31 dezembro, 2005

DA ESPERANÇA ou Idéias para começar mais um ano

“A esperança é irmã do desejo.”

Essa frase me ocorreu de repente, num estalo. Não me lembro de tê-la ouvido ou lido em qualquer lugar. Por ora, se quiserem citá-la em algum discurso ou obra literária, por favor, dêem-me o crédito: “A esperança é irmã do desejo”, segundo Cláudio Costa! Espero (= desejo ) que o façam.

Penso começar por aí a “oficina sobre a esperança”, que coordenarei no KalaCultura, Diversão e Arte. Participarão pessoas da “terceira idade”, frequentadores daquele simpático espaço, em busca de conhecimento, diversão, convívio e qualidade de vida no sentido amplo. Convidou-me uma das diretoras, a Beatriz, com a seguinte indicação:
- “Tem um tema que eu gostaria muito que você viesse destrinchar para nós: a esperança!
Perdemos uma cliente neste início de ano, ela teve um câncer que a levou muito depressa. É sempre um abalo no grupo.
Ficou um ponto em questão em nossas conversas, mediante a idade de todas elas e a vontade de fazerem planos, o nosso apoio para que se envolvam em novos projetos e, ainda, a finitude da vida, que não queremos negar: planejar, sim, mas em que medida? Como pensamos a passagem do tempo e a nossa necessidade de fazermos "reservas"? Qual o papel da esperança?”

Ah! O estalo ocorreu exatamente quando recebi o convite: “A esperança é irmã do desejo”. A idéia talvez comporte algumas variáveis: “A esperança existe em função do desejo”. Ou: “Sem desejo não há esperança.” Ou, então, bem radical: “Esperança é desejo!”

Outras idéias começaram a pipocar (“esperem todo o milho estalar, senão vai dar muito piruá”, dizia minha mãe, quando ficávamos em torno do fogão, crianças ainda, loucos para comer pipocas) e aí, o melhor é ter calma, senão...
Bom, se desejo e esperança se articulam tão intimamente, o que seria este tal de “desejo”?

Sei que NÃO é necessidade. NÃO é compulsão. NÃO é impulso.

Se a Psicanálise atribui a gênese do desejo à proibição do objeto sexual (tabu do incesto), na vida comum, longe de teorias complicadas, concorda-se que o desejo é algo distinto do querer. Aceitamos mesmo que o desejo possa ser inconsciente a ponto de sermos por ele traídos - assim o demonstram os atos falhos.
Somos seres-de-desejo, isso nos diferencia dos animais. E só desejamos quando experimentamos a falta: a castração! Complicado... Quando alcançamos o objeto desejado, o desejo morre. Ainda bem que este tal de objeto desejado NUNCA É O OBJETO TOTAL, completo, absoluto e isso nos garante continuar desejando... Ufa! Ainda bem.

Corri pra o Houaiss e lá estava a correlação que pipocara em minha cachola:
Desejo = ato ou efeito de desejar; aspiração humana diante de algo que corresponda ao esperado; aspiração humana de preencher um sentimento de falta ou incompletude.

Eureka! A conexão estava lá. Só há desejo quando há falta. E a maior de todas as faltas é a danada da Morte. A certeza de sua chegada ( sempre inoportuna ) é a grande castração (falta) sob a qual vive o ser humano. Se tivéssemos a garantia da imortalidade, nada faríamos, pois nada desejaríamos.
Tudo aí, na nossas fuças!

E quem deseja, quem espera (tem esperança), sonha. Ou seria o contrário: só quem sonha tem desejos e esperanças? Acho que é isso: é preciso aprender a sonhar, ou cultivar os sonhos, ou acreditar neles. Talvez seja uma boa maneira de viver, driblar a Morte: sonhar.

Não se tratam, aqui, dos sonhos dos lunáticos e delirantes, mas do sonho que engendra a ação, a construção, a busca ativa. Quase inventaria: a sonha-ação!
Na homepage do Kala, descubro esta frase atribuída a alguém que não conheço, John Barrymore: Um homem não está velho até que comece a lastimar em vez de sonhar.
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(Publiquei este post há alguns meses. Acho que é um tema interessante para começar o ano...
Feliz Ano Novo!!!)

30 dezembro, 2005

Mapalupuquipicepe

Umpumapa daspas coipoisaspas quepe mepe ipirripitapavampam eperapa epessapa linpinguapa dopo pêpê quepe minpinhaspas tipiaspas upusapavampam enpenquanpantopo cospostupurapavampam, napa capasapa dopo vopovôpô Ipilipidinpinhopo.
Depemoporeipei apa depecopodipifipicarpar.
Quanpandopo despescopobripri quepe eperapa apa linpinguapa dopo pêpê, epelaspas copomepeçaparampam apa upusarpar apa linpinguapa dopo efeerre:
Voforrocêfêrrê confonronheferreceferre?

27 dezembro, 2005

Cuide bem de seu médico

Você que é, foi ou será cliente de um médico, sabia que aquele que deve(rá) cuidar de você é o profissional liberal mais estressado?
  • Vários fatores concorrem para isso:
    a) as condições de trabalho são, geralmente, pesadas
    b) o cansaço é crônico
    c) o número de pacientes por jornada é excessivo, levando à pressa
    d) as dificuldades financeiras são cada vez maiores: há 09 anos não recebem aumento dos planos de saúde - (Média: 17 reais/consulta)- os quais - em igual período- aumentaram em 240% o valor das anuidades/mensalidades dos usuários
    e) a maioria dos profissionais trabalha em 3 ou mais empregos, correndo de um lado para outro
    f) pouco ou nenhum tempo dedicado ao lazer e à família

Os impactos sobre sua pessoa são físicos e emocionais, segundo o Dr. João Gabriel M. Fonseca, em entrevista ao jornal do CRM de MG, tais como:
  • irritabilidade,
  • supervalorização de pequenos contratempos,
  • hipertensão,
  • dores musculares e na coluna,
  • depressão e ansiedade,
  • dificuldade de concentração.

De acordo com os estudos do Colégio Médico de Barcelona-Espanha, os médicos estão mais propensos a:

- abusar de sedativos, tranqüilizantes, analgésicos e estimulantes;
- desenvolver a síndrome do stress e do esgotamento emocional;
- suicidar-se, apresentando uma taxa 3 vezes e meia mais alta que a população em geral. Na Espanha, desde que foi criado o Programa de Atenção Integral ao Médico Enfermo (PAIME), em 1988, 60% dos casos atendidos são por problemas psíquicos e 26% por abuso de bebidas alcoólicas!

O Conselho Federal de Medicina do Brasil e o Colégio de Médicos de Barcelona assinaram um protocolo de intenções com o objetivo de oficializar a cooperação espanhola na elaboração de um programa brasileiro de atenção à saúde do médico.
Por outro lado, o profissional da Medicina é um péssimo cliente: cuida mal de si mesmo! O mesmo jornal enumera as razões para isso:
a) o médico se acha invulnerável e não se assume como paciente
b) geralmente esconde de colegas e de familiares o fato de que está doente ou tem algum sintoma
c) tem medo de não poder exercer a profissão, caso descubra que está doente
d) evita salas-de-espera de consultórios, procurando consultas informais, pouco resolutivas
e) geralmente não tem recursos financeiros para custear seu próprio tratamento.

Assim como já escrevi sobre
quem vigia os que vigiam?, agora é hora de perguntar:
  • Quem cuida dos cuidadores?
  • E você, já está cuidando de seu médico?

[Já publiquei este post antes]

25 dezembro, 2005

Trovas de Natal

Meu grande amigo Paulo Alonso, meu irmão de Brasília, é filho do João Tavares.
Irmão Jota, como gosta de assinar, nasceu no Rio em 1920, foi para BSB em 71 e se dedica ao próximo incansavelmente.
Há duas semanas estivemos em sua casa, no Lago Norte, onde ele e sua Hilda nos receberam como príncipes: mesa farta e conversa calorosa!


Pois o Sr. João presenteou-me com seu recém publicado "Evangelho em Quadrinhas", , que é uma graça! Simplicidade e fé fazem do seu libreto um companheiro inspirador: por isso tenho-o sempre à mão. Eis a descrição do Nascimento de Jesus, nas trovas do "Irmão Jota":


Por decreto de Augusto,
Imperador do momento,
Deveria haver no mundo
Um total recenseamento.

Todos deviam fazer
Na sua própria cidade
As declarações pedidas
À gente de toda idade.

Sendo José descendente
Da estirpe de David,
Deveria ir a Belém
E recensear-se ali.

Partiram de Nazaré,
Que fica na Galiléia,
À cidade de Belém,
Situada na Judéia.

Na cidade de Davi,
Não achando hospedaria,
Tiveram que se alojar
Numa velha estrebaria.

Enquanto ali se achavam,
Maria teve o seu filho,
Envolveu-o em panos velhos,
Deitou-o em palhas de milho.

E o Verbo se fez carne
E habitou entre nós.
Para estar na Sua glória,
Basta ouvir a Sua voz.

Que os versos singelos do Sr. João possam nos inspirar na lição de humildade daquele menino, nascido numa manjedoura. Feliz Natal.

22 dezembro, 2005

- Se eu fosse Papai Noel, sabe qual presente distribuiria para todas as pessoas?
- Qual?
- Eu distribuiria o dom da escuta.
-?
-É, o dom da escuta.
- Anh...
- Se aprendêssemos a arte da escuta, o mundo seria outro. Você já prestou atenção como é difícil escutar alguém? De maneira geral, as conversas parecem diálogo de surdos: um fala, outro retruca, o primeiro replica, aquele treplica. Cada qual tenta convencer o interlocutor de uma verdade própria.
As discussões políticas, religiosas, futebolísticas, econômicas... todas se orientam pelo desejo de cada um proclamar a sua verdade, convencer o outro. Colegas de trabalho se encontram e cada um fala de si. Perguntam 'Como vai? Tudo bem?" e logo emendam uma assunto qualquer. Contam-se vantagens, tragédias, piadas. Fala-se de abobrinhas. Mas não há uma abertura para o outro.

- Por que será?
- Há explicações diversas, quase todas convergindo para o predomínio do individualismo no mundo atual. Cada qual na sua. Também se diz da dificuldade de se estabelecerem laços mais profundos, compromissos interpessoais...
- É mesmo.
- Inda mais, fala-se muito! Uma falação danada! Não há silêncio, não há reflexão. Não há tempo! Pressa, pressa, pressa. "Dá licença... até mais ver... amanhã a gente se fala... depois te ligo". E fica por isso mesmo. A verdadeira escuta é generosa, calma.

- Mas não dizem que a internet revolucionou o mundo, facilitando a comunicação entre as pessoas?
- Meia verdade. Trocam-se informações instantaneamente. O mundo está sem fronteiras, etc. Mas eu me refiro à escuta pessoal: tempo de ouvir, tempo de refletir, tempo de responder. Pois hoje é tudo muito rápido: abre-se um e-mail e logo se dá a resposta. Muitas vezes nem se relê o escrito. Emoções podem perpassar um texto sem que o remetente se dê conta. Tudo muito objetivo, rápido, zás-trás!

- E então?
- Então, é Natal. Vamos "escutar" o que nos diz o Natal. Desliguemo-nos das luzes que enfeitam as cidades, do alarde do comércio, das musiquinhas e do bimbalhar dos sinos. Aprendamos a escutar.

- É difícil...
- Lembro-me daquela mãe que fazia sua filha dormir, toda noite. Após contar-lhe umas histórias, levantava-se devagar e apagava a luz do quarto. Certa noite, a mãe começa a falar e percebe que a luz estava apagada. Pergunta: "- Filha, quer que acenda a luz?". "Não, mamãe, basta que você fale. Quando você fala, TUDO FICA CLARO!"

- Bom Natal!
- Boa escuta!

20 dezembro, 2005

Renovar a frota, eis a questão!


Neste mês de dezembro, mais do que a azáfama natalina (comprar o quê para quem?) provocada pelo transformação do Natal em período áureo do capitalismo, estamos às voltas com nosso projeto de trocar de carro, uma vez que a "frota" familiar está caindo pelas tabelas:

- "Batendo biela", "entortando a rebimboca da parafuseta", "queimando óleo", "dando tilt", "resfolegando no morro e despencando nas ladeiras", "chacoalhando que nem caminhão de galinhas", eis o arsenal descritivo que resume a situação.

Antes de tomar decisão tão grave, fui lá eu pesquisar "qual o melhor carro que se encaixa no meu saldo bancário atual (devedor!) e pelos próximos 48 meses" (ou seja, comprar é possível, desde que seja até perder as vistas...).

Descobri uma pesquisa feita pelo
Rafael Porto, publicitário, professor ddo Depto. de Publicidade da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília:



Eis aqui o resumo da tese:

Carros Compactos: unanimidade entre pessoas que valorizam desafios. Em sua maioria, são jovens estimulados pela novidade.
[Este é o meu caso, vou atrás de um compacto!]

Utilitários/Esportivos: carros esportivos e jipes preferidos por mulheres jovens, que valorizam a boa saúde física e mental.
["Compra uma Cherokee, compra!", suplicam Amélia e Ana Letícia...]

Sedans: escolha das pessoas que prezam pelo poder e pelo bem-estar da família. Querem ter status social e domínio sobre os indivíduos.
[Prezar o bem estar da família, eu garanto que sim! Agora, domínio sobre os indivíduos só depois de dominar a mim mesmo. O que está loooonge de acontecer!]

Minivans: objeto de desejo de quem tem valores de autodeterminação, que busca liberdade e conforto.
[Eu, eu mesmo!]

Picapes: escolha natural de pessoas que acreditam na realização pessoal e se empenham na busca do que querem.
[Risca tudo o que escrevi acima, eu quero é uma picape!]

Li, reli, tresli.

Meu perfil psicológico encaixa-se em todos os subtipos descritos. Descubro, atarantado, que sou polivalente, multifacetado, megalomaníaco, sugestionável por qualquer propaganda...

Sugiro que se inclua, como fator preditor determinante, a conta bancária do sonhador e sua capacidade de endividamento.
Neste quesito, estou entre o
sonhador delirante e o realista desesperado.

E você?

17 dezembro, 2005

Matéria de memória:

Lembrei-me agora de como fui me despertando para o mundo simbólico da poesia.

Não aquela poesia "escolar" aprendida no Grupo Escolar Desembargador Drummond, lá de Nova Era, terrinha mineira e simpática às margens do Rio Piracicaba....

Falo de quando minha cabeça foi se abrindo para o
mundo mundo vasto mundo, nas aulas de Literatura Brasileira, no antigo Colégio do Caraça. Maurílio Camello e João Batista Ferreira, outrora padres e professores, fizeram-me a cabeça. Por conta disso, tive a ousadia de escrever uma cartinha ao tio-padrinho Ismar, pedindo um livro do poeta Carlos Drummond de Andrade.

Tio Ismar tinha um modo especial de me presentear: foi-me dando, aos poucos, os livros de Monteiro Lobato, desde O Sítio do Picapau Amarelo até História do Mundo para as Crianças. Como eu viajava naquelas narrativas...

Tenho outras histórias com o Tio Ismar: deu-me o primeiro método para aprender piano, o Schmmol; levava-me a passear na Capital e, com ele conheci o asfalto (que ele brincava de chamar "chão preto"); levou-me a almoçar num restaurante "giratório", onde fiquei entre a comida deliciosa e o assombro diante das mesas que, literalmente, davam uma volta completa sobre o salão!!!


Pois bem, o tio atendeu meu pedido e enviou-me um exemplar da Antologia Poética, de Drummond. A correspondência passava na "censura prévia" do padre disciplinário (como casam os padres, este já se casou, também). Chamou-me ao seu gabinete, senho franzido, aspecto grave, tom de preocupação:

"-Meu filho, olhaqui, chegou um livro prá você, de um poeta muito esquisito!".


Impetuosamente lancei mão do livro recém desembrulhado, sobre a mesa.


"-Não! quero comentar com você algumas coisas: veja essa poesia aqui... nem sei se é poesia".

Leu no meio do caminho tinha uma pedra..., "isso parece coisa de ateu, meu filho, sem esperança!".

Selecionou outro poema,
A Mão Suja. Escandindo bem as palavras, voz de mistério, reticente:


"- Minha mão está suja.
Preciso cortá-la.
Não adianta lavar.
A água está podre.
Nem ensaboar.
O sabão é ruim.
A mão está suja,
suja há muitos anos."


"-Tá vendo, meu filho? isso não é coisa para um jovem puro e inocente como você. O autor está incentivando a masturbação! Isso vai desviar você do bom caminho!".


Dito isso, guardou o livro sob chave, numa gaveta da escrivaninha.

Desde então, nunca mais vi a Antologia Poética do Drummond!


Minha mãe, sabedora do meu gosto pela literatura e pelo poeta itabirano, passou a me enviar, semanalmente, recortes do jornal Estado de Minas, com as crônicas e poemas do poeta C.D.A.! Mãe é mãe.


Até que, saindo do Colégio, com um dos meus primeiros dinheirinhos, logo comprei aquele livro e muitos outros.... Só então, após anos, pude, enfim, usufruir do "presente" do Tio Ismar!

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Atualização:
Hoje, domingo (18), mais um show do
Chapéu Panamá
no Calle Pub (Seis Pistas, próximo ao Biocor - saída para Nova Lima). Samba de raiz com a "nova guarda do samba". Vamos?

15 dezembro, 2005

Museu de Artes e Ofícios

Há algum tempo, fiz um passeio com meus pais (Soié e Aparecida) na antiga estação ferroviária de Belo Horizonte. O prédio estava sendo remodelado para instalação do Museu de Artes e Ofícios e já nos fazia antever quão maravilhoso seria.
Visitamos uma instalação multimídia, com fotos do início do século passado (Belo Horizonte acaba de completar 108 anos), da construção de vários prédios públicos, imagens de visistantes ilustres (Príncipe Albert, da Bélgica; Getúlio Vargas), campanhas políticas, etc.
Meus pais ficaram empolgados, relembrando as viagens que fizeram à capital, ainda na década de 40. Soié apontava, nas fotografias, os lugares percorridos, acontecimentos pitorescos, pensões onde se hospedara. Impressionante a capacidade de evocação dele e da minha mãe.
Naquela época, de Nova Era a Belo Horizonte o trajeto era percorrido pelos trilhos da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB), em vagões puxados pelas "marias-fumaça", as locomotivas fabricadas nos EEUU e na Inglaterra.
Demorava-se mais de 8h para vencer os 140km de vales, rios e montanhas, geralmente margeando rios e córregos (Rio Piracicaba, Rio das Velhas...). Cidades históricas eram atravessadas pelo único meio de transporte "moderno", alternativa às tropas de burros, que levavam mantimentos para cidades que se denominavam de acordo com sua localização: Itabira do Mato Dentro, São Gonçalo do Rio Acima, São Gonçalo do Rio Abaixo, Conceição do Mato Dentro, São João do Morro Grande, etc.
Nesta semana, finalmente, inaugurou-se o tal museu, que será aberto definitivamente ao público em 10 de janeiro de 2006. Do pouco que vi, dá para recomendar: será um programa imperdível para quem visitar Belo Horizonte. Para os habitantes daqui, servirá de resgaste da memória de uma cidade que se transforma velozmente: em 108 anos evoluiu de uma fazenda às margens do Córrego do Leitão para a metrópole de mais de 3 milhões de habitantes.
O Portal Uai trouxe esta notícia:
O primeiro empreendimento museológico do Brasil dedicado integralmente ao tema das artes, ofícios e trabalho foi inaugurado nesta quarta-feira em Belo Horizonte. O Museu de Artes e Ofícios ocupa os prédios históricos da Estação Central onde funciona a principal estação do metrô e um ramal ferroviário, numa área de 9.200 metros², na Praça Rui Barbosa, no centro da capital mineira. A visitação do público estará aberta a partir do dia 10 de janeiro. O projeto, do arquiteto e museólogo francês Pierre Catel, é uma iniciativa do Instituto Cultural Flávio Gutierrez e foi desenvolvido a partir da doação ao patrimônio público de uma coleção de 2.200 peças, dos séculos XVIII, XVIX e XX, feita pela empreendedora cultural Ângela Gutierrez.
O acervo vai apresentar ao público um amplo painel da história das relações sociais do trabalho no Brasil, nos últimos dois séculos - as tecnologias de produção da era pré-industrial, os fazeres, artes e ofícios que deram origem a muitas das profissões contemporâneas. Poderão ser vistos ferramentas, utensílios e equipamentos, que caracterizam formas de conhecimento e revelam diferentes condições de trabalho. Entre os destaques estão uma carpintaria do século XVIII, movida a água, e uma balança de pesar escravos, do século XVIII.

14 dezembro, 2005

12 dezembro, 2005

“Cansei de ser moderno, agora quero ser eterno"

No Caderno Pensar, de sábado, Inez Lemos, psicanalista, faz considerações lúcidas a respeito do que é ser moderno, num mundo dominado pela globalização e pelos imperativos do consumo:

O mundo contemporâneo direciona o sujeito e sua racionalidade, dominando sua subjetividade e sua natureza. A vida moderna está sendo programada em função de interesses que rompem com o modelo clássico da existência humana. Para tanto, ela requer sujeitos dóceis, que se submetam aos imperativos sistêmicos da tecnoeconomia.

O ser humano poderia viver mais livremente, segundo a psicanalista, na medida em que exerça o fantasiar e o sonhar. Mas adverte:

Para nos tornarmos bons de fantasia, é preciso desejar mais com o coração e menos com o bolso.

Com tantos objetos de consumo oferecidos como garantia de felicidade total, o homem contemporâneo não tem tempo de desejar, apenas de correr atrás, compar, comprar e comprar:

Vivemos o sentido único, o sentido dado pelo mercado, pelo discurso da ciência e do capitalista. O mal-estar hoje está em se deixar contaminar pela narrativa do medo, do individualismo e do dinheiro.

Além disso, marca de nosso tempo, há as promessas de um corpo perfeito, saúde perene, beleza sublime. As academias, os cosméticos e os medicamentos estão aí como qualquer outro produto. Vai querer?

Acredito que quem teme tanto a morte é porque não acredita no poder da vida. Vive a vida de forma fraca, fragmentada. A vida, a idade, tudo vai. Vaidade. Viver a vida com medo da idade é tenebroso. O temor exacerbado da velhice revela a precariedade do ser humano, quando esse se ocupa pouco em explorar os subterrâneos de seu inconsciente, do saber mais de si. A ocupação com o corpo carne aponta para o descaso com o corpo erógeno, o corpo psíquico. Existe uma parte da vida que está sendo abandonada em função da obsessão pelo falso prazer. A vida que deixamos de esculpir com aos livros, romances e contos. A vida que está sendo forjada nas academias e nas drogarias é um pastiche, um simulacro. O eu moderno é perfeito por fora, oco por dentro e pode se perder em qualquer esquina...

Quase não há mais lugar para a poesia em nossas vidas. O ruído das músicas, do tilintar das máquinas conta-níqueis, da televisão e dos anúncios não permite reflexão, tempo de digerir idéias e fruir metáforas:

Acreditamos mais na televisão que nos livros. Nossa poesia é exibir bundas e seios siliconados.

A saída, onde está a saída? Carlos Drummond de Andrade é convocado a responder:

“Cansei de ser moderno, agora quero ser eterno”.

11 dezembro, 2005

De volta pra casa


Por melhor que tenha sido o passeio, o retorno ao habitat proporciona sensação de aconchego, segurança, como um barco que ancora em porto seguro.
Chegar em casa, após uma viagem, tem seus rituais: abraçar os filhos, contar as peripécias, dar notícias dos amigos, desfazer as malas, tomar banho, respirar e suspirar: "lar, doce lar!".
Se, há algum tempo, mandar revelar as fotos adiava o momento de rever as cenas e pessoas encontradas durante o passeio, hoje o comum é correr ao computador e "descarregar" a câmera digital.
São imagens de significado absolutamente pessoal, que nos fazem rememorar momentos significativos, sorrir à lembrança de fatos engraçados, comentários, trocas afetivas, paisagens marcantes.
Somos todos "passageiros" desta vida. As fotos prometem uma permanência impossível, porisso são tão importantes. Como diria o poeta Drummond, numa circunstância outra:
"Nunca me esquecerei destes acontecimentos, na vida de minhas retinas tão fatigadas..."



08 dezembro, 2005

B R A S Í L I A !

Estamos aqui no Planalto Central, Amélia e eu! Chegamos hoje, pela manhã, recepcionados com carinho pela amiga M. Auta, que nos esperou no aeroporto.

Hoje é feriado em B.Horizonte, festa da padroeira da cidade (N.S. da Conceição). Nada como enforcar a 6a. feira, que ninguém é de ferro, né?

Resultado, corremos pro site da BRA e encontramos passagem a R$ 103,00 (!), menos do que se paga pelo ônibus. Resistir, quem há-de?

A competição entre as empresas aéreas está derrubando os preços! Pela TAM e GOL, encontrei passagens de R$ 203, a pouco mais de R$ 400.
Amélia, mineira da gema, logo perguntou se o avião era seguro. Respondi, meio sério:
- Ninguém garante... devem utilizar os antigos DC-3 ou aqueles Viscount da ponte aérea... (hehehe).
Consequência: Até convencê-la de que, se um piloto se anima a pilotar um boeing, é porque ele "acredita" que aquilo vai voar...
Essa é minha tese,para anular qualquer fobia aérea! Funciona: acredito nas estatísticas sobre segurança de vôo: "É mais fácil morrer atropelado em frente a sua casa do que num desastre aéreo". É o que dizem...
Mas preveni:
- Vamos comer uns pães-de-queijo antes do embarque, pois não deve ter nem água mineral a bordo.
Surpresa! Fomos servidos com sanduíche, bombom, bolinho, refri, suco, água. Lanche melhor do que as balinhas com amendoim da GOL.
Já aqui em Brasília, demos uma voltinha pelo Lago Sul e tomamos um café no Blue Tree Alvorada, aquele que hospedou o Bush. (Postarei fotos, quando retornar a BH).
Passamos na Esplanada dos Ministérios e pegamos o maridão da Autinha (como Amélia a chama) e fomos almoçar no FRITZ (CLS Qd 404), onde traçamos eisbein , trutas espalmadas ao molho de alcaparras, creme de espinafre, arroz com brócolis. Tudo regado com uma Bohemia geladíssima, pois o tempo, apesar de nublado, está abafado. (Quando se fala em tempo fechado aqui em BSB , logo se pensa na situação política... mas isso é outra história).
Agora, curtimos a mordomia aqui na Península (Lago Norte), numa casa aconchegante, desfrutando da amizade tão preciosa deste casal brasiliense.
Amanhã veremos outros amigos, Paulo & Letícia, que sempre nos visitam em BH.
Será um fim-de-semana especialíssimo, junto a pessoas que amamos.
Quem encontra um amigo encontra um tesouro.

Pois então, somos ou não somos ricos?
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Domingo, a gente volta correndo, ou melhor, voando, a tempo de assistir mais um show do Chapéu Panamá, na CALLE.

06 dezembro, 2005

OS BISCOITOS NATALINOS DA AMÉLIA


Amélia tem dons raríssimos: amabilíssima, companheira, solidária, bonita, etc. e tal...
Hoje, uma pequena amostra de seus dotes artísticos: confeccionou uma série de Biscoitos Natalinos, todos confeitados, nos mais diversos formatos.
Foram para a festa da Ledinha, namorada do Leo.
Se os convivas provaram a delícia produzida pela Amélia, nós podemos compartilhar, aqui, sua beleza.

Com biscoitos tão lindos e deliciosos, impossível não acreditar no Natal...

03 dezembro, 2005

BLOGS EM FAMÍLIA


Ismael Cirilo(82 anos), meu pai, está com a corda toda, "está com tudo e não está prosa"! Seu blog Ontem e Hoje foi indicado para o III Prêmio Spoiler de Cinema & Blog, na categora "Melhor Interação de Comentários".
Acho a escolha acertadíssima, pois se há quem gosta de um bom papo, interage com todos e tem o melhor humor do mundo, este é o Soié.
Vá lá, confira e vote! O filho aqui agradece.


Mais uma do
Soié: ele foi homenageado no blog da Meire, Pensamentos e Poesias, com direito a foto e tudo!

A nova guarda do samba, o Chapéu Panamá, na qual tocam meus dois filhotes, Ângelo e Leo, já tem um blog.
A turma convida para um show amanhã, domingo, dia 4.12.05, no Pau&Pedra, Av. Getúlio Vargas, esquina com Afonso Pena.
Vai ter samba de qualidade e muita animação a partir das 19h.
"
Quem não gosta de samba, bom sujeito não, tá ruim da cabeça ou doente do pé!"

MineirasUai!, produzido por três graciosas mineirinhas, dentre as quais minha filhota AnaLetícia, continua a todo vapor.
Êta blog bão, sô!

02 dezembro, 2005

Franz Kafka: Aforismos em Virtual Book

Conheci alguns escritos de Franz Kafka ainda na adolescência. Impressionou-me demais a Metamorfose. Depois li O Castelo e pude entender, claramente, o que é uma situação kafkiana.

Hoje, descobri, no Virtualbooks do portal Terra, a obra póstuma 28 Aforismos, que pode ser baixado no seu computador ou lido na telinha.
Amostra grátis, só pra dar um gostinho:

01
O caminho verdadeiro segue por sobre uma corda, que não está esticada no
alto, mas se estende quase rente ao chão. Parece mais determinado a fazer
tropeçar, do que a ser transitável..
02
Todos os erros humanos resultam da impaciência, uma ruptura precoce do
metódico, um aparente bloqueio das coisas aparentes.
03
Há dois pecados humanos capitais, dos quais se derivam todos os outros:
impaciência e indolência. Por impaciência foram os humanos expulsos do Paraíso;
por indolência não regressaram. Entretanto talvez haja somente um pecado
capital: a impaciência. Por impaciência foram expulsos, por impaciência não
regressaram.
04
Muitas sombras de gente já falecida ocupam-se somente em lamber as ondas
do rio dos mortos, porque ele se origina de nós e conserva o gosto salgado de
nossos mares. Então o rio, tomado de nojo, cria uma corrente contrária e empurra
os mortos novamente à vida. Daí eles ficam felizes, entoam canções de
agradecimento e acariciam o rio rebelde.
05
A partir de um certo ponto não há mais retorno. Esse é o ponto que deve ser
alcançado.


Para os fins-de-semana chuvosos, nada melhor do que ler e escutar música, a não ser que você prefira os faustões, pânicos, gugus e ratinhos da TV... (tudo com letra minúscula, de propósito).
Além do Virtualbooks , experimente Livros On Line , com dezenas de livros oferecidos pelo Olhar Literário.