No interior da igreja gótica do antigo Colégio do Caraça existe um quadro de Ataíde, representando a Santa Ceia . Impressionou-me sempre pela expressão viva dos personagens: serventes, apóstolos e Cristo. Trata-se de um quadro do período barroco, século XVIII, que tem o pintor Manuel da Costa Ataíde e o escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, como principais representantes.
Há muitos anos, o quadro (na verdade, um grande painel) ornamentava uma das paredes do refeitório do Colégio - hoje hospedaria, reserva natural protegida, centro de cultura -.
Durante as refeições, fixava-me, principalmente, no semblante de Judas Iscariotes, o apóstolo que indicou aos soldados romanos quem seria o subversivo pregador denominado Jesus.
Judas aparece em primeiro plano, um pouco à direita, a segurar firmemente um saco de tecido, dentro do qual repousavam os "trinta dinheiros" recebidos pela traição.
A ceia à qual compareceram os 12 apóstolos é chamada de Última Ceia e teria ocorrido na quinta-feira. Ainda não havia se consumado o gesto traidor: a prisão ocorreria no dia seguinte, dando início à Paixão.
Judas é o único personagem daquela cena que não tem os olhos voltados para o Messias. Estava muito preocupado, temeroso de que fosse desmascarado. Sua face vigia o espectador! Encara-nos de frente. Sua paranóia é captada pelo virtuosismo do Mestre Ataíde através de um efeito extraordinário: em qualquer posição que fiquemos - mais ao lado, à direita ou à esquerda do quadro, não importa - acompanha-nos com o olhar vigilante. Ainda criança, eu andava de um lado para o outro, agachava-me, olhava de soslaio ou de repente: o traidor me seguia, era impossível surpreendê-lo!
Uma vez, pensei: Hoje eu tiro a prova! Chamei um colega e nos dividimos: ele à esquerda, eu bem à direita. E aí, o Judas está olhando prá você? perguntei-lhe. Pois não é que estava? Simultaneamente me vigiava, também. Nós nos aproximamos vagarosamente do centro do quadro e ambos éramos acompanhados pelo traidor.
Esta foi uma das primeiras e significativas experiências estéticas de minha vida.
O mistério daquela obra de arte se repetiu em algumas igrejas de Ouro Preto, admirando outros quadros com o mesmo efeito. Será uma especialidade dos pintores barrocos?
A tela foi restaurada pelo Instituto do Patrimônio Histórico de Minas Gerais e se encontra na lateral esquerda da nave principal da Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens. O Judas não perdoa: a todos vigia. Paranóico ele. Ou nós?
Há muitos anos, o quadro (na verdade, um grande painel) ornamentava uma das paredes do refeitório do Colégio - hoje hospedaria, reserva natural protegida, centro de cultura -.
Durante as refeições, fixava-me, principalmente, no semblante de Judas Iscariotes, o apóstolo que indicou aos soldados romanos quem seria o subversivo pregador denominado Jesus.
Judas aparece em primeiro plano, um pouco à direita, a segurar firmemente um saco de tecido, dentro do qual repousavam os "trinta dinheiros" recebidos pela traição.
A ceia à qual compareceram os 12 apóstolos é chamada de Última Ceia e teria ocorrido na quinta-feira. Ainda não havia se consumado o gesto traidor: a prisão ocorreria no dia seguinte, dando início à Paixão.
Judas é o único personagem daquela cena que não tem os olhos voltados para o Messias. Estava muito preocupado, temeroso de que fosse desmascarado. Sua face vigia o espectador! Encara-nos de frente. Sua paranóia é captada pelo virtuosismo do Mestre Ataíde através de um efeito extraordinário: em qualquer posição que fiquemos - mais ao lado, à direita ou à esquerda do quadro, não importa - acompanha-nos com o olhar vigilante. Ainda criança, eu andava de um lado para o outro, agachava-me, olhava de soslaio ou de repente: o traidor me seguia, era impossível surpreendê-lo!
Uma vez, pensei: Hoje eu tiro a prova! Chamei um colega e nos dividimos: ele à esquerda, eu bem à direita. E aí, o Judas está olhando prá você? perguntei-lhe. Pois não é que estava? Simultaneamente me vigiava, também. Nós nos aproximamos vagarosamente do centro do quadro e ambos éramos acompanhados pelo traidor.
Esta foi uma das primeiras e significativas experiências estéticas de minha vida.
O mistério daquela obra de arte se repetiu em algumas igrejas de Ouro Preto, admirando outros quadros com o mesmo efeito. Será uma especialidade dos pintores barrocos?
A tela foi restaurada pelo Instituto do Patrimônio Histórico de Minas Gerais e se encontra na lateral esquerda da nave principal da Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens. O Judas não perdoa: a todos vigia. Paranóico ele. Ou nós?
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