Penso que nós, mineiros, diante da obviedade dos horizontes definidos pelas serras, cultivamos uma postura altiva, sobranceira e majestosa: orgulhamo-nos dos maciços ferrosos e os introjetamos como nos dizia Drummond:
Alguns anos vivi em Itabira
Principalmente, nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
No final desta sua "Confidência do Itabirano", é bem verdade, o Poeta confessa outro lado da personalidade dos mineiros, tidos como calados, desconfiados, humildes, "aqueles que trabalham em silêncio":
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Há um ressentimento diante da ação predatória sobre nosso tesouro: As montanhas de Minas estão sendo carregadas pelas mineradoras. O minério de ferro é colocado nos vagões e exportado, restando-nos, pouco a pouco, imensas crateras:
Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê
Na cidade toda de ferro
as ferraduras batem como sinos.
Os meninos seguem para a escola.
Os homens olham para o chão.
Os ingleses compram a mina.
Só, na porta da venda,Tutu Caramujo cisma na derrota incomparável.
Se falarmos da “nostalgia do mar”, então, aí já é covardia! Durantes as férias e fins-de-semana prolongados, os conterrâneos entopem as estradas em busca do litoral, das praias, das areias monazíticas de Guarapari, do sol generoso do sul da Bahia, da sofisticada cidadezinha de Búzios ou da cinematográfica “Cidade Maravilhosa”. Mineiro não perde o trem, nem a praia!
Talvez seja como um bálsamo inconscientemente aplicado ao orgulho dos moradores das Alterosas que os belorizontinos recebem a Torre Alta Villa, bem no alto da Serra do Curral, divisa com o município de Nova Lima.
Tornou-se lugar obrigatório para levar os turistas (sempre poucos, por aqui). Há um shopping temático, restaurante (Hard Rock Café), salão para festas, até mesmo um colégio. Paga-se R$ 5,00 para ascender nos elevadores até à cúpula, de onde se avistam a cidade e as montanhas, vales, condomínios, céu, nuvens e um horizonte quase infinito.
A câmera é móvel, faz closes e mostra panorâmicas. No momento em que escrevo, por exemplo, a torre está envolta em neblina, pois o tempo está chuvoso. Vamos lá?
Adorei isso. Adoro CDA. Gostei demais de sua maneira de escrever
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