira com fogo baixo, por 15 minutos. Mantenha-o tampado. Ao servir, deixe o lado mais corado para cima, sobre o qual você derramará o molho.

II - o molho:
a) ingredientes:
  • 1 xícara (de chá) de água
  • 1 tablete de caldo de legumes
  • 3 colheres (de sopa) de azeite
  • 1/2 cebola ralada
  • 1 dente de alho
  • 1/4 de xícara (de chá) de suco de maracujá concentrado
  • sementes de maracujá a gosto (coloquei a polpa de meio maracujá)
  • 1 colher (de chá) de amido de milho (maizena) diluída em um pouco de água
b) modo de fazer o molho:
  • Doure a cebola e o alho no azeite. Adicione, a seguir, os demais ingredientes, exceto a maizena e deixe ferver. Por último, coloque a maizena, passe tudo por uma peneira e sirva imediatamente, sobre o salmão.
Minhas observações: caso o suco seja muito concentrado ou o maracujá muito ácido, utilize menor quantidade ou dilua mais. Para corrigir a acidez é permitido colocar um pouco de açucar, sem que fique "agridoce".

Qual vinho você recomenda, Allan?

E assim, sigamos felizes!

06 outubro, 2005

Salmão ao Molho de Maracujá


Salmão ao Molho de Maracujá, originally uploaded by clcosta.

Dizem que os políticos preparam uma enorme pizza já temperada e no forno das CPMI's.
Quanto a mim, sou mais um salmão ao molho de maracujá, como este que preparamos - minha Amélia e eu - no domingo passado. O salmão foi o "grand chef" aqui. O molho de maracujá foi a quatro mãos. A ervilha e o arroz foram delicadamente cozidos pela Amélia.
Por ora, não quero saber de CPIzzas...

05 outubro, 2005

Ildeu Brandão faleceu há 11 anos. Sempre escreveu muito, mas pouco publicou.
Está para sair um livro inédito de contos.
Eis uma pérola:
ATO FALHO
"Aqui em casa não tem uma barata", disse a mulher, num tom de desafio.
Os que estavam na sala se entreolharam, com exceção do marido da desafiante, que não era capaz de ousar nem mesmo olhares.
"Nem uma para remédio", concluiu ela, depois de chicotear os olhos em torno, caçando alguma aceitação do desafio. Não encontrou nenhum e gritou para o interior, voltando a cabeça na direção da cozinha e fazendo estufar as veias do pescoço:
"Jova, traz as bolachas".
Jova, que era Juventina, trouxe as bolachas num prato, cobertas com uma toalhinha azul, e pôs o prato no centro geográfico da mesa. Todos se inclinaram, na expectativa da iminente quebra do jejum forçado, e o dono da casa descobriu as bolachas, puxando a toalhinha azul para um lado. Quinhentos pares de olhos pousaram então, ao mesmo tempo, sobre uma bolacha diferente na forma e na cor, que encimava a pilha de bolachas.
O dono da casa, concluindo um instantâneo levantamento da situação, pinçou-a com dois dedos, mastigou-a e engoliu-a - antes que ela escapasse."
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[Publicado no Suplemento Literário de Minas Gerais, setembro, 2005.]

04 outubro, 2005

Há dias em que penso
ser minha linguagem,
talvez, a do vento

[Takuboku Ishikawa,
em tradução de Masuo Yamaki
e Paulo Colina]

03 outubro, 2005

U R G E N T E !


Absurdo o que a Revista Veja fez na edição desta semana! A capa, de um mau-gosto terrível refere-se a uma pseudo-reportagem acerca do plebiscito de 23/out.
Corra para este link: UM CRIME CONTRA A INSENSATEZ
Corra mesmo, mas leia devagar.
Depois, me conte.

01 outubro, 2005

CAVE NE VENTUOSITATEM EMITTAS PER ANUM (*)

Os gases emitidos na atmosfera provocam efeito estufa. Daí, a temperatura dos mares aumenta. Então, os furacões e tempestades ficam mais numerosos e destruidores. Katrina e Rita, os últimos furacões que atingiram a costa leste e a Gulf Coast dos EEUU quase destruíram completamente New Orleans e arrasaram com Louisiana, parte do Texas, inúmeras plataformas petrolíferas, etc...

- Quem são os culpados?
- As vacas!
- É verdade?
- Olhaí a nota publicada nos jornais:

O gado francês produz mais do que duas vezes o total de gases emitidos pelas 14 refinarias de petróleo do país, diz um relatório preparado por economistas.
Segundo o estudo, as 20 milhões de vacas e touros, cada um deles com quatro estômagos, respondem pela emissão de 38 milhões de toneladas de gases por ano, em sua maioria metano.
Suas emissões também incluem o óxido nitroso, ou o gás do riso.

A agricultura francesa é a campeã européia de emissões de gases que provocam o efeito estufa. O autor do relatório, Benoit Leguet, pediu aos fazendeiros que adotem uma alimentação mais facilmente digerível para os animais, para diminuir as emissões.

O relatório acrescenta ainda que os consumidores franceses também contribuem para a emissão desses gases, pois consomem mais carne do que o europeu médio.


Ou seja, daqui a pouco teremos de assinar um novo Protocolo de Kioto para combater a emissão de flatos. Se 20 milhões de vacas peidorreiras já dão conta de aumentar o efeito estufa, o que aconteceria se os 3 bilhões de seres humanos resolverem emitir flatos simultâneamente?
_______________________________________________
(*) Inscrição encontrada nas ruínas das Termas de Caracalla, em Roma - complexo balneário construído entre 212-217 DC pelo Imperador Caracalla. Todo cidadão tinha direito a tomar banhos em suas banheiras de mármore, que podiam receber 1.600 banhistas, ao mesmo tempo.
Ah!, a inscrição latina significa : Evite soltar pum! (Si non é vero...)