30 maio, 2006

Querer ou Desejar?

Muita gente se expressa assim, quando algo não vai bem:"Queria tanto que tal acontecesse...". Nessas horas, cabe a pergunta: -"Queria mesmo?" Ou como aquele bordão antigo, num homorístico em que Jô Soares exclamava, irônico: -"Querias!".

Quantos de nós respondemos a um convite, com a indefectível fórmula: -"Gostaria muito de ir". Se usamos a esfarrapada desculpa do "ah! esquecí-me!, nosso interlocutor nos olha com ar de desprezo ou ironia, como se dissesse: -"Arranja outra desculpa, ô meu!

Parece que sabemos, mesmo sem teoria alguma, que há uma diferença enorme entre DESEJAR e QUERER.

O "querer" é algo consciente, dito abertamente ou não. Quero isso e não quero aquilo. O "desejar" mora em outro cenário, bem mais embaixo, lá no "porão" do inconsciente, e nem sempre é tão acessível. Pode até acontecer de a gente "querer" o que não se deseja e "desejar" algo que, conscientemente, negamos. Tratam-se de desejos inconfessáveis, socialmente incorretos, o dos quais nos envergonhamos. Ou desejos que conflitam com nossa formação, nossos valores. Às vezes tememos o que queremos. É como se torcêssemos - sem o saber - para algo dar errado: assim, alguém fracassa num concurso para não ter de mudar de cidade; outro "se esquece" de um telefonema importante para resolver certo problema... somos mesmos complicados.

Por outro lado, o desejo é poderoso, tanto assim que, sem mais nem menos, cometemos um "ato falho": um esquecimento, um gesto ou uma fala que nos trai, desnudando o que estava escondido (muitas vezes escondido até de nós mesmos).

Freud, o criador da Psicanálise, escreveu um livro sobre isso: Psicopatologia da Vida Cotidiana. Nessa obra, de linguagem elegante e acessível, ele ensina que o pensamento aparentemente mais sem sentido, o lapso mais casual, o sonho mais fantástico possuem um significado que pode servir para desvendar os segredos da mente. (Você não vai se arrepender de ler.)

O sofrimento de cada um se constitui, no fundo, no fundo, num conflito entre o "querer" e o "desejar", muitas vezes incompatíveis. A gente acaba aprendendo que vai ser necessário fazer algumas concessões, tanto de um lado quanto de outro, e que o fato de não se poder ter tudo não é o fim do mundo.

Aliás, o "desejo" nunca se realiza completamente, estando o "objeto desejado" escorregando sempre para um mais além, o que, graçasadeus, sustenta o próprio desejo.

Nós não somos donos dos nossos desejos, mas somos responsáveis por eles.

Como nem sempre se coadunam "desejo" e "querer" mais os "laços sociais" que se tramam ou se desfazem de acordo com a cultura, ficamos por aí, "peregrinando neste vale de lágrimas" que é a nossa vida, pontuada de momentos felizes e de vicissistudes.

Agora, tem uma coisa: quase sempre, para não dizer sempre, somos presenteados de acordo com nosso empenho.

Sem esforço, nada feito.

29 maio, 2006

Surfando no Houaiss

Às vezes eu acho que tenho "mania" de dicionário. Sempre gostei de fuçar as páginas do meu Aurélio, ano de 1957 - o primeiro Aurélio a gente nunca esquece! Já procurei até palavras "sujas" - na época, falar "bunda" já era falar nome feio, hehehe.

Quando leio, se me deparo com um vocábulo desconhecido, não sossego enquanto não encontrar o significado exato, mesmo que já o tenha deduzido pelo contexto.

Acho também muito divertido descobrir as diferenças entre o linguajar de Portugal e o nosso: Saramago, por exemplo, me provoca a buscar no dicionário aquelas palvras que só os "patrícios" utilizam.

Um dos papos que tenho com meu filho Léo, quando lhe dou carona pela manhã, gira em torno de palavras que surgem sei-lá-de-onde. De repente, pergunto-lhe:
- Léo, o que é mequetrefe?
- Sei lá, pai.
- Pois olhei ontem no Houais. Mequetrefe é indivíduo intrometido, dado a meter-se no que não é de sua conta; enxerido; indivíduo de caráter duvidoso; patife, mariola, biltre; indivíduo sem importância, inútil, insignificante; borra-botas, joão-ninguém.
- Nossa! conheço tanto mequetrefe, hahaha...

Descubro, outrossim, nomes impensáveis para coisas do dia-a-dia. Aqui em Minas é de um jeito, lá no Sul é de outro e, no Norte, mais diferente ainda.
- Por exemplo?
- Aqui, aquele cítrico que descascamos com a mão, com odor delicioso, é a mexerica. No Sul, um aluno meu, de Florianópolis, me disse que é bergamota. Outros chamam de tangerina. Será que são frutas diferentes ou são a mesma?

Outro dia, numa daquelas conversas com o Léo, perguntei-lhe:
- Léo, você que cursa Direito, pretende ser um leguleio?
- Ah! pai, não enche!
- Vamos, diga!
- Sei lá, fala logo o que é.
- Tá bom. Leguleio é aquele advogado que observa rigorosamente as formalidades legais, interpretando a lei sem atentar para o espírito que a norteia; profissional formalista; advogado que se vale de meios para confundir uma questão ou protelar o andamento das causas.
- Ih! pai, tá cheio de advogado assim! O pessoal adora protelar as coisas. Tem ação judicial que demora anos, tantos e infinitos recursos são utilizados.

Pois não é que, recentemente, o mesmo Léo, que já é estagiário em um escritório de Advocacia, chegou todo contente?
- Pai, utilizei aquela palavra numa "Apelação de Contra Razões a um Recurso Extraordinário", encaminhada ao STF!
- Qual palavra?
- Aquela: leguleio!

É, pelo visto, a peste tá contaminando o garoto, hehehe...

28 maio, 2006

Sobremesa improvisadíssima de domingo

Pudim engana visita

Inredientes:

Para o pudim

3 copos de leite
5 ovos inteiros
9 biscoitos tipo maria
3 colheres de açúcar
Para a calda
1 xícara de açúcar
Meio copo de água

Como fazer:

Bater no liqüidificador o leite, os ovos, os biscoitos e o açúcar. Fazer, na própria fôrma de pudim, uma calda mais grossa, espalhando-a bem na vasilha – a calda deve ocupar três dedos da fôrma. Despejar a massa na fôrma e assar o pudim em banho-maria, em forno pré-aquecido (180 graus), durante 40 minutos. Desenformar e deixar esfriar. Pode ser levado à geladeira antes de servir.
Fica igualzim pudim-de-leite-condensado!!!

[Receita fornecida por Norma Barreto da Silva,
de Medina-MG]

Mais receitas típicas de nossas Minas Gerais, selecionadas por região, você tem no imperdível site: Sabores de Minas.

25 maio, 2006

"Caracu com ovo" é delicioso???

O primeiro aparelho de televisão que meu pai comprou foi em 1963!

Lá na pequena Nova Era - banhada pelo Rio Piracicaba, no Vale do Aço - a "modernidade chegou um pouco antes. Pouquíssimas famílias tinham TV e nós, crianças, ficávamos doidos para assistir algum programa e, na maior cara-de-pau, pedíamos aos vizinhos que nos deixassem vem desenhos e até filmes. Hoje, imagino o quanto éramos inoportunos em nossa curiosidade infantil. Tanto assim que os pais nos repreendiam e tentavam controlar nossa falta de senso crítico.

Os próprios adultos, porém, não resistiam e, quando iam buscar os filhos nas casas dos vizinhos, ficavam para assistir ao Repórter Esso, o telejornal emitido pela TV Tupi e retransmitido, em Minas, pela TV Itacolomi.
O Repórter Esso tinha credibilidade total. Seu locutor era o Gontijo Teodoro, que dava "Boa Noite" ao Brasil pontualmente às 20h. Nunca me esqueci do jingle que marcou a propapaganda brasileira:
"Só Esso dá a seu carro o máximo
Só Esso dá a seu carro o máximo
Só Esso dá a seu carro o máximo
Veja o que Esso faz!"
Letra simples, direta, eficaz e uma musiquinha que agarrava nos ouvidos. Como esquecer? Eu até sonhava em ter um carro só para colocar gasolina Esso nele...

Mas foi uma propaganda que eu adorava que me levou a desacreditar das "verdades" do marketing. Era o jingle da Caracu, repetido em todos os intervalos, que eu decorei:
"Vou te ensinar
Um receita
Muito gostosa
E fácil de fazer:
Arranje um ovo
E uma Caracu
E bata no liquidificador
Chá-chá-chá
Caracu com ovo
é delicioso
Caracu com ovo
É delicioso..."

Menino, eu nem tomava cerveja. Mas o desenho animado da propaganda e aquela musiquinha me convenceram. Um dia, insisti com meu pai para fazer a tal receita. Ele argumentou que deveria ser muito ruim, não era coisa para criança, amargava, etc. Mas tanto insisti, ajudado por meus irmãos, que Soié finalmente cedeu. Corri ao bar da esquina, comprei a garrafinha daquela cerveja preta e cheguei ofegante em casa. Meu pai, minha mãe e meus irmãos em torno da mesa, o ovo já esperando! "Ovo cru", eu lembrei. O líquido foi derramado dentro do copo do liquidificador, ajuntamos o ovo e... chá-chá-chá! Cada um com seu canequinho, loucos para provar daquilo que a tv nos convencera de que seria de-li-ci-o-so!
Ninguém conseguiu engolir aquele troço espumante amargo, ruim, gosmento.

Meu pai caiu na gargalhada:
- Não falei? Eu bem disse que não era bom.
Ainda tentei argumentar:
- Mas na televisão fala que é delicioso!
E ele:
- E vocês acreditam em tudo que passa na tv?

Aprendi. E isso me serve de lição até hoje...

24 maio, 2006

Auxilium profligatis contumelia est.

Muita gente se pergunta por que os iraquianos, afegãos e outros povos invadidos pelos norte-americanos, especialmente pelos "Bush boys", reagem agressivamente contra aqueles que se propõem a "ajudar a restaurar a democracia, acabar com a fome e a miséria, melhorar as condições de vida" e outras benesses. E garantir o fornecimento de petróleo, que ninguém aqui é bobo, né?

Sem menosprezar as explicações dadas por especialistas internacionais, sabedores de geopolítica e quejandos, nomeio este post com uma das sentenças de Siro.

- Quem é este Siro?

- PUBLIUS SYRUS(c. 85 - 43 a.C), era poeta latino, escravo em Roma durante sua juventude e, após ser libertado, percorreu diversas vilas da Itália, declamando suas peças burlescas, recheadas de lições de moral. Algumas de suas sentenças se conservaram até hoje.[M.-N. Bouillet, Dictionnaire Universal d’Histoire et de Géographie. Paris: Hachette, 1857, p. 1462].

- Anh!...

Pois bem , o que Siro teria a dizer ao pretenso Senhor do Universo, aquele presidente "bonzinho" do Norte?

- Auxilium profligatis contumelia est!

- Traduza:

- Taqui a tradução para Bush: Help wounds the pride of those whose cause is lost!

- Como dizia meu avô: Ajuda depois da derrota é afronta...

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Dica para quem quer arrumar a companhia ideal até o Dia dos Namorados

Não sei o que tem a vaca a ver com a coisa, ou a coisa a ver com a vaca, mas a notícia saiu no jornal de hoje e repasso. O link é este AQUI.

22 maio, 2006

Pequeno exercício de memória literária

Sempre gostei de ler.

Desde criança, os livros são minha companhia. Em casa, tinha incentivo e exemplo dos meus pais, Soié e Aparecida. O meu tio Ismar me presenteava, volume a volume, com a coleção completa do
Monteiro Lobato, em cujas páginas descobri o Sítio do Pica-pau Amarelo, Dona Benta, Narizinho, Pedrinho, Emília e o impagável Visconde de Sabugosa! Cheguei a ter um porco batizado de Rabicó, cujas carnes deliciosamente temperadas por minha mãe eu saboreei quase chorando!

No Colégio do Caraça, onde fiz o "ginásio", o regulamento era rigoroso, as atividades cronometradas e os momentos de estudo se revezavam com os desejadíssimos "recreios". Havia horário para tudo, inclusive para "leitura livre". Este era o momento em que podíamos ir às estantes da biblioteca e retirar livros de aventura, policiais, literatura, poesia, enciclopédias.

Os mais velhos hão de lembrar do
Tesouro da Juventude, indicado para crianças e adolescentes, provavelmente cheio de referências educacionais da pequena burguesia americana do pós-guerra. Na época, esse tipo de crítica nem passava na minha cabeça. Nunca mais vi seus 18 volumes, encadernados e ilustrados, com capítulos que abordavam temas de ciências naturais, física, literatura infanto-juvenil, curiosidades. Eu adorava a seção "O livro dos porquês"! Por que o barulho do trovão aparece depois que vemos o raio? Por que a água ferve? Por que o iceberg flutua? Por que a lua parece maior perto do horizonte? Lá ia eu viajando em busca de conhecimento. Hoje, talvez, um jovem pesquisaria nas ondas da internet, mas creio que não tem o mesmo frisson dos meus 13 anos.

Li toda a coleção de
Agatha Christie, com crimes e mistérios resolvidos sempre de maneira surpreendente pelo detetive Hercule Poirot.
Devorei quase todos os volumes de Sherlock Holmes, o detetive criado por
Conan Doyle. "Elementar, meu caro Watson" virou expressão minha, também, quando era perguntado sobre algo que meus colegas não sabiam.

Julio Verne e seus livros premonitórios alimentaram meus desejos de me tornar cientista - hoje tanta coisa se realizou, a começar pela viagem à lua e pelas navegações dos submarinos... Sentia-me na pele do Capitão Nemo, viajava pelas profundezas do oceano, temia os tentáculos do imenso polvo que ameaçava o Nautilus.

A adolescência foi passando e me aproximei dos clássicos:
Dostoievski! Quanta emoção ao ler Crime e Castigo. Quanto suspense com Os Irmãos Karamazov!

Machado de Assis
e seus contos abriram as comportas da literatura brasileira. Sem falar no Bras Cubas, Bentinho e sua Capitu... Júlio Ribeiro e o escândalo de A carne me apresentaram a libido, o proibido... Aluísio de Azevedo e seu Ateneu...

Conheci os cronistas
Drummond, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos... Os poetas Drummond e Bandeira; Thiago de Melo e Raul Bopp - quem conhece? Clarice Lispector... ah! bons tempos de descobertas dos meandros da alma humana.

Passei pela fase dos best-sellers:
Morris West e as Sandálias do Pescador, O Advogado do Diabo; Sidney Sheldon... nada de grande literatura, mas o mundo desfilava ali naquelas páginas recheadas de aventuras em lugares exóticos, distantes, cidades que jamais imaginava poder visitar.

A literatura fantástica latino-americana foi uma revolução!
Gabriel Garcia Márquez e sua cidade impossível: Macondo, os Buendía e gerações que se misturavam em Cem Anos de Solidão. Livro de cabeceira, este. Inesquecível!

Daí, foi um pulo só para descobrir
Guimarães Rosa, esse sem-nome de tão impressionante, rico, revolucionário da língua. Rosa me fez mergulhar na minha terra, que pouco conhecia: o sertão, o rio Urucuia, jagunços, Diadorim, Riobaldo: Grande Sertão: Veredas!!! Primeiras Estórias, Tutaméia, os contos, a linguagem inventada, ali, na boca dos personagens: "Minas são muitas".

Já nas décadas de 70 e 80, enquanto cursava Filosofia na UFMG, conheci os clássicos gregos, os filósofos, Édipo Rei... quem sabe aí nasceu minha vocação para a Psiquiatria e a Psicanálise?
Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus, esses existencialistas também "fizeram minha cabeça".

Freud veio depois: descobri "o outro lado", "os porões do inconsciente", os códigos dos sonhos...

Aprendi a evitar os best-sellers. Foi a custo que li as pseudo-revelações do
Código da Vinci: dever de ofício que me divertiu um pouco. Não tem literatura nenhuma ali, já disse isso em um post anterior.

Agora virou filme. Quando passar "a febre", vou lá conferir. Será que vale a pena?

20 maio, 2006

Sábado é dia de...

1. Assistir a ótima palestra do Dr. Jorge Paprocki no Auditório do Conselho Regional de Medicina.
O tema foi:

A entrevista psiquiátrica: o que se deve dizer ao paciente

Paprocki abordou rapidamente a evolução dos conceitos de doença psiquiátrica, os avanços da indústria de psicofármacos, aspectos estatísticos da Depressão e Transtorno Obsessivo Compulsivo. É impressionante o preconceito que ainda dificulta a busca de tratamentos: apenas 10% dos brasileiros podem pagar medicamentos "originais". Os demais 90% dependem de genéricos, similares, manipulados e ... crendices.
Sua opinião sobre a confiabilidade nos divesos tipos de medicamentos oferecidos:
  • medicamentos originais, produzidos por indústrias sérias: crença na seriedade das indústrias - "seriam os melhores, mais confiáveis, porém caros.
  • medicamentos similares: crença na qualidade dos insumos - Paprocki diz: não acredita. Exemplifica: apenas nos países sub-desenvolvidos (ex.: Brasil) existem similares! Se os "asiáticos" falsificam tênis, CDs, aparelhos eletrônicos, por que não falsificariam medicamentos, que é muito mais fácil?
  • medicamentos genéricos: crença nos insumos e na fiscalização da Anvisa: são apenas 1800 fiscais no Brasil para fiscalizar centenas de laboratórios...
  • medicamentos manipulados: Paprocki duvida dos insumos - onde são produzidos? , como testar sua bioequivalência, se cada teste custa, em média R$ 600 mil?, quem fiscaliza? Para ele, só mesmo "crença em Deus". E acrescenta: "não que eu duvide da Divina Providência, mas acho que Êle não está muito preocupado em vigiar e fiscalizar as farmácias de manipulação!".
Pois é, o tema é complexo. Penso cá com meus botões: há controvérsias, há controvérsias...

2. Consertar dois chuveiros elétricos aqui em casa, queimados exatamente num dos dias mais frios do ano! Mas deu tempo: afinal, "homem em casa" serve pra quê?

3. Continuar a leitura do imperdível "Um defeito de cor", da Ana Maria Gonçalves. Uma brevíssima apresentação do livro de 952 páginas está bem aqui. E no MineirasUai! tem comentário feito pela Ana Letícia.

4. Atender telefonema da filhota Ana Letícia, que uma hora dessas está num casamento lá em Santa Bárbara do Oeste-SP! Saudades...

5. Morrer de rir lendo o último post do Soié, meu pai: Ontem e Hoje.

6. Uma namoradinha também, para aquecer corações e lençóis...

18 maio, 2006

Uma noite muito louca

O post de hoje começa assim:

Minha mulher e eu, depois de uma semana de férias no litoral norte do Estado do Rio, resolvemos passar um fim-de-semana em Teresópolis.
Deixamos para trás a baixada fluminense, após derivarmos à direita, na Via Lagos, via Itaboraí, depois Guapimirim, já no entroncamento com a BR-116, no sopé da Serra dos Órgãos. Daí, serpenteamos...

Leia a íntegra aqui : Livros & Afins.

16 maio, 2006

Da violência

A violência é inerente ao ser humano (se não se educa uma inocente criancinha, ela já será insuportável!). Educar talvez seja um ato de violência...

- Anh?
- Lembra-se do "Mal estar na civilização", de Freud?
- Ah! vou ler.
- Tá nas Obras Completas dele, vai lá.

A história da violência (violência = uso da força) se confunde, pois, com a história do ser humano. Já no primeiro livro bíblico, aprendemos que os filhos de Adão e Eva se envolveram numa briga, por ciúmes: Caim, não suportando o que ele interpretou como preferência divina por Abel (já que a fumaça de seus sacrifícios -ao cremar as oferendas- subia em linha reta para o céu) deu cabo de seu único irmão.

Tá bom, isso pode ser apenas uma lenda judaica, mas serve de paradigma: se mesmo os irmãos de sangue brigam e se matam, quem não será capaz matar? Assassinatos ocorrem em nome do amor... Guerreiros executam inimigos em nome da pátria... A polícia mata defendendo a legalidade... A Igreja, o Islã, o Protestante, todos mataram e ainda o fazem em nome da Fé... (Diz-se que as motivações religiosas já foram responsáveis por matanças mais numerosas do que todas as guerras por território!) E matam em nome-de-Deus!

Existem casos de homicídio, parricídio, filicídio, etc. A maioria dos casos de abuso sexual e violência física contra crianças acontece dentro de casa, por uma parente!!!

Quando ficamos com raiva de alguém, dizemos: "Fulano morreu prá mim!", ou seja: Eu o matei

A raiva mobiliza os impulsos agressivos (normais, naturais e necessários à sobrevivência) e há uma identificação com o agressor: prega-se a violência contra o bandido, já que ele é ou foi violento contra a sociedade. Daí a Lei do Talião: "olho por olho, dente por dente".

Para controlar a violência inerente ao ser humano a própria humanidade tem se esforçado desde tempos imemoriais. Na antiga Mesopotâmia, criou-se o primeiro código legislativo de que se tem notícia: o famoso Código de Hamurabi (meu irmão Bonifácio e minha filha Ana Letícia podem dar aulas sobre isso).

Muitos confundem "violência" com "agressividade".
Violência é o uso da força (geralmente o termo é empregado quando se trata de abuso do mais forte sobre o mais fraco - mesmo que seja mais forte psiquicamente (violência psicológica), mais forte porque se tem mais dinheiro, mais forte porque se tem mais poder, mais forte por se sabe mais, mais forte porque se é mais esperto, etc.). A violência é um ato de poder.

Já "agressividade" significa "caminhar com esforço em direção a".
- Como?
- É, vem do Latim: ad+gredere.
- Anh...

Assim, alguém que busca com determinação conquistar determinado objetivo está sendo "agressivo" - no bom sentido.

Pessoas que não exercem sua capacidade de agredir geralmente são frouxas, bananas, não buscam o que querem.
- No bom sentido, né?
- É.

A violência pode ser exercida através de atos agressivos - no mau sentido, agora - mas também pode ser sutil, disfarçada, travestida de bondade. Os psicopatas sabem como fazer isso muito bem.

A civilização humana se erigiu sempre pela violência: guerras de conquistas, espoliação dos vencidos, invasões de territórios, negação dos direitos humanos. Assistimos a "construção" da civilização diariamente nos noticiários. Aprendemos isso, pois este é nosso caldo de cultura.

- Alguém conhece um jeito diferente?
- Difícil.
- Eu também acho.
- Sonhar não custa...
- Tá bom, ciao!

15 maio, 2006

Direto do front

Biajoni escreveu sobre a onda de violência em SP lá no BOMBORDO, diretamente de Limeira-SP. Direto do Front. Repórter "ao vivo"!

14 maio, 2006

Chafurdando, chafurdando...

1. Não é preciso ser a favor do Lula para se escandalizar com a cerrada campanha que a revista Veja anda fazendo contra o Presidente e o PT. A capa da semana passada, com a marca de um pontapé na derrière do Lula, para mim, denota enorme falta de respeito para com qualquer autoridade constituída. O "falso" moralismo de alguns órgãos da imprensa já está enchendo o saco! Políticos que já são velhos conhecidos pelas suas malandragens se arvoram em defensores da lei, bradam contra a corrupção - exatamente os mais corruptos.
Não estou defendendo o atual ocupante do Palácio do Planalto, muito menos seu partido, mas reflito sobre a destituição do "lugar" da autoridade.

Criticar, denunciar, apontar os erros: tudo isso deve ser feito pela imprensa, cuja liberdade é direito constitucional.
Mas o que se vê, por aí, é do mais baixo nível e acaba por banalizar a denúncia e amortecer a indignação.

Há um outro lado da mesma moeda:
Há algo de podre na imprensa, quando as reportagens deixam de ser informativas e se tornam puramente opinativas, caluniadoras, propagadoras de ideologias (de direita ou de esquerda, não importa).
Há jornais que enaltecem o "governante de plantão". Vedem-se por quaisquer 30 dinheiros e elogiam o Governador, o Prefeito, o poderoso. Escondem as falcatruas, elogiam os governantes "da hora", em troca de favores, anúncios oficiais, anistia fiscal, etc.

2. A cidade e o estado de São Paulo estão mergulhados na maior onda de violência comandada pelo crime organizado de que se tem notícia.
Agora, há pouco, os números atualizados indicam que já foram assassinadas 52 pessoas em menos de 48 horas. Sem falar em rebeliões nos presídios do interior. O governador em exercício, Cláudio Lembo, disse que "já sabia que os ataques iriam acontecer".
- Pois é, e por que não alertou a polícia? Hein? Hein?

O ministro da Justiça ofereceu ajuda da Polícia federal. Olhe aqui a resposta:

"O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, descartou neste domingo a ajuda da Polícia Federal para conter a onda de ataques de facções criminosas que aterroriza a população do estado de São Paulo desde sexta-feira. Apesar de terem sido registradas 52 mortes, cem ataques e mais de cinqüenta rebeliões estarem em andamento em São Paulo, o governador disse que a situação está sob controle."

- Se está tudo sob controle, então podemos dormir em paz... enquanto os políticos transformam uma tragédia social em campanha eleitoral.

Argh!

________
UP DATE: o caos piorou hoje, segunda-feira!!! Como disse o Cláudio "Limbo": "tudo sob controle"...

12 maio, 2006

"Um defeito de cor", da Ana Maria Gonçalves

Saibam todos que este post lerem, guardem em suas memórias, acorram às estantes das livrarias, deleitem-se, aprendam, usufruam, degustem, apreciem: será lançado hoje a saga de Kehinde.

- Quem é Kehinde?

- Kehinde nasceu no reino do Daomé, em 1810 e a cena antiga, primordial da qual se lembra é traumática. Abre o livro. Revelar, numa resenha, o que acontece nas primeiras 10 páginas deste livro seria um pecado comparável a revelar o final do melhor thriller. Ela foi violada, foi escrava, foi mãe; foi também preta liberta, pequena capitalista, refugiada, mulher de inglês, dona de padaria, revoltosa com os muçurumins da Bahia de 1835, libertadora de outros pretos, brasileira de volta na África. Ela é o Riobaldo-Diadorim dos subterrâneos da história brasileira do século XIX. Ana contou essa história. (leia mais no Biscoito Fino e a Massa.)

- Quem é Ana?

- Ana Maria Gonçalves é a autora de Um defeito de cor, escritora, poeta, que nos brinda com suas letras e emoções no blog (sim, blogueira, a danada!): 100 Meias Confissões da Aninha. Se o blog é imperdível, que dizer de Um defeito de Cor?
Taí o convite:

É claro que estaremos lá, hoje à noite.

**********
Se não bastasse essa efeméride (êpa!), a última, quase um furo de reportagem, leiam esta comunicação:

Ministério das Relações Exteriores

Assessoria de Imprensa do Gabinete

Palácio Itamaraty

Térreo
Brasília - DF
CEP: 70170-900 Telefones: 0(xx) 61-3411-6160/2/3
Fax: 0(xx) 61-3321-2429
E-mail: imprensa@mre.gov.br

Nota nº 295 - 11/05/2006

Distribuição 22 e 23

Resultado do Concurso Internacional de Monografias Machado de Assis



A Comissão Julgadora do Concurso Internacional de Monografias Machado

de Assis, reunida no último dia 28 de abril em Brasília, anunciou os
nomes dos candidatos premiados. São os seguintes os vencedores, por
ordem de classificação:

- 1º lugar:
Idelber Avelar, "Ritmos do popular no erudito: política e
música em Machado de Assis" (Consulado-Geral em Miami).

Sim, ele mesmo, Idelber Avelar, nosso mineiro em Nova Orleans, blogueiro também, imperador do Biscoito Fino e a Massa.

Mais um motivo para ir à festa da Ana Maria Gonçalves, pois o Idelber estará lá, em corpo e alma. Mais motivos para distribuir meus amplexos (êpa!).

Vamos?
______ooo000)*(000ooo______

UP DATE:

A foto registra o momento em que Ana Maria Gonçalves nos autografa seu livro e nos brinda com uma dedicatória delicadíssima.

Idelber e Ana nos receberam com muito carinho e logo nos sentimos à vontade, entre os amigos que já degustavam uns tira-gostos, uma caninha e uma cervejinha. (Tudo no diminutivo, coisa de mineiro mesmo, que bota um "inhozinho" quando o coração fala alto e as emoções brotam espontaneamente).
"Um defeito de cor" demandou 2 anos de pesquisa, nove meses de escrita e 1 ano e meio de revisão: "de reescrita", diz a Ana. São 952 páginas. Para obra tão bem elaborada, não cabe o "inho": é um livrão!

Idelber, o premiado do Itamaraty, me apresentou o livro que publicou há 2 anos: Alegorias da Derrota: a ficção pós-ditatorial e o trabalho do luto na América Latina. Trata-se de um estudo do luto e da melancolia nas literaturas e culturas latino-americanas pós ditatoriais. Tem muita literatura e psicanálise. Biscoito fino, já viram, né?

Agora, vocês dão uma licencinha que vou ler um pouquinho. Aqui do lado, apesar da hora, tem um pedacim de queijo e um cafezim.
- Aceitam?

07 maio, 2006

Ouro Preto, Livre do Tempo

Ouro Preto fala com a gente
de um modo novo, diferente.

Outras cidades se retraem
no ato primeiro da visita.
Depois desnudam-se, confiantes,
e seus segredos se oferecem
como café coado na hora.

Há mesmo cidades, sensuais,
concentradas na espera ansiosa
de quem, macho, logo as domine.
Abrem-se as portas de tal modo
que são coxas, braços abertos.

Em Ouro Preto, redolente,
vaga um remoto estar-presente.

Há em Ouro Preto, escondida,
uma cidade além-cidade.
Não adianta correr as ruas
e pontes, morros, sacristias,
se não houver total entrega.

Entrega mansa de turista
que de ser turista se esqueça.

Entrega humílima de poeta
que renuncie ao vão discurso
de nomes-cor, palavras-éter.

A hera e a era, gravemente,
aqui se apagam, na corrente.

De nada servem manuscritos
de verdade amarelecida.
Não é lendo nem pesquisando
que se penetra a ouropretana
alma absconsa, livre do tempo.

É deixando correr as horas
e, das horas no esquecimento,
escravizar-se todo à magia
que se impregna, muda, no espaço
e no rosto imóvel das coisas.

Pois tudo aqui é simplesmente
lucilação do transcendente.

A metafísica tristeza
que rói as vestes do passado
desaparece ante a serena
sublimação de todo crime,
lance heróico e lance romântico.

Ouro Preto, a se desprender
da sua história e cincunstância,
é agora ser de beleza,
completo em si, de todo imune
ao que lhe inflija o ser humano.

A ruína ameaça inutilmente
essa idéia não contingente.

Quem entende Ouro Preto sabe
o que em linguagem não se exprime
senão por alusivos códigos,
e que pousa em suas ladeiras
como o leve roçar de um pássaro.

Ouro Preto, mais que lugar
sujeito à lei de finitude,
torna-se alado pensamento
que de pedra e talha se eleva
à gozosa esfera dos anjos.

Ouro Preto bole com a gente.
É um bulir novo, diferente.

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Poema de Carlos Drummond de Andrade
Fotos: Cláudio Costa

05 maio, 2006

Pernas pro ar...

De hoje a domingo, o distinto aqui e sua consorte (êpa!) estarão em Ouro Preto, no Solar do Rosário...
Curtiremos, curtiremos...
Até!

04 maio, 2006

Memória x repressão x poesia

Meu post de hoje:

Lembrei-me agora de como fui me despertando para o mundo simbólico da poesia. Não aquela poesia "escolar" aprendida no Grupo Escolar Desembargador Drummond, lá de Nova Era, terrinha mineira e simpática às margens do Rio Piracicaba...não. Falo de quando minha cabeça foi se abrindo... [leia o texto integral no Livros & Afins]