19 julho, 2005

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Fritz Utzeri
O NeoPT morreu, viva o PT!

Foram necessários dois anos e meio para que a traição ao ideário generoso de um partido que nasceu das lutas populares saltasse aos olhos dos brasileiros, pasmos ante a desfaçatez suprema de justificar o roubo - injustificável - apenas porque ''o PT fez o que é feito no Brasil sistematicamente'', nas palavras de seu expoente máximo, falando de Paris e comprometendo-se de vez com a sujeira
Pessoalmente, apesar de ter declarado publicamente meu voto em Lula, aqui mesmo no JB, já deixava claro que desconfiava da versão light do candidato, domesticado e repaginado por Duda Mendonça. Mas, não poderia imaginar até que extremos o aparelhamento do Estado e a corrupção chegariam. Logo após a posse, comecei a falar em ''estelionato eleitoral''. Parei de chamar o presidente de Lula, por considerar que o operário em que havia votado não era o que estava na Presidência. Publiquei uma página inteira no Pasquim21, no dia 28 de janeiro de 2003 (23 dias depois da posse), perguntando: ''Erramos de operário?'', com duas fotos, uma de Lula, com a legenda: ''Votamos neste'', e outra, de Lech Walesa: ''E ganhamos este?''. Fui chamado de ''impaciente'', e essa era uma opinião amigável.
Justificava-se a inação e a continuidade da política econômica com o argumento de que o orçamento daquele ano, o primeiro de Luiz Inácio, fora feito por seu antecessor, o príncipe dos (s)ociólogos, Fernando II, engessando a gestão petista. Dizia-se que o ''orçamento de Lula'' seria diferente, falava-se em ''fase dois'' aos que se espantavam com a continuidade da política econômica, alardeava-se um ''Fome Zero'' nacional, enquanto o molusco dava, cada vez mais, evidências de despreparo e deslumbramento. Passei a chamar o PT de NeoPT.
O tempo passou e as ''reformas'' anunciadas nada reformaram, além de eliminar conquistas dos trabalhadores. Inativos foram taxados e bancos privilegiados, como na Lei das Falências, dando prioridade às instituições financeiras sobre os trabalhadores, no caso de uma empresa quebrar, ''permitindo'' aos empregados negociar com os bancos ''em igualdade de condições'' (???). À medida que o governo revelava sua inação, incapaz de deslanchar até mesmo os programas assistenciais, mostrava, cada vez mais, que seu único objetivo era tranqüilizar a economia, para pagar banqueiros e especuladores e fazer caixa dois para a reeleição, uma praga que inviabiliza o país.
A propaganda, o marketing e a pesquisa de opinião viraram regra, manipulando a opinião pública. Enquanto isso, surgiam as primeiras suspeitas de que havia algo errado com a integridade do NeoPT, face às evidências cada vez maiores do aparelhamento e loteamento do Estado e da adesão de gente como Roberto Jefferson (o do cheque em branco), José Sarney, Delfim Netto, Orestes Quércia e outros ''companheiros''.
Até que um dos bandidos - ameaçado de pagar a conta, sozinho, devido a um filmete exibido na TV, mostrando um funcionário dos Correios embolsando uma mixaria de R$ 3 mil e dizendo que seu suposto chefe (o bandido) era ''doidão'' - resolveu provar que era ''doidão'' mesmo e chutou o pau da barraca. Nome do bandido? E precisa dizer? Ele agora escreve nos jornais pontificando sobre financiamento de campanhas, em lugar de estar preso por não explicar o que fez com R$ 4 milhões que diz ter recebido do NeoPT. O fato é que a barraca veio abaixo, os ventiladores espalharam tudo pra todos os lados e hoje o Brasil está mergulhado na m..., melhor dizer, na lama.
E como estão os generosos militantes que deram o melhor de si em nome da esperança, ''sem medo de ser feliz'', como dizia a melhor promessa política do PT? Eles não são corruptos nem venais. Apenas acreditaram e lutaram. Cadê a felicidade? Felizes estão os banqueiros, blindados e satisfeitos com seu governo paralelo (Palocci e Meirelles), inatingido e inatingível, administrando uma esfera própria, que nada tem a ver com o Brasil. É preciso refundar o PT, um novo partido, livre de todos os que se locupletaram dele (incluindo Luiz Inácio) e voltar às bases de luta do povo brasileiro. Será preciso tornar a dar o primeiro passo, porque se a esperança morrer, estaremos mortos. O NeoPT morreu, viva o PT!

Fritz Utzeri escreve no JB às quartas-feiras