01 novembro, 2006

Vontade de ser anjo

Além dos atrasos decorrentes da operação padrão desencadeada pelos controladores de vôo, vivenciei uma experiência que não desejo pra ninguém.

14,30h: Ao desembarcar no aeroporto de Confins (Belo Horizonte), enquanto aguardava nossas bagagens (minha e da Amélia) frente à esteira rolante, comentei com outro passageiro:
- Pra mim, a pior hora do vôo é essa espera.
- Por que?
- Porque sempre acho que a minha mala não vai chegar. O melhor é que sempre chega, não?

Havíamos despachado 2 malas e 1 bolsa. Primeiro, veio a bolsa; a seguir, a minha mala! Faltava a da Amélia. Aos poucos, a esteira foi se esvaziando e, no final, deslizava melancolicamente, sem nada por cima... E nós ali, com "cara de tacho".
- Pronto, pensei, minha paranóia até que fazia sentido. Um dia isso iria acontecer!

15,10h: Procuramos o setor de LL (não sei o que significam essas letras) da TAM. Os funcionários me tranquilizaram e disseram:
- Sua bagagem vai chegar no próximo vôo, dentro de 50 minutos. Esse tipo de problema pode acontecer.
Mesmo assim, fizeram uma ocorrência (que chamam de 'processo') e, via computador, entraram em contato com todos os LL do Brasil, principalmente o setor de despacho de Congonhas-SP, ponto de conexão entre Curitiba e Belo Horizonte.

16,00h: O vôo seguinte aterrisou, as bagagens circularam. Cada passageiro pegou a sua e... a nossa mala não veio!

16,30h: - Podem ficar tranquilos, garantiu a funcionária da TAM, isso acontece e, em 99% das vezes, a bagagem é localizada até o final do dia. À noite, certamente, será entregue na casa de vocês, sem ônus.

Fazer o quê?

16,44h: Resolvemos procurar a delegacia da Polícia Civil, no próprio aeroporto e foi lavrada uma ocorrência. Afinal, caso o pior acontecesse, teríamos mais uma instância a acionar, em busca de indenizações.

17,00h: Com "cara de Sexta-Feira da Paixão", tomamos o Executivo para o centro de BH, três horas após o desembarque!
Amélia já fazia o inventário dos pertences 'perdidos': Roupas, bijouterias, presentes pros filhotes, cosméticos... enfim, tudo aquilo que uma mulher bem feminina transporta quando viaja! Minhas palavras eram de solidariedade e consolo:
- Calma, benzim... mais tarde isso vai ser resolvido.
Dentro de mim, porém, um resquício paranóico: e se tivermos sido roubados? Afastava logo o pensamento tão incômodo e prestava atenção às obras da Linha Verde, em construção.

17,30h: Estávamos já a meio caminho entre Confins e BH quando o celular tocou. Pensei:
- Deve ser a nossa filha, Ana Letícia, que ficou de nos esperar no Terminal.
- Alô! disse uma voz feminina. Você esteve num congresso médico?
- Sim, por que?
- E está chegando hoje?
- Isso mesmo?
- Pois é, Dr. Cláudio, meu marido está com sua mala.
- Que boa notícia!
exlamei alvoroçado. Como isso aconteceu?
- Ele a pegou, por engano. Só quando chegou aqui em casa, no Bairro Santo Antônio, descobrimos o erro. A nossa é verde e mesmo assim trouxe a sua, preta.
- Ótimo! Ótimo! Onde posso buscá-la?
- Olhaqui, ele já está de volta ao aeroporto, porque a nossa mala ficou lá...

O desfecho foi o seguinte:

Às 22h chegou-nos a bagagem, intacta, entregue pela companhia aérea.
Foi só então que nos consideramos chegados de viagem.
Em algumas horas passamos do luto à alegria.

Fica-nos, porém, uma questão: como é que pode alguém sair da sala de desembarque carregando uma mala que não lhe pertence? E o ticket de bagagem, quem o confere?

Melhor ser como anjos: viajar pelo espaço com nossas próprias asas, sem lenço nem documento, sem bagagem nem aeroportos... sem controladores de vôo, sem atrasos, sem esteiras onde as malas podem desaparecer.
Ou não.