31 outubro, 2007

A Town Where All the World Is a Bar

Os belorizontinos têm orgulho de descrever sua cidade como a "capital brasileira do bar" - the bar capital of Brazil, no dizer da reportagem do caderno Travel, do New York Times:

O artigo de SETH KUGEL provocou reações ambivalentes em muitos de nós, pois fala com todas as letras que Beagá é quase completamente desconhecida fora do Brasil, apesar de ser uma metrópole. Assim explica a desimportância da capital de Minas:

Its international anonymity was born of no coastline and thus no beaches, no famous Carnival and thus no February madness, and no big attractions save a few buildings designed by Oscar Niemeyer that pale next to his famous works in Brasília.

A gente não tem praia, não tem Carnaval e nem grandes atrações, a não ser uns poucos edifícios projetados por Niemeyer! Caramba! como é ruim escutar/ler isso no NYT. A gente quer só elogios, a gente às vezes se acha... Quequiéisso? Yes, nós temos barzinhos, botecos, Mineirão, Pampulha, serras, cachoeiras, museus... Mas o dedinho na ferida tá doendo: - Vocês não têm praia! - O carnaval em BH não existe! (tudo verdade, sniff, sniff).

E agora? penso eu: como vou convencer os gaúchos Milton e Afonso a retribuir minha visita aos pampas? Como vou alardear meu bairrismo pros quatro cantos do mundo? E tantos outros blogueiros que sonham em vir provar de nossas delícias, da "comida di buteco", do queijo canastra, da pinguinha da roça?

Ah! mas o SETH KUGEL, ressalta a menina-dos-olhos do belorizontino, o Mercado Central. É, realmente, imperdível. Cita o nome de alguns barzinhos e faz recomendação especial à região de Macacos.

Finalmente, aos que se abalarem do hemisfério norte para conhecer a "capital dos bares", há um minidicionário básico, pra gringo nenhum ficar sem sua geladinha:

Cerveja (sare-VAY-zha): beer;

Garrafa (ga-HAHF-ah): bottle;

Chopp (SHO-pee): draft beer;

Mais uma!: I’ll have another!;

Desce mais uma rodada: One more round;

Saideira (sah-ee-DARE-a): One last round.

Sugiro que esta conversa continue regada a uma cervejinha com tira-gosto mineiro em um dos 12 mil bares da cidade. Ou já são 15 mil?

27 outubro, 2007

Mais uma vez: Soié


Dia 28 de outubro é data de dupla comemoração em nossa família:

a. aniversário do Soié, meu pai. Sobre ele escrevi: Soié, o Espirituoso. Confiram.


b. aniversário de nosso (Amélia e eu) casamento. Veja como tudo começou.


Amanhã estaremos todos em Nova Era para abraçar o Soié - como é conhecido - e, mais uma vez, elevar um brinde de agradecimento pela vida saudável, risonha e franca.


Será mais uma festa em preparação aos 60 anos de casamento do meu pai e minha mãe, a se realizar ano que vem.


Tudo são festas.

20 outubro, 2007

Civilidade para... médicos!

Conheci a palavra "civilidade" aos 11 anos.
É claro que, naquela época, aprendi muitas outras coisas que me marcaram e determinaram os rumos de minha vida. "Civilidade", porém, emergiu do pré-consciente ao me deparar com o conteúdo do pacote entregue pelos Correios: o livro "Etiqueta Médica", enviado como presente pelo Conselho Regional de Medicina (MG) para todos os médicos de Minas.

Foi aos 11 anos que frequentei as primeiras Aulas de Civilidade, assim denominadas as palestras semanais proferidas pelos padres-professores do vetusto
Colégio do Caraça. Pretendiam ensinar aos recém chegados alunos as boas maneiras: como proceder à mesa, como relacionar-se entre colegas, como estudar, como tratar os mais velhos e as autoridades, cuidados corporais, tom de voz, propriedade nos vestir, recepção de visitas, cuidados com quem nos hospeda, virtudes da polidez, discrição, gratidão, etc.

Pois esses assuntos todos e muito mais são retomados pelo Dr. Alcino Lázaro da Silva, do qual tenho lembranças das aulas de cirurgia.

Etiqueta Médica não é simples manual de boas maneiras, um rol de salamaleques, frescuras ou futilidades. Pelo contrário, seus tópicos e comentários têm profunda interseção com e Ética. Contém dicas e recomendações que visam garantir o melhor resultado do ato médico e giram em torno do conforto e respeito ao paciente. Isso significa ÉTICA.

O Dr. Alcino bem sabe das mazelas da formação médica, no que tange à capacitação humanística. Privilegia-se o conhecimento dito científico e se alimentam os sonhos onipotentes de muitos jovens, movidos pela sedução do 'avental branco' e a constelação de fantasias de ascenção social.

Não foi sem cálculo que reproduziu, na folha de rosto do libreto, uma frase de George Bernard Shaw:

"É isso que faz do estudante de medicina a figura mais desagradável da civilização moderna. Falta de respeito e de boas maneiras"
(in O Dilema do Médico).

Há ítens dedicados ao avental, vestuário, pontualidade(*), sigilo, como lidar com os acompanhantes, uso de telefones, o corredor do hospital, etc. Dois verbetes se referem à etiqueta cibernética (internet) e uso do correio eletrônico.
Atento aos novos hábitos sociais, impreganados de informalidade, fala até da goma-de-mascar:

"Não é elegante examinar mascando. Há dificuldade em se expressar, por dois motivos. A compreensão fica difícil pelas palavras truncadas e repassa-se uma sensação de maus hábitos alimentares. Para não dizer que algum perdigoto pode ser transferido para o paciente". [pag. 16]

Ao trabalho médico iluminado pelo saber, aquecido pelo humanismo e impregnado de ética, Dr. Alcino fornece pitadas de 'boa conduta', etiqueta e... civilidade.
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(*) As pesquisas sobre o que mais irrita os usuários de serviços médicos, nos Estados Unidos, indicam o tempo de espera nos consultórios, por causa da impontualidade dos colegas. Se lá é assim, aqui é pior! Ou você nunca passou por isso?

18 outubro, 2007

Todo dia é dia de médicos e... doentes.

Todo dia é dia do Médico e do Doente. Alguns podem se iludir de que sempre comemorarão apenas o 18 de outubro, esquecendo-se de que, em algum momento, serão igualmente objeto de cuidados, ou seja, pacientes. Nunca me esqueço disso e creio que, por essa razão, tenho ótima relação médico-paciente. Dos que se julgam semi-deuses - sempre os há em qualquer profissão - quero distância!

Fiz o copy&paste da Folha de São Paulo, pois compartilho as idéias tão bem expressas pelo colega paulista, Miguel Srougi:

- Os médicos estão infelizes com os salários desonrosos. Mas imaginar que essa é a causa principal do desalento é uma simplificação injusta
Hoje, no dia dos médicos, resolvi homenageá-los. Resgatei na memória pesquisa de 2005 do Ibope sobre as instituições mais confiáveis na nossa sociedade. Como antes, me enchi de encantos: ganharam os médicos, com 81% das indicações, à frente dos padres (71%) e dos militares (69%).
Resgatei também na memória aquele momento quase indescritível, os olhos marejados e agradecidos de alguém reconquistado para a vida. Emoções incomparáveis, que só um médico pode usufruir.Nesse ponto, uma pergunta inevitável.
Apesar do Ibope e dos momentos ricos, estariam os médicos brasileiros felizes com seu entorno e seu destino? Comecei a ficar aflito ao relembrar o noticiário recente: greve dos médicos paralisa o atendimento; cirurgiões se negam a realizar intervenções pelo SUS; pacientes morrem na porta de hospitais; médicos suspendem cirurgias cardíacas e abandonam centenas na fila de espera.A aflição começou a aumentar quando me perguntei: estariam os médicos ficando insensíveis e deixando de se postar ao lado de seus parceiros, lutando contra o sofrimento?
O próprio noticiário ofereceu-me pistas para compreender a situação: em Fortaleza e em Alagoas, o salário mensal dos médicos do setor público oscila entre R$ 726 e R$ 1.500, para meio dia de trabalho; os cirurgiões da Paraíba recebem, em média, R$ 76 por intervenção que realizam no sistema público de saúde; hospitais e leitos de terapia intensiva foram inaugurados por políticos e, depois, abandonados por falta de provisão para contratação de pessoal, aquisição de equipamentos e custeio; hospitais universitários federais estão desamparados, devem R$ 450 milhões e estão totalmente desaparelhados, em alguns deles o déficit de pessoal chega a 700 funcionários; equipamentos avariados obrigam pacientes mineiros a viajar quatro horas para complementar tratamento de radioterapia.A aflição ficou quase insuportável quando compreendi que os médicos estão, sim, infelizes com os salários desonrosos.
Contudo, imaginar que essa é a causa principal do desalento representa simplificação injusta e mal-intencionada.Os médicos têm vocação para exercer com altruísmo sua missão, defendendo a condição humana e a sociedade. Na prática, são afrontados por um sistema de saúde imerso na incompetência, na indecência e na indigência, frustrando-se quando exercem a ação médica. É irrealista esperar que eles pratiquem condignamente sua profissão quando os instrumentos para uma vida digna lhes são subtraídos por gestores indecentes.Os nossos governantes, com felizes exceções, transformaram a saúde em balcão de negócios obscuros e de trocas de favores, destruindo a promissora estrutura médico-hospitalar edificada no Brasil entre os anos 40 e 60.
Os salários do pessoal da saúde foram aviltados e, hoje, só os idealistas ou os desamparados se sujeitam a trabalhar em serviços públicos. Como exigir que um médico, recebendo R$ 726 ou mesmo R$ 1.500, deixe de ter três ou quatro empregos, trabalhando até a exaustão, ou se mantenha atualizado, quando um livro técnico custa entre US$ 50 e US$ 300 e quando cursos de aperfeiçoamento têm de ser pagos pelo próprio profissional?
Essa situação se torna mais desconfortável se lembrarmos que cerca de 95% dos médicos brasileiros são assalariados, prestando serviços a entidades privadas de assistência, que contribuem para o desânimo ao cercear a autonomia e criar restrições exageradas e perigosas às ações médicas.A sociedade também alimenta esse processo perverso, assumindo atitudes de intransigência desconcertante ante seus médicos. Em todos os momentos, exige deles nada menos que a perfeição, não aceitando sequer a derrota em fatos inexoráveis, como a falibilidade humana, a existência de doenças incuráveis, a decadência pelo passar dos anos, a morte implacável.
Sociedade que, quase sempre, desconsidera o ambiente circundado pela indigência e pela violência no qual atua um sem-número de médicos brasileiros. Ignora-se a situação cruel enfrentada por esses profissionais, que exaurem seu talento e seus ideais ao clinicar em hospitais públicos caóticos, onde escasseiam ou inexistem materiais e medicamentos mais simples, onde se desgastam tratando de doenças já erradicadas em países mais sérios e onde um paciente com câncer espera até seis meses para ser internado, se sobreviver para isso.Enfim, os médicos da nação estão realmente infelizes, e muitos brasileiros julgam que, tanto na saída como na chegada, o sentimento tem a ver com salários ou benefícios materiais.
Contudo, é importante que se compreenda que os drs. Severino Baiano, José Pernambucano, João Paulista ou Antonio Mineiro, que dedicam suas vidas e emoções para aliviar o sofrimento alheio, estão infelizes, quase nunca por causa de interesses pessoais menores, mas porque a maioria é vítima da combinação perversa de uma sociedade complacente e governos indecentes.
Realidade que Riobaldo, o jagunço filósofo de Guimarães Rosa, sabia muito bem como descortinar: "Digo, o real não está na saída ou na chegada, ele se dispõe para a gente no meio da travessia".
Miguel Srougi, 61, médico, pós-graduado em urologia pela Universidade Harvard (EUA), é professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP.

14 outubro, 2007

Travessia

Entre a partida e a chegada há o que Guimarães Rosa considera a 'travessia':


- Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada.


É o que acontece nas viagens, antevividas desde o sonho e a preparação, a compra das passagens, o roteiro, a esperança ou o desejo dos encontros. A vida é, igualmente, uma viagem e uma travessia, cheia de mistérios e acontecimentos, alegrias e tristezas. Buscam-se para o viver: explicação, sentido, controle, conhecimento, leveza, memória que preserve os bons momentos por meio de imagens e recordações, fotos e lembranças.

Por isso narramos e descrevemos o acontecido, as peripécias, aventuras e vicissitudes, percepções e impressões. E, no narrar, revivemos...

A viagem que encerramos na madrugada de hoje teve muitos objetivos: participar do Congresso de Psiquiatria, passear pela serra gaúcha, comemorar nosso aniversário de casamento e rever amigos.

Para cada ítem caberá diferente linguajar, mesmo que o narrador seja o mesmo. Fatos serão ressaltados de acordo com a pretensa objetividade (jamais plena, bem o sabemos).

Mas a fidelidade que persigo, agora, é falar com alma e coração do Encontro que venceu o éter cibernético e o écran luminescente dos computadores e se concretizou em convivência de amizade. Na Travessia entre partida, chegada e retorno, tivemos histórias, famílias, amizade.

Falar com alma e coração do que experimentei nesses dias em Porto Alegre é tarefa para poetas, daqueles que ultrapassam o simples manuseio das palavras e transformam o vivido em 'universal', retratando o indizível das travessias que são as experiências cotidianas, encontros e desencontros.

Assim, meus caros Afonso e Milton, guardaremos, Amélia e eu, cada momento de convivência, cada chiste e cada abraço, cada delicadeza e a infinidade de sabores.


Ao Milton e sua Cláudia, nosso muito obrigado: compartilharam a própria casa de tal forma que nos sentimos à vontade, velhos conhecidos, amigos íntimos, simples assim.

A foto abaixo ilustra o clima de amizade, fruto de identificações e liberdade: nossas mãos em seus ombros obedeceram a script ditado pelo afeto:

Tainha na Telha (Mercado Central de Porto Alegre-RS)

Mais fotos e palavras belíssimas sobre nossos encontros foram postados pelo Afonso, aqui.

11 outubro, 2007

Micro-notas

Na azáfama que atormenta um congressista - não tipo daqueles de Brasília - mas tipo deste aqui que vos fala, diretamente do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Porto Alegre - consigo um minutinho para deixar micro-notícias:

1. Consegui dormir a noite toda, de ontem pra hoje, na cama adrede preparada pelo casal Ribeiro-Antonini, num certo quarto amarelo. O segredo de uma boa noite de sono? Leia aqui.

2. O jantar que Madame Antonini preparou é qualquer coisa que somente grand-chefs conseguem produzir: legítimo risoto de camarão e uma surpreendente salada temperada com quelque chose éxotique... segredos, segredos. Se alguém souber como se deliciar e não engordar, conte-me. Ouvi dizer que o importante é 'comer sem culpa'. Tá bão...

3. O D. Afonso já contou nosso reencontro às margens plácidas do Guaíba, que não se sabe se é rio, lago, baía, enseada ou assemelhados. Tem até photographias.

4. Neste momento, Amélia faz um city-tour, enquanto o maridão assiste palestras (ou tecla estas micro-notas). Ninguém é de ferro.

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Azáfama e adrede são palavras buscadas no baú da memória para fazer jus ao linguajar pampeiro... quem for bagual que o diga.

08 outubro, 2007

Novo endereço (provisório)

Tenho o prazer em comunicar que, de ontem até quarta-feira, estaremos atendendo na Rua da Bavária, em Gramado-RS. Ressaltamos que nossa ocupação será apenas lazer: passeios, fundues, caminhadas, relax... Estaremos juntos, Amélia e eu, comemorando aniversário de casamento, namoro, etc. e tal...


De quarta a sábado, desceremos a serra e aportaremos na mui leal e tri-legal cidade de Porto Alegre. O local de nosso esconderijo só o sabe o mui leal amigo Milton Ribeiro que, juntamente com sua consorte Cláudia, nos acolherá num certo quarto amarelo... honra e distinção, meus caros!


Ontem, antes de aportarmos a Gramado, ainda tivemos o prazer de conviver com três nobres representantes da realeza gaúcha: D. Afonso, Kaya e a Condessa Clarissa.


Sorry, periferia!

03 outubro, 2007

Viagem no tempo

Minha alma de criança demonstra sua imortalidade toda vez que me deparo com alguns brinquedos. Lembram-me fantasias de outrora, quando um pedaço de madeira virara revólver ou uma latinha vazia de sardinha era a carroceria de um caminhão.
O quintal era um reino encantado, cheio de possibilidades, onde tudo poderia ser qualquer coisa, bastava imaginar, sonhar, viajar nas fantasias.
Alguns brinquedos remetiam à realidade que me atraía. Por exemplo: o ferrorama era o trem-de-ferro que apitava de madrugada, ao atravessar as brumas sob as quais a cidade dormia. Lá vai o trem para Vitória... lá vem o trem de Belo Horizonte. Meu pai trabalhava nos Correios e despachava malas, conferia fardos, às vezes até viajava (e eu com ele, algumas vezes) acompanhando o carro-correio.
Em Curitiba, ano passado, fiquei babando diante do ferrorama do Shopping Estação. Voltei no tempo e mais horas passaria ali caso o relógio fosse mais camarada. Lembrei-me da Sony N1 a tiracolo e trouxe comigo o 'trem de Curitiba'. Voltei a ser criança.




Lembrei-me deste post que escrevi em 2004:
O trem-de-ferro compõe o cenário mágico das viagens (reais e imaginárias) de grande parte da minha infância, pois era a melhor maneira de visitar tios e primos. Alguns viviam ferrovia abaixo (CVRD), em Coronel Fabriciano. Outros, ferrovia acima (EFCB), em João Monlevade. De N.Era a Belo Horizonte eram 07 horas de viagem!
Duas lembranças fortes:
Primeira: a chegada do trem na estação: "Olha o trem!", berravam todos, diante daquele monstro de ferro, apitando e silvando os freios. Correria para pegar o melhor assento: "Eu na janela, eu na janela!" O apito do chefe-da-estação anunciava a partida e lá íamos, alvoroçados, deixando para trás a plataforma apinhada, os acenos de despedida e um frio enorme na barriga: uma aventura!
Segunda: o vendedor de comidas, cambaleando com o sacolejar incessante do trem, a oferecer sanduíches de "salame" com guaraná e maçãs enroladinhas naquele papel de seda azul claro. Como cheiravam! Raramente tínhamos maçãs em casa, portanto era uma festa só.
Ah! e os biscoitos de polvilho? E o chacoalhar dos vagões? E os apitos que anunciavam ponte ou túnel?
Minha primeira grande saída de casa foi quando fui estudar no Colégio do Caraça: meu pai e eu, no trem, no tempo remoto de meus 11 anos... A cidade ficava lentamente para trás, o casario rareava e os campos se sucediam. O comboio sempre margeando o Rio Piracicaba ou outro qualquer. Os postes de telégrafo surgiam a tempo certo, com os fios fazendo uma enorme barriga, até novo poste, e outro, e mais outro, infinitamente.
Mais tarde, uma emoção estética: assisti à estréia do ballet "O último trem", com o grupo Corpo. Música de Milton Nascimento! Revivi tudo: O tac-tatac das rodas de ferro marcava as emendas dos trilhos e servia de improvisado metrônomo para canções murmuradas a sós.
Meu pai trabalhava nos Correios e, ocasionalmente, conduzia as malas num compartimento especial, chamado Carro-Correio, no qual me levava, vez por outra - eu não teria de pagar passagem! Era mister certo cuidado, entretanto: "O chefe-de-trem não pode vê-lo!". Uma aventura: eu e meu pai, meu pai e eu, contando as estações, descobrindo árvores, horizontes, rios e - sublime momento - cachoeiras! "Olha uma ali!", gritava quem via primeiro.
A volta para casa era plena de casos e, sempre, com uma preciosidade: maçãs para os meninos!