30 abril, 2006

Visita especial

Recebemos um grande presente neste feriadão: vieram nos visitar meu pai e minha mãe, que alguns blogueiros já conhecem.

- Como assim?
- E quem não conhece o Soié e sua eterna namorada, Aparecida?
- Uai, nunca ouvi falar.
- Pois corra lá no blog dele. Tem cada história...

Pois é, arrancaram-se lá de Nova Era, trazidos pelo mano Clóvis. De quarta-feira a sábado, hospedaram-se na casa do mano. Ontem, pela manhã, vieram para cá, de mala e cuia. São apenas os dois, mas a casa fica cheia: cheia de alegria, conversas, casos imperdíveis como apenas o Soié sabe contar. A "mama" participa de tudo, relembra os tempos em que conheceu o "eterno namorado". Às vezes, nos animamos e, ao piano, acompanho-a enquanto canta as músicas de antigamente, aliás, eternas.


Tê-los junto a nós, com saúde e lucidez, é uma felicidade.
- Uma bênção, emenda minha mãe.
- Isso mesmo, uma bênçao.

Ainda ontem assistimos o grupo folclórico Sarandeiros, da UFMG, que apresenta danças e cantos no espetáculo Gerais de Minas: congado, catira, festas do Rosário, folia de Reis, cantos das lavadeiras, etc. Foi uma "viagem" ao interior de nossa terra, cantigas de outros tempos, procissões, estandartes, referências da cultura afro-religiosa que moldaram os grotões recônditos entre vales e montanhas.
- Gostaram?
- Muito, muito, espetacular! exclamou Soié.

Hoje o almoço foi festivo: aniversário dos sobrinhos Fabrício e Lílian, filhos do mano Clóvis. Escolhemos o Rancho do Boi, um belíssimo restaurante situado bem no interior da Mata do Jambreiro, na saída da BR-40, em direção ao Rio. Muita festa, comida, alegria, música ao vivo, bolo e "parabéns pra você", como convém. A picanha maturada argentina grelhada e finalizada pelo garçom na chapa com pasta de alho é um dos pratos principais da casa. Fomos 11 pessoas: Soié, Aparecida, Clovis, Consola, Fabrício, Lílian, Sheila - minha irmã - Ana Letícia e Daniel, Amélia e eu aqui.

Feriadão em família... há muito tempo isso não acontecia. E ainda resta amanhã, segunda, dia do Trabalhador.

Dia do Trabalho rima com Dia de Folga.
- Anh?
- Ninguém é de ferro, uai

24 abril, 2006

Meu imposto de renda e Balzac

Alguém aí conhece coisa pior do que fazer a declaração anual de imposto de renda?
Pra mim, é difícil achar atividade mais ingrata, por vários motivos:

1. a própria definição da "coisa": imposto, o que não é voluntário: ou faz ou então...

2. a constatação de que trabalho quase 5 (isso, mesmo, cinco!) meses ao ano para pagar os impostos, tributos, contribuições previdenciárias, iof, ipmf, etc. Sem falar nos impostos embutidos em tudo quanto é produto que a gente compra.

3. a odisséia de procurar os documentos do ano passado, conferir cpfs e cnpjs, olhar recibos de pagamentos efetuados, saldos bancários, etc.

4. constatar que o ítem do tal "evolução patrimonial" continua mirrado, mirrado. Enquanto os bancos lucram bilhões com a nossa contribuição, a gente continua suando a camisa pro arroz e feijão, mais uma ou outra gracinha.

5. descobrir, contra toda a esperança, que NÃO vou ter restituição nenhuma, pelo contrário, vou é contribuir mais e mais.

6. saber - ai, que dor - que dificilmente veremos algum benefício concreto com o imposto pago: as estradas vão continuar esburacadas, as filas vão continuar nos postos de saúde, muitos ficarão sem remédios, as escolas públicas não darão conta do recado - e a gente vai ter mesmo de custear empresários particulares que estão ganhando tubos de dinheiro com suas instituições educacionais (algumas são arapucas, todos sabem)...

Para descansar a cabeça, aliviar o espírito e curtir um pouco o domingo, aceitei a sugestão da filhota Ana Letícia e aluguei um DVD:

Nome do filme: Balzac e a costureirinha chinesa
Título Original: Balzac et la Petite Tailleuse Chinoise
Produção França/China (2002)
Direção: Dai Sijie

O resumo da história:

A história de BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA se passa no fim da década de 60, quando o líder chinês Mao Tse-Tung lança uma campanha que mudaria radicalmente a vida do país: a Revolução Cultural. Entre outras medidas drásticas, o governo expurga das bibliotecas obras consideradas como símbolo da decadência ocidental. Mas, mesmo sob a opressão do Exército Vermelho, uma outra revolução explode na vida de três adolescentes chineses quando, ao abrirem uma velha e empoeirada mala, eles têm as suas vidas invadidas por Balzac, Dumas, Flaubert, Baudelaire, Rousseau, Dostoievski, Dickens...Os proibidos!

BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA é uma crônica da vida na China durante a revolução de 68. Um romance sobre a felicidade da descoberta da literatura, a liberdade adquirida através dos livros e a fome insaciável pela leitura, numa época em que as universidades foram fechadas e os jovens intelectuais mandados ao campo para serem "reeducados por camponeses pobres".

Entre os que tiveram de abandonar as cidades está o narrador de BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA e seu melhor amigo, Luo. O destino deles é uma aldeia escondida no topo de uma montanha. A vida não é fácil para a dupla, mas com muita coragem, senso de humor, uma forte imaginação e a companhia da Costureirinha — a menina mais bela da região — o tempo vai passando. Até que descobrem a mala repleta de livros banidos pela Revolução Cultural. As obras, sobretudo Ursule Mirouët, de Balzac, revelam aos adolescentes uma realidade que nunca haviam imaginado. E é por intermédio desse mudo novo além das fronteiras chinesas, e dos grandes mestres da literatura que o narrador, Luo e a Costureirinha compreendem que suas vidas pertencem a algo muito maior.

Minha opinião: trata-se de um filme muito bem feito, reconstituindo o ambiente da década de 60, nas altas montanhas da China. Delicado, romântico, ótima música, "bom pras cabeças".

Valeu!

Ah! já vou voltar ao imposto de renda. Argh!

22 abril, 2006

Saiu no Jornal

Hoje, sábado, o caderno Pensar, do Estado de Minas, publicou meu artigo que saiu no Bombordo, há algumas semanas.

Trata-se de reflexão provocada pelo documentário "Falcão - Meninos do Tráfico", de MV Bill e Celso Athaíde, que sacudiu corações e mentes. Como tudo que aparece na TV, o impacto é grande, todo mundo comenta e, depois, cai no limbo do esquecimento.

Assim começa o artigo O futuro é a morte:


Fotograma do documentário - publicada no Jornal Estado de Minas


"Falcão – Meninos do tráfico, documentário de MV Bill e Celso Athayde, reavivou as discussões acerca de uma realidade praticamente negada. A negação não significa desconhecimento, mas um mecanismo de defesa – quase sempre necessário – para suportarmos a vida."

O texto integral você lê AQUI. Se você quiser, deixe seu comentário. A interlocução é benvinda.

19 abril, 2006

Cidadão ou voyeur?

Será que o interesse da população em conhecer mais e mais escândalos ou pseudo-escândalos ficará restrito apenas à satisfação do voyeurismo presente em maior ou menor grau em todo ser humano?

Há algum tempo, João Paulo – editor do caderno Pensar do Estado de Minas escreveu:
- “A curiosidade, que é base do jornalismo, também escora a fofoca”.

A curiosidade é, também, a base do desejo de conhecimento (epistemofilia) que, segundo Freud, pode ser entendido como uma “sublimação” da escopofilia (para o fundador da psicanálise, o termo “escopofilia” se refere ao desejo de ver a nudez e as relações sexuais dos adultos, presente em certa fase do desenvolvimento psicossexual da criança).

É impressionante como a escopofilia (prazer em ver, também chamado de voyeurismo) movimenta milhões de dólares. As bancas, por exemplo, estão cheias de revistas sobre celebridades que vendem cada vez mais todas as vezes que saem reportagens (fofocas) acerca de crises conjugais, flagrantes de adultério, fotos picantes obtidas por paparazzi, etc.

Os canais abertos da TV investem na mesma seara, ocupando a maior parte da grade de programação vespertina em programas voltados à satisfação da curiosidade voyeurística da população. Diante do milionário lucro da TV com os reality shows (tipo Big Brother) o prêmio de 1 milhão de reais para o finalista não passa de gorjeta miúda, é claro!

O filão da pornografia na Internet é outra conseqüência da exploração comercial do voyeurismo, movimentando bilhões de dólares por ano.

Tudo farinha do mesmo caso: reportagens sensacionalistas, pornografia e programas voltados para a “invasão de privacidade”.

O voyeur é insaciável: uma vez tendo satisfeito seu desejo (ver uma cena “proibida”, vislumbrar as partes genitais de alguém, etc), ele pode até se apaziguar por um tempo, para logo buscar novas e novas satisfações. Segundo os manuais de Psiquiatria, apenas uns 7% dos voyeurs partem para um ato sexual violento contra sua vítima (geralmente mulheres).

“Na teoria psicanalítica, a Dra. Phyllis Greenacre associa o fetichismo a um severo complexo de castração em homens e um conjunto mais complicado e menos prontamente estabelecido de reações relacionais no sexo feminino. Para o homem, o fetiche serve a uma função defensiva, um adjunto de reforço para um pênis de potência incerta. O fetiche serve para aumentar a eficiência do órgão (ou seja, do pênis), que não tem bom desempenho sem ele.” [clique aqui para saber mais].

Até onde a avalanche de notícias sobre o atual escândalo da corrupção política já esgotou sua capacidade de “chocar” o cidadão, não mais produzindo o prazer em saber das “coisas” ocultas, muito menos a mobilização do que comumente se chama “opinião pública” em se manifestar politicamente?

Será que a apatia frente à gravíssimas denúncias de corrupção é uma prova de que o noticiário intenso se tornou apenas fetiche para uma população (da qual fazemos parte) que se sente impotente (tal qual o portador de um pênis “de impotência incerta”?

Vamos continuar votando nos mesmos políticos corruptos, corruptores, mentirosos e falsos, mas que nos garantem “diversão e gozo” pelas suas falcatruas escancaradas diante das TVs, Revistas e Jornais?

Acho que o antídoto para o voyeurismo político é o exercício da cidadania. O resto é perversão.

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Ah! hoje foi minha estréia no Livros & Afins, com um "conto de natal".

17 abril, 2006

Calligaris: Leitura obrigatória

Contardo Calligaris (além de tudo, psicanalista também), publicou. Para mim, perfeito! Por isso compartilho aqui:




CONTARDO CALLIGARIS

O verdadeiro petista

A vida moderna é cansativa. Não estou pensando na correria, na
competição forçada, na expectativa constante de crescimento (aprenda mais, ganhe mais, compre mais, namore mais, transe mais, "seja"
mais).
Tudo isso pode, de alguma forma, ser administrado, mas sem grande
resultado: o cansaço permanece. Por quê?

A explicação é simples: não é a vida, é a subjetividade moderna que
é cansativa. Já faz séculos que vivemos, no fundo, sem regras.
Claro, há hábitos morais e princípios nos quais acreditamos, mas,
justamente, eles valem só porque queremos respeitá-los.

Todas nossas escolhas, em última instância, são questões de foro
íntimo; nós devemos decidir, a cada instante, se o que é legal ou
conforme aos costumes coincide com o que NOS parece certo ou justo.
Agir segundo os costumes e a lei não basta para justificar nem para
desculpar. "Fiz assim porque é o que todos fazem ou porque assim
manda a lei", para nós, não é uma razão suficiente, visto que
respeitar os costumes ou a norma é uma escolha nossa.
Na clínica psicoterápica, aliás, constata-se que as culpas dolorosas não são as culpas por ter transgredido leis e costumes, mas as
culpas por ter deixado de escutar nossa voz interior, por ter
deixado de seguir nosso desejo ou nossa consciência moral.
Em suma, o que é extenuante, na modernidade, é ser sujeito.

A esse cansaço responde uma nostalgia de tempos passados, em que as
regras e a tradição se encarregariam de decidir por nós: apelos
aos "valores" perdidos, aspirações a uma vida simples e rural,
vocações monásticas.

Mas a grande "cura" desse cansaço é oferecida pelas paixões de
grupo, que afogam nossa incerteza no funcionamento coeso de uma
coletividade onde esqueceríamos a tarefa de sermos sujeitos para
sermos apenas (alívio) funcionários exemplares.

Uma vez que

estivermos perdidos no grupo, a extenuante pergunta íntima sobre o
bem e o mal poderá ser substituída pela questão, mais
simples: "Agimos ou não como o grupo manda? Fomos ou não seus
instrumentos adequados?".
Os grupos que preenchem essa função estão ao serviço da covardia do
sujeito: "A tarefa de decidir no foro íntimo é cansativa? Pois bem,
há grupos que oferecem férias, férias da subjetividade".

Um exemplo: um bando de torcedores cruza alguém que se aproxima do
estádio com uma bandeira do time oposto. Um torcedor do bando
arranca a bandeira das mãos do "inimigo". Em seu estado normal,
longe do grupo, o torcedor poderia se perguntar: "Quem sou eu? Um
sujeito com história, família, valores, pensamentos próprios? Ou me
defino apenas como um torcedor? Quem dita meus atos é minha complexa subjetividade ou o grupo ao qual pertenço hoje?".

A história fornece exemplos menos inócuos:
Há as palavras de Stálin aos camaradas que mostravam um certo
desconforto na hora de arrancar aos camponeses russos seus míseros
meios de subsistência: elas fazem apelo à necessidade, para os
bolcheviques, de serem, como se dizia, "homens de ferro", ou seja,
homens de palha de um grupo que os aliviava da responsabilidade de
seus atos ("Stálin, a Corte do Czar Vermelho", de Simon Montefiore,
acaba de sair em português; é imperdível).

Há o famoso discurso de Himmler aos oficiais SS que se dedicariam
à "solução final": salienta a necessidade de eles se mostrarem "à
altura" da tarefa genocida, ou seja, de esquecerem os escrúpulos, as compaixões e aquelas "picuinhas" que atormentam e cansam a
subjetividade moderna, para que pudessem "ser" SS e exterminar
sem "fraquezas".

Dediquei meu doutorado à sedução que é exercida pelos grupos que
autorizam seus membros a descansar e a desistir de sua
subjetividade. Mantive a tese inédita talvez porque sua questão
central me parecesse pertencer a uma outra época, à época "passada"
dos totalitarismos.
Pois bem, acho que vou mudar de idéia graças ao deputado Jorge
Bittar, que, nestes dias, mostrou-me que a questão continua viva e
urgente. A tentação de sacrificar "escrúpulos" morais, de esquecer o foro íntimo e deixar o grupo decidir por nós não é coisa do passado.
Está dormindo num canto, esperando momentos propícios.
Jorge Bittar, deputado do PT, não gostou do relatório da CPI dos
Correios (ou seja, achou que o relatório não era partidário como ele queria que fosse) e xingou o senador Delcídio Amaral, presidente da
dita CPI, também do PT. Além das palavras chulas -as quais
substituem uma violência que, num Estado democrático, não pode ser
física (não dá para eliminar Delcídio, eh?)-, ele disse (frase
impagável) que o senador não se portou "como um verdadeiro petista".
Para quem desiste de ser sujeito para se fazer instrumento do grupo, o outro, o que escuta seu foro íntimo, é um "traidor".

Não é a Câmara, mas o PT que deve condenar oficialmente as palavras
de Jorge Bittar. Ou então deveremos entender que o PT é um daqueles
grupos que oferecem férias à subjetividade de seus membros, ou seja, que pedem que eles ajam não segundo a complexidade da consciência,
não segundo o que lhes parece certo ou errado, mas só como
instrumentos ao serviço do partido.

14 abril, 2006

Outras praças...

Já estou perambulando por outras praças:

1. Bombordo: o primeiro post é este aqui.

2. Livros & Afins: eu, por mim mesmo, aqui.

Vamos perambular, também?

12 abril, 2006

Pirataria? Atire a primeira pedra...

Olhaí a notícia do portal Uai, dagorinha mesmo:
Uma pesquisa divulgada, nesta quarta-feira, revela que 84% dos belo-horizontinos já compraram ou compram com frequência produtos pirateados.

De acordo com o estudo, realizado pelo Ibope em todo o país, o valor ultrapassa o de estados como o Rio de Janeiro, onde 78% da população reconheceu adquirir produtos falsificados, e São Paulo, onde o índice chega a 69% dos entrevistados.

Metade dos entrevistados revelou que costuma comprar CDs, DVDs, roupas e brinquedos no comércio clandestino. Os números preocupam empresários e o governo pelos prejuízos que provocam. Dos que assumiram adquirir tais produtos, 67% afirmaram saber diferenciar a cópia do produto original, o que piora ainda mais a situação.
A pirataria, aqui, é oficial. De verdade:

A Prefeitura de BH conseguiu uma proeza e tanto: retirou da rua quase todos os camelôs - conhecidos entre nós como "toreros" - os ambulantes que se especializaram em se esquivar os ataques dos fiscais, tal como fazem os toreadores de Madrid. (Música de fundo: A habanera, da ópera Carmen, de Bizet).

Eu seu site oficial, o Prefeito Pimentel (PT-MG) conta vantagem:


Pimentel afirmou ver satisfação nos camelôs do Shopping Oiapoque em trabalhar de forma legal e segura. Disse ainda que a retirada dos ambulantes da área central foi responsável pelo registro profissional de muitos deles.

O preço foi a criação de alguns shoppings populares, eufemismo para conjunto de lojas especializadas em vender produtos contrabandeados, pirateados, etc.

Há alguns meses, escrevi um post sobre o mais famoso deles, o famoso Shopping Oiapoque, carinhosamente chamado de Shopping Oi (clique aqui para ver o site oficial do empreendimento). Leia aqui: Do Sahara ao Oiapoque...

Tenho um conhecido que é dono de algumas lojas legalizadas - paga impostos, alvarás, só compra com nota fiscal, etc. - e que possui, igualmente, lojas em shoppings populares. Explica:

- Tenho de fazer concorrência comigo mesmo, para não perder venda. Nas minhas lojas tradicionais, o preço é normal, pois repasso os impostos ao consumidor. Nos populares, vendo os mesmos produtos muito mais barato, pois compro no mercado paralelo, não dou nota fiscal, não aceito cheque, só dinheiro vivo. E mais: estou tendo mais lucro com o produto genérico (outro eufemismo) do que com o original.

Alguns produtos - acredito - são quase impossíveis de falsificar: câmeras fotográficas, por exemplo. E os preços, realmente, são convidativos. Há DVDs, CDs de MP3, roupas, bonés, perfumes (estes são falsificadíssimos!).

Não vou dizer, aqui, que já comprei algo por lá. Não, isso não vou dizer. Não digo mesmo. (E não tenho caseiro pra me dedurar...).

E você?
Atire a primeira pedra...

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Em tempo: mais uma do Soié, que acaba de postar Porco ou suíno?

10 abril, 2006

Decálogo (F)útil, com Leis (F)úteis, mais do que (In)úteis

1. Lei de Peer: A solução do problema muda o problema.

2. Fundamento de Lyall: A perna mais importante de uma mesa de três pernas é aquela que está faltando.

3. Pronunciamento de Gerrold: A diferença entre um político e uma lesma é que a lesma deixa um rastro gosmento.

4. Primeiro postulado do isomurfismo: As coisas que não são iguais a coisa nenhuma são iguais entre si.

5. Postulado de Harrison: Para cada ação existe uma crítica igual e no sentido contrário.

6. Lei da retroação de Stewart: É mais fácil conseguir o perdão que a permissão.

7. Observação de Horngreen: O mundo real é uma excessão.


8. Postulado de um filósofo ignoto: Nunca atribua à malicia aquilo que pode ser explicado aceitavelmente pela estupidez.

9. Lei de Shirley:
A maioria das pessoas se merecem.

10: Aforisma do Cláudio, ou seja, meu mesmo (até prova em contrário):
Um blog é um blog é um blog.

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Mais do mesmo:
Procure aqui e ache.

09 abril, 2006

O futuro é a morte


Os temas violência, criança abandonada, ausência do Estado, falta de Educação, miséria se entrelaçam e provocam intelectuais, sociólogos e políticos a buscarem causalidades e apontarem soluções. Por outro lado, o senso comum – entidade abstrata e intangível, porém prevalente – aponta o dispositivo policial como melhor remédio: “são os traficantes; é preciso acabar com o tráfico; isso é coisa de bandido”...
[leia a íntegra deste post no Bombordo]


05 abril, 2006

Crianças também sentem dor


Hoje será lançado, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da U.F.M.G. o livro "Dor em Pediatria" [Editora Guanabara-Koogan], dos colegas Yerkes Pereira da Silva e Josefino Fagundes da Silva.

A convite dos atores, escrevi o capítulo "Aspectos Psiquiátricos e Psicológicos da Dor Infantil", o que não deixa de ser uma honra e uma grande responsabilidade, pois se trata de obra de referência para pediatras e para todo o staff que se dedica a cuidar de crianças que padecem de dor.

Um resumo do meu capítulo:

Por muito tempo, a concepção que se tinha da infância relegou as crianças a um lugar secundário nas considerações sobre suas capacidades sensoriais, emocionais e expressivas.

Com efeito, a etimologia do termo ‘infância’ nos remete a uma impossibilidade: o não-falar. A palavra se origina do latim: infantia-ae, que significa 'dificuldade ou incapacidade de falar, mudez; infância, meninice'.

Realmente, se já é difícil medir a intensidade da dor no adulto, tanto mais será nos recém nascidos. Nestes, costuma-se até ignora-la...

Se não tem voz, não reclama. Se não reclama, é porque não sente. Este pensamento, embora não expresso de forma tão explícita, permeava a compreensão que se tinha a respeito das capacidades das crianças, principalmente dos recém-nascidos e dos bebês, às vezes se estendendo até mais ou menos a idade de 3 anos.

O choro foi a primeira manifestação reconhecida como expressão dolorosa presente desde o nascimento, apesar de que os procedimentos e cuidados com o recém nascido, de maneira geral, neguem essa evidência.

A compreensão e a escuta do que “falam” os infantes se concretizam, principalmente, a partir dos estudos de observação de bebês desenvolvidos por psicanalistas, desde Sigmund Freud: Anna Freud, Melanie Klein, Donald Winnicott, John Bowlby, Esther Bick.

A capacidade de experimentar prazer e desprazer (dor) faz parte do arsenal de sobrevivência de todo ser vivo e já se manifesta desde o nascimento.

O choro, mais do que reação indiferenciada, já teria uma função de ‘comunicação’ sobre estados dolorosos. As pesquisas de Lester & Boukydis demonstraram que o choro de dor pode ser diferenciado daqueles provocados por outros tipos de situações, o que proporciona o uso da resposta de choro como medida da intensidade dolorosa e como evidência de que recém-nascidos experienciam dor.

Por um viés neurofisiológico, vislumbra-se a precoce constituição da subjetividade do ser humano, deduzida de suas manifestações de júbilo diante do prazer e de sofrimento diante da dor. Não se trata de atribuir intencionalidade aos recém-nascidos que choram durante os procedimentos perinatais. O que se comprova é a sofisticada capacidade sensoperceptual desenvolvida desde o período pré-natal e os recursos utilizados pelo recém-nascido para ‘comunicar’ o que se passa. Isso é extremamente necessário para um organismo altricial (dependente de cuidados parentais para sua sobrevivência, em oposição aos organismos precoces, que apresentam grande autonomia logo após o nascimento). Como a sobrevivência do filhote de homem depende totalmente de cuidados, os seres humanos já nascem equipados para interações funcionais com o ambiente e cuidadores. A diversidade de manifestações diante de cada situação vivida ultrapassa os simples reflexos.

Os sinais de sofrimento emitidos pelos bebês e crianças pequenas diante da vivência dolorosa (orgânica ou emocional) dependem, portanto, do grau de desenvolvimento neuro-psicomotor e cognitivo. Existem várias escalas para que se avalie a intensidade de dor sofrida pelo bebê e pela criança.

Nas fases iniciais da vida, por excelência, é impossível a distinção entre dor física e sofrimento emocional, entre somático e psíquico. (Nos adultos também essa dicotomia é insustentável, como demonstra a Medicina Psicossomática). “Em relação ao bebê, as dificuldades são muito grandes, uma vez que, ao se apresentar como um ser sensório motor, a sintomatologia observada prende-se, na maioria das vezes, eminentemente na avaliação reflexa que, embora importante na detecção das grandes síndromes neurológicas e psiquiátricas, é pouco sensível na suspeita de quadros psiquiátricos que comprometem freqüentemente o padrão interacional e lingüístico do indivíduo afetado, refletindo a possibilidade adaptativa desse indivíduo”.

É muito importante considerar que a percepção dolorosa e a intensidade da dor não dependem unicamente do sistema nociceptivo. Ou seja, não basta a existência dos terminais sensoriais e a transmissão ao cérebro de informações sobre a presença e qualidade dos estímulos dolorosos ou agressivos, já que a experiência da dor é simultaneamente física e psíquica.

As respostas são tanto comportamentais quanto fisiológicas, tais como choro, enrijecimento, expressão facial típica, sudorese e taquicardia. [Veja aqui fotos de bebês e sua expressão de dor.]

Assim, um bebê em sofrimento expressará qualquer desconforto através de sintomas biopsicológicos: a dor desencadeará mal-estar, irritabilidade, inquietação, distúrbios do apetite e do sono, além da intensificação do comportamento do apego (protesto, desespero e indiferença). Comportamentos regressivos se tornam presentes, na forma de perda de funções já adquiridas (enurese, encoprese, sucção dos dedos, etc). A cronificação do quadro leva à passividade, desânimo, sentimentos de impotência, marasmo e agravamento dos sintomas físicos.

O comportamento da criança diante da dor está intimamente relacionado com outras variáveis, além da causalidade física, tamanho e localização das lesões, etc. Trata-se de uma experiência subjetiva, como o é no adulto.

Assim, por exemplo, um trauma físico durante um jogo ou atividade prazerosa, com certeza, será minimizado. Vejamos a seguinte situação: um menino se fere com certa gravidade durante uma partida de futebol e, após os cuidados dos pais ou colegas, volta a jogar. Numa situação muito menos grave, porém, como um simples arranhão, a mesma criança poderá expressar intenso sofrimento, queixar-se de dor insuportável, chorar e interromper a atividade (desde que não seja tão agradável). A paradoxal discrepância na reação a estímulos tão diversos confirma a pluralidade de variáveis envolvidas na percepção e valoração da dor.

Você sabia...
que estamos na Década contra a Dor e
que existe um Dia Mundial contra a Dor Infantil ?

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01 abril, 2006

Meu pai, Soié, escreveu hoje como foi a "Lua de Mel" dele e de minha mãe, em 1948, no Grande Hotel de Araxá.
Meu queixo caiu! O link é este mesmo.