22 agosto, 2004

Duas viagens e um pijama

Uma semana sem postar, em que os dias foram ocupados pelo prosaico cotidiano e por duas viagens:
Dia 13 de agosto, de ônibus, parti em direção sudoeste de Belo Horizonte, em busca do cruzamento do paralelo 20S com o meridiano 45W, ou seja,
Divinópolis. A cidade estava em plena DivinaFolia, evento que abre o calendário do segundo semestre do CarnaBrahma 2004 - o maior circuito do carnaval fora de época do país –, que percorrerá o Brasil com a promoção de micaretas e festas do gênero nas regiões Sudeste e Nordeste.
Entre as atrações, as bandas Chiclete com Banana, Babado Novo e Bartucada para agitar a festa até o sol raiar. Também se apresentaram bandas locais, como KSamba, Ká Entre Nóis e Fernanda Garcia, em oito horas seguidas de show em cada dia de festa.
Mas eu não fui prá festa nenhuma, fui a trabalho (!), ministrar um Curso de Transtornos de Aprendizagem para professores(as) da Rede Municipal de Ensino. Além do trabalho, valeu o peixe-no-espeto, devorado na Churrascaria Savassi, bom demais!
Semana seguinte, anteontem, embarquei no vôo 5586 da Total, em direção ao Vale do Aço, aterrisando em Ipatinga, 30 minutos depois, onde daria um Curso sobre Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, assunto que já abordei, aqui.
A 3.500m de altura pude comprovar a destruição de nossas montanhas, perpetrada pelas mineradoras, que estão esburacando o solo para retirar minério de ferro [perpetrar: v.t.d. - cometer, praticar (ato moralmente inaceitável, crime, delito etc., segundo o Houaiss]. Vai tudo pro Japão e pro império do norte! Logo saindo de Belo Horizonte, avista-se a Serra da Piedade, comida pelas beiradas, as encostas erodidas, a mata ferida, as nascentes secando, como denuncia o movimento SOS Serra da Piedade!
Ipatinga, entretanto, me surpreendeu pela beleza e organização da cidade, pelas largas e ajardinadas avenidas, pelo alto índice de saneamento, pelos dispositivos de atenção à saúde proporcionados pela admnistração municipal e pelos parques, como são chamadas as enormes praças. Poucas cidades do Brasil se dão ao luxo de ter uma área verde com cerca de um milhão de metros quadrados e 12 mil árvores plantadas, situada praticamente no centro e aberta a toda a população. Pois Ipatinga tem o Parque Ipanema, complexo de lazer projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx, um dos últimos concebidos antes de sua morte.
Foi uma viagem agradável, ao lado do colega Francisco Goyatá, psiquiatra e psicanalista de carteirinha, bom de papo, culto, engraçado, espontâneo e verdadeiro ator (atuamos juntos no Show Medicina e no Show Anatomia, em priscas eras [prisco: adj. - que pertence a tempos idos; antigo, velho, prístino].
Quase rolei de rir ao ver o Goyatá desembrulhando um pacote, extraindo dele um pijama azul-bebê, novinho em folha, arrancando-lhe a etiqueta, a dizer: "-Foi minha mulher, a Martinha, que me deu, pois achava um absurdo eu dormir no mesmo quarto com você usando minha velha camiseta!". Isso é que é prestígio! Tenho de agradecer à Marta por tamanha delicadeza!
Depois desta, só mesmo uma noite de sonhos, pontuada por roncos, a me lembrar as escavadeiras devorando as serras das Gerais.