Este post está sendo escrito sob a inspiração deste aqui, do Marco Aurélio Brasil.
Quem é que não se frustra com tanta revelação de atos de corrupção ativa e passiva que corroem as esperanças de dias melhores?
Quem é que não tem vontade de se alienar, desligar-se do noticiário e enveredar pelo gozo apaziguante (e falso) do consumismo diante das aberrações administrativas, do lucro infinito dos donos do capital, do tsunami de acidentes em rodovias mal conservadas e outros descalabros? O vocabulário já não dá conta de expressar o superlativo de horror, medo, raiva, ódio, indignação...
Aí, lembrei-me de ter refletido sobre a Esperança, essa virtude tão bombardeada.
Eis a reedição do post de 2005:
“A esperança é irmã do desejo.”
Essa frase me ocorreu de repente, num estalo. Não me lembro de tê-la ouvido ou lido em qualquer lugar. Por ora, se quiserem citá-la em algum discurso ou obra literária, por favor, dêem-me o crédito: “A esperança é irmã do desejo”, segundo Cláudio Costa! Espero (= desejo ) que o façam.
O estalo ocorreu exatamente quando recebi um convite para fazer uma palestra em uma instituição que promove encontros e atividades para a 3a. idade.
“A esperança é irmã do desejo”. A idéia talvez comporte algumas variáveis: “A esperança existe em função do desejo”. Ou: “Sem desejo não há esperança.” Ou, então, bem radical: “Esperança é desejo!”
Outras idéias começaram a pipocar (“esperem todo o milho estalar, senão vai dar muito piruá”, dizia minha mãe, quando ficávamos em torno do fogão, crianças ainda, loucos para comer pipocas) e aí, o melhor é ter calma, senão...
Bom, se desejo e esperança se articulam tão intimamente, o que seria este tal de “desejo”?
Sei que NÃO é necessidade. NÃO é compulsão. NÃO é impulso.
Se a Psicanálise atribui a gênese do desejo à proibição do objeto sexual (tabu do incesto), na vida comum, longe de teorias complicadas, concorda-se que o desejo é algo distinto do querer.
Aceitamos mesmo que o desejo possa ser inconsciente a ponto de sermos por ele traídos - assim o demonstram os atos falhos.
Somos seres-de-desejo, isso nos diferencia dos animais. E só desejamos quando experimentamos a falta: a castração! Complicado!
Quando alcançamos o objeto desejado, o desejo morre. Ainda bem que este tal de objeto desejado NUNCA É O OBJETO TOTAL, completo, absoluto e isso nos garante continuar desejando... Ufa! Ainda bem.
Corri pra o Houaiss e lá estava a correlação que pipocara em minha cachola:
Desejo = ato ou efeito de desejar; aspiração humana diante de algo que corresponda ao esperado; aspiração humana de preencher um sentimento de falta ou incompletude.
Eureka! A conexão estava lá. Só há desejo quando há falta. E a maior de todas as faltas é a danada da Morte. A certeza de sua chegada ( sempre inoportuna ) é a grande castração (falta) sob a qual vive o ser humano. Se tivéssemos a garantia da imortalidade, nada faríamos, pois nada desejaríamos. Tudo aí, na nossas fuças!
E quem deseja, quem espera (tem esperança), sonha. Ou seria o contrário: só quem sonha tem desejos e esperanças? Acho que é isso: é preciso aprender a sonhar, ou cultivar os sonhos, ou acreditar neles. Talvez seja uma boa maneira de viver, driblar a Morte: sonhar.
Não se tratam, aqui, dos sonhos dos lunáticos e delirantes, mas do sonho que engendra a ação, a construção, a busca ativa. Quase inventaria: a sonha-ação!
Descobri e repito esta frase atribuída a alguém que não conheço, John Barrymore: Um homem não está velho até que comece a lastimar em vez de sonhar.
Sonho, logo vivo.
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