29 junho, 2005

Apontamentos para uma discussão sobre o Amor - IV

Ciúmes, mais ainda:

Há algum tempo fiz um
post sobre ciúmes, que gerou o maior número de comentários do Pras Cabeças.
Realmente, o tema é fonte de inesgotáveis discussões, mobiliza a criatividade de grande parte dos artistas, divide opiniões.

Se alguns consideram que o sentimento de ciúme é prova de amor - "quem ama teme perder o objeto amado e zela pela sua conservação" - por outro lado, os que o experimentam e os alvo deste sentimento sofrem terrivelmente.

Naquele post, entre outras coisas, escrevi:

Os ciúmes podem ser decompostos em três sentimentos básicos que se manifestam em condutas correspondentes:

a) Insegurança: baixa de auto-estima e conseqüente medo de não ser amado, ansiedade, sentimento de posse e necessidade de controle. O ciumento se torna possessivo e cada vez mais insuportável ao outro. Cava sua própria desgraça!

b) Inveja: quero que meu (minha) amado(a) não dê a outrem o que julgo ser somente meu; não tolero ver outra pessoa receber o carinho, o afeto, o olhar daquele(a) que amo!

c) Raiva: odeio meu amado (minha amada) quando não faz aquilo que eu desejo. Odeio também quem recebe a atenção que deveria ser somente para mim. E meu ódio me leva à agressividade: tenho de destruir ambos: meu objeto de amor – que agora odeio – e o intruso – usurpador do meu bem e causa minha perda!

Há casos ainda mais graves:
Na Psiquiatria, há uma categoria diagnóstica denominada "Ciúme Mórbido ou Patológico", caracterizada por "vários sentimentos perturbadores, desproporcionais e absurdos, os quais determinam comportamentos inaceitáveis ou bizarros. Esses sentimentos envolveriam um medo desproporcional de perder o parceiro(a) para um(a) rival, desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no relacionamento interpessoal."

Há ciumentos que sofrem até pelo passado das pessoas que amam, pesquisando fotos, cartas, restos de lembranças. Assaltam as gavetas e os guardados, tentam decifrar nas conversas de parentes quaisquer referências a antigas paixões. Infernizam a vida do(a) parceiro(a), querendo detalhes sobre a vida afetiva prévia, lugares, posições, carícias preferidas, etc.
Ou seja: um mundo de sofrimento, angústia, desentendimentos, determinado pela "sombra monstruosa do ciúme" (Caetano Veloso, O Ciúme).

Os casos de ciúme patológico geralmente evoluem para tragédias, uma vez que seus portadores provavelmente têm um Transtorno de Personalidade subjacente:
  • Personalidade paranóide: A característica essencial deste distúrbio é uma tendência global e injustificável para interpretar as ações das pessoas como deliberadamente humilhantes ou ameaçadoras. Tem normalmente início no final da adolescência ou no começo da idade adulta. Quase invariavelmente há uma crença de estar sendo explorado ou prejudicado pelos outros de alguma forma e, por causa disso, a lealdade e fidelidade das pessoas estão sendo sempre questionadas. Muitas vezes o portador deste Transtorno é patologicamente ciumento e questionador da fidelidade do cônjuge, ao ponto de causar situações francamente constrangedoras.
  • Personalidade obsessiva: Há, neste Transtorno de Personalidade, um padrão generalizado de perfeccionismo e inflexibilidade. As pessoas assim preocupam-se com a observância das normas, das regras, com a organização e com os detalhes. Normalmente são escravizados pelo simétrico, pelo limpo e pela ordem das coisas, desde a arrumação de seus pertences pessoais (guarda-roupas, gavetas, mesas), até a organização extremamente cuidadosa de coisas relacionadas à ocupação e profissão.
Outra situação muito propícia ao ciúme mórbido ou patológico é o alcoolismo crônico, quando toma a forma de delírio celotípico:
  • o alcoolista, já com manifestações deliróides e alucinose alcoólica, passa a desconfiar absurdamente do cônjuge, fantasiando situações, interpretando fatos corriqueiros (telefonemas, pedaços de papel jogados no lixo, olhares na rua) como provas irrefutáveis de que estão sendo traídos. (Freud chega a falar de uma identificação do ciumento com o parceiro e um desejo inconsciente de estar em seu lugar(!), denotando uma tendência homossexual (!) - depois a gente fala disso).

Pois bem:
Amanhã, quinta-30/jun, às 10h da manhã, darei uma entrevista na
Rádio Itatiaia (FM 95,7/610 AM) sobre Ciúmes, em especial sobre Ciúme Mórbido ou Patológico.
Oiçam! (o programa "Rádio Vivo" é transmitido via satélite e online).