28 janeiro, 2008

Trem bão

Eu ia fazer um post sobre nosso (Amélia, Ana, o carioca Alex e eu) passeio de Maria-Fumaça: Tiradentes-São João d'el Rei-Tiradentes.
Mas a descrição poético-onírica da Ana já disse tudo.
Corram lá.

25 janeiro, 2008

Visitar Tiradentes-MG, nas férias de janeiro, virou um hábito.
No final deste mês acontece a 11a. Mostra de Cinema, durante a qual são exibidos mais de 120 filmes, entre longas e curtas, além de vídeos e oficinas de arte.
A cidade barroca se torna destino de centenas ou milhares de pessoas, que acorrem do Brasil inteiro. Não chega a ser uma invasão de bárbaros (esta acontece no Carnaval e na Semana Santa), o que torna a estadia uma oportunidade de viver cultura, enquanto nossos olhos passeiam pelos telhados e paisagens coloniais, palmilhamos vielas tortuosas, num ambiente que nos transporta ao século XVIII.

É impossível deixar de imaginar os habitantes daquela época, senhores e escravos, senhoras e senhorinhas, garimpeiros, tropeiros, religiosos, beatas, fiscais da Coroa Portuguesa, conspiradores. Cada rua, agora iluminada pela energia elétrica, outrora escondia desvãos obscuros, becos surpreendentes, janelas indiscretas e dissimuladas pelas cortinas e venezianas.Telhados coloniais e a Serra de São José, vistos da varanda de nosso apartamento.
Foto by Cláudio Costa

Amélia e eu já estamos aqui desde quarta-feira, impregnados de história, assistindo a tudo quanto é filme (a programação é totalmente gratuita).

Os filmes são exibidos na Tenda, um imenso auditório de lona, com ar condicionado, 700 lugares assentados, tela e som de primeiríssima qualidade ou na Praça (Largo das Forras), também com cadeiras confortáveis e todo aparato tecnológico. A iluminação do entorno é desligada e ao povo da cidade se juntam os turistas e os participantes da mostra (diretores, técnicos, atores, estudantes de cinema e cinéfilos em geral). O local se torna um verdadeiro cinema à la belle étoile, como dizem os franceses. O silêncio durante as exibições é sagrado. Ao final, cada um vota de acordo com o próprio gosto. Os votos serão computados para a premiação na Final da Mostra, que será amanhã, às 22h. Ou seja, o juri é totalmente popular.
Rua Direita, famosa pela vida noturna, restaurantes sofisticados e bem decorados.
Foto by Cláudio Costa.

Daqui a pouco, nossa filhota Ana Letícia vai chegar. Teremos sua companhia para curtir os últimos momentos de mais um passeio pelas Minas Gerais.
Se a alguns pode parecer puro bairrismo, saibam todos que as belezas e encantos da cidade conquistam a todos. É impressionante a quantidade de paulistas, cariocas, gente do nordeste e do sul, sem falar nos gringos, que se admiram a preservação histórica e o riquíssimo artesanato local.


Ano que vem nos encontraremos aqui.

22 janeiro, 2008

Cor - Sabor - Textura: Iguaria

Um bolo de cenouras é trivial, simples, fácil de se fazer, gostoso, nutritivo e pode ser encontrado em confeitarias e padarias. A cobertura de chocolate dá-lhe aspecto especial e um sabor que combina muito bem.



Mas...



Mas Amélia não é deste mundo e conseguiu transformá-lo em iguaria quase divina.



À massa de cenoura ralada, ovos, óleo de canola, açucar, farinha de trigo, fermento-em-pó e uma pitada de sal, Amélia acrescentou nozes, castanhas, damascos, ameixas pretas, uvas-passas brancas e pretas, além de frutas cristalizadas.

A cobertura foi feita com chocolate amargo (cacau em pó) e leite desnatado com uma pitada de açucar. Depois, enfeitou, num exercício quase barroco. Cores, sabores, texturas, aromas: um amálgama que encantou nossos olhos, despertou as papilas gustativas, ativou memórias afetivas e nos transportou ao êxtase:


[Se você não teme ser tachado de maluco, aspire o aroma que exala da tela de seu monitor e dê uma mordida. Pode servir-se de mais um pedaço, não se acanhe. Afinal, internet não é 'vida virtual'? Não há aqueles que se contentam até mesmo com namoros e sexo on line?]


Desminta-me, se for capaz.


Mais fotos, AQUI.


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Lembrete: Chapéu Panamá, a nova guarda do samba, banda em que tocam nossos filhotes Ângelo e Leo, vai aparecer na TV. Domingo 27-01, 15,30h, TV MINAS/CULTURA, programa Feira Moderna (Show completo!):

Clique na imagem para conhecer a banda.

20 janeiro, 2008

Uma tarde em Ouro Preto



Casario colonial em Ouro Preto-MG. (foto by clcosta)

Visitar Ouro Preto-MG é experiência singular e provoca emoções estéticas que motivam poetas, escritores, pintores, compositores e artistas de todo gênero. Embora não me enquadre em nenhuma dessas categorias, experimento igualmente emoções várias, à medida que subo e desço ladeiras, em meio ao casario colonial.
Desta feita, Amélia e eu, mais o filhote Ângelo, passamos uma tarde na antiga Vila Rica. Foi num impulso a decisão. Eram 11h da manhã de quarta-feira e pensávamos o que fazer para o almoço. Amélia sugeriu: Vamos almoçar em Ouro Preto? Não pensei duas vezes:
Vamos!

O Ângelo, que acabara de acordar, aceitou o convite e, num minuto, subíamos a Av. Raja Gabaglia em direção à BR-40, BH-Rio. Pouco mais e já estávamos no trevo de Alphaville. Daí a Ouro Preto a rodovia serpenteia por encaracoladas serras, como diria um antigo professor de literatura.

O caminho é parte da Estrada Real e bordeja lugares históricos que moldaram o espírito dos habitantes da Província das Minas Geraes: Itabirito, Cachoeira do Campo, Santo Antônio do Leite, Glaura... é uma viagem pela Inconfidência Mineira, pelas trilhas dos bandeirantes, pelas minas de ouro e minério de ferro que fizeram e ainda fazem a riqueza de poucos.

Decidimos almoçar mais tarde e fizemos um lanche revigorante: empadas de peito de frango com queijo catupiry e com palmito, além do tradicional pão-de-queijo.

Logo surge a entrada para Santo Antônio do Leite, lugarejo simpático, bem ali, pertinho. Dobramos à direita, não custava nada. Visitamos o Capricho Asturiano, famosa pousada do espanhol Manuel Noriega, com quem conversamos rapidamente. Somos atraídos por uma igrejinha recém-pintada, cartão-postal típico do interior, a capela de São José, em Gouveia:

Capela de São José, em Gouveia, próximo a Ouro Preto-MG (foto: clcosta)

Já em Ouro Preto, estacionamos próximo à igreja do Carmo. Visitamos, então, o Museu do Oratório, no qual se explicita a religiosidade doméstica e peregrina dos séculos XVII e XVIII. O acervo foi coletado e doado pela família Gutierrez, proprietária da famosa construtora Andrade-Gutierrez e idealizado pela filha do patriarca, Ângela Gutierrez.

A igreja do Carmo, imponente sobre a pequena elevação que tem o Museu da Inconfidência voltado para a Praça Tiradentes, é impressionante pela arquitetura barroca, com elementos estrangeiros pouco comuns: pedras italianas, azulejos portugueses e afrescos franceses. Não há aquela típica profusão de dourados, mais comuns ao estilo rococó, o que propicia ambiente místico e contemplativo:

Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Ouro Preto-MG (foto: clcosta)

A natureza se impôs e buscamos o Relicário 1800, restaurante tradicional, que funciona há 38 anos sob a batuta da família de D. Firmina, dublê de marchand e chef. Ocupa, literalmente, as instalações de antiga senzala, cujas paredes de pedra-à-vista são recobertas de obras de arte, pinturas, esculturas e artesanato:

Escada de acesso ao Restaurante Relicário 1800, em Ouro Preto-MG. (Foto by clcosta)

O cardápio é variado mas qual mineiro recusa um frango-com-quiabo-e-angu? A entrada, mineiríssima: mandioca frita e linguiça de lombo.

No restaurante, deparei-me com uma belíssima obra do José Assunção, que morou e trabalhou em minha terra, Nova Era-MG. Conheci-o pessoalmente: era barbeiro (cabelereiro), até que sofreu um acidente e mudou-se para Itabira-MG. Faleceu há mais ou menos 5 anos e ficou famoso como uma das expressões da pintura primitiva, ou naïve (naïf):

Pintura de José Assunção, meu conhecido de Nova Era-MG (foto by clcosta)

O sol ainda derramava seu calor e sua luminosidade sobre a terra, convidando-nos a permanecer na Vila Rica colonial. Descemos a Rua Direita, dobramos a primeira esquina e caminhamos até a Igreja de Nossa Senhora do Rosário: Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto-MG (foto by Ângelo)

Ao crepúsculo, em foto do Ângelo, Amélia e eu nos despedimos desta viagem ao passado histórico das Minas Geraes. Algumas horas, apenas, em Ouro Preto e voltamos revigorados à metrópole.

____________Clique nas fotos e entre no álbum.

06 janeiro, 2008

Churrasqueiro de primeira viagem

Dia desses, em companhia da Amélia e da AnaLetícia, caminhava pela orla da Lagoa da Pampulha quando fomos atraídos pela exposição de uma dezena de minichurrasqueiras. Estavam enfileiradas na calçada mesmo. Ao lado, um sujeito com cara de bon vivant descansava numa cadeira de praia (ou de "beira de lagoa", já que Minas não tem mar). Outros caminhantes seguiam em frente, acompanhados pelo homem com um olhar de soslaio, bem despistado. Era o vendedor que, depois, se nos apresentou como o próprio fabricante.

Amélia e Ana se cutucaram (coisa de mineiro), adivinhando meu interesse denunciado pela diminuição do ritmo da caminhada. A troca de olhares entre elas era mais eloquente que o diálogo que imaginei:
- Olha o pai querendo comprar a churrasqueira!
- Ele sempre quis, mas nem sabe fazer churrasco!
- Nem gosta tanto, né?
- Aposto que ele vai lá ver de perto.

Num instante, atravessei a Av. Otacílio Negrão de Lima -aprazíveis 18km que circundam a lagoa- e já perguntava ao tal homem como era aquilo, como funcionava, quanto gastava de carvão, se podia colocar na varanda do apartamento, o material com que era fabricado, etc.
O sujeito se empolgou, explicou tudim, tim-tim por tim-tim, não perdeu a paciência e garantiu a qualidade do produto com um argumento sólido:

- Sou eu mesmo que fabrico. É chapa de aço de 1mm, não dá fumaça, não enferruja, o calor dura até 12h sem precisar trocar o carvão, a pintura é resistente ao calor, pode levar que o senhor vai ficar satisfeito. Só aqui na região da Pampulha já vendi mais de duzentas. Leva lá pra sua mulher ver.
Carreguei a menorzinha.
Repeti o discurso do vendedor-fabricante, enquanto as duas faziam mil perguntas. Ana se empolgou primeiro. Amélia foi cedendo e terminou me incentivando a comprar:
- A gente pode por na varanda. Pra pouca gente vai ser a conta e não precisaremos ir para a churrasqueira grande do prédio.

Após regatear, tornei-me o mais novo proprietário de uma minichurrasqueira, sonhando com uma costelinha no abafo e coisas que tais.
A estréia foi imediata. Tão logo chegamos em casa, entronizamos o aparelho numa posição estratégica e começou a odisséia: afinal, como é mesmo que se acende o carvão da churrasqueira?

Os experts em churrascologia em geral e os gaúchos em particular podem rir e debochar, mas só Deus sabe como apanhei até obter o ponto certo de assar a carne e ter certeza de que, finalmente, comeríamos churrasco.


Daí pra frente, só alegria: o churrasco teve acompanhamento de umas geladíssimas Terezópolis e nacos de ciabata. Foi nosso almoço de domingo.



Amélia se lembrou de que tínhamos algumas bananas "caboclas", dadas pela tia Nhanhá, lá de Santa Maria de Itabira. Foram assadas ali mesmo, na churrasqueirinha e num minuto tínhamos a mais maravilhosa das sobremesas: banana assada com açucar, canela e sorvete!
Virou festa:
Agora que aprendi, posso convidar:
- Aceita?
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