26 agosto, 2007

ÁGAPE

Quando amigos se reúnem em torno de uma mesa para saborear iguarias comuns ou sofisticadas, a isso chamamos de ágape. A palavra deriva diretamente do grego e significa "amizade, amor, afeição". No princípio do cristianismo, ricos e pobres se confraternizavam em torno da eucaristia, dividiam o pão e bebiam do vinho transmutados em corpo de Cristo. O beijo que simbolizava a união de todos foi proibido, provavelmente por suscitar pensamentos libidinosos (mas isto é outra história).

Pois foi um verdadeiro ágape a festa promovida pelos 'Famosos', ou Famouxxos, como se denomina a turma que se formou desde os tempos do ensino médio e se mantém unida até hoje, no limiar do término do curso universitário. Leonardo, nosso filho, é um dos 'famouxxos', privilegiado pela convivência alegre, sadia e fiel.

Pois essa turminha promoveu, ontem, o II Encontro para os Pais, vejam só! Fomos convocados para compartilhar a alegria e a amizade, numa demonstração que juventude e maturidade podem muito bem se combinar. Namoradas, irmãs e irmãos também fizeram parte da festa.

Além do churrasco, bebidas, almoço e muita música, os 'meninos' promoveram o concurso "Especialidade da Família", com regulamento e tudo, porém brincadeira pura. Os pais poderiam levar uma iguaria (doce ou salgada) para ser degustada. Numa votação secreta se escolheram os vencedores da duas categorias. Com muito orgulho, anuncio que Amélia ganhou o 1º lugar dentre as sobremesas:



Ao final do dia, outro ágape: o Idelber nos convidara para sua despedida, pois que amanhã retorna a New Orleans, onde é professor da Tulane University. O local foi bem escolhido: Armazém Mineiro, ou Emporium, casa mineira no alto da Avenida Afonso Pena. Não fiquei até o sol raiar, mas o abraço amigo fez o sábado terminar como começou: ágape gastronômico!


19 agosto, 2007

Sábado bucólico

A caminho de Sta. Maria de Itabira
  • Quisera ser poeta para escrever éclogas a cada visita ao Pau D'Alho, fazenda onde viveram os avós da Amélia, em Sta. Maria de Itabira...
O tempo passa e vai corroendo lentamente o esplendor que outrora marcara o lugar, sob as mãos firmes do avô Tôta e os cuidados da Sá Rosinha.

Agora, antes que vire apenas "um retrato na parede" (diria o poeta CDA), ainda tem o cheiro e mugido do gado no curral e ralos pastos. Ouve-se o cantar de pássaros e o cacarejar de pouquíssimas galinhas. As árvores frutíferas já não as há. Nem o burburinho do córrego que rodeava a casa grande...

Fazenda do Pau D'Alho

18 agosto, 2007

Samba no Observatório

Os "meninos" continuam no maior sucesso. Agora, a banda Chapéu Panamá é atração no bar Observatório, que fica lá no alto da torre Alta Vila, próximo à Faculdade Miltom Campos.
Pra quem quiser assistir "de graça" é só concorrer ao sorteio de ingressos no caderno Divirta-se, do Estado de Minas.
Samba de raiz é a onda!
Nem precisa dizer que nossos filhotes, Ângelo e Leo são componentes da 'nova guarda do samba' e que os papais corujas só podem exaltar!
[clique no banner e concorra! Se não ganhar, vá assim mesmo!!! ]

15 agosto, 2007

BH by night


BH by night
Upload feito originalmente por ClaudioCosta
Um jantar na Churrascaria Porcão já é um acontecimento. Dizer que minha atenção se dividiu entre as iguarias e a paisagem noturna não é um exagero. Bem embaixo, o bairro São Bento. À esquerda, Sion. A via iluminada que vai da esquerda para a direita é antiga BR-3, que liga BH ao RJ.
E a vida continua...

08 agosto, 2007

Eu claudico. Tu claudicas?

Eu mesmo. Caminhando na Rua Gov. Valadares, em Nova Era. Há muito tempo...
Eu claudico, tu claudicas...

"Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra, disse: vai, Carlos, ser gauche na vida".

Taí o primeiro verso do poema autobiográfico do Carlos Drummond de Andrade. Drummond confessa, logo de cara, sua claudicação pela vida: ser gauche é ser meio manco, meio sem jeito, tímido talvez.

Pois, quando nasci, meus pais me deram um nome:

- Vai, menino, ser Cláudio na vida!

Acho que foi logo aí que me identifiquei com o Poeta itabirano. Afinal, meu nome deriva do verbo "claudicar = arrastar de uma perna; não ter firmeza em um dos pés; coxear, mancar, capengar e, no sentido figurado, cair em erro ou falta; fraquejar intelectualmente".

Ai, ai, ai, minha humildade não chega a tanto, nem Soié e Dona Aparecida me rogaram praga nenhuma! Segundo minha mãe, tratava-se de um nome bonito e menos comum e, além disso, nome de imperador romano!

Um grande futuro me esperava - ou ainda espera, duvidar quem há-de? Gosto de utilizar o verbo claudicar sempre que cometo uma gafe, ou "mancada = atitude, resolução, comportamento errôneo, cujos resultados são insatisfatórios ou negativos; falha, lapso, erro, indiscrição espontânea, irrefletida; ação ou fala inoportuna; gafe."

Pois agora, confesso: de vez em quando dou umas mancadas, que deus-me-livre-e-guarde!

Aqui vai uma: - encontro-me com o jornalista político Vidal, na rua da Bahia.

Logo digo:

"- Há quanto tempo".

E ele: "- Viajei, estava em Milão."

Todo afoito, exclamo: "- Ah! então deve estar ótimo no alemão!"...

"- Que isso! Milão fica na Itália."

Tento consertar: " - É mesmo, onde fica a FIAT."

Não deu mais, desolado, me ampara:

"- Não, a FIAT fica em Turim!!!".

Deixei um cumprimento sem graça e me mandei! Já claudicara demais!

E você, já claudicou alguma vez?

----------------

Publiquei este post em dez.2004. Republico-o, sem pejo: é tempo de reminiscências...

06 agosto, 2007

Tentando arrumar a casa

Afresco de Portinari na Igreja de S. Francisco (Pampulha)
Belo Horizonte -Foto by Claudio Costa.


Fernando Marques-Pinheiro é um leitor assíduo do PrasCabeças, de pouquíssimo tempo. Faz comentários nos posts e, para minha surpresa, também através de e-mails. Assina 'fermarpin'. Diversamente da quase totalidade dos que me visitam, Fernando não é um blogueiro, mas um blogófilo!
Deixa pérolas em forma de comentários. É pianista, formado pelo Conservatório de Lisboa. Nasceu em 1922, outro dia mesmo!
A propósito do meu post sobre Esperança, produziu as seguintes reflexões, para nosso degustar:
Tentando arrumar a casa

Ele (o Desejo) é o primogênito, ela (a Esperança) veio a seguir – e logo, logo depois dela (não tinham passado ainda nove meses) nasceu o Sonho.
Olhem para a bela trindade:

Desejo, Esperança, Sonho - estes dois muito chegadinhos um ao outro.

O Desejo nasceu por que razão?
Sei lá! Resultou de concepção e gestação espontâneas? Surgiu por obra e graça do Espírito Santo? Recuso-me a ir por esses caminhos.
Penso que notámos a presença dum espaço e apeteceu-nos preencher esse espaço.
Exemplos: um buraco na estrada, espaço na nossa vida para um filho, um Mi entre um Dó e um Sol (para termos o acorde perfeito...), etc.

A modificação apetece-nos, e logo a desejamos.
E aqui uma janela abriu-se sem eu mexer nela:
Não havendo apetite não há desejo.

Na cama, com 40 graus de febre, não há apetite; e sem apetite não há comida que possamos desejar.
Não temos apetite, não desejamos.
Cuidado! Olhem que sem se comer... Morre-se!
Cá está ela! A malvada. Com maiúscula, a Morte! - a muralha intransponível junto da qual tudo se queda...

Olho em frente e vejo, da esquerda para a direita:

Apetite, Desejo, Esperança, Sonho, Morte.

C'est la vie?
É a vida das batatas e das couves.

Não há uma coisa chamada Ação (Trabalho)?
O trabalho de tapar o buraco da estrada, o do coito (é agradável, mas dá trabalho, não dá?), o de desenhar um Mi entre o Sol e o Dó, etc.
O Trabalho faz parte da vida.

Onde o porei?
Entre o Sonho e a Morte:

Apetite, Desejo, Esperança, Sonho, Trabalho, Morte.

Ça, oui, c'est la vie.

Não me convidem para espreitar à direita da Morte, para lá do por sol, do lado do Ocidente.
Nem me convidem para olhar à esquerda do Apetite, para lá do nascer do sol, do lado do Oriente (o Cabo das Tormentas estafou-me, perdi a obsessão do Oriente, não voltarei a partir para ir buscar pimenta e mostrar o crucifixo...).
Deixem-me acordar com Apetite, de manhã, e depois durante o dia deixem-me Desejar, Esperar, Sonhar e Trabalhar, até adormecer com a Morte, à noite.
______________________________
PS – Dr. Cláudio Costa: Sem o seu post eu não teria tido o prazer deste passeio no seu jardim de plantas e flores que não estou habituado a ver.
FMP

01 agosto, 2007

Eu? quem sou eu?





Não é contingência única do mundo virtual que as pessoas se mostrem com identidades inventadas, falsas, maquiadas, fingidas ou 'anônimas'. Apresentar-se sob máscara é atitude comum. Afinal, nós mesmos podemos nos enganar (mesmo não intencionalmente) sobre quem somos. Talvez isso anime tanta gente a se esconder sob um nickname pomposo neste mundo virtual, tanto quanto no real.

- Anh? indagaria um interlocutor menos afeito às filosofices. Eu sou eu, pelo menos disso tenho certeza, eu sou Fulano, acrescentaria, crente que sabe quem realmente é.

- Fulano? que Fulano? (risos)

Aí começam as complicações, pois não basta ser Fulano:

- Sou Fulano de Tal, uai! (mais risos)

Então, logo descobrimos que o nome próprio, para ser próprio, necessita de predicados, já que um nome é apenas um nome e pode designar qualquer pessoa - ou todas as pessoas, não faz diferença. "João", por exemplo, pode designar qualquer um.

Mas predicados, por mais numerosos que existam, não nos podem definir. Sim, não adianta quantidade de predicados (sou isso e aquilo e mais aquela coisa - tipo assim: Sabe com quem está falando?). O que importa é a qualidade deles.

- E como se mede a qualidade de um predicado?, indaga o último da fila, lápis em riste, pronto a anotar em seu caderno encapado com o nome - olha aí, o nome! - escrito na etiqueta.

"Os predicados apenas designam, nada significam. (Saul Kripke citado em Identidades sem Necessidade).

Digo, sem pestanejar, que a qualidade do predicado que julgo ser meu - provisoriamente, bem provisoriamente - tem a ver com a minha verdade.

- Mas aí, ô meu, que verdade é sua verdade? E se o brother estiver enganado? Ou se enganando a si mesmo e a todos? A verdade não é relativa? Este repto vem direto da menina de óculos (viu este predicado? "de óculos" diz alguma coisa de quem é a tal menina? Apenas a identifica, mas não diz quem ela é.

De nada adianta dizer Eu sou aquele que sabe, portanto, não discuta, anote aí, aprenda! porque ninguém tem o atributo da infalibilidade. Portanto, não posso dizer quem sou, ou quem você é.

Afinal, até o próprio nome, aquele da certidão de nascimento ou de batismo, foi-nos dado por outrem, com intenções nem sempre conscientes.

Ninguém escolhe o nome, tudo bem. O pior - ou a verdade - é que até mesmo como nós nos vemos nos é dado pelo Outro (com O maiúsculo, porque se trata de um Outro significativo, claro!) e, submetidos ao desejo desse Outro, tomamos suas avaliações como verdadeiras, quer gostemos ou não:

Sou inteligente, sou bonzinho, sou sem-vergonha, sou bem-sucedido, sou caridoso, sou bonito, sou feio, sou isso e aquilo - eis a coleção de imagens ou predicados que nos foram dadas e que colecionamos ao longo da vida, tesouro carregado cuidadosamente pelo nosso Imaginário, até que tropeçamos e...

- Eu, que sou uma boa pessoa, descontrolei-me, tratei mal a quem mais amava, invejei o vizinho e não devolvi o troco-a-maior que a balconista me deu... entendi, disse tudo de uma respirada só aquele rapaz de moleton preto-bordado-de-letras-brancas-GAP.

Querem mais um exemplo? Vejam este post aqui do Milton.

É claro que há exemplos, digamos, edificantes, quando nos vemos praticando uma boa ação que surge assim, do nada. São os pequenos heroísmos do cotidiano, quando sorrimos para alguém ou descobrimos afinidades por quem menos suspeitávamos. Ou seja, nosso eu verdadeiro é o eu que escapa! Ou, como nos disse Freud (1933): "“onde estava o id ali estará o ego”.

Por isso, digo e repito: somos o que desejamos - e desejar não é querer, hein?

_________

A belíssima ilustração acima é de J.D. Hillberry.