19 junho, 2005

Apontamentos para uma discussão sobre o Amor - II

Dos meus tempos de criança, lembro-me de um hino religioso que começava assim:
- "Prova de amor maior não há do que dar a vida pelo irmão".
Matutava com meus botões:

- "Como pode alguém dar a vida por uma outra pessoa, a não ser mesmo o Cristo?"

Anos mais tarde, numa leitura de Françoise Dolto, psicanalista francesa, deparo-me com sua descrição das diversas categorias do amor, a partir da teoria freudiana. Françoise, entretanto, acrescentou uma outra possibilidade, para além do amor genital: o amor oblativo, de oblação: um tipo de amor que se caracteriza pela doação incondicional, sem desejo de reciprocidade. Ah! pensei, é como doar a vida por alguém...

Em 11 de setembro de 2001, enquanto desmoronavam as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York, exatamente no mesmo horário, um milagre de amor oblativo acontecia aqui mesmo em Belo Horizonte:

Meu irmão, José Bonifácio, doava-me um de seus rins para que eu me curasse da insuficiência renal crônica que me consumia!

Os versos daquele hino e a descrição do amor oblativo se concretizaram diante de mim: Boni é a prova de que existe, sim, um amor desinteressado, enorme, inconmensurável, impossível de se retribuir na medida exata da grandeza do doador! Qualquer palavra que eu diga será insuficiente, pequena, insignificante...

Essas lembranças me assaltaram hoje, pela manhã, ao ler a crônica de Affonso Romano de Sant'anna, da qual transcrevo um trecho, para compartilhar com vocês. Utilizei o ctrl+c/ctrl+v sem pejo:

E se você, garotão, tivesse nascido diabético e, por causa disso, na adolescência, descobrisse que estava ficando impotente, e que isso iria acarretar uma série de constrangimentos ao começar o flerte com uma garota…

E se você, por causa da diabetes e porque sendo jovem, continuasse a viver todos os prazeres nas praias e festas, bebendo, fumando até que, de repente, aos 21 anos a cegueira desabasse sobre você, subitamente...

E se você, além de diabético e de ficar cego, um dia estivesse na garupa de uma moto e sofresse um acidente com fratura exposta, que lhe botasse de cama muito tempo…

E se você, diabético, cego, fraturado, acabasse, lá pelas tantas, tendo que fazer um inevitável transplante de pâncreas…

E, como se não bastasse, daí a pouco tivesse que fazer um transplante de rim.

Se você fosse assim, se eu fosse assim, teríamos todas as razões para dizer fiquem aí com esse mundo de Deus-e-do-diabo, estou tirando o time, desse jeito não dá para jogar nem na defesa nem no ataque.

Mas não foi isso que aconteceu com Marco Antônio Queirós. Ao contrário de Dalida, aquela ex-miss Egito, linda e rica, que sem nenhum desses problemas resolveu se matar, MAQ, como seus amigos o chamam, virou excelente técnico em informática, casou-se com Sônia, teve o filho Tadzo, é dono de um humor inacreditável, uma juventude permanente nos seus quarenta e tantos anos e, diria, é uma pessoa mais feliz que 80% das que conheço. É ver para crer: entrem no site que ele preparou: Bengala Legal - e vocês terão uma idéia do que digo.

Depois, leiam o livro que ele acaba de lançar, Sopro no corpo (Editora Rima Especial). E como sei que a distribuição de livros é problemática, dou o telefone e o endereço da editora: (16) 3372-5269.

Agora lhes pergunto:
- Amor de oblação e amor pela vida, existem ou não?