Opinião de Leonardo Boff sobre os rumos do II gov. Lula:
"O mais provável é que o governo dê prosseguimento à receita do Banco Mundial: tostões para os pobres e bilhões para os ricos.
Assim, aplaca-se a ira nas duas pontas da estrutura social:
Aos pobres, políticas sociais que exigem, do orçamento do Executivo, cerca de R$ 10 bilhões por ano.
Aos ricos, detentores dos títulos da dívida pública, o Bolsa Fartura que lhes transfere anualmente aproximadamente R$ 100 bilhões.
Tudo parece simples se no porão das contas públicas não houvesse uma bomba prestes a explodir: os limites da relação dívida/PIB.
Quanto mais – em valor e tempo – o governo pode transferir à cornucópia da elite?
A resposta não parece animadora vista do buraco em que anda o pífio crescimento do país. Se o PIB crescer, pode-se suportar relativo crescimento da dívida pública.
Mas como desatar o nó do crescimento sem cortar gastos públicos e reduzir os juros?
O governo quer manter acesa a vela destinada aos pobres e a fogueira que aquece a renda dos ricos. Até agora, a saída que encontrou para agradar uns e outros é aumentar impostos, hoje em 37,37% do PIB, e apertar ainda mais o cinto do ajuste fiscal.
Assim, poderá manter a Bolsa Família e a Bolsa Fartura, e engordar sua poupança no exterior, hoje calculada em US$ 70 bilhões, um recorde comparado às administrações anteriores.
Talvez a opção do novo governo Lula seja mesmo a de manter o Brasil no banho-maria das políticas neoliberais, sem tocar nas estruturas que impedem a redução da desigualdade social e favorecem a multiplicação geométrica da fortuna dos 20% mais ricos da população.
Se assim for, nem é preciso falar em “pacto social” ou “concertação”.
Basta o PT entender-se com o PSDB e oficializar, como nos EUA, a alternância no poder, deixando o PMDB entregue à sua sina de “hay gobierno, soy favorable”.
Os descontentes que se organizem e mobilizem."
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Trecho extraído da crônica semanal de Leonardo Boff, publicada hoje no EM. Fala quem já esteve por dentro dos palácios, em Brasília.
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