13 abril, 2004

Mermão Paulo Alonso, de Brasília-DF, me mandou o seguinte comentário ao meu post anterior: "O Brasil foi pro brejo em 2003?" :
Eu não sou Bin Laden não, viu ?
Mermão,
Você é demais mesmo; já tá criando novo canal de comunicação! Como você tem essa impressionante capacidade armazenadora e geradora de idéias e a criatividade para ilustrá-las e divulgá-las, tô te vendo de novo bem à vontade na cena, né ?
Parabéns! Mas, também quero dar meus pitacos! Acho que não podemos dispensar o valioso recurso de recorrer à classe política pra projetarmos nossa irritação mais comum, nossa indignação com nosso dia-a-dia intra e interpessoal, nosso desespero frente às dificuldades que tanto nos limitam e ameaças que tanto tememos. Que merda, sô! O que será de nós, hein ? Como evitar nossa iminente despirocação ?
Já estamos tão habituados a esse privilégio tão bem incorporado à nossa cultura (universal, quiçá espiritual). Fico preocupado com a hipótese de não podermos mais contar com figuras como o Luis Estevão, ou o Sérgio Naya, ilustres representantes da classe, ou qualquer um desses notáveis juízes que estão sendo denunciados na mídia, pra podermos malhar em nosso cotidiano! Essa sacanagem que fazemos é extremamente saudável, como diria o meu caseiro calunga: "nosso fígo agradece". O próprio Lula, seguindo a cartilha de todos eles, também nos preparou com promessas salvadoras, que ainda hoje constituem seu único repertório verbal.
Que crueldade conosco, pô! A gente já não pode mais se aposentar como sempre se acostumou a prever; além disso, reajuste salarial pra melhorar padrão de vida... só pros poderosos, enquanto pra nós e nossos clientes nos resta um desafio bravo de fazer o maior malabarismo para as contas caberem de qualquer forma no nosso orçamento. Bem, isso aí até que é legal, mesmo que eles não dêem a mínima importância, pois nos permite desenvolver novas estratégias de sobrevivência.
Já contamos como certa a oportunidade de xingarmos, reclamarmos ou denunciarmos, de todas as formas possíveis e criativas, à brinca ou à vera, esses poderosos de plantão. Eles correspondem ao arquétipo perverso de quem usa e abusa da condição de poder poder, da autoridade extrema que nos incomoda sempre, pra beneficiar a si próprio e os da patota, criando tanta distorção na distribuição de renda e privilégios sociais. Esta imagem estimula tantos ingênuos a se exercitarem na prática da mera vantagem sobre algúem (Lei de Gérson) e daí se especializarem no caminho do crime, obstinados pela ganância a qualquer preço e a certeza da impunidade.
Eu não sou Bin Laden não, viu ? Só quero defender a possibilidade de uma recompensa mínima. Precisamos de algum espaço perante essa turma pra sobreviver e dar sentido as nossas vidas. Não precisamos superá-los, nem eliminá-los; só aprender a lidar melhor com a questão da autoridade, desenvolvendo o que mais importa nesse contexto, a nossa capacidade de se autorizar na vida. Aliás, continuamos impotentes como sempre, né ? Mas, bem humorados e conscientes, a gente faz uma graça e segue em frente.
Um abraço, seirmão.

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