08 fevereiro, 2005

Rápidas e rasteiras

1 - Prá mim, Carnaval é hora de filosofar, conforme ensina o poeta pernambucano, Ascenso Ferreira:
Filosofia
Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!

Hora de trabalhar?
— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!
[Publicado no livro Cana caiana (1939)]

2 - Estou chegando de Nova Era, que fica 140 km a leste de Belo Horizonte. Lá, o tríduo momesco (êpa!) tem variadas formas:
a) Na "beira-rio", patrocinada pelo povão, a festa é animada por uma banda mais popularesca, de 22h às 5h da madruga. A cidade inteira escuta e... dorme(?).
b) Na rua "do comércio", bandas locais - bem rebimbas - tentam animar o povo. Tocam a partir das 15h, no domingo e na terça-feira
c) Na segunda, o mais interessante: sai a Bandinha dos Farrapos, saborosamente descrita pelo Ismael Cirilo no recém criado Ontem e Hoje.
Ismael e Aparecida

Ismael, nascido em 1923, é nada mais nada menos que meu pai, Soié, o espirituoso! Deverá entrar para o Guiness Book como o blogueiro mais idoso do cyber-space... Façam-lhe uma visitinha, deixem comentários, incentivem-no! Na foto acima, brinda a sua "namorada" Aparecida, companheira há 57 anos!
d) Há o bloco Boca de Gole: os rapazes da nata da sociedade local (êpa!) se vestem de mulher, enchem a cara e desfilam suas belezas pelas ruas do centro. Há cada menina linda, só vendo! Os figurinos vão da meia arrastão, sutiãs recheados com limão ou laranja (dependendo do gosto do freguês), perucas drag queen ao salto alto e batom, muito batom.
Este escriba, nos tempos áureos, em gozo de plena beleza (!!!), já desfilou carregando filho no braço e experimentando o outro lado - sem chegar às últimas consequências, pois que o papai aqui é ôme com Ó maiúsculo, uai!
e) No domingo, apenas uma escola de samba desfilou. Não se compara aos G.R.E.S. da Sapucaí, mas as calçadas ficam apinhadas de espectadores. É quando as janelas da casa de meus pais se transformam em camorotes vips, de onde assistimos tudo. O destaque da Unidos do Manjaí, negão de dois metros de altura, desabou em pleno sambódromo: as cachaças o derrubaram, bem à nossa frente. Caiu como uma jaca. Sob a fantasia de plumas arriou, até que a namorada, solícita, o levasse. Um fim melancólico: glória efêmera, abreviada em meio à folia.

Amanhã, Cinzas.
Qual fênix, retorno ao trabalho.
Sem exagero:
ninguém é de ferro
!

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