06 setembro, 2011

Transtorno de Déficit de Atenção - Entrevista

Entrevista à TVGloboMinas, programa MGTV, dia 06.setembro.2011.



O TDAH é um transtorno neurobiológico que acomete crianças, adolescentes e adultos, com 3 sintomas principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade. A entrevista focou a desatenção, caracterizada por esquecimentos, falta de concentração, adiamento de tarefas, desorganização. A intensidade pode ser leve, moderada ou grave. Sempre que há prejuízos emocionais, acadêmicos, sociais e profissionais, o tratamento deve ser instituído nas esferas escolar, familiar e pessoal. A abordagem é multidisciplinar. É preconizado o uso de medicamentos, os quais costumam proporcionar redução drástica dos sintomas. O diagnóstico é clínico, ou seja, não há (ainda) exames ou procedimentos laboratoriais definidores.

14 abril, 2011

O homem que claudicava

A notícia:
Um órgão parecido com um coração foi encontrado, no ínicio da tarde desta terça-feira, dentro de um vidro na lixeira de um dos banheiros do terminal de passageiros do Aeroporto de Confins. De acordo com a assessoria de imprensa do aeroporto, o órgão foi encontrado por um passageiro.


O que o jornal não contou é que havia uma carta!

No saguão do aeroporto, eu esperava o Milton Ribeiro que prometera vir de Porto Alegre. Minha atenção foi atraída por um moço a gritar:
- Polícia!
Carregava um saco plástico transparente. Dentro havia um vidro daqueles de boca larga, de guardar biscoito de polvilho. Lá em casa tem vários desses, pensei.

Aproximei-me e distingui o que me pareceu uma peça anatômica. Identifiquei-me como psiquiatra e pedi às pessoas se afastarem um pouco para que pudesse socorrer o moço em crise de histeria.
Foi logo dizendo:
- Dr., toma isso aqui, não aguento nem ver sangue, quanto mais um coração ainda fresco!
- Acalme-se, deve ser doação para transplante. Sou médico e vou levá-lo para o Hospital das Clínicas.

Havia um envelope junto ao recipiente e não hesitei em surrupiá-lo, despistadamente. Pensei: "deve ser a explicação".
Aos seguranças apontei o moço:
- O pacote é dele. Eu vi quando saiu do sanitário masculino.
Levaram-no para a Administração, acho.

Quanto a mim, saí de fininho. Longe de todos, li:

"Se você achou este vidro contendo um coração, não o jogue fora. É o meu. Durante meses amei uma pessoa linda, maravilhosa, alegre e radiante. Ela não me conhecia, mas eu descobri onde morava. Toda manhã estava no mesmo ponto em que ela tomava o ônibus para o centro. Talvez nem me enxergasse, nunca respondeu a um Bom dia! sequer. Pensava nela durante o trabalho, o dia inteiro. Ensaiei muitas vezes chegar perto, identificar-me e declarar meu amor, mas não consegui. Imaginava: Olha, moça, não te conheço, mas quero te dizer que meu coração te pertence. Eu te amo! 

De repente, ela sumiu.
Hoje cedo, vi a aliança em sua mão esquerda. Concluí que se casara, deve ter viajado para lua-de-mel e, agora, voltou. Fui traído covardemente!
Resolvi desaparecer, viajar para longe, sem volta. Antes de embarcar, arranquei do peito meu coração pulsante e  deixei-o bem à vista. Já vou embarcar. Adeus!
Peço a quem encontrar que entregue o vidro e o bilhete na Rua Eng° José Schultz Leonel, s/n. Bairro da Saudade."
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Nas gravações das câmeras de segurança do aeroporto, a polícia constatou a presença de um homem que claudicava em direção à fila para vôo 3341, das 8,30h.
Semblante tranquilo, não chamava a atenção, exceto por ter um imenso buraco no peito.

07 março, 2011

Uma lembrança infantil

As lembranças infantis, ensina-nos a psicanálise, podem referir-se a fatos reais ou imaginários, constructos elaborados ao longo do tempo, fantasias encobridoras ou elaborativas. Podem ser formadas com fiapos de acontecimentos, condensando fragmentos de vivências em uma recordação bem estruturada, porém jamais acontecida como acreditamos que tenha sido.
Por isso, cabe ao analista desconfiar de explicações encontradas pelos analisandos para justificar a origem de seus sofrimentos, quando eles se aferram a tal ou qual lembrança, juram que o fato aconteceu e deduzem que, a partir de então, sofrem do sintoma atual.
Não se pode descartar a memória enxertada, quando se inoculam informações inverídicas a lembranças verdadeiras, a tal ponto que não mais se consegue distingui-las. 
Alguém pode, pois, introduzir falsos elementos para que o recordado tenha linearidade, coerência e completude, principalmente quando faltam detalhes importantes, o que comprometeria a veracidade do relato.
Fala-se de casos em que o adulto enxerta falsidades na mente de outrem, com objetivo de mascarar os reais acontecimentos, principalmente para livrar-se de alguma culpa ou obter certo tipo de vantagem. Por exemplo,   em caso de casais separados, um dos parceiros pode inocular nos filhos ainda pequenos informações desabonadoras sobre a outra parte, numa tentativa de, mais tarde, justificar os próprios erros e garantir boa imagem.
Poderíamos discutir mais os fenômenos psico-emocionais que envolvem nossas lembranças, mas prefiro explorar uma anedota que acompanha minha biografia.  
O fato que relatarei, com as ressalvas enunciadas acima, compõe meu acervo de memórias infantis e foi evocado a partir da foto abaixo:

Foto do album familiar da Família Costa (Nova Era-MG)
Trata-se de fotografia pela qual tenho carinho especial, pois apareço com idade aproximada de 3 anos. Suponho que estivesse na ponta dos pés a estender a mão em busca de alguma guloseima sobre a mesa. Se quisesse  inventar, diria que me esforçava para conseguir um brigadeiro... (é claro, porém, que seria uma lembrança enxertada ou fantasia pura).
Chama-me atenção o fato de ser a única criança a participar de uma refeição de adultos bem mais velhos, que nomearei da esquerda para a direita: meu avô Ilídinho, minha bisavó Mandidina, os tios-avós Otaviano e Sá Nôra, todos da linhagem paterna. Lembro-me com clareza de cada um deles , exceto da bisavó, que teria falecido um ano após esta foto.
Pois bem, a lembrança  que relatarei, na verdade, talvez não seja propriamente uma lembrança, mas tem a força do testemunho de minhas tias e de meus pais. 
Com efeito, são eles que me garantem a veracidade do episódio no qual fui protagonista,  por ocasião do velório de Mandidina.
Lembro-me -já criei memória pessoal- de que acompanhava os preparativos do sepultamento de minha bisavó, quando os adultos (Tia Irani, em especial) enfeitavam o caixão com flores, guirlandas, fitas, etc. Num certo momento,  deram-se conta da falta de barbante para fixar os arranjos florais. 
Ao perceber o impasse, ofereço-me:
- Vou lá na venda (pequeno armazém do Vovô Ilidinho, a pouco mais de 200m) e busco!
De imediato, disparo a correr pela rua estreita e sem calçamento, uma poeira só. Carrego o rolo da loja e chego ofegante:
- Olha o barbante aqui!, exclamo.
Minha tia e as primas, impressionadas com minha presteza em resolver o problema, indo num pé e voltando noutro,  começaram a elogiar-me:
- Que menino prestativo, educado, esse Claudinho...
Fico todo orgulhoso e digo com a maior naturalidade:
- Não se preocupem, quando morrer mais alguém, eu busco mais barbante! 

06 março, 2011

Dourada ao molho mediterrâneo

Esquina de BH durante o Carnaval 2011 (Photo by Claudio Costa)
Pode ser Carnaval, mas a cidade de Belo Horizonte não sabe o que venha a ser 'tríduo momesco'. A prefeitura insiste em oferecer desfile de escolas de samba. Tudo bem, há quem acredite na existência de tais grêmios recreativos por estas bandas e, pior, há quem goste. 
Falam de desfiles a ocorrer em improvisado sambódromo, cuja localização desconheço e de que, por sorte, estou longe.
O silêncio por aqui é um prêmio para quem deixou de viajar, enfrentar horas de engarrafamento e tensão pelas rodovias mortíferas. 
- Estás pessimista, dirão alguns.
- Estou é feliz, retrucarei.


Para enriquecer mais ainda o momento de tranquilidade, resolvemos (Amélia e eu) testar esta receita.
Filé de dourada (Photo by Claudio Costa)
Começamos fatiando filés de dourada (dourada é do mar, dourado é de rio - aprendi) e empaná-los  em farinha de trigo temperada com sal e pimenta-do-reino.

Enquanto o peixe absorvia o tempero, preparamos os ingredientes do molho mediterrâneo: tomatinhos italianos partidos ao meio, azeitonas pretas, champignons, alcaparras, alho, manjericão. Tudo foi refogado rapidamente numa boa porção de azeite extra virgem, corrigindo o tempero com pitadinhas de sal.
Molho Mediterrâneo (Photo by Claudio Costa)

O aroma espalhou-se para além da cozinha, dando-nos a certeza de que atingiríamos o estado-de-arte já na primeira tentativa. 



Hora de "selar" o peixe. 
Depositamos cuidadosamente os nacos empanados de dourada numa frigideira de ferro, bem aquecida com duas colheres de azeite.
Bastaram dois minutos de cada lado para que chegassem ao ponto.

Abrimos um Trumpeter Carbenet Sauvignon, produzido pelos hermanos argentinos. Um bom tinto cujo aroma anunciava ótima qualidade, o que se comprovou na textura aveludada e sabor marcante. 
- Vai harmonizar com o peixe ao molho mediterrâneo, pensei.

Com efeito, o ato seguinte foi atender ao apetite que se aguçara com tantos estímulos:

Dourada ao Molho Mediterrâneo (Foto by Claudio Costa)
A sobremesa (ninguém é de ferro!) ficou por conta da Amélia, que nos serviu  delícia rara: compota de jabuticaba, adquirida no Mercado Central de Belo Horizonte.  Quem quiser que procure por lá, pois os tesouros demandam sacrifícios, dizem os filósofos.
Compota de jabuticaba, servida com sorvete de creme (Foto by Claudio Costa)

08 janeiro, 2011

Personas

Muito interessante.
Clique num personagem e saiba mais sobre ele.
Experimente:
Discussing the Divine Comedy with Dante
Discussing the Divine Comedy with Dante
[Basta procurar "Português" na coluna "Language", à esquerda da Wiki]

04 janeiro, 2011

Pagando mico

Passamos o reveillon no clube do Retiro do Chalé, na ótima companhia dos manos Clóvis e Ilídio, e as respectivas. Festa boa, como convém: banda ao vivo, etc. 
No meio do salão, alguns 'brindes' foram distribuídos: aquelas argolinhas coloridas e luminosas, máscaras e... um chapéu coco! Estava na festa era pra me molhar, ou não?
- Dá cá um chapéu!

Ah, você já viu um chapéu dourado? 
Pois tinha lá, 'made in China', of course, todo purpurinado, uma beleeeeza!
- Lá vai o Cláudio botar chapéu, achando-se.

Resultado: dois dias e inúmeros banhos após, o couro cabeludo (nem tão cabeludo, reconheço) estava infestado de purpurina!!! In-fes-ta-do!
Sorte é que tive o sábado e o domingo para só sair de casa coberto por um boné. Por mais escova que usasse, mais xampu na rala cabeleira, mais ducha, talco, secador... tudo em vão: lá estava the man of the golden head!
Olhar-me no espelho era ver uma constelação cintilante, rebrilhos dignos da Via Lactea em noite de lua nova, faíscas douradas a iluminar-me a aura!
Finalmente, eureka! 
Decobri o antídoto: metros e metros de fita crepe. Modo de usar: aos poucos, vá 'colando' a fita em sua cabeça, entre os fios de cabelo, nas dobras da nuca, nas sobrancelhas, pálpebras, reentrâncias das orelhas,  onde for possível. 
O milagre aconteceu: as minúsculas e invisíveis (porém ultrabrilhantes) partículas de purpurina se agarraram à fita e abandonaram o leito pilosodermatológico de minha propriedade!
Finalmente, reencontro a sobriedade que me é peculiar, a discreta e impoluta fisionomia, nem mais bonita nem mais feia, mas aquela que se me faz reconhecer diante do espelho e que, malgrado o  inexorável passar dos anos, ainda ouso apresentar aos contemporâneos. 
No flagrante abaixo, qual um "cavaleiro da triste figura", eis o Mico, a cores:
Mico Chapéu Dourado (Photo by himself)