04 novembro, 2005

Sexo em números

7.103 pessoas (54,6% homens e 45,4% mulheres) responderam a 87 perguntas de um questionário elaborado pela Dra. Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital da Clínicas de São Paulo, aplicado em todas as regiões do Brasil, preponderantemente no Sudeste.

O tema?
Comportamento sexual dos brasileiros de todas as regiões do Brasil.
O resultado do trabalho da Carmita é tão científico quanto curioso e está disponível no livro "Descobrimento Sexual do Brasil", publicado pela Summus Editorial. Recebi um exemplar durante o XXIII Congresso Brasileiro de Psiquiatria.
Compõe-se de inúmeras tabelas, permeadas por textos explicativos, o que não significa tortura para o leitor, pois os ítens podem ser pesquisados a bel prazer e fornecem subsídios para reflexão, para retificar alguns mitos do senso comum e, principalmente, para nos surpreender.
Alguns exemplos:
  • A maioria das mulheres classifica como "bom" o seu desempenho sexual. Um número menor declara que o desempenho é "excelente". "Regular" e "ruim" perdem nas estatísticas. Os homens acompanham esta avaliação, embora a faixa etária mais avançada seja menos satisfeita consigo mesma. Parece que as coisas não vão tão mal...
  • Descobriu-se que 2,3% dos homens e 2,2% das mulheres confessaram já ter pensado (pelo menos uma vez na vida) em mudar de sexo.
  • O cansaço é o que mais interfere negativamente no desempenho sexual de mulheres heterossexuais (58,6%). Os homens (50,8%) também apontam o cansaço como fator negativo para a qualidade de sua vida sexual.
  • Homens e mulheres adolescentes têm muitas dúvidas e ansiedades por ocasião das primeiras experiências sexuais. Para os rapazes, questões como o tamanho do pênis, a capacidade de ereção, o momento da ejaculação, medo da gravidez, medo de doença sexualmente transmissível (AIDS), fantasias acerca do que a parceira vai dizer para os outros. As moças, igualmente, sofrem a respeito da própria performance (será que ele vai gostar?), têm medo de ficar tensas demais, têm dúvidas de como o rapaz vai encarar a sua virgindade, temem as doenças e a gravidez. Ou seja, de maneira geral, a primeira transa não é a melhor.
  • O uso de preservativos em todas as relações sexuais é praticado por menos de 30% das mulheres e pouco mais que isso pelos homens.
  • Quanto ao sexo extra-c0njugal ou extra-relacionamento afetivo, o Estado em que há menos casos de "traição" é o Paraná: mulheres (19,3%) e homens(42,8%). Paranaenses são os mais fiéis...
  • Os Estados onde há maior prática de "sexo estra" são o Rio de Janeiro - mulheres(34,8%) e Bahia - homens(64,0%). As mineiras surpreenderam com índices maiores de infidelidade que as paulistas, baianas, pernambucanas, cearenses e goianas, entre outras.
  • Existe grande discrepância quanto à quantidade desejada de relações sexuais e a quantidade efetiva realizada por semana. Os jovens gostariam de ter entre 6 e 8 relações por semana, enquanto têm, na verdade, até 3. Essa proporção é a mesma nas pessoas mais velhas: "a média realizada é a metade em qualquer fase da vida", demonstra as estatísticas. Sonha-se mais do que se faz!

Universo pesquisado: 38,9% casados; 11,2% amasiados; 37,5% solteiros; 10% divorciados; 2,4% viúvos. Todos eram alfabetizados, condição indispensável para responder às 87 perguntas.

Dra. Carmita Abdo reconhece que as estatísticas são apenas números, cabendo-lhes múltiplas leituras. No incício do livro, cita frase do escritor norte-americano, Mark Twain: "There are three kinds of lies: lies, concealed lies and statistics" = "Há três espécies de mentira: mentiras, mentiras disfarçadas e estatísticas".

Os dados vão se sucedendo, números e mais números, cujo significado jamais será unívoco. O conteúdo do livro não é específico para os profissionais da área; "ao contrário, pode ser entendido por qualquer pessoa que se interesse pelo assunto".

É lógico que a "radiografia" obtida pela pesquisadora jamais dará conta dos sentimentos mais profundos da pessoa. A dimensão "psicológica" - emocional - é atributo pessoal e deve ser perscrutado na singularidade de cada um.

Não se trata, pois, de um estudo sobre o Amor, sobre a afetividade, muito menos acerca dos mecanismos inconscientes que determinam e colorem as experiências afetivo-sexuais. Lembre-se Sigmund Freud que deu à palavra Éros (erotismo) uma dimensão muito maior do que a pura sexualidade: cumplicidade, amizade, prazer de viver, impulso à vida, intimidade, respeito mútuo, carinho...

Cada um de nós, afinal, sabe muito bem que a questão principal repousa sobre o verdadeiro objeto de desejo e sobre como obter a felicidade.

Eis a tarefa de nossa vida.