Há cada dia mais e mais gente repete o bordão e suas variáveis:
- com toda a certeza; pra ser sincero; pra dizer a verdade; na verdade; etc.
Virou um vício ou é mesmo aquilo que penso ser?
Bom, penso que sempre começar uma frase assim indica que meu interlocutor não tem lá muita certeza de nada e utiliza a fórmula tentando esconder isso (talvez inconscientemente, concedo).
É comum diálogos deste tipo:
- Ontem fui a um restaurante excelente!
- Bom demais?
- Na verdade, acho que dei sorte, porque na semana passada não estava lá essas coisas.
De início, o cara afirma que o restaurante é excelente. Quando vai explicar, relativiza e bota um na verdade que indica, claramente, que o restaurante não é tão excelente.
Aí, me pergunto:
- Será mentira? Quer me enganar? Não sustenta o que diz? Tem medo do confronto, da opinião contrária, da decepção? Não quer se comprometer?
Acontece, também, quando elogia ou detrata alguém. Os primeiros adjetivos são fortes, definitivos. Nas explicações, porém, vão enfraquecendo, enfraquecendo até, às vezes, se substituírem pelo seu contrário. Parece engraçado, mas é irritante.
A gente vê isso nas entrevistas de TV, nas conversas de bar, até mesmo no consultório. Neste último caso, raramente deixo passar e faço o meu interlocutor refletir sobre o artifício que se impõe, automáticamente, a cada pausa para respirar (isso quando já percebi que é uma marca registrada do discurso dele).
Da mesma forma, a expressão "com certeza" surge quando o que menos se tem é certeza, já repararam? Parece que é induzida pelo outro, mas o seguimento do discurso mostra que se trata de uma opinião, de um gosto ou juízo pessoal ou, absurdo, prova de incerteza! Ele supõe, acha, pensa que.
Quando se trata de opinar sobre algo que mexe com as paixões, aí os adjetivos e advérbios se tornam absolutos e definitivos. Tem-se certeza de que o juiz roubou, que o outro motorista é que estava errado, que o guarda de trânsito foi parcial...
Pois é isso: cuidado com pessoas que têm certeza de tudo, pois, com certeza (!), escondem de si e do outro sua própria ignorância.
[Há ainda aqueles que começam a responder sempre com um 'não', mesmo que queiram dizer sim. E os que iniciam toda frase com um 'bem', mesmo que pretendam discordar. Sem falar nos que concordam para discordar, ao dizer: 'sim... mas...']
Com certeza, temos muito assunto. Ou não?
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