29 agosto, 2006

Cuide de sua panema

Manoel Tosta Berlinck , diretor do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da Pontifícia Universidade Católica (PUC-São Paulo), é sociólogo e psicanalista e tem feito contribuições espetaculares no seu campo de pesquisa. Leio regularmente seus artigos.

Outro dia, navegando pelo site da revista eletrônica Psichyatry OnLine Brazil, deparei-me com um artigo que me trouxe muitos conhecimentos e quero compartilhar alguns, aqui. É claro que recomendo os textos em sua integridade, mas blog é blog, não um livro técnico. As filigranas ficam a critério dos mais interessados.

Pois bem, a primeira coisa que aprendi foi o conceito de 'panema'.
- Panema ou Ipanema?
- Vamos por partes, como dizia meu professor de álgebra.

Panema ou panemice é uma força mágica, não materializada, que à maneira do mana dos polinésios é capaz de infectar criaturas humanas, animais e objetos. Panema é, porém, um mana negativo. Não empresta força ou poder extraordinário; ao contrário, incapacita o objeto de sua ação.

Berlinck cita o livro "Santos e Visagens" , em que o antropólogo Eduardo Galvão descreve o que vem a ser essa tal de 'panema'. O sentido mais usado do termo é 'incapacidade' mais permanente, inércia, desânimo, algo que inibe o sujeito e o impede de tomar atitudes mais decididas na vida.

Já os psiquiatras identificam esse estado a um dos sintomas de depressão: a apatia, o anedonismo (incapacidade de sentir prazer). Sobre isso a gente pode conversar depois.

A 'panema' pode ser desencadeada, segundo as crenças de alguns indígenas da Amazônia, quando o indivíduo transgride uma regra tribal, uma proibição, um tabu. Cita-se o exemplo: comer peixe preparado por uma mulher grávida.

Mas a parte mais interessante disso tudo é outra associação: os efeitos da maconha no organismo.
- Como assim?, perguntariam meus interlocutores.

Sabe-se que os efeitos do tetrahidrocanabinol (THC) são, predominantemente, uma certa sedação, calma, desligamento do estresse ambiental e interior.
Quando em uso constante e imoderado, o THC leva ao desinteresse pelos estudo, pelo trabalho e, às vezes, até pelo sexo. O oposto do que produzem os 'psicoestimulantes' como a cocaína e o álcool.

Cocaína e álcool, com efeito, geram estados de desinibição e euforia, muito prazerosos. Esses estados duram pouco tempo e, caso o sujeito demore a usá-los, vem a 'depressão, a ressaca, a rebordosa'.

- Eureka! Então maconha é a droga da melancolia!

É isso que Tosta Berlinck defende em seu artigo:
Quanto à maconha, penso que seu efeito é oposto ao da cocaína ou da anfetamina, que são drogas maníacas. Neste sentido, é possível dizer que a maconha coloca o sujeito num estado melancólico.
Penso, porém, que a maconha estimula um estado esquizo, uma certa fragmentação do ego sem ser acompanhado, necessariamente, pela paranóia, que freqüentemente acompanha esses estados de fragmentação. A maconha aumenta a sensibilidade, reduz o contato com o chamado "superego" e possibilita viagem "livre-associativa".

O autor não termina aí.
Mas eu vou terminar com um outro achado:

Se 'panema' é o estado de inibição, melancolia, travamento e culpa, qual o nome do estado de liberdade, ausência de culpa?

No tupi-guarani, a partícula "i", colocada antes do adjetivo, significa "não". Portanto, "não-panema" é Ipanema!

É o que afirma Berlinck:

Ipanema seria, então, um estado sem pecado, sem proibições, como bem observou Chico Buarque ("Não há pecado do lado de baixo do Equador"). Mas, também, sem mania, acrescento. Pois a mania é a impossibilidade de reconhecer o estado de melancolia que nos afeta.

Pois então, Ipanema é nome de um dos bairros e praia mais famosos da zona sul carioca, lugar de bares, teatros, festas, "Banda de Ipanema" e da famosa "Garota de Ipanema", não é? Portanto, um lugar ideal pra afastar qualquer panema...
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(Viram o que é associação puxando associação? A gente começou lá no Amazonas e terminou na beira da praia de Ipanema!)

26 agosto, 2006

Fim das utopias?

"Você, meu amigo de fé, meu irmão, camarada (...) me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro" são versos de Amigo, música cantada pelo Roberto Carlos. Fala de amizade, companheirismo, afetos cultivados desde a infância e presentes pela vida a fora.
Faço um recorte e destaco: "amigo de fé"!

Será que existem ainda 'amigos de fé' num mundo de tantos incrédulos?
Não me refiro, apenas, à fé religiosa, que irmana as pessoas sob a garantia de que Deus é pai de todos e, portanto, a todos ama igualmente - este é o princípio que garante a coesão de qualquer religião (vã tentativa de se evitarem as brigas, dissensos, guerras: na verdade, nada segura nossa propensão ao egoísmo, à luta pela supremacia, o temor do desprezo e da rejeição.]

A 'fé' - em qualquer coisa - é o suporte simbólico para que suportemos a incompletude inerente ao ser humano. Saber-se incompleto, faltoso, manco e mortal é uma ferida narcísica tão grande que seria insuportável viver se não tivéssemos algum recurso para mitigar nossa dor. Cairíamos no desespero - falta de esperança.

Quando falta este suporte simbólico, então caímos na descrença. Falo de muitas incredulidades: descrença na política, nos políticos, nos ideais de mudança, de mais igualdade, etc. Alguns chamam isso de 'fim das utopias'. Desesperança que enfraquece qualquer desejo de lutar. Se 'cada um tem que se virar', se vivemos numa época do 'salve-se quem puder', se perdemos a crença na fidelidade, na amizade, na honestidade, então não temos mais 'irmãos de fé, irmãos camaradas'...

Será este o mal contemporâneo?
Será possível distinguir suas causas?

O discurso da Psicanálise sobre a função paterna talvez nos dê uma pista.
Os psicanalistas compreendemos o Pai como a instância que garante a Lei. Como isso se dá? Pela castração, termo inventado por Freud para descrever a instituição de limites à onipotência do bebê - e do ser humano, por extensão.
Ao sofrer a 'barra' que impede a realização dos desejos sexuais em direção à mãe, a criança aprende que 'nem tudo é possível'. A função paterna (castração) inaugura a linguagem - uso de símbolos - saída para que não se 'passe ao ato'. Sem a palavra, o que nos resta senão o puro fazer? Sem o simbólico, resta-nos o desespero.

O declínio da função paterna se caracteriza pela ausência de referência, ou seja, a destituição de autoridade, o apagamento de valores e, o pior de tudo, a crença na onipotência.

O que vemos imperar por aí? Desigualdade social, desamparo dos mais pobres, falta de perspectiva na escalada social, privação dos bens oferecidos pelo mercado, maracutaias dos políticos, corrupção generalizada e o império do 'deus mercado'.
Tudo isso leva o homem contemporâneo a descrer de um poder maior com o qual poderia se identificar e ao qual se submeteria. Mundo sem Pai = mundo sem Lei.

A Política, então, deixa de ser um meio para se resolverem conflitos sociais, administrar a coisa pública, aparar diferenças. Não! Política é lugar de ganhos pessoais, mecanismo de se locupletar e obter vantagens corporativas e pessoais.
A descrença impera: quem aí tem paciência para ouvir propaganda eleitoral? Quem quer discutir política?

Alguém aí acredita que as propostas dos candidatos sejam, realmente, para melhorar o país?

Não há mais 'tranferência vertical', ideais a serem cultivados. Resta a 'transferência horizontal', caracterizada pela adaptação mimética aos imperativos da moda e do consumo: "se tenho o que o outro tem, se compro o que o vizinho comprou, se uso o que todos agora usam, então estou bem, estou 'por dentro', serei aceito".

As tribos se aglutinam, então, pela adesão maciça a um determinado tipo de música, pela adoção comum de objetos de consumo, pela freqüência a um restaurante especial, etc. Tudo numa ilusão de que, com isso, se estará 'completo', 'realizado', 'inteiro'.
A falta? Ora, nada me faltará se tiver dinheiro para comprar tudo que me é oferecido. Mesmo sem dinheiro, há o cartão de crédito...

Não existem mais impeditivos éticos à consecução daquilo que se almeja: rouba-se, corrompe-se, guerreia-se para que se tenha mais e mais. Quem tem, é. Quem não tem, não existe!

Assim com se fala do fim das utopias, podemos falar do fim das fantasias:

Não há mais o que fantasiar: o Mercado nos oferece tudo e a Ciência tudo promete: corpo perfeito e sarado (há quem acredite em juventude eterna); iPod capaz de armazenar 15 mil músicas (que nunca escutarei); um automóvel que faz 300km por hora (mesmo que as estradas sejam esburacadas e as placas proíbam velocidade acima de 80km)...
O importante é gozar, não importa como: pode ser pelas drogas, pela violência, pelo excesso.

A morte? Ora, a morte! Como dizem alguns jovens ('meninos do tráfico') marginais ou marginalizados: "Se eu morrer, que é que tem? A vida não vale a pena!"

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Por falar em pai, tenho orgulho de recomendar o Ontem e Hoje do meu pai, Soié. Tem post novo: Aprendi com meu pai.

22 agosto, 2006

Resiliência

Li que foi feita uma pesquisa acerca de "famílias de risco" para transtornos de conduta.
Entenda-se por "risco":
  • situação econômica precária;
  • um dos pais, ou ambos, desempregados;
  • ambiente familiar desestruturado;
  • pais separados ou com relacionamento hostil;
  • presença de pais usuários de drogas (lícitas ou ilícitas);
  • atitudes violentas, etc.

A pergunta era: nas famílias de risco há maior probabilidade de que pelo menos um dos filhos se torne marginal, criminoso, participante de gangue, usuário de drogas - uma dessas desgraças ou todas juntas?

Alguns achados surpreenderam:
Às vezes, por mais desestruturadas que fossem as relações familiares, uma criança poderia 'escolher' ser diferente: não repetir a desordem, a violência, o esgarçamento da lei. Crianças assim, mobilizados por forças internas, se engajariam em programas de cidadania, buscariam estudar e alcançariam um crescimento inusual comparado com seus pares.

A Psicologia denomina resiliência à capacidade de resistir aos fatores ambientais, familiares e relacionais adversos ao desenvolvimento de uma personalidade sadia.
O termo tem origem na Física: capacidade de certos corpos de retornarem à forma original após terem sofrido deformaões elásticas. Em Medicina, explica a resistência de algumas pessoas frente a infecções, por exemplo.

[ O dicionário Houaiss define bem: Resiliência: s.f. 1 fís propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica 2 fig. capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças ¤ etim ing.
resilience (1824) 'elasticidade; capacidade rápida de recuperação' ]

Alguns fatores favorecem a resiliência em jovens submetidos a "condições familiares de risco", tais como a participação em programas de inclusão social proporcionados pelo poder público (escolas integrais) ou por empresas com "responsabilidade social" (inclusão digital, grupos de dança, arte, esportes, religiosos, etc;

Saliento, entretanto, uma constatação no mínimo curiosa:
  • o hábito de a família toda tomar junta uma refeição pelo menos uma vez ao dia era um diferencial significativo para diminuir os riscos de marginalidade!

Mesmo sendo o ambiente tumultuado, o encontro em torno da mesa de jantar se constitui como ocasião de discussões, acertos, programações, combinações, cobranças, manifestações de afetividade, etc. E esse encontro, segundo a pesquisa, aumentava a resiliência.

No mesmo sentido, leio no EM de sábado passado (Caderno Pensar, disponível online só para assinantes) um artigo da psicanalista Inês Lemos, no qual ela tece considerações sobre a descrença atual nas utopias que pregavam a liberdade e o progresso social.

Fala de seus tempos de estudante de Filosofia e relembra:
Ao som de Joan Baez, sonhávamos e acreditávamos nas músicas e nos livros! E como líamos! Marcuse, Sartre, Camus, Althusser, Foucault. Os franceses sempre nos seduziam. O Collège de France,por exemplo, era um paradigma, um ideal de cultura e estudo a ser perseguido.

Do artigo de Inês, coloco aqui os primeiros parágrafos, pois foram eles que despertaram em mim as associações que iniciam meu post de hoje:

Na mesa falta o pai.
A mãe às vezes vem, às vezes. E a criança, na solidão imposta pelo mundo moderno, prossegue sua jornada agonística.

Em outros tempos, a mesa era lugar para puxar prosa, resolver conflitos, deixar as palavras caírem e, com elas, traçar itinerários, viagens – para dentro e para fora. Porém, agora, as mesas servem mais para computadores serem instalados.

As refeições, essas podem ser feitas rapidamente no self-service da esquina, ou no sofá em frente à TV.

Mas devemos voltar ao tempo das mesas, mesmo que modestas, mas intensas de conversas e afeto. Naquela época, a comida era desculpa para reverenciar a vida. Apetite, todos tinham, e muito! Não se usava fluoxetina. Tudo parecia mais manso, sereno, e a bebida servia ao congraçamento. Era lá, “em torno da mesa larga, largavam as tristes dietas, esqueciam seus fricotes, e tudo era farra honesta acabando em confidência”. A mesa de Drummond – que, em seus versos, homenageia a vida – agora se ressente da falta de gente para comer, juntos, a confiança e a crença no mundo.

(...)
Educar virou sinônimo de dinheiro,
toda a gente deve estudar,
para rico logo ficar.
E o menino cresce sem ídolos admirar.
O mito moderno é o que aparece na televisão,
sem erudição.
Que decepção!
Ela é cheia de frustração,
essa vida de desmoralização.

Tudo a ver com resiliência.

20 agosto, 2006

Você conhece William Moreira?

Carlos Perktold é psicanalista e advogado, dublê profissional que trabalha com as palavras. Foi meu aluno na PUC-MG, onde cursou Psicologia. A importância desta última informação é constatar que, mais uma vez, um bom aluno supera o mestre!

Encontramo-nos, há pouco, em um evento do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, conforme atesta nossa foto.

O Carlos, além de desenvolver as atividades jurídicas e psicanalíticas, é pesquisador na área de História e um colecionador de obras de arte. Entende das coisas, o homem.


Escreveu Ensaios de Pintura e Psicanálise, leitura para admiradores, críticos e para quem quer conhecer os meandros inconscientes da criação artística.

Publicou, também, Caixa de Ferramentas, coletânea de crônicas e contos, dentre os quais destaco O Perverso. Corra para ler, aqui.

Foi ele quem descreveu a Síndrome de William Moreira:

Todo portador desse sintoma tem uma singularidade: entende apenas o que ouve e não o que lê. Tiago, por exemplo, reclamava de um erro no computador e recebeu instruções escritas para corrigi-lo. Não conseguiu entender o que leu. Depois de ouvir a leitura do que estava escrito disse: "Ah, é isso? Não tem problema, faço agora".

O sintoma William Moreira parece, mas não é, oligofrenia. Também não é analfabetismo funcional, porque não se manifesta apenas em pessoas com baixa escolaridade. Não é, enfim, uma doença catalogável. É, sim, um fenômeno intelectual de um tempo em que o texto praticamente sucumbiu ao recurso visual e, principalmente, à imagem da televisão. O batismo do sintoma vem, assim, do cruzamento dos nomes dos dois mais conhecidos locutores-apresentadores de televisão: William, de William Bonner, e Moreira, de Cid Moreira.


A causa é a falta de leitura!
Muitas pessoas não aprenderam a ler na escola, mesmo que tenham diploma de curso superior. Desconhecem o hábito da leitura. Aprendem de orelhada. Têm informação, mas não têm conhecimento. Ouvem falar disso e daquilo, passeiam os olhos nas manchetes de jornal, apreendem um fiapo de ciência no Globo Reporter, participam da política como carneirinhos conduzidos pelos locutores de telejornais e... é só.
Alguns dominam sua área de trabalho e podem ser bem sucedidos. Mas não lhes peça para fundamentar argumentos, pois raciocinam com a profundidade de um pires. Aqui em Minas a gente diz: "ouvem o galo cantar e não sabem onde". Abusam dos clichês, dos lugares comuns e das generalizações. Gostam mesmo é de divertimento e muito barulho. Quanto mais barulho, menos pensamento. Pior, sem conhecimento de causa, costumam ter convicções e certezas. Com essa gente não adianta discutir.


Para que você não seja um desses, leia O Sintoma William Moreira e, depois, uma ótima entrevista com o Autor.

Existe remédio: leitura, leitura, leitura.

Agora me responda:
- Você conhece William Moreira?
- Ou estou falando com o próprio?

18 agosto, 2006

Remédio Caseiro

Alguém conhece piada "politicamente correta"? Gozam-se as louras, criticam-se os puritanos, ridiculariza-se o padre, o pastor e o presidente. Piada com termos chulos, machistas, indecentes, tudo isso rola, não é?
Então. Está calminho(a)?
Dito isso, aqui vai:

Remédio caseiro

Gente Boa vai fazer exames de rotina e o médico, depois de ouvir sua história clínica, dá início ao diálogo:

Fuma?

- Pouco, Dr.

- Você tem que parar de fumar.

- Bebe?

- Pouco, Dr.

- Você tem que parar de beber.

Sexo?

- Pouco, Dr.

- Você tem que fazer muito sexo, pois irá lhe ajudar.

Gente Boa toma o rumo de casa, conta para a mulher o que o médico lhe receitou e, imediatamente, entra no chuveiro.

A mulher, esperançosa, enfeita-se, perfuma-se, põe seu melhor baby-doll e fica na espera.
Ele sai do banho, começa a vestir-se, a perfumar-se e a mulher, surpresa, pergunta-lhe:
- Onde você vai?
- Você não ouviu o que o médico me disse?
- Sim, mas aqui estou eu prontinha para você.
Então ele lhe diz:
- Ah, Lourdes, lá vem você de novo com essa mania de remédio caseiro!

15 agosto, 2006

La marche de l'Empereur

Hoje é feriado municipal em Belo Horizonte, em homenagem à padroeira da cidade, N.S. da Conceição - aqui chamada, também, de N.S. da Boa Viagem.

Espremido entre uma segunda e uma quarta-feira - sem que fosse possível "enforcar" a segunda, resolvi passar na locadora. Atendi à sugestão de um amigo e trouxe "A marcha dos Pingüins".
Trata-se de um documentário com toques de ficção, pois humaniza o esforço instintivo dos pingüins da espécie "Imperador", no esforço em preservar a espécie.

Os danadinhos dos bichos fazem um percurso de várias semanas para longe do mar, em busca de local seguro para o acasalamento. As fêmeas ainda voltam ao oceano para se reabastecerem de alimentos e retornam em busca dos filhotes. Há tempestades de neve e perigosos predadores. Foram 4 anos de filmagem em paisagens lindíssimas, desconhecidas, geladas.

A humanização do documentário, para alguns, tira a seriedade do projeto. Para mim, trouxe reflexões a respeito do valor da vida e de como a natureza é sábia.

Vale a pena ver.


Diretor: Luc Jacquet
Elenco:
(documentário)
Nome Original:
La Marche de l´Empereur
Ano:
2005
País:
EUA/FRA
Duração:
85 minutos
Site
Oficial

13 agosto, 2006

São demais os perigos dessa vida...

Se Guimarães Rosa perguntava "viver não é muito perigoso?", eu concordo e acrescento: vida de consumidor também é!

As armadilhas lembram um verso do Vinicius: "são demais os perigos dessa vida". Sei que ele continua: "pra quem tem paixão". Ou
pra quem quer comprar, digo eu.

Os anúncios de jornais e revistas, as letrinhas miúdas dos contratos, as pseudo-liquidações e promessas mirabolantes dos cosméticos ("elimine a calvície em três aplicações de nosso produto"; "elimine a barriga em duas semanas usando o Total Shape"; "seja feliz para sempre tomando nosso antidepressivo") só pretendem enganar os incautos para vender mais. O lucro é o que importa. Mais do que a saúde.

Hoje me deparei com uma série de faixas próximas a um restaurante classe A:
"Oferta: rodízio a R$ 19,90!".
Pensei com meus borbotões - ou botões:
- Uai, o preço diminuiu logo hoje, dia dos Pais? Será um presente?

As filas na porta quase me confirmam isso, reduzi a marcha e pude ler: "apenas após 18h, de segunda a sexta".

Tocamos pra frente, rumo ao local previamente escolhido pro almoço de domingo. No cardápio, o preço da salada completa indicava R$ 11,90. Ao fazer o pedido, sou advertido pelo garçom:

- Hoje não servimos salada, só no buffet montado ali, a R$ 9,90 por pessoa! E se quiserem comer apenas salada, são R$ 16,90 por pessoa!!!

Como éramos quatro, fiz mentalmente a conta e disse - com delicadeza:

- Ah! e você acha isso certo?

O cara sorriu amarelo, falou com o 'gerente' e voltou:

- Tudo bem, vamos servi-los conforme seu pedido.

Pois é, quase nos dão um golpe!

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Ser pai também é ensinar aos filhos que o bom consumidor é o consumidor consciente. Principalmente hoje, NOSSO dia!

10 agosto, 2006

Sopa ou salada?

Até um deputado banana consegue um assessor que aceita ser laranja. Recebe o tutu, sem mesmo corar as maçãs de seu rosto. O povo que pague o pato: que vá às favas! Além do mais, tem de aturar propaganda política, osso duro de roer. Candidatos falam batatas, prometem pão, prometem circo. Tudo farinha do mesmo saco. Difícil escolher.

Aécio e Alckmin reprisam a política do café-com-leite, puxando a sardinha pro PSDB. Dão entrevistas, pomposos, mas se questionados, enchem linguiça, inventam firulas, como quiabo escorregam, inventam mentiras rocambolescas e gato por lebre nos querem vender. Douram a pílula, mas o que se vê é picolé de chuchu. Ou lula requentada, por que não? O certo é que essa política está um angu-de-caroço, intragável! Embananam tudo, fazem marmeladas, atolam o pé na jaca e, ao final, nos servem pizza! É um prato muito indigesto, ora pois!

A moça da TV tem lábios de mel. É mesmo uma uva e com olhos de amêndoa oferece produtos a cada intervalo. Pipocam ofertas e logo compramos. Depois, o que resta? Um tremendo abacaxi: pagar as contas do cartão de crédito, não é? O operário, coitado, come o pão que o diabo amassou. Do salário não sobra sequer um tostão. Se não pagar: cana!

E eu por aqui, queimando o tutano. Não tenho recurso senão inventar: misturo as palavras, invento bobagens, não sei se é salada ou sopa de letras.

Primavera antecipada


Ipê com bem-te-vi, originally uploaded by ClaudioCosta.

O veranico decretou o fim da estação e a primavera rompeu a gaiola do tempo.
Uma barreira de ar seco bloqueou o vento sul e toda a natureza se desnorteu.
Para o mal
E para o bem

As aves que aqui gorgeiam
fazem onomatopéias várias
Uma, porém, me denuncia:
Bem-te-vi! Bem-te-vi!

Se o poeta é manco e claudica
O fotógrafo rápido engatilha
E num clic aprisiona
Árvore Flor Bem-te-vi

Deixa livre, entretanto,
Árvore, flor, passarim.

09 agosto, 2006

Giro rápido.

  • 1. Mais um comentário meu sobre política(gem) no Bombordo.
  • 2. Os fabricantes de automóveis e seu crônico desrespeito ao consumidor: aqui.
  • 3. Obrigado a todos os que comentam no PrasCabeças e deixam boas palavras...

07 agosto, 2006

Guinga - Música na praça

A relação dos mineiros com as mineradoras oscila desde a complicidade até a hostilidade. Ao mesmo tempo que alguns se orgulham, por exemplo, da Cia. Vale do Rio Doce - esquecendo-se de que não é mais mineira coisa nenhuma - muitos vão se conscientizando acerca da atividade predatória que nos empobrece.
Desde os tempos coloniais, a extração das riquezas de Minas é testemunhada por tantos que aqui vivem. Alguns deram a vida em rebeliões contra a Coroa Portuguesa, sendo a Inconfidência Mineira o episódio mais conhecido.
Havia, então, a "derrama", uma plus na expropriação das nossas riquezas naturais:

No antigo Direito português derrama se chamava o imposto lançado sobre todos para suprir gastos extraordinários. Imposto "derramado" sobre todos. Foi uma derrama que produziu a Inconfidência Mineira. Causa imediata da Inconfidência Mineira, de 1792, era o tributo de que lançava mão a Coroa Portuguesa para, na região das minas, cobrar de uma só vez os quintos (20% do ouro extraído) em atraso. (Texto inicial de um artigo que compara os "pardais" - radares pendurados nos postes das avenidas - com uma forma de derrama. Aqui.)

O sentimento de que "estão levando embora aquilo que é nosso a preço de banana" existe até hoje, graças à consciência de que os lucros dessas empresas são enormes, enquanto o país continua quase que fornecedor de insumos básicos para indústrias do exterior, enquanto ficamos aqui como mais uma República das Bananas, ou dos minérios, do ouro, etc. Drummond, nosso poeta, já sentenciou, a respeito da destruição do pico do Cauê: "Itabira é apenas um retrato na parede, mas como dói"...

Algumas dessas grandes mineradoras começaram um trabalho de marketing, tentando melhorar sua imagem junto ao povo. Alardeiam a restauração das crateras, a filtragem das águas, as ações sociais. Tudo bem: isso realmente TEM de ser feito. O estrago, porém, permanece. Até quando? Existem alternativas?

Aqui em Belô, uma dessas iniciativas mais conhecidas é a manutenção dos jardins da Praça da Liberdade, pela MBR. Agora, de março a outubro, essa mineradora promove o envento cultural "Música na Praça": apresentações gratuitas de músicos daqui e de outros estados.

Pois no domingo, lá estive eu, aplaudindo o grande compositor Guinga. Muitos não o conhecem - ou acham que não. O cara é simplesmente genial. Tenho um disco dele, Suíte Leopoldina.

Consegui lugar privilegiado, bem à frente do palco, assentado! Levei a câmera e registrei alguns lances. Até produzi um filmeco de 90 segundos - nada que comprometa os direitos autorais, claro: afinal, foi feito em praça pública, com muito ruído do público, apenas para atiçar a curiosidade. Quem quiser ver e ouvir, que clique aqui. Trata-se de um fox, bem suingado, executado por um trumpetista cujo nome não guardei. Guinga ao violão, no meio do palco. Momento sublime...

06 agosto, 2006

Igreja S Fco Pampulha by night

Ontem à noite levei o Leo para um baile de formatura (Psicologia-UFMG). Era pouco mais de meia-noite, o sono e a temperatura amena sugeriam uma volta rápida para casa. Ao passar em frente à Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, não resisti: ali estava maravilhosamente iluminado um ícone da modernidade de Belo Horizonte. Foi inaugurada em 1943.

Em 2005, sessenta anos após sua construção, foram iniciadas obras de recuperação e restauração, que incluíram também a parte de iluminação das fachadas, o painel de azulejos e as sancas. Eu ainda não havia passado por lá, à noite, e fiquei babando...

Os quadros da Via Sacra e o painel de azulejo foram pintados por Cândido Portinari. Os jardins, projetados por Burle Marx. JK, prefeito de BH na época, fez a encomenda.

Carinhosamente a chamamos de "Igrejinha da Pampulha" e foi o cenário escolhido por Amélia e eu para nos casarmos.

Duas escolhas acertadas: o local do casamento e a mulher com quem me casei...

(Mais fotos, aqui).

04 agosto, 2006

Tá tudo muito devagar...

As eleições se aproximam.
Não era hora de as discussões ficarem mais acaloradas?
As posições políticas mais bem definidas?
Entretanto, o que vemos é uma campanha eleitoral morníssima, na qual os candidatos apenas se acusam: antes era pior, agora é que é péssimo, antes tinha corrupção, agora a corrupão está maior, o país melhorou, melhorou nada: piorou... Conversa fiada pra boi dormir, penso eu.
(Leia a íntegra deste post no Bombordo).

03 agosto, 2006

Se podemos complicar, pra quê simplificar?

No post de hoje reproduzo um SPAM. Não sei quem é o autor do texto ou se é de algum blog, jornal, revista. Peço licença ao verdadeiro dono e o parabenizo pela brincadeira. Afinal, com tanta notícia ruim, uma brincadeirinha tem lá seu valor.
Confiram:

DOUTORADO

O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da
evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum (Linneu, 1758) isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo da alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera (Linneu, 1758).
No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse
dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar.

MESTRADO

A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo.
Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas
proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

GRADUAÇÃO

O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.

ENSINO MÉDIO

Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda de forma quando pressionado.

ENSINO FUNDAMENTAL

Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.

SABEDORIA POPULAR

Rapadura é doce, mas não é mole, não!!!