29 junho, 2005

Apontamentos para uma discussão sobre o Amor - IV

Ciúmes, mais ainda:

Há algum tempo fiz um
post sobre ciúmes, que gerou o maior número de comentários do Pras Cabeças.
Realmente, o tema é fonte de inesgotáveis discussões, mobiliza a criatividade de grande parte dos artistas, divide opiniões.

Se alguns consideram que o sentimento de ciúme é prova de amor - "quem ama teme perder o objeto amado e zela pela sua conservação" - por outro lado, os que o experimentam e os alvo deste sentimento sofrem terrivelmente.

Naquele post, entre outras coisas, escrevi:

Os ciúmes podem ser decompostos em três sentimentos básicos que se manifestam em condutas correspondentes:

a) Insegurança: baixa de auto-estima e conseqüente medo de não ser amado, ansiedade, sentimento de posse e necessidade de controle. O ciumento se torna possessivo e cada vez mais insuportável ao outro. Cava sua própria desgraça!

b) Inveja: quero que meu (minha) amado(a) não dê a outrem o que julgo ser somente meu; não tolero ver outra pessoa receber o carinho, o afeto, o olhar daquele(a) que amo!

c) Raiva: odeio meu amado (minha amada) quando não faz aquilo que eu desejo. Odeio também quem recebe a atenção que deveria ser somente para mim. E meu ódio me leva à agressividade: tenho de destruir ambos: meu objeto de amor – que agora odeio – e o intruso – usurpador do meu bem e causa minha perda!

Há casos ainda mais graves:
Na Psiquiatria, há uma categoria diagnóstica denominada "Ciúme Mórbido ou Patológico", caracterizada por "vários sentimentos perturbadores, desproporcionais e absurdos, os quais determinam comportamentos inaceitáveis ou bizarros. Esses sentimentos envolveriam um medo desproporcional de perder o parceiro(a) para um(a) rival, desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no relacionamento interpessoal."

Há ciumentos que sofrem até pelo passado das pessoas que amam, pesquisando fotos, cartas, restos de lembranças. Assaltam as gavetas e os guardados, tentam decifrar nas conversas de parentes quaisquer referências a antigas paixões. Infernizam a vida do(a) parceiro(a), querendo detalhes sobre a vida afetiva prévia, lugares, posições, carícias preferidas, etc.
Ou seja: um mundo de sofrimento, angústia, desentendimentos, determinado pela "sombra monstruosa do ciúme" (Caetano Veloso, O Ciúme).

Os casos de ciúme patológico geralmente evoluem para tragédias, uma vez que seus portadores provavelmente têm um Transtorno de Personalidade subjacente:
  • Personalidade paranóide: A característica essencial deste distúrbio é uma tendência global e injustificável para interpretar as ações das pessoas como deliberadamente humilhantes ou ameaçadoras. Tem normalmente início no final da adolescência ou no começo da idade adulta. Quase invariavelmente há uma crença de estar sendo explorado ou prejudicado pelos outros de alguma forma e, por causa disso, a lealdade e fidelidade das pessoas estão sendo sempre questionadas. Muitas vezes o portador deste Transtorno é patologicamente ciumento e questionador da fidelidade do cônjuge, ao ponto de causar situações francamente constrangedoras.
  • Personalidade obsessiva: Há, neste Transtorno de Personalidade, um padrão generalizado de perfeccionismo e inflexibilidade. As pessoas assim preocupam-se com a observância das normas, das regras, com a organização e com os detalhes. Normalmente são escravizados pelo simétrico, pelo limpo e pela ordem das coisas, desde a arrumação de seus pertences pessoais (guarda-roupas, gavetas, mesas), até a organização extremamente cuidadosa de coisas relacionadas à ocupação e profissão.
Outra situação muito propícia ao ciúme mórbido ou patológico é o alcoolismo crônico, quando toma a forma de delírio celotípico:
  • o alcoolista, já com manifestações deliróides e alucinose alcoólica, passa a desconfiar absurdamente do cônjuge, fantasiando situações, interpretando fatos corriqueiros (telefonemas, pedaços de papel jogados no lixo, olhares na rua) como provas irrefutáveis de que estão sendo traídos. (Freud chega a falar de uma identificação do ciumento com o parceiro e um desejo inconsciente de estar em seu lugar(!), denotando uma tendência homossexual (!) - depois a gente fala disso).

Pois bem:
Amanhã, quinta-30/jun, às 10h da manhã, darei uma entrevista na
Rádio Itatiaia (FM 95,7/610 AM) sobre Ciúmes, em especial sobre Ciúme Mórbido ou Patológico.
Oiçam! (o programa "Rádio Vivo" é transmitido via satélite e online).

27 junho, 2005

Mais importante que o fato é sua versão?

Karl Kraus: De que maneira o mundo é governado e como começam as guerras? Diplomatas contam mentiras para os jornalistas e passam a nelas acreditar quando as lêem na imprensa.

  • Pois eu mesmo digo:
De que maneira o Brasil é governado e como começam as desesperanças?
Picaretas e corruptos contam mentiras para os jornalistas e passam a nelas acreditar quando as lêem na imprensa.

26 junho, 2005

A CPI da novela (!) ou: Brazilians, go home!

Tõ sabendo que existem quase 24 mil brasileiros presos - na cadeia! - lá na América (como a Rede Globo chama os States). Deslumbrados do Brasil estão entrando pelo cano e vendo o sol nascer quadrado. Daqui de Minas, a maioria sai da região leste: Governador Valadares e adjacências. Surpreendeu-me que, depois de Minas, o maior número de emigrantes sai da região de Criciúma-SC. Por que? Não faço a menor idéia.
Além de caírem na ratoeira quando tentam atravessar a fronteira vindos do México, muitos cometem delitos mais ou menos graves e... zás! o policeman dá o bote! Pelo menos estão comendo de graça, será? Ou têm de pagar a "hospedagem" quando retornarem em vôos fretados dos USA direto prá Confins?
Vejam o que li, aqui:
Um dos motivos apontados para o boom de brasileiros nos Estados Unidos é a baixa do dólar
e a novela América, exibida pela Rede Globo, que trata da emigração de brasileiros para os EUA.
Por isso mesmo, a autora folhetim, Glória Perez, será ouvida nos próximos dias pela

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) que apura a
ida de brasileiros para o exterior, principalmente para a terra do Tio Sam.
O sonho de fazer a América anima muita gente a sacrificar tudo e emigrar, buscando no Império do Norte a saída da miséria. Aqui em Belo Horizonte, segundo dizem, a fila para conseguir passaporte está cheia de analfabetos. Sim, analfabetos que utilizam a impressão digital. Dá pra acreditar? Segundo o delegado da Polícia Federal de Belo Horizonte, o povo acorreu às filas depois que circulou um boato, falando que "vai sair uma lei nos Estados Unidos condicionando a entrada, lá, apenas aos portadores de diploma universitário!
Segundo o último levantamento fornecido pelo Ministério das Relações Exteriores, em março, a distribuição de brasileiros por jurisdição consular do Brasil nos Estados Unidos é a seguinte
Consulado em São Francisco
Abrange os estados do Alaska, Washington, Oregon, Califórnia e Havaí
30 mil brasileiros sendo 5 mil regulares e 25 mil irregulares
Consulado em Los Angeles
Montana, Idaho, Wyoming, Nevada, Utah, Califórnia e Arizona
40 mil brasileiros sendo 20 mil regulares e 20 mil irregulares
Consulado em Houston
Colorado, Kansas, Novo México, Oklahoma, Arkansas, Texas e Louisiana
300 mil brasileiros 100 mil regulares e 200 mil irregulares
Consulado em Chicago
Dakota do Norte, Minnesota, Wisconsin, Michigan, Dakota do Sul, Iowa, Illinois, Indiana, Nebraska e Missouri
12 mil brasileiros 9 mil regulares e 3 mil irregulares
Consulado em Miami
Tennessee, Carolina do Norte, Mississippi, Alabama, Georgia, Carolina do Sul e Flórida
150 mil brasileiros 75 mil regulares e 75 mil irregulares
Embaixada em Washington
Ohio, Virgínia Ocidental, Maryland, Virgínia e Kentucky
44 mil brasileiros todos regulares
Consulado em Nova York
Nova York, Pensilvânia, Nova Jersey e Delaware
350 mil brasileiros 105 mil regulares e 245 mil irregulares
Consulado em Boston
Maine, New Hampshire, Vermont, Massachusetts e Rhode Island
225 mil brasileiros 45 mil regulares e 180 mil irregulares

A Torre ou o shopping sem sacolas

No próximo dia 21 de julho será inaugurado o Alta Vista Center Class, um complexo destinado ao turismo, lazer, centro de convenções, mirante, livraria e até cursinho pré-vestibular.
O cenário já está dominado por uma torre de 82 metros, no alto do Belvedere, caminho da vizinha Nova Lima. Pretende-se que seja um grande atrativo para incrementar o turismo em Belo Horizonte, já que não temos mar (oh! dor-de-cotovelo dos mineiros...), não temos neve nem terremotos, nem tsunami (toc-toc-toc). O negócio, que exigiu, investimento de R$ 50 milhões de empresários mineiros que formaram a Asti Empreendimentos, vai além da torre. Os pontos destinados a restaurantes, cafés, choperias, boate, livraria, lojas de apoio, centro de eventos, pré-vestibular e cinemas ficam no prédio de quatro pavimentos, em L, localizado atrás da torre. Uma das seis salas de cinema da Cineart será vip, entrada privativa, com poltronas largas, mesas de apoio e uísque no cardápio!
Há atrações para todos os gostos: desde Hard Rock Café até Leitura Megastore.
Um dos incorporadores do Alta Vista disse:
“Não é um shopping, de onde as pessoas vão sair com sacolas. É um centro de consumo do qual se sai sem sacolas, feliz”.
Taí o grande lance: promessa e venda de felicidade, eis o sonho de consumo que orienta o marketing pós-moderno. Não nos oferecem aquilo de que precisamos: dão-nos, logo, a felicidade!!!
Bom, pelo menos é um lugar para se divertir.
Como adoro montanhas, já sei que vou dar uma passadinha lá na torre, alugar um daqueles binóculos e vasculhar a Serra da Moeda, a Serra do Caraça, a Serra da Piedade, a cidade que se derrama lá em baixo, vales e montanhas de Minas...
Depois, já que ninguém é de ferro, comer massas italianas regadas a um bom vinho
no Storica Fiorentina (pizzaria) ou na Cantina Masseria.
Com os amigos que curtem boa música, estaremos no
Espaço cultural Clube da Esquina - clube com café, bar e espaço para shows.
Ou seja, mesmo sem mar, a gente se diverte (enquanto durar a grana).
Boa semana!

25 junho, 2005

"A verdade é a buscadela" - João Guimarães Rosa

João Paulo Cunha é o Editor de Cultura do Caderno Pensar, do Estado de Minas. Hoje, entre outras reflexões, publicou:

"O teatro de horrores que tomou conta da sociedade brasileira nas últimas semanas tem como pano de fundo a questão da verdade e da mentira. Mais do que isso: da necessidade de se dizer a verdade e evitar a mentira quando se trata de interesse coletivo. De tal maneira se borraram as distinções entre público e privado, que o valor da verdade ficou solto, pendendo ora para os interesses pessoais (até os mais inconfessáveis são hoje confessados com certo orgulho), ora para a reafirmação de uma arena responsável de interesses sociais. Nesse palco, os meios de comunicação, muitas vezes, prestam um desserviço, ao valorizarem mais o que desvia do que aquilo que corrige.

A polêmica não é nova. Kant e Benjamin Constant travaram um debate sobre o direito de mentir por razões humanitárias, em pleno furacão do iluminismo. Do debate entre os dois, defensores com o mesmo fervor do credo universalista da razão, somadas as contribuições de Rousseau e Schopenhauer, nasceu uma corrente rica de reflexão sobre direito, ética e moralidade. Kant era radical em seu imperativo moral: em absolutamente todas as situações deve-se falar a verdade. Já Constant, acreditava que por razões, como as filantrópicas, é possível se pensar em um certo direito de mentir. Kant achava que garantir estatuto de racionalidade à mentira era abandonar a civilização em nome da barbárie. Constant apelava para outros valores de civilização para entender a emergência da mentira, em alguns casos, como imperativo de outra forma de justiça.

O que escapa a esse debate hoje é o nível dos debatedores e das verdades e mentiras em jogo. Os filósofos do esclarecimento falavam de um homem reto e de um jogo público afeito às regras e aos contratos. Hoje, nosso horizonte de falsidade foge a todas as regras. O filósofo da mentira é Roberto Jefferson, capaz de se portar como arauto da verdade, apenas porque afirma, com requintes de detalhes, que sua mentira é mais honesta pelo fato de apresentar de forma deslavada.

O resultado social do que a sociedade brasileira vem acompanhando é grave. O desmonte da moralidade da política parece dar operacionalidade à alienação que sempre rondou uma sociedade patrimonialista como a nossa. Num terreno em que os valores públicos se desmancham nas mãos indecentes e concupiscentes dos novos heróis da amoralidade, a credibilidade das instituições vaza pelo ralo. Para quem achava “que todo político é ladrão”, a situação presente não instiga à revolta, mas ao abandono. Como num jogo do já sabido, a corrupção é dada uma variável humana da qual, no máximo, só se pode querer distância."

- Ou isso ou a barbárie.

21 junho, 2005

Apontamentos para uma discussão sobre o Amor - III

"O amor pode queimar?"

Maria Cleonice - é assim que gosta de ser chamada, pois "os nomes duplos inspiram nobreza"- acordou bem disposta. Bonita, suave, de olhos azuis, ajeitou o cabelo, caprichou na maquiagem, borrifou um pouco de Poison nas curvas de seu pescoço e no colo bem feito. Os 41 anos não lhe cobram quase nada.
Feliz? Pode-se dizer que sim, embora o ex-noivo, Antônio, ainda a faça suspirar um pouco, quando as boas recordações avivam a libido. De verdade, nunca se afastaram, pois, embora casado com Vanessa, o moço é seu colega de escritório. Além disso, mantêm explícita amizade e, para espanto de uns e admiração de outros, Maria Cleonice é íntima do casal - coisa dos tempos modernos.
Às nove, suavemente envolta pela fragância venenosa do perfume, ela está diante do ex-noivo que, mais uma vez, solicita-lhe visita a um cliente, na vizinha cidade de Santa Luzia:
- Não sei se é possível, Tonico, meu carro está na oficina.
- Pois lhe empresto o meu, vá no Corsa.
...
Lá pelas onze, Antônio explica isso à Vanessa. No trajeto para casa, tomada por um ciúme medrado insidiosamente nos últimos tempos, demonstra-lhe desagrado:
- Benzinho, essa mulherzinha já tá abusando, você não acha? Tá sempre arrumando desculpa para ficar perto de você e, agora, nosso carro está com ela! Estou me segurando, não é de hoje!
Antônio evitava qualquer discussão. Contemporizou:
- Ah! meu amor... tá bom, tá bom, não vou dar mais colher de chá, você sabe que te amo!
A tempestade quase fora adiada se não tocasse o celular. Era Maria Cleonice:
- Oi, meu Tonico, passo na sua casa, devolvo o carro e almoço com vocês.
Indeciso entre não desagradar à mulher e à ex-noiva, passa o telefone à Vanessa:
- Você decide.
- Olhaqui, sua noivinha frustrada, fique no seu lugar, vê se desconfia e dá um tempo!
...
Às 16,32, o porteiro do prédio de Antônio e Vanessa abre o portão para o Corsa do 504. Bonita, suave, de olhos azuis, Maria Cleonice ajeita o cabelo:
- O carro já está na vaga, Feliz Natal!
...
A fumaça toma conta do ambiente. Espessa e negra, provém da garagem. Os bombeiros são chamados.
Maria Cleonice comemorara o Natal incendiando o "corsinha do Tonico".
- O fogo se alastrou, não foi minha culpa. Não queria queimar os outros cinco carros, lamentou.
Bonita, suave, de olhos azuis...

[republicação]

19 junho, 2005

Apontamentos para uma discussão sobre o Amor - II

Dos meus tempos de criança, lembro-me de um hino religioso que começava assim:
- "Prova de amor maior não há do que dar a vida pelo irmão".
Matutava com meus botões:

- "Como pode alguém dar a vida por uma outra pessoa, a não ser mesmo o Cristo?"

Anos mais tarde, numa leitura de Françoise Dolto, psicanalista francesa, deparo-me com sua descrição das diversas categorias do amor, a partir da teoria freudiana. Françoise, entretanto, acrescentou uma outra possibilidade, para além do amor genital: o amor oblativo, de oblação: um tipo de amor que se caracteriza pela doação incondicional, sem desejo de reciprocidade. Ah! pensei, é como doar a vida por alguém...

Em 11 de setembro de 2001, enquanto desmoronavam as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York, exatamente no mesmo horário, um milagre de amor oblativo acontecia aqui mesmo em Belo Horizonte:

Meu irmão, José Bonifácio, doava-me um de seus rins para que eu me curasse da insuficiência renal crônica que me consumia!

Os versos daquele hino e a descrição do amor oblativo se concretizaram diante de mim: Boni é a prova de que existe, sim, um amor desinteressado, enorme, inconmensurável, impossível de se retribuir na medida exata da grandeza do doador! Qualquer palavra que eu diga será insuficiente, pequena, insignificante...

Essas lembranças me assaltaram hoje, pela manhã, ao ler a crônica de Affonso Romano de Sant'anna, da qual transcrevo um trecho, para compartilhar com vocês. Utilizei o ctrl+c/ctrl+v sem pejo:

E se você, garotão, tivesse nascido diabético e, por causa disso, na adolescência, descobrisse que estava ficando impotente, e que isso iria acarretar uma série de constrangimentos ao começar o flerte com uma garota…

E se você, por causa da diabetes e porque sendo jovem, continuasse a viver todos os prazeres nas praias e festas, bebendo, fumando até que, de repente, aos 21 anos a cegueira desabasse sobre você, subitamente...

E se você, além de diabético e de ficar cego, um dia estivesse na garupa de uma moto e sofresse um acidente com fratura exposta, que lhe botasse de cama muito tempo…

E se você, diabético, cego, fraturado, acabasse, lá pelas tantas, tendo que fazer um inevitável transplante de pâncreas…

E, como se não bastasse, daí a pouco tivesse que fazer um transplante de rim.

Se você fosse assim, se eu fosse assim, teríamos todas as razões para dizer fiquem aí com esse mundo de Deus-e-do-diabo, estou tirando o time, desse jeito não dá para jogar nem na defesa nem no ataque.

Mas não foi isso que aconteceu com Marco Antônio Queirós. Ao contrário de Dalida, aquela ex-miss Egito, linda e rica, que sem nenhum desses problemas resolveu se matar, MAQ, como seus amigos o chamam, virou excelente técnico em informática, casou-se com Sônia, teve o filho Tadzo, é dono de um humor inacreditável, uma juventude permanente nos seus quarenta e tantos anos e, diria, é uma pessoa mais feliz que 80% das que conheço. É ver para crer: entrem no site que ele preparou: Bengala Legal - e vocês terão uma idéia do que digo.

Depois, leiam o livro que ele acaba de lançar, Sopro no corpo (Editora Rima Especial). E como sei que a distribuição de livros é problemática, dou o telefone e o endereço da editora: (16) 3372-5269.

Agora lhes pergunto:
- Amor de oblação e amor pela vida, existem ou não?

16 junho, 2005

Apontamentos para uma discussão sobre o Amor - I

Passou-se o dia dos Namorados, ficaram para trás os apelos emocionais do comércio, os corações cor-de-rosa já não enfeitam as vitrines. A mídia insistiu em realçar o amor romântico, portanto idealizado. Nos blogs – inclusive neste aqui – muito se escreveu sobre o tema, com declarações de amor, etc.
Daqui a pouco se falará do amor pelo pai (agosto já está próximo), do amor universal (Natal e Ano Novo), amor sexual (carnaval), amor pelo chocolate (!) na Páscoa, pelas mães em maio... o business não pode parar! No fundo, acho que se trata de uma apropriação indevida deste sentimento que chamamos “amor”.

Afinal, que é o amor?

Antes de tudo, trata-se de uma impossibilidade, definir o tema de quase todos os poemas, músicas, teatro, óperas... de quase toda Arte!

Se a Psicanálise freudiana fundamenta os sentimentos de amor (relações de objeto, no jargão freudiano) nas relações libidinais (erotismo, segundo Freud), há outras abordagens possíveis, mesmo entre psicanalistas.
Estudiosos do comportamento buscam mapear as modificações cerebrais desencadeadas por estímulos estímulos excitantes, reduzindo o sentimento amoroso a percepções sutis do odor dos ferormônios e reações bioquímicas intermediadas por neurotransmissores, que seriam vivenciadas pelo sujeito como sentimento amoroso. Ou seja, reduzem o amor a reações biológicas – que existem, é claro.

O pensamento biologicista pode levar ao desprezo da história pessoal de cada um, fundada nas experiências relacionais da primeira infância.
Essas experiências determinam a capacidade de formação de vínculos e se iniciam muito precocemente, quando o bebê não tem capacidade de discernir o que é necessidade e o que virá a ser desejo.

O que importa, nos primeiros anos, é a obtenção de prazer, proporcionado pela estimulação de determinadas zonas corporais, que Freud associou ao desenvolvimento da libido: fase oral, fase anal, fase fálica e genital. Assim, ao prazer obtido primordialmente pela ingestão do alimento (incorporação), segue-se o prazer experimentado pelo controle dos esfíncteres (guardar-soltar) e, finalmente, o prazer vivido com a descoberta dos órgãos genitais que, ainda segundo Freud, evoluirá do auto-erotismo ao erotismo voltado para o outro do sexo oposto.

Tudo isso é muito esquemático. A crítica aponta outro caminho: os destinos do erotismo devem ser desvinculados dos destinos do amor.
Experiências e muita observação demonstram que as primeiras vivências não-eróticas (que não buscam satisfações ligadas às zonas erógenas) se manifestam com o desejo de se agarrar que, por sua vez, se originam no medo de ser largado! Por aí, se deduz que a posição subjetiva inicial do sujeito que ama é uma posição passiva: desejo de ser amado, de ser acolhido: um desejo terno –não libidinal- seria a primeira manifestação espontânea emocional da criança.

Com efeito, deparamo-nos com jovens e adultos que não superaram esta fase, tendo uma vida amorosa marcada pelo medo do abandono, agarramento neurótico, ciúmes doentios. São amantes infantis em sua demanda insaciável, que se mantêm na posição passiva diante daquele a quem demandam:

“Devo ser amado, sempre, em todo lugar, de todas as formas, em todo meu corpo, em todo meu ser – sem nenhuma crítica,
sem o menor esforço de minha parte.”

__________________________
[Continuarei depois]

12 junho, 2005

MEU DIA DOS NAMORADOS


Foi quando estudávamos no pré-vestibular que nos conhecemos. Há tempos, mas o sorriso daquele primeiro encontro ainda permanece em minhas retinas e balança meu coração.

Aos poucos, como em uma novela, a vida nos foi enlaçando. Se há uma frase do Vinícius da qual não duvido, é esta: "A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida":

Eu tinha namorada. Ela também namorava. Éramos apenas amigos, antes de tudo o que viria depois.
O ano terminou, era hora de despedida. Já da escada, escuto aquela "pequetita" de cabelos negros a me chamar, abraçada com o seu namorado: queria o número de meu telefone, para saber se eu seria aprovado no vestibular. Ficou ali, escrito com caneta Bic, na palma de sua mão! Disse-me depois:
-Pensava que nunca mais te veria!

Faculdades diferentes: ela, Psicologia; eu, Farmácia & Bioquímica. Mas os deuses estavam a nosso favor: o curso de Anatomia era comum, no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Surpresa. Reencontro. Alegria! Os amores rompidos nos permitiram a aproximação cada vez mais explícita.

Resolvi mudar para Medicina. Outro vestibular. Éramos amigos e fui para sua casa esperar o resultado.
Estávamos juntos, na varanda, bem ali na Rua Maria Inês, Floresta, quando escutamos meu nome no rádio: foi um abraço de mútuo contentamento e... um beijo - o primeiro! - selou nosso destino. Era amor, cultivado ao longo de dois anos de admiração mútua, amizade profunda, compartilhamento de dúvidas, incertezas, emoções, risos...

Não havia, ainda, o "ficar", mas a gente "ficou", e muuuuito! Falava-se em "amizade colorida" - gíria inocente de um tempo de descobertas... Virou namoro, aquela amizade tão especial.

Ah! e os bilhetes delicadíssimos que me enviava? Os cartões mais criativos, bem-humorados, carinhosos? Até que um dia, lá de Nova Era, envio-lhe uma carta. Escutava Vincent no radio e a carta seguiu com um fiapo da letra: "Now I understand, what You try to say to me..."

Crescíamos juntos, descobrindo possibilidades, construindo o futuro. Animava-nos o desejo de estar sempre juntos. Se havia distância e pouco dinheiro, nem por isso desanimávamos: ah! lá ia eu, de guarda-chuva - o amor tudo pode! - caminhando feliz ao encontro dela: fora das telas, eu protagonizava um "singing in the rain" belorizontino, aspirando o aroma das damas-da-noite e dos jasmins plantados nas calçadas. Alegria pura, pois com tanto amor, resistir quem há de?

Hoje, tão felizes quanto sempre. Juntos, cumprindo uma promessa - não pela promessa, mas pelo desejo mesmo: "na alegria e na tristeza, na saúde e na doença".

Pois Amélia ainda me deu os três maiores presentes de minha vida: Ana Letícia, Ângelo e Leonardo:


Dia 07 de junho de 2005, na lançamento da Revista de Psiquiatria & Psicanálise com Crianças & Adolescentes, todos nós juntos.


São tantos os momentos bons, tanta cumplicidade, tanto respeito, tanta liberdade...
Prá você, meu bem Amélia, um beijo neste Dia dos Namorados.
Outro amanhã.
Depois.
Sempre...

__________
Inspiração e exemplo é o que nos têm dado
Soié & Aparecida, onde tudo começou.

11 junho, 2005

A ESPERANÇA VENCERÁ, AINDA, O MEDO?

Núvens negro-avermelhadas: tempestade? Incêndio? Estrela de ferro rachada: Terremoto?
Confesso que estou perplexo e assustado. Leio articulistas bem informados (quase nunca isentos, é verdade), mas não previa uma avalanche tão assustadora.
O acusado (Bob Jefferson, para os íntimos) aponta o dedo (sujo) e espalha sujeira. Afunda e leva consigo um Titanic inteiro?
O que vem após o dilúvio? (trocadilho infame, repetido ad nauseam: após o Delúbio?) Seráo todos os políticos (petistas e não petistas) corruptos?
O que começou a circular, hoje, na Veja e o que vai circular amanhã, na Folha de São Paulo, será combustível para incendiar o país?


O deputado nessa última entrevista, acusou Deus e o mundo, falou até em mala cheia de dinheiro. Mas alertou:
- "Não tenho provas"!
"Esse dinheiro [do 'mensalão'] chega a Brasília, pelo que sei, em malas. Tem um grande operador que trabalha junto do Delúbio [tesoureiro do PT], chamado Marcos Valério, que é um publicitário de Belo Horizonte. É ele quem faz a distribuição de recursos."

"José Janene [líder do PP] é um dos operadores.Ele vai na fonte, pega, vem."

"Se você perguntar: 'Tem prova? Fotografou? Gravou?'. Não. Mas era conversa cotidiana na Câmara."
Inda mais, diz que não precisa de segurança, não teme morrer, porque se fizerem alguma coisa com ele, a República afunda!

Assim é fácil: digo o que quero e os outros que se lasquem! Os acusados sem prova que se expliquem...
Onde estamos?

E a Editora Abril tem credibilidade? A CPI vai apurar, MESMO? Os culpados (todos) serão punidos? Trata-se de uma purgação, uma crise que nos levará ao crescimento?
Há um complô da direita? É o golpe?

Na entrevista das páginas amarelas da VEJA que circula a partir de hoje, o Gabeira detona o PT, o Lula, as utopias:
Veja: Houve um momento em que o senhor acreditou na luta de classes como saída para a transformação da sociedade. Em outro momento, defendeu a política do corpo e, mais recentemente, viveu a experiência de ser, por dez meses, governo. Foram três decepções?

Gabeira: Eu acho que, realmente, na escolha do socialismo houve um erro meu no sentido de não compreender o momento histórico. Contribuiu para isso o fato de estarmos na ditadura militar e essa ditadura militar ser, em si, um símbolo do atraso. Então, você é facilmente levado à ilusão de que, sendo contra ela, você está na frente, quando a verdade é que você está na frente de um projeto em declínio. Quando entendi isso, com a visão do marxismo sendo superada na minha cabeça, não havia mais uma explicação da história, que era uma espécie de substituição da religião. Aí, eu tive de me voltar para dentro de mim para buscar onde estava a referência. Nisso, me vi com a política do corpo, que eu reconheço que foi absorvida pelo sistema. Passou a ser uma grande indústria, como, aliás, ocorre com todos os grandes movimentos. O elemento mais recente nessa sucessão de fracassos foi esse envolvimento com um governo que ia transformar o país e que resultou nessa farsa que vemos agora.

Veja: Diante desses três fracassos, o que restou das suas convicções?
Gabeira: A decisão de me apoiar em alguns princípios de atuação: a democracia é como uma visão estratégica, e não mais como os comunistas a viam, uma títica para chegar ao poder -, a defesa dos direitos humanos, da consciência ecológica e, finalmente, da justiça social. E caminhando por aí eu acho que posso fazer alguma coisa. Não é mais uma grande revolução, com o esplendor daqueles tempos, mas é um pouco parecido com aquela história do Salinger, de O Apanhador no Campo de Centeio: quando eu era jovem, eu queria morrer pela revolução. Agora, quero viver para transformar um pouco as coisas. Sem grandiosidade, sem melodrama. Com pequenas ações, apenas.

Há muito que pensar, observar, esperar para julgar, decidir, escolher... Mas acho que o deputado tem, ele sim, as mãos sujas, o dedo sujo, muita culpa em cartório e está surtando. Ou sou eu que estou ficando maluco?

E agora, José?

10 junho, 2005

Gentileza urbana

Em Belo Horizonte o "trem tá feio":
Uma policial militar, cuja casa fora assaltada duas vezes na mesma semana, colocou a faixa: "Ladrões! Esta semana fomos assaltados 2 vezes - Gentileza aguardarem até novos equipamentos para esta casa." Posted by Hello

Isto sim! Vocês já pensaram na decepção dos ladrões, caso voltassem àquela casa e a encontrassem vazia, sem nada de valor? Pensariam:

-Sacanagem dos donos, isso é coisa que se faça?

E a vergonha da policial militar, coitada! Deixar os pobres larápios sairem de mãos abanando... Poderia até ser punida pelo Alto Comando, ridicularizada pelos colegas, desprezada pelos vizinhos.

Proponho que lhe seja concedida o Prêmio "Gentileza Urbana 2005", reportagem no Jornal Nacional e uma participação no Faustão. Se for bonita, que seja capa da Playboy. Brasileiro é assim: cordial!

09 junho, 2005

Ressaca

Nesta semana, depois da ExpoCachaça, poderia dizer que estou de ressaca (seria quase uma rima, mas não é a solução!): na verdade, acumularam-se as tarefas extra-rotinas: syntecando a casa, desmontamos o computador. Resultado, agora, só aqui no consultório, onde - graças a Deus - o trabalho abunda (agora rima: esta sim, uma solução!).

Além disso, como falei no post da semana passada, promovi o lançamento da Revista de Psiquiatria & Psicanálise com Crianças & Adolescentes, na 3a. feira - anteontem.
Haja tempo prá "olhar" tudo: convites, palestra, coquetel, etc. Uma tia foi operada: corro pro hospital. Mas tá tudo bem. Agorinha, levo bolo de um cliente e aproveito prá dizer: -
'tou vivo! o blog continua!

Noticias? só pela TV - muito rapidamente - e pela CBN, no carro:
1 - Já vi que a merda foi jogada no ventilador da República! Revival do tempo da família Collor? Num sei não...
2 - Ao abrir a internet,
uma notícia me chama a atenção, que compartilho. Juro que não estou incluído nela. Não aumentei meu patrimônio, nada disso, muito antes pelo contrário:

O número de pessoas ricas no Brasil cresceu 7,1% no ano passado, segundo pesquisa divulgada esta quinta-feira pelo banco de investimentos Merrill Lynch e a consultoria Capgemini. Segundo o levantamento, denominado "Relatório Mundial de Riqueza", haveria cerca de 96 mil pessoas "ricas" no País.

Pois é, será de onde estes 7,1% tiraram sua riqueza?

05 junho, 2005

ExpoCachaça, Urgente!

Tamos aqui, Amélia, Ana Letícia e eu, perambulando quase trôpegos pelos corredores infinitos da ExpoCachaça. Uma aventura prá chegar: Av. Amazonas engarrafada, um guarda do BH-Trans informando errado, fila prá estacionar... Cada ingresso: R$ 10,00, muito chorados. Mas, afinal, valeu a pena. Chegamos em torno do meio-dia, já são 18h e parece que só estamos aqui há minutos! São 700 marcas de pinga, água-da-boa, aquela que passarim-não-bebe, a que derrubou o guarda, a mardita, aguardente-de-cana... Prova daqui, prova dali, degusta adiante, sorve mais além, tira-gosto com torresmo, lombinho na chapa, queijos mil... ah! Minas Gerais. Tomei até Penissilina, com dois ss, prá não confundir com injeção. Mata qualquer bicho e creio que já me vacinei pro resto do ano: se algum virus me atacar, morre de coma alcoólico. Ele, não eu.
Tem uma feira de agro-negócios acoplada e outra de exposição de gado. Mas não nos animamos pelo lado dos vacuns e bovinos, isso fica pro filho Ângelo, que tá na Veterinária.
Conseguimos almoçar um feijão tropeiro com churrasco de lombo, farofa e arroz branco, de tal formas que o estômago não reclamou, até agradeceu.
No palco, artistas caipiras ou quase desfilam sucessos e invenções próprias. Durante quinze minutos nos deliciamos com um show da Banda de Viola Caipira: uma dúzia de violeiros, sinfonia cabocla de primeira linha! Coisa legítima, sem frescura.
Estivemos no Stand da Prosa & Viola - amanhã, postarei foto- ,sobre a qual falei num post do ano passado. Como apresentei duas garrafas do lote n.1, distribuído na feira anterior, tive direito de ganhar mais duas. Coisa de mineiro: generosidade pouca é bobagem.
Mandei recado pro Idelber, que nem respondeu... e está perdendo.
Bom, vamos rodar mais um pouquinho. Até.

03 junho, 2005

PSIQUIATRIA & PSICANÁLISE: Convite


Nesta terça-feira, terei o prazer de receber vocês para o Coquetel de Lançamento da Revista de Psiquiatria & Psicanálise com Crianças & Adolescentes, da qual sou o Editor. Estamos já no 11° múmero.

Trata-se de publicação da Residência Médica que coordeno no CPP-Centro Psicopedagógico da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais.
O CPP-FHEMIG é a única unidade assistencial de Minas Gerais dedicada ao atendimento de casos complexos e urgências psiquiátricas que acometem crianças e adolescentes.
Neste número, há artigos sobre vários temas concernentes aos transtornos emocionais, tais como Ansiedade, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Aspectos Psiquiátricos e Psicológicos da Dor Infantil, Atendimento Familiar, TDAH, Autismo, etc.

Haverá uma conferência proferida pelo neuropediatra Dr. Christóvão de Castro Xavier: "Desenvolvimento do Cérebro e Transtornos de Aprendizagem"

Data: 07 de junho de 2005 - terça-feira
Hora: 20h
Local: Av. João Pinheiro, 161 - Centro - Belo Horizonte-MG

Este convite é prá valer!

ABUSO SEXUAL E VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS: apontamentos para uma entrevista na TV - hoje

Os eventos econômicos, políticos e policiais que preenchem 70% do noticiário cotidiano nos afogam com informações tão avassaladoras em número e gravidade, que já se fala na banalização do crime e da morte, do conformismo diante da precariedade do controle social e no “locupletemo-nos todos” que alimenta a corrupção.

No bojo dessa banalização, relativiza-se o juízo moral sobre atos considerados contrários à dignidade humana, dando ensejo à perpetuação de práticas abusivas, especialmente contra mulheres e crianças. Citemos a declaração do malfadado Severino Calvacanti, ao classificar o estupro como “acidente”. Outro exemplo: a “espetaculização” do julgamento por pedofilia do artista Michael Jackson, que já está transformando as vítimas em cúmplices – como se crianças tivessem o discernimento de adultos.

A discussão sobre o abuso sexual de crianças já ocupa boa parte do noticiário. Embora os adjetivos condenatórios sejam abundantes, parece que essa violência ainda necessita de mais e mais mecanismos de coerção e punição (que cabem ao campo policial e jurídico).

No campo “psi” (psicologia, psicanálise, psiquiatria, assistência social, pedagogia, etc.), há necessidade de se enfatizarem as conseqüências pós-traumáticas que acometem as vítimas.
A Psiquiatria contempla um capítulo dos Transtornos Ansiosos ao TEPT-Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Em sua definição, estipulou-se que o agente etiológico deste estresse (sua causa) está fora do indivíduo e não é uma fraqueza da vítima.

O Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais – citado no meio médico como DSM-IV – conceitua o evento traumático como “estressor catastrófico fora do alcance da experiência habitual humana”:

- Guerra;
- Tortura;
- Estupro;
- Holocausto nazista;
- Bombardeio atômico (p.ex.: Hiroshima e Nagazaki);
- Catástrofes naturais (terremoto, inundações, tsunami);
- Catástrofes provocadas pelos homens (explosões em indústrias, acidentes aéreos, automobilísticos, etc.).


Esses estressores são diferenciados, pelo visto, dos eventos dolorosos que constituem as vicissitudes normais do viver humano: doenças, reveses financeiros, morte de entes queridos, divórcio, rejeição, etc. Para estes casos, reserva outro capítulo: Transtorno de Ajustamento.


Se nos homens predominam as experiências vividas em situações de combate (tiroteios, guerras, testemunhos de ferimentos ou mortes de companheiros), nas mulheres e crianças são mais freqüentes as situações de estupro, molestamento sexual e abuso físico na infância.
A palavra violência deriva do latim, a partir do prefixo vis- que significa força.
No caso do abuso sexual, entende-se que se trata de uma “situação em que um indivíduo é usado para a gratificação sexual de uma outra pessoa, BASEADO NUMA RELAÇÃO DE PODER. Pode incluir manipulação de genitália, das mamas ou orifício anal, exploração sexual, voyerismo, pornografia, exibicionismo e o ato sexual com penetração ou não, COM OU SEM VIOLÊNCIA”.

O abuso está no recurso à força, seja física ou moral (autoridade parental, autoridade moral – caso de professores e de ídolos – artistas, por exemplo). Quase sempre há a violência psicológica, pois ocorrem ameaças à vítima.

Sintomas:
Cabe aos pais e educadores prestarem atenção às mudanças comportamentais que acometem crianças e adolescentes, vítimas do abuso:
- Ansiedade;
- Falta de concentração;
- Reações extremas dicotômicas – comportamentos contraditórios;
- Irritabilidade;
- Lapsus de memória;
- Alterações repentinas de humor;
- Alterações do apetite;
- Evolução para desajuste de personalidade, com dificultação no convívio social;
- Facilidade para envolver-se em situações de risco: desvalorização da própria vida;
- Desconfiança generalizada em relação ao outro.

Além de tudo isso, já se comprovaram danos cerebrais em vítimas precoces do abuso sexual e da violência física: áreas cerebrais importantes como a córtex, o sistema límbico e o controle glandular são afetados. O sistema límbico, entre outras funções, é responsável pelo processamento dos conteúdos emocionais da memória que influenciam o desenvolvimento por toda a vida.


Dentre as manifestações reativas de maior importância, duas se destacam:
- Reações centradas no medo;
- Reações centradas em sentimentos de culpa, vergonha, tristeza e identidade do eu.
Tudo leva a vítima a prejuízo da auto-estima, alterações na percepção do próprio self (imagem de si), fragmentação da sensação de segurança interior, ruminações sobre o evento traumático(“como falhei em tentar impedir?”), sentimentos de desesperança e desamparo.
Alguns se referem à morte da autoconfiança e da auto-estima!

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  • Essas reflexões foram elaboradas como apontamentos para uma entrevista que darei, hoje (03.JUN.05-SEXTA) ao Canal 23 – TV a cabo – às 21 horas. Será um debate coordenado pelo deputado Lincoln Portela. Anima-me o sentido de prestação de um serviço de utilidade pública.
  • Consultei o artigo do dr. Amadeu Roselli Cruz & cols. (BH) no Jornal Brasileiro de Prevenção e Tratamento das Ofensas Sexuais (2004), editado pela ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS OFENSAS SEXUAIS - ABTOS, sediada aqui em Belo Horizonte, à rua Laplace, 18 - cep 30360-390 - Telefone: (31) 3342-1064.
  • Informações sobre tratamento medicamentoso dos Transtornos de Estresse Pós-traumático e abuso sexual podem ser conseguidos em NeuroPsiconews. Aberto o site, rolar a barra da esquerda, até o número 16. Clique aí.

02 junho, 2005

A vida é a arte do encontro


O cenário De pé: Guto, Cláudio, Cynthia e Idelber - Assentado: Túlio



"A vida é a arte do encontro", disse-nos o poeta Vinícius de Moraes. Pois foi com muita arte e engenho que se seu deu o "encontro dos blogueiros de BH", articulado, organizado e catalisado pelo grande Idelber.
Acho que a fome do compartilhamento já se manifestou na escolha do local: "Os Glutões", misto de pizzaria, casa de pasto, chopperia, churrascaria e boteco, situado no bairro Cidade Nova. Para mim, teve um caráter nostálgico voltar à região em que morei há mais de 20 anos. Em relação ao local em que resido, o ponto de encontro fica "do outro lado da cidade", na saída para Sabará - cidade histórica do século do ouro.

A expectativa da passagem do virtual ao real já me acompanhava durante o dia. O imaginário é poderoso e resiste ao teste de realidade, pois com ele a gente cria mundos e fundos, cultiva fantasias e, às vezes, se satisfaz com elas. É um dos grandes perigos - ao mesmo tempo fascinante - que nos oferece o mundo virtual: muitas vezes, protegidos pelo anonimato, impelidos pelo impulso de criar e manter uma imagem "para o Outro", somos convocados a renunciar a este conforto. Pois então, vamos lá!

Os deuses já conspiraram a meu favor, pois não é que uma vaga para estacionar surgiu bem defronte àquela placa amarela, sugestiva em sua pouco sutil logomarca? Lá estava: Os glutões! Se não tenho nada de glutão, naquele momento o nome me pareceu muito apropriado.

Neguei minha condição atávica de mineiro - desconfiado - e me dirigi resolutamente à primeira mesa ocupada, logo à direita: - Idelber?
O "rapaz" de camiseta vermelha logo se levanta e nos abraçamos. Cynthia e Túlio Vianna se apresentaram e, daí prá frente, saltamos do écran dos monitores e escapulimos do imaginário cultivado nos últimos meses: pessoas de carne-e-osso a se confraternizar em torno de idéias, casos e causos, lembranças e experiências.

O jovem casal, unidos pela profissão, compartilhava sua trajetória estudantil, o interesse pela internet, as lides profissionais. Idelber a contar sua vivência engajada nos idos de 84-89.

Chegam Guto e Mônica, parceiros na vida, e logo se ajeitam, à vontade, já se servindo da Bohemia geladíssima e dos petiscos fartos: filé com fritas e surubim a doré. Bão dimais.
Éramos como amigos de longa data, cada qual atropelando o outro para contar uma experiência, um lance, um reparo no post da blogosfera... Êta mundo grande, meu Deus, este mundo virtual, crescendo, avassalando-nos com mil informações, diferenças, brilhos e sombras, egos inflados e artistas florescendo.

Idelber se declara "apaixonado por este negócio de blog". O seu O Biscoito Fino e a Massa começou em outubro de 2004 e já teve, em um só dia, 18 mil visitas! Suas narrativas vivazes nos colocam dentro de Tulane. Quase que desfilamos pelas ruas de Nova Orleans.

Mas é um papo de amigos e as digressões não permitem que alguém ali seja professor, doutor, escritor. Não, a vida é arte do encontro, encontro de amigos, a fazerem o trajeto inverso da Alice através do espelho.
Idelber é mesmo dos nossos: fala uai! é atleticano e ainda pediu uma pinguinha prá arrematar! De volta à casa, pelo menos por uns tempos.

Falamos de tudo e de todos, até mesmo do Blog do Soié, que não estava presente. Minha filha, Ana, também não foi, promete comparecer na próxima. Neste final de semana teremos a ExpoCachaça. Quem sabe? Todos estão convidados.
Outro programa dos bons, neste sábado: o show do Chapéu Panamá, samba de raiz cantado em prosa e verso pela banda de nossos filhos, Ângelo e Leonardo, no Baritis - ali mesmo ao lado da escolinha de futebol do Zico, no Bairro Buritis. A partir das 18 horas a cobra vai fumar! Só não gosta de samba quem é ruim da cabeça ou tá doente do pé. Vamos lá!

Mas o garçom já chega avisando: - Estamos fechando! Querem a saideira?
Embora glutões, mas nem tanto, voltamos prá casa.

Promessa

Daqui a pouco, faço um relato afetivo-sentimental do encontro de ontem (Idelber, Cynthia, Túlio, Mônica, Guto e este escriba). Há fotos! Como se diz: fatos&fotos. Não será uma crônica digna da Caras, nem da Quem, nem da Celebridades. Aguardem!

01 junho, 2005

Idelber em BH

Recado do catalisador Idelber Avelar:

Nesta quarta-feira, a partir das 8:30, no Glutões (da Cidade Nova, rua Júlio Otaviano 500 e pouco), vamos nos reunir para a cervejada o Biscoito, o NCC e Monicomio e amigos. Estão convidados todos os blogueiros de Belo Horizonte, viu? Se algum louco quiser dirigir um FIAT de Sampa até aqui para nos ver, maravilha.

Pois então, estaremos lá!