31 dezembro, 2005

DA ESPERANÇA ou Idéias para começar mais um ano

“A esperança é irmã do desejo.”

Essa frase me ocorreu de repente, num estalo. Não me lembro de tê-la ouvido ou lido em qualquer lugar. Por ora, se quiserem citá-la em algum discurso ou obra literária, por favor, dêem-me o crédito: “A esperança é irmã do desejo”, segundo Cláudio Costa! Espero (= desejo ) que o façam.

Penso começar por aí a “oficina sobre a esperança”, que coordenarei no KalaCultura, Diversão e Arte. Participarão pessoas da “terceira idade”, frequentadores daquele simpático espaço, em busca de conhecimento, diversão, convívio e qualidade de vida no sentido amplo. Convidou-me uma das diretoras, a Beatriz, com a seguinte indicação:
- “Tem um tema que eu gostaria muito que você viesse destrinchar para nós: a esperança!
Perdemos uma cliente neste início de ano, ela teve um câncer que a levou muito depressa. É sempre um abalo no grupo.
Ficou um ponto em questão em nossas conversas, mediante a idade de todas elas e a vontade de fazerem planos, o nosso apoio para que se envolvam em novos projetos e, ainda, a finitude da vida, que não queremos negar: planejar, sim, mas em que medida? Como pensamos a passagem do tempo e a nossa necessidade de fazermos "reservas"? Qual o papel da esperança?”

Ah! O estalo ocorreu exatamente quando recebi o convite: “A esperança é irmã do desejo”. A idéia talvez comporte algumas variáveis: “A esperança existe em função do desejo”. Ou: “Sem desejo não há esperança.” Ou, então, bem radical: “Esperança é desejo!”

Outras idéias começaram a pipocar (“esperem todo o milho estalar, senão vai dar muito piruá”, dizia minha mãe, quando ficávamos em torno do fogão, crianças ainda, loucos para comer pipocas) e aí, o melhor é ter calma, senão...
Bom, se desejo e esperança se articulam tão intimamente, o que seria este tal de “desejo”?

Sei que NÃO é necessidade. NÃO é compulsão. NÃO é impulso.

Se a Psicanálise atribui a gênese do desejo à proibição do objeto sexual (tabu do incesto), na vida comum, longe de teorias complicadas, concorda-se que o desejo é algo distinto do querer. Aceitamos mesmo que o desejo possa ser inconsciente a ponto de sermos por ele traídos - assim o demonstram os atos falhos.
Somos seres-de-desejo, isso nos diferencia dos animais. E só desejamos quando experimentamos a falta: a castração! Complicado... Quando alcançamos o objeto desejado, o desejo morre. Ainda bem que este tal de objeto desejado NUNCA É O OBJETO TOTAL, completo, absoluto e isso nos garante continuar desejando... Ufa! Ainda bem.

Corri pra o Houaiss e lá estava a correlação que pipocara em minha cachola:
Desejo = ato ou efeito de desejar; aspiração humana diante de algo que corresponda ao esperado; aspiração humana de preencher um sentimento de falta ou incompletude.

Eureka! A conexão estava lá. Só há desejo quando há falta. E a maior de todas as faltas é a danada da Morte. A certeza de sua chegada ( sempre inoportuna ) é a grande castração (falta) sob a qual vive o ser humano. Se tivéssemos a garantia da imortalidade, nada faríamos, pois nada desejaríamos.
Tudo aí, na nossas fuças!

E quem deseja, quem espera (tem esperança), sonha. Ou seria o contrário: só quem sonha tem desejos e esperanças? Acho que é isso: é preciso aprender a sonhar, ou cultivar os sonhos, ou acreditar neles. Talvez seja uma boa maneira de viver, driblar a Morte: sonhar.

Não se tratam, aqui, dos sonhos dos lunáticos e delirantes, mas do sonho que engendra a ação, a construção, a busca ativa. Quase inventaria: a sonha-ação!
Na homepage do Kala, descubro esta frase atribuída a alguém que não conheço, John Barrymore: Um homem não está velho até que comece a lastimar em vez de sonhar.
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(Publiquei este post há alguns meses. Acho que é um tema interessante para começar o ano...
Feliz Ano Novo!!!)

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