28 fevereiro, 2005

PAPO DE CINEMA

O post anterior provocou uma série de comentários.
  • O Israel Barros me pergunta: Jura que você gostou do The Vilage e to The sixth sense?
Gostei demais de "O sexto sentido", sim. "A vila" é muito mais fraco, embora trate de um tema de que gosto e do qual me ocupo: as relações intra-grupais, o poder das forças grupais, a questão da alienção... Mas não se compara com "O sexto sentido" - este me toca, igualmente, por apresentar um quadro psicopatológico, um profissional da minha área (psicoterapeuta), relações familiares, etc. O final surpreendente é a chave de ouro do filme. O diretor Shylaman, a meu ver, parece ser um aprendiz do Alfred Hitchcock. Até aparecer nos próprios filmes o rapaz tá fazendo igual ao Mestre.
  • A Luma e o Edgar comentaram sobre a escolha de Antônio Banderas para interpretar Al otro lado del río, que acabou ganhando o Oscar de melhor música de filme estrangeiro.
Já estava torcendo prá isso: Gostei de "Diários da Motocicleta", que assisti com meu filho Leo; gostei da música e da letra - aqui -; o compositor Jorge Drexler é latino-americano e médico (duas razões para minha escolha bairrista e auto referente!) Acho que foi uma "claudicada" terem escolhido o Banderas prá cantar...
  • O Bia cobrou: e a nicole tá ótima, vai dizer?
Realmente, a Nicole Kidman, além de lindíssima, faz uma interpretação ótima: contida, expressiva, não explorou sua beleza. Dogville é um filmaço! Tocou-me pela estética e dramaturgia (afinal, eu trabalho com Psicodrama, sem usar cenário, só o imaginário). O argumento tem alguma semelhança com The Village: alienação, manipulação das massas, paranóia... como os conflitos emocionais das pessoas interferem a ponto de torná-las cegas.
  • A Lara pergunta: Scarlett Johanson é a moça de "Encontros e Desencontros"?
Lara, Scarlett Johanson foi, sim, a "Charlotte" no filme "Encontros e Desencontros". A mulher é fera, basta ver sua filmografia em: Scarlett.
  • O Allan, da Itália, disse que não se empolga com a festa do Oscar e acrescenta: Fico mais emocionado quando vejo, por exemplo, o blog Ontem e Hoje indicado como um dos blogs da semana no Inagaki.
Aí, eu é que fico emocionado. Falou no Soié, inda mais dando a notícia da indicação do Inagaki, mexeu comigo. Afinal, não é prá menos. Papo de cinema é bom mesmo!

27 fevereiro, 2005

OUT OF OSCAR OU PORQUE NÃO FUI À FESTA EM HOLLYWOOD

Hoje é dia de Oscar. Alguns vizinhos já encomendaram black-tie e minhas amigas estão preparando os Versace, tirando as L. Vuitton do armário. Em homenagem à minha “eterna namorada” Amélia, que está de ombrinho dodói, com o bracinho na tipóia, declinei do convite – mesmo desagradando à Academia – e ficamos em casa, curtindo filmes que não disputarão. Recomendo:
1- Moça com brinco de pérolas (Girl with a Pearl Earring) de Peter Webber. Conta um episódio da vida do pintor Johannes Vermerr, holandês, séc XVII. A atriz Scarlett Johansson desempenha o papel da criada (Griet), representada no quadro que dá nome ao filme.
2 – Dogville, de Lars von Trier é imperdível, um dos melhores que já vi. A sobriedade do cenário ressalta a expressão dos atores, com diálogos bem desenvolvidos. Uma história impressionante. A protagonista é Nicole Kidman.

- Do diretor M. Night Shyamalan, vimos três filmes excelentes:
3 - A Vila (The Village) - uma cidade vive um pesadelo por causa de um segredo. O isolamento e paranóia aterrorizam os habitantes. Até que...
4 - Sinais (Signs) - uma boa trama de suspense, com alguns recursos fantasiosos em tornos de extra-terrestres. Vale a pena ver.
5 - O sexto sentido (The sixth sense) – O mais antigo (1999) e o melhor de todos! Surpreendente!

Então, já sabem, ao sentirem minha ausência na hora da premiação, lembrem-se:
- 'tou aqui, quietim, no meu cantim, comendo pipoca e tomando cafezim. Com queijim, uai!

  • Agora podem curtir umas fotos que ando batendo por aí. Se quiserem mais, clique em "more of clcosta's photos". Que tal?

20 fevereiro, 2005

O blog do Soié

A repercussão do Ontem e Hoje, do meu pai, Ismael Cirilo (Soié, o espirituoso) na blogosfera está dando o que falar.
Telefonei-lhe para dar os parabéns e ele se nostrou satisfeito demais, impressionado com a aceitação de suas histórias, casos, lembranças... A família (netos e netas, sobrinhos e sobrinhas, filhos, cunhadas, todos estão comentando a disposição do Soié e de sua eterna namorada Aparecida, que ficam trocando idéias, matutando sobre "qual história vamos contar agora?".
Não é por corujice ou pieguice que fico feliz. Minha maior felicidade é vê-los felizes, entretidos com o exercício da escrita, da memória, vivazes e sempre bem humorados. A duplinha Soié-Aparecida é assim mesmo: não deixam a peteca cair; a vida inteira devotados um ao outro e a nós, filhos e filha.
Papai já foi seleiro (alguém sabe o que é isso? Pois é, fazia selas para cavalos, em seu tempo de rapaz. Ele tinha uma Selaria!). Depois trabalhou na Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), como telegrafista e outras funções. Ele e mamãe estiveram à frente da Contadoria Judicial do Fórum de Nova Era-MG, foram donos de bar, o "famoso" e inesquecível Soié Bar. Já foi Juiz de Paz (fazia casamentos e mais casamentos). Ambos ministraram cursos preparatórios para noivos. Após a aposentadoria, viajam pelo Brasil a fora: Rio, Fortaleza, Poços de Caldas, Porto Seguro... juntos com a "Turma da Feliz Idade", pessoal animado lá de minha terra...
Pelo Ontem e Hoje passaram inúmeros blogueiros, ilustres, de perto e de longe, deixando comentários elogiosos, dizendo-se felizes por conhecerem a figura do Soié.
Como filho, sinto-me, igualmente elogiado. Será isso impróprio?
Agradeço, aqui, as recomendações da Cora Rónai, do Idelber Avelar (USA). Tantas pessoas que é impossível listar todas.
Mesmo conhecendo meu pai, estou, eu mesmo, surpreso. Aliás, sem surpresas, a vida é um tédio, não?

18 fevereiro, 2005

O CÓDIGO DA VINCI: nota 4, em 10

Estou acabando de ler O Código da Vinci, de Dan Brown.
As resenhas falam que o romance(?) é genial e que vendeu mais de 15 milhões de exemplares. Há 43 semanas ocupa o primeiro lugar na lista dos Mais Vendidos na revista Veja!
Acho que estou atrasado em falar do livro: pelo menos 15 milhões o leram antes de mim; na internet/blogs há milhares de sites/posts e, quando comento, todo o mundo diz que já leu! I´m the last reader.
Outro dia, deixei meu carro num estacionamento próximo à Santa Casa, em Belô. O tomador-de-conta, ao ver-me com o Código, comentou:
- Ah! já li esse aí, é muito bom. O senhor já chegou na hora da Maria Madalena?
- Sei...
- Será que é verdade?
- Anh?
- Todo o mundo engana a gente, até o Papa, o senhor vai ver lá.
- É?
- E dizem que o vão fazer um filme com o Tom Hanks.
- Humm..
[Eu devia estar de ótimo humor!]

Pensei comigo: talvez o filme seja melhor que o livro. Se escolherem bem a trilha sonora, vai arrebentar! Por que?
Porque é exatamente isso: um roteiro esquemático, amarradinho, tudo acontecendo em pouco mais que uma noite. Apenas ação frenética, suspense, cortes em momentos de maior tensão, soluções quase mágicas, reviravoltas... Um Indiana Jones mais pretensioso. Um Lara Croft sem explosões espetaculares. Um thriller policial metido a besta. Devem colocar uns cantos gregorianos...
Se me perguntam se estou gostando, digo: "Embora não seja literatura, é um bom divertimento."
Li durante horas, numa fila, e o tempo passou rapidinho. Além do mais, estimulou-me a pesquisar alguns temas em torno dos quais a trama se desenrola - evangelhos apócrifos, criptografia, pentagramas... - e isso que me enriquece.
Mas acho que não merecia estar na lista dos mais vendidos. Enfim, moda é moda!

16 fevereiro, 2005

AL OTRO LADO DEL RÍO

A canção Al otro lado del río, de Jorge Drexler, composta para o filme Diários de motocicleta, foi indicada para o Oscar de "Melhor Música".
Jorge Drexler é um uruguaio de 40 anos, que deixou a profissão médica - era otorrinolaringologista - para se dedicar à música. "Fui convidado pelo cineasta Walter Salles, que deixou um recado em minha secretária eletrônica", conta o compositor. "Até hoje não conheço o diretor, pessoalmente."
A letra é totalmente integrada ao espírito do filme: uma travessia feita pelo jovem Che Guevara - também médico - que se transforma a partir da viagem pela América Latina:

AL OTRO LADO DEL RÍO

Clavo mi remo en el agua
llevo tu remo en el mío.
Creo que he vista una luz
al otro lado del río.

El día le irá pudiendo
poco a poco al frío.
Creo que he vista una luz
al otro lado del río.

Sobre todo, creo que
no todo está perdido.
Tanta lágrima, tanta lágrima,
y yo soy yn vaso vacío...

Oigo una voz que me llama,
casi un suspiro:
Rema, rema, rema!

En esta orilla del mundo
lo que nos es presa es baldio.
Creo que he visto una luz
al otro lado del río.

Yo, muy serio, voy remando,
y muy adentro, sonrío.
Creo que he visto una luz
al otro lado del río.

Há muitas "travessias" a se fazerem durante a vida. É preciso cravar o remo na água, remar, remar...

12 fevereiro, 2005

Make love, not war

No domingo de Carnaval li esta notícia no Canal Terra:
Um piloto do Exército britânico foi punido por usar um helicóptero
das Forças Armadas para entregar uma pizza à namorada, também do Exército,
conforme informação do Ministério da Defesa
Pensei: se a moda pega, quem sabe a vida pode melhorar?
Ao invés de jogar bombas, os helicópteros entregam pizzas e flores. Das bocas dos canhões são lançadas pétalas de rosas, flores silvestres. Ao reprimir passeatas, a polícia atira bombas perfumadas, sprays de aromas diversos, de acordo com o gosto dos manifestantes. Ah! tudo pode acontecer num mundo assim.
Nos finais de semana, as viaturas policiais transportam os cidadãos aos campos, onde piqueniques acontecem ao som das sirenes - que não apitam nem azucrinam, mas tocam "A Pastoral" de Beethoven.
No 7 de setembro, as bandas militares executam cirandas, enquanto os soldados dançam e os generais recitam poesias, sonetos de amor de Vinicius de Moraes, românticos, românticos... No Independence Day, desfilam os bonecos da Disney, ao som de jazz, blues, Gershwin, enquanto os F-16 escrevem no ar: Peace and Love...
A guarda-feminina, de sapatilha, apresenta minuetos e balés. Os traficantes traficam bombons, chocolates, balas, doces de cidra e outras iguarias.
Israelenses e palestinos ocupam a faixa de Gaza para plantar tulipas, disputam as cores mais inusitadas e se inebriam de jasmim. Os homens-bomba explodem champagne, que servem a borbulhar nas taças transportadas pelos C-130 da US Air Force.
- ACORDA AÍ, Ô CARA!!!

09 fevereiro, 2005

Evoé, Baco! Falando de uvas e de vinho.

Um sonho é para ser realizado, embora Freud tenha ensinado que "os sonhos são a realização dos desejos recalcados".
Há quase cinco anos começamos, um grupo de 7 amigos, a implementar um vinhedo nos contrafortes da Serra do Caraça. A altitude, o clima, o terreno, tudo se configura num clima europeu, além da tradição em fabricação de vinhos pelos padres do antigo Colégio do Caraça.
A primeira safra, mirrada, quase desanimadora, ocorreu em 2004. Mas agora, em janeiro, é hora de cantar: Evoé, Baco!

Dionísio ou Baco

Baco, na mitologia romana, é o correspondente a Dionísio, da mitologia grega. Dionísio é o deus da vegetação - morre violentamente, mas, retorna à vida. Assim como toda semente que passa uma parte do ano embaixo da terra, Dioniso morre, renasce, frutifica, torna a morrer e retorna ciclicamente. A sua história reproduz as estações do ano: a época de semear, de esperar a semente germinar e finalmente a colheita.
Assim, as uvas: as parreiras parecem morrer e, de repente, eis que brotam exuberantes, cheias de vida. Aos poucos, os cachinhos vão se formando, amadurecem e... chega a hora da vidima.
Finalmente, a primeira safra de verdade aconteceu. As uvas já foram devidamente esmigalhadas e, agora, repousam em lenta fermentação nos tonéis. A adega recende o aroma de vinho fresco pelos corredores do vetusto Colégio, anunciando um vinho encorpado a partir das uvas Bordeaux e um rosé mais suave com as uvas Niágara.

Amigos e amigas, cantem comigo: "Evoé, Baco!"

[Clique aqui para ver as fotos das vinhas]

08 fevereiro, 2005

Rápidas e rasteiras

1 - Prá mim, Carnaval é hora de filosofar, conforme ensina o poeta pernambucano, Ascenso Ferreira:
Filosofia
Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!

Hora de trabalhar?
— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!
[Publicado no livro Cana caiana (1939)]

2 - Estou chegando de Nova Era, que fica 140 km a leste de Belo Horizonte. Lá, o tríduo momesco (êpa!) tem variadas formas:
a) Na "beira-rio", patrocinada pelo povão, a festa é animada por uma banda mais popularesca, de 22h às 5h da madruga. A cidade inteira escuta e... dorme(?).
b) Na rua "do comércio", bandas locais - bem rebimbas - tentam animar o povo. Tocam a partir das 15h, no domingo e na terça-feira
c) Na segunda, o mais interessante: sai a Bandinha dos Farrapos, saborosamente descrita pelo Ismael Cirilo no recém criado Ontem e Hoje.
Ismael e Aparecida

Ismael, nascido em 1923, é nada mais nada menos que meu pai, Soié, o espirituoso! Deverá entrar para o Guiness Book como o blogueiro mais idoso do cyber-space... Façam-lhe uma visitinha, deixem comentários, incentivem-no! Na foto acima, brinda a sua "namorada" Aparecida, companheira há 57 anos!
d) Há o bloco Boca de Gole: os rapazes da nata da sociedade local (êpa!) se vestem de mulher, enchem a cara e desfilam suas belezas pelas ruas do centro. Há cada menina linda, só vendo! Os figurinos vão da meia arrastão, sutiãs recheados com limão ou laranja (dependendo do gosto do freguês), perucas drag queen ao salto alto e batom, muito batom.
Este escriba, nos tempos áureos, em gozo de plena beleza (!!!), já desfilou carregando filho no braço e experimentando o outro lado - sem chegar às últimas consequências, pois que o papai aqui é ôme com Ó maiúsculo, uai!
e) No domingo, apenas uma escola de samba desfilou. Não se compara aos G.R.E.S. da Sapucaí, mas as calçadas ficam apinhadas de espectadores. É quando as janelas da casa de meus pais se transformam em camorotes vips, de onde assistimos tudo. O destaque da Unidos do Manjaí, negão de dois metros de altura, desabou em pleno sambódromo: as cachaças o derrubaram, bem à nossa frente. Caiu como uma jaca. Sob a fantasia de plumas arriou, até que a namorada, solícita, o levasse. Um fim melancólico: glória efêmera, abreviada em meio à folia.

Amanhã, Cinzas.
Qual fênix, retorno ao trabalho.
Sem exagero:
ninguém é de ferro
!

03 fevereiro, 2005

Carnaval radical

Todo mundo já sabe, mas gosto de me lembrar: "Carnaval" se refere a uma festa anterior à Quaresma, período em que os cristãos deveriam abster-se de comer carne, preparando-se para a semana da Paixão. A origem do termo é a contração de duas palavras latinas: carne + leváre = 'abstenção de carne'. O primeiro elemento do vocábulo "càro,cárnis" = carne; e o segundo, o verbo "leváre" = tirar, sustar, afastar.
Já que ninguém é de ferro, prevendo mais de um mês sem ingestão de carne, o que fazer? Vamos comer tudo a que temos direito, agora, já!
Além da carne de boi e de vaca, outras passaram a fazer parte da festa. O que tem de bunda, seio, perna, coxa se oferecendo à gula dos olhares...Há muito mais à disposição para serem comidas, mas esse espaço, aqui, tenta manter uma certa classe! No meio de tanta mercadoria, sereias e baleias. Até cobras (epa!), em certos bailes, andam à solta, pois não há quem goste?
Se muitos botam, outros despem as fantasias mantidas durante o ano todo (bom moço, boa moça, funcionário certinho, marido fiel, esposa dedicada), jogam tudo pro alto, ligam o botão foda-se e se apresentam tal qual são, ou como gostariam de ser. E tudo volta ao normal na quarta-feira.
Bem, na quarta-feira de cinzas é tempo de se lembrar de que ao pó retornaremos: Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris.... Até as estátuas, um dia, voltarão ao pó!
Assunto chato, esse!
Se você leu até aqui, nem precisa ler o que o Frei Betto escreveu em sua crônica semanal no EM. É um carnaval bem radical, o que ele propõe, não acha? Olhacá:
"Quero o baile, a fantasia, a loucura insaciada dos que fazem desfilar em blocos seus desejos irrefreáveis. Arranco do coração uma por uma das máscaras de minha coleção: a do cínico, do farsante, do pusilânime. Quero-me nu, completamente nu, na passarela em que me exibirei pelo avesso: aversões e preconceitos, contradições e mesquinharias. Sairei de barro e sopro, tal qual Deus me pôs no mundo."