11 outubro, 2008

O psicopata: camaleão social

São impressionantes os relatos, teorias, estatísticas e conclusões com as quais me deparei ao ler o "O Psicopata - um camaleão na sociedade atual", do espanhol Vicente Garrido.
Psicopatia é tratado pela Psiquiatria como um transtorno de personalidade, muito grave, cujos critérios diagnósticos o DSM-IV (manual diagnóstico da Associação Psiquiátrica Americana) enumera:

Ocorrência de um padrão de desrespeito e violação dos direitos dos outros, ocorrendo desde a idade de 15 anos, como indicado por três ( ou mais ) dos seguintes comportamentos:

1) falhas em adaptar-se às normas sociais que regem os comportamentos legais, indicadas pela repetição de atos que são motivos para prisão.

2) propensão para enganar, indicada por mentiras repetitivas, uso de
codinomes e manipulação dos outros para benefício ou prazer pessoal.

3) impulsividade ou falha em planejar o futuro.

4) irritabilidade e agressividade, indicado por brigas e agressões repetitivas.

5) desrespeito negligente pela própria segurança ou dos outros.

6) irresponsabilidade, indicada por falhas repetitivas em sustentar um trabalho consistente ou honrar obrigações ( financeiras ou morais ).

7) falta de remorso, indicado pela indiferença ou racionalização ao ter maltratado alguém ou roubado alguma coisa.

Estas características do transtorno antissocial são facilmente reconhecidas e nos fazem acreditar que somente criminosos cruéis e serial killers seriam psicopatas. Vicente Garrido salienta que há os dissimulados, os camaleões:

Muitas outras pessoas são psicopatas e não se dedicam ao crime. Podem viver em nosso prédio, ser nosso marido, esposa ou amante, nosso filho, nosso colega de trabalho, um político... É vital compreender isso, enxergar a magnitude do problema.

Tenho quase certeza de que o leitor deste post conhece um ou mais camaleões psicopatas, basta atentar para alguns de seus traços: têm eloquência e encanto superficial: falam muito, expressam-se com encanto, têm respostas espertas; não têm remorsos, são egocêntricos, mentem e manipulam o outro; são impulsivos, quase sempre irresponsáveis.
Meu primeiro psicopata
Meu primeiro contato com um psicopata se deu quando eu era estudante de medicina, fazia estágio em uma clínica psiquiátrica. Lembro-me com detalhes do caso e do paciente que fora internado enquanto se discutia sua inimputabilidade num crime hediondo.
Tratava-se de um jovem de vinte e poucos anos, bancário. Ao rapaz competia levar grande soma de dinheiro vivo para ser depositado no cofre do Banco do Brasil. Era acompanhado por um colega. Apenas algumas quadras separavam as agências, de forma iam os dois, quase todos os dias, carregando uma bolsa recheadíssima.
Pois nosso personagem convenceu o colega a sumirem com tudo. Deixaram um fusquinha nas imediações e fugiram com a grana pela BR-40, em direção ao Rio. Num local ermo, entra numa estradinha de terra, mata o amigo e põe fogo no corpo e no carro. Some. Alguns dias depois reaparece e acusa o colega de sequestrá-lo e tentar assassiná-lo. Lutaram e o carro se desgovernou, capotando e se incendiando, explicou. O crime se esclareceu e os advogados alegaram "doença psiquiátrica".
Pois bem, acreditem se quiserem, mas o jovem tinha bom papo, era cordial com todos. Entretanto não se mostrava arrependido, dizendo que foi tudo loucura. Jogou papo pra cima de uma jovem psiquiatra que por ele se apaixonou! Conseguiu relaxamento da vigilância e fugiu da clínica. A médica quase morreu de paixão.


O livro do Garrido discorre sobre teorias da psicopatia, causas, etc. Fala do psicopata no mundo dos negócios e das profissões. Está disponível, no Brasil, pelas Edições Paulinas.

Temos assunto para mais um post: o psicopata nas organizações/instituições.